CAT POWER & TANITA TIKARAN

   No final dos anos 80 eu conhecia o grande disco de Tanita Tikaran. Como se feito fosse dentro de uma catedral, ele remete diretamente à Van Morrison. Mas também à Rickie Lee Jones. Cheio de sombras, úmido, a voz dela vem como de cavernas. Ela é quente. 
  O tempo passou e o mundo preferiu virar seus olhos para Bjork, a grande chata. Tanita sumiu do mainstream. ( Existe um mainstream alternativo hiper ativo e duro como aço ). 
  Cat Power tem o mesmo timbre de voz e surge dez anos após Tanita. No fim do século XX. Cat é ainda mais espartana e franciscana. O som é feito de pequenas notas e as canções são feitas só de refrões em busca de um arranjo. Van Morrison outra vez. Só que em clave feminina. Como o irlandês, ela joga uma melodia e discorre sobre ela. São hinos. Cantilenas. Remetem às celebrações de domingos. 
  Uma amiga me presenteou com 3 cds de Cat Power. Ela achou que eu gostaria. Os cds são como ela: melodias em busca de redenção. Delicadezas que insistem em ficar. Sombras impossíveis de iluminar. Bonitas como as maiores mágoas. Longas pernas pálidas e longos olhares despidos.
  Tanita é melhor. Mas Cat me assobia. E anda pela esquina.

Cat Power - Good Woman & Come on in My Kitchen (w/ Buddy Guy - Traffic M...



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UMA HABILIDADE PERDIDA...J.R.R.TOLKIEN, O SENHOR DA FANTASIA- MICHAEL WHITE. PORQUE GENTE COMO EU DETESTA O SENHOR DOS ANÉIS.

   Em 1997, numa eleição feita por uma rede de livrarias inglesa, O Senhor dos Anéis foi eleito o melhor livro do século XX. Com profunda indignação, autores modernos expressaram um profundo ódio pela coisa. Uma crítica feminista chegou a dizer:- Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus, meu Deus!!!! Onde chegamos!!!!!, um outro disse:- Tolkien? Não é aquele cara que escreve livros tolos para adultos mentalmente deficientes?
 Suspeitando de fraude, o jornal Daily Mail fez outra pesquisa. Mesmo resultado, com Ulysses em segundo lugar. No auge da raiva, uma associação de leitores cultos da Grã-Bretanha fez mais uma votação. Essa incluindo livros de todos os tempos. Por 120 votos de diferença, Tolkien venceu Jane Austen e deixou Dickens em terceiro. Well...
 O autor desta bio tem uma boa tese. Mais que boa, talvez seja um fato. No modernismo, começado com Flaubert e desenvolvido por Henry James, o estilo importa mais que o enredo. Voce pode escrever sobre qualquer coisa, voce pode escrever sobre nada, contanto que alí haja um estilo próprio, uma marca de autoria, um sinal de voz única. Esse movimento, muito interessante em seus começos, levou a um impasse, o fim do enredo e com ele a morte da habilidade em se narrar uma história. Mais que isso, a incapacidade de se criar personagens. Livros modernos passaram a falar apenas do eu e de mais nada. Para White, Tolkien foi e é tão odiado por jogar na cara de certos escritores sua incapacidade em escrever. Sim, em escrever. Não sabem narrar, não conseguem inventar uma história, não têm o dom de construir livros coerentes em si, ricos de invenção e de personagens, criativos e organizados. Sabem apenas falar de si-mesmos. São impotentes em criação e sobretudo em imaginação. 
  Não precisei ler este livro para aceitar essa tese. Tentei ser um romancista por toda a vida e desisti porque percebi que não sei escrever. Ou melhor, não consigo criar. Tudo o que escrevia eram confissões sobre coisas que vivi, presenciei ou sofri. Escrevo, portanto, aquilo que não gosto de ler. Por honestidade, desisti. Foi assim que me encantei por aquilo que não tenho, e que poucos hoje têm ( e quase ninguém confessa ), o dom de criar. Inventar uma boa história e saber contá-la, de forma clara, encantadora, rica e excitante. Alguns conseguiam unir o estilo moderno a esse dom criativo ( Nabokov, Borges, Bellow ) mas são raros. A maioria finge ter optado pelo hermético quando na verdade são apenas limitados. Jack Kerouac é um belo exemplo de escritor que escreve sem ter  a mínima criatividade. A lista não tem fim. Tolkien ao escrever criou personagens, cenário e narrativa. E assim pareceu ultrapassado em 1954, ano de O Senhor dos Anéis. Tempo em que Camus, Sartre e Moravia eram a moda. O que aconteceu foi a maior zebra do século: um autor conservador, careta, metódico, meticuloso e ultra-católico se tornar o ídolo de adolescentes rebeldes e criativos. 
  A história de Tolkien é fascinante por não ser boêmia. Ele não tinha vicio nenhum, pouco ligava para sexo, detestava tudo o que era moderno e só gostava de livros escritos antes da renascença. Achava Shakespeare fake, Cervantes um chato e Dante um mal exemplo. Amava narrativas antigas escritas em inglês arcaico. Sabia várias línguas nórdicas. Desprezava o francês. Foi professor em Oxford. E tinha uma dificuldade imensa em ganhar dinheiro.
  Sua infância foi um desastre. O pai foi para a África do Sul e Tolkien nasceu lá. Seu ambiente até os 3 anos foi esse, longas estepes quentes. A mãe passava mal no calor e ele voltou à Inglaterra com ela e um irmão. O pai, que trabalhava muito, ficou para juntar mais dinheiro. Acabou morrendo meses depois, com uma infecção. A mãe, muito pobre, foi morar com parentes em casas lotadas. Quando ela se converteu ao catolicismo toda a família lhe virou as costas. Ninguém a perdoou por virar uma papista. Poucos anos depois ela morreria de diabetes. Tolkien sempre consideraria que ela fora morta por abandono, por ódio religioso, por perseguição. 
  A vida de Tolkien passa a ser uma confusão. Mora com parentes. Alguns menos ruins, outros terríveis. Ele e o irmão mais jovem ( 3 anos de diferença ), vagam como ciganos, mudam de casa sem parar, e estudam. Um padre os ajuda e esse padre se torna um novo pai para eles. Tolkien consegue passar em Oxford e sua vida será para sempre acadêmica. 
  Se enamora de uma moça 3 anos mais velha, Edith. Têm um longo noivado. Tolkien luta na Primeira Guerra,conhece as trincheiras, vê amigos morrerem, fica doente, consegue sobreviver. Se casa e será pai de 4 filhos. Amoroso, sua vida passa a ser uma luta por dinheiro.
  Escreve de noite. Narrativas épicas sobre um mundo de fantasia. Deixa sua imaginação fluir. Escreve muito, corrige muito, reescreve. Lança O Hobbit e faz sucesso. Não aproveita a maré e demora 17 anos para lançar outro livro. O Senhor dos Anéis sairá apenas em 1954, após mais de uma década de escrita, correção, dúvidas, negociações. Um sucesso imediato, a saga toma novo impulso em 1966, quando estudantes universitários o descobrem. Mais uma geração de fãs surