Helen Mirren on Vasily Kandinsky



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Matemáticas Kandinsky - Video birografia.m4v



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DO ESPIRITUAL NA ARTE - KANDINSKY

   Abstração. Para Kandinsky ela acontece quando um pintor copia uma floresta, um rosto ou uma cena no mar. Pois a realidade é abstraída da pintura e ela finge ser uma floresta, um rosto ou uma cena no mar.
  Concreta. A pintura de Kandinsky não deveria, segundo ele, ser chamada de abstrata. Pois ela nada abstrai, ela é concretamente aquilo que ela é: cor e forma.
  Mas se um pintor tira de uma paisagem seu motivo para pintar, de onde vem o motivo da nova pintura? Segundo Wassily Kandisnky, da alma. Uma pintura concreta reflete a alma de quem a pinta, isso se ela for pintada com verdade e entrega absoluta.
  Kandinsky criou sozinho aquilo que conhecemos como pintura abstrata. Mais radical que Picasso ou Matisse, ele deu a pintura sua liberdade: uma tela é feita de cor e de forma, nada mais que isso. A cor canta uma emoção, a forma dita um ritmo. Diante de seus quadros vemos a verdade.
  Este livro foi escrito por Kandinsky em 1912. Nele ele explica e defende sua arte. E elogia a música. Para ele, toda arte quer ser música. Porque a música é a mais espiritual de todas as artes. Inexplicável e etérea. Ela nada copia da natureza, ela é pura alma. A pintura que ele faz, ao não copiar nada da natureza, se aproxima da linguagem musical por meio de cor e forma. Suas telas cantam.
  Kandinsky é para mim o maior artista plástico do século XX. E penso que só Paul Klee chega perto dele. O russo pintou a música da alma, e o suíço o sonho do espírito.

Susana Seivane - Himno gallego a gaita



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Cantiga de Maio "O que da guerra levou cavaleiros"



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A IMAGEM DESCARTADA - C.S. LEWIS ( escrevemos para eternizar a vida ).

   Lewis não foi um autor de livros juvenis. Ele foi também um autor de livros infantis. Mas, assim como Tolkien foi um linguista em Oxford e Cambridge, Lewis foi um professor de literatura medieval nas duas instituições. Este é seu último livro, uma coletânea de uma série de palestras dadas em 1963.
  O objetivo do livro não é falar de literatura. É tentar aproximar o mundo medieval de nossa época. Jogar ao lixo preconceitos e mostrar como era a cultura medieval. E ele me surpreendeu muito. Ao contrário do senso comum de 2017, a idade média NÃO FOI um tempo de improviso e de falta de ordem. O homem medieval tinha um profundo amor pela ordem. Sua grande paixão era catalogar, listar, colocar tudo em uma hierarquia. Desse modo, havia a hierarquia da guerra, o catálogo do amor, o modo certo de se escrever, a maneira de ver a vida. Lewis fala da catedral, da igreja, dos anjos, dos livros, da zoologia, da geografia e do espaço sideral.
  Ao contrário do que se pensa, a Terra era considerada redonda, mas centro e periferia do Cosmos. Centro por ser o alvo das influências planetárias; periferia por ser o lugar menos elevado do Cosmos. A Terra era "morta" por não se mover, os planetas eram considerados "animais", seres viventes que influenciavam mas não dirigiam a vida do homem. ( Sim, isso é astrologia ). Talvez a imagem mais bela do livro de Lewis seja essa: O homem medieval via o espaço não como um lugar "lá fora", mas sim um lugar "lá dentro". O espaço era cheio de luz, de anjos, de planetas vivos, de estrelas animadas, de sons, de movimentos. O espaço era olhado como "o alto", o ponto mais perfeito e elevado. O espaço era festa, objetivo de vida, vida absoluta. Daí se deduz que esse homem via a morte como ilusão, a vida era a condição natural do cosmos. Cada planeta vivo em sua órbita, cada espaço escuro, noite de um dia luminoso, cada estrela reino de anjos.
  Homens letrados medievais tinham um profundo amor pelos livros. Para eles tudo que era escrito era "verdadeiro". Se Platão escreveu, mil anos antes, sobre os hermafroditas, então esses seres são uma verdade. Não importa se eles existiram ou não, por terem sido pensados e escritos, eles são parte do mundo. O mesmo se dá com a história. Heitor ou Ajax existiram pois estão na Ilíada. Eles fazem parte da história e a história existe para divertir e para ensinar. Se desconhece o conceito de informar. O que importa é ensinar e divertir.
  Esse mundo se revela, desse modo, pleno de interesse. É um mundo onde tudo importa. Cada pedra e cada animal, cada texto e cada lenda oral, tudo tem algo a ensinar e a dizer. Então o autor medieval escreve com paixão sobre aquilo que a vida é. Nossa dificuldade em os ler é o fato de acharmos que eles "perdem muito tempo" descrevendo o trivial. Esquecemos que isso ocorre porque para esses autores tudo na vida é digno de espanto. A descrição de uma fonte, de uma fada ou de uma parede é tão importante quanto a vida de um rei ou um santo. Tudo é da vida e tudo DEVE SER HOMENAGEADO. A escrita medieval é sempre uma homenagem, a vontade de eternizar o mundo na escrita. O que se escreve é o que se sabe, o que se sabe é amado.
  Lewis diz que um escritor medieval sentiria pena de um autor moderno. Acharia uma pena ele ter de inventar histórias. Isso lhe mostraria que o mundo deveria ser indigno de ser homenageado. O medieval pegava o que já existia e o descrevia. O atual imagina e descreve sua imaginação.
  Não falarei dos anjos pois esse não foi o assunto que mais me seduziu neste muito interessante livro. Termino dizendo que talvez voce tenha pensado que a biografia seria então um tipo de literatura medieval. A resposta é sim e não. Sim porque ele pega o real e vê interesse nisso. Mas essa biografia só terá esse espírito medieval se tiver por objetivo "ensinar e maravilhar". Uma biografia puramente jornalística está tão longe da idade média como o cinema de ação está próximo desse espírito.
 

UMA AULA SOBRE FREUD QUE HABILITA FREUD PARA MIM ( SE É QUE FREUD FOI ASSIM ).

   Vamos direto ao ponto: Nossos instintos estão relegados à simples função vegetativa. Nossos olhos piscam, nosso estômago digere, nosso coração dispara ao sentir medo. E então, falemos do medo. O medo é instintivo a qualquer animal. E quando se sente medo ou se foge ou se ataca. Mas não o homem. Nosso medo precisa ter um porque, precisa ser entendido, combatido e refletido. Então não será mais um instinto, será uma série de narrativas, uma história. O homem é então o único animal que transformou o instinto em palavras. Não se sente medo, se sente medo "de algo", "de um certo modo" e "porque tal coisa representa tal perigo". Conheço bem o medo, não o escolhi à toa. Quando vivenciei o medo sem porque, puro instinto solto, só voltei a sossegar ao saber o porque e o como desse medo "irracional".
  O homem não nega o instinto. Ele simplesmente o perdeu. Na verdade amamos o instinto, idealizamos a vida instintiva, usamos a palavra a toda hora, mas eles foram educados, racionalizados, contidos, e quando as palavras, a razão toma o instinto, ele morre.
  Um aluno pergunta se a linguagem não seria "instintiva". Não, pois instinto não se aprende, e o bebê aprende a falar. ( Instinto é aquilo que não se aprende, que não varia em tempo e lugar, que é comum a todos os homens em qualquer tempo, e que se faz sempre do mesmo modo, sem evolução ou variação. Por exemplo, todo leão caça do mesmo modo, todo lobo vive na mesma ordem social, todo elefante cria os filhos do mesmo modo, todo gato mia nas mesmas situações, não importa se em 500ac ou 2017, todos fazem tudo sempre do mesmo modo ).
  Outro aluno pergunta se os bichos seriam felizes. A resposta é que se ser feliz é viver de acordo com seu sistema vegetativo, sim, animais são plenamente adaptados e felizes, DESDE QUE não tenham contato com humanos, pois nós reprimimos seus instintos.
  Ver um gato dormir, um sabiá comer, um tigre caçar, é ver um ser plenamente livre, em uso completo de tudo aquilo que ele é. Um homem jamais terá essa chance, pois ele dorme pensando, come sonhando com outros planos ou desejos e não caça, e se o fizesse teria montes de vontades e medos misturados ao ato. Nunca somos plenos, pelo simples fato de que pensamos.
  Mas esse fato é inescapável, portanto, podemos viver razoavelmente bem apenas pelo uso das palavras. Se somos "amaldiçoados" pelo conhecimento, é esse conhecimento nossa maior arma. O que nos tirou do Eden é ao mesmo tempo nossa salvação.
  Mas há um fato que se sobressai cada vez mais: nossos instintos, tão fracos, precisam cada vez mais de motivação-pulsão. Comer precisa de variedade, temperos, novidades; o sexo precisa de aditivos, rotatividade, brinquedos, clima; e o próprio instinto de viver e de sobreviver passa a necessitar de motivações, metas e respostas. O sexo instintivo não requer troca de parceiro, ou climas ou imagens; idem para a fome ou a vontade de viver. O instinto requer satisfação simples, e se possível sem variação. Um leão será feliz com a mesma carne por toda a vida e um boi cruzará com qualquer vaca. Mas o homem, com seu instinto fraco-domesticado-mudo ( instinto não fala ), precisa de pimenta e de erotismo.
  As palavras nos levaram ao paradoxo do suicídio, à anorexia, ao tédio e a depressão. O paradoxo de querer morrer, de recusar comida, de sentir vazio perante o universo e a não sentir desejo cercado por coisas que se desejou.
  A linguagem fez de nós ETs em nosso mundo e estrangeiros em nosso corpo. A minhoca em seu jardim está em casa. Completamente em casa. Já nós, quando dizemos "casa", criamos um conceito de "casa", e perdemos essa "casa" para sempre.
  Nosso mundo é feito de palavras. E por isso voce está aqui e nunca ali.

CS LEWIS DIZ O QUE FOI A IDADE MÉDIA.

   Contos e poemas fantásticos são uma parte da idade média. Assim como peças religiosas. O que Lewis destaca, em suas últimas aulas, é que o ponto central do pensamento medieval é o desejo de ordenar, catalogar, salva o universo. ( Salvar no sentido que hoje damos a "salvar um texto ou uma foto no arquivo de nosso computador ). Lewis diz que nenhuma invenção moderna deixaria o homem medieval mais feliz que a enciclopédia. Com sua ordem, índice e abrangência, ela pareceria ao medieval a realização suprema de um sonho.
  O homem medieval amava o livro. E acreditava em tudo que estava escrito. Para ele, se estava num volume, era uma verdade. Mas esse homem conhecia textos que se negavam, que brigavam entre si, e daí vinha a vontade de os ordenar, de construir um pensamento, um sistema que os abrangesse, em ordem e sem conflito. Essa é a raiz de toda filosofia medieval, a ordem, a classificação, a criação de um tipo de sistema onde tudo se encaixa. Hierarquicamente.
  Esse PANO DE FUNDO, preste atenção nessa frase, PANO DE FUNDO, criou a ordem heráldica para a guerra, criou o amor cortês para o sexo e toda a cerimônia da igreja para a religião. Um pano de fundo feito de ordem, ritos, deveres, costumes, a serem usados a fim de dar um sistema coeso àquilo que antes lhes parecia caótico.
  A Divina Comédia é o ápice desse modo de pensamento, a transformação do além em um sistema ordenado, mecânico, coeso, infalível. Longe da ideia popular, de que o homem medieval era um tipo de beberrão infantil, ele era um amante de sistemas, um buscador de ordem, um construtor de catedrais.
  PANO DE FUNDO. Lewis diz que se o pano de fundo de toda obra medieval é o sistema, no século XX é Freud. Toda obra traz as teorias de Freud como pano de fundo, como um tipo de cenário onde o drama acontece. Interessante ele observar, e acertar, que logo esse pano de fundo poderia ser trocado por Einstein. Ou seja, a relatividade e a ciência como pano de fundo às obras da arte e do pensamento.
  Outro fato é que Lewis conta que toda grande obra vai contra esse pano de fundo. Desse modo, Freud seria destruído pelos grandes pensadores ou artistas, assim como os sistemas seriam corrompidos por Shakespeare após a idade média.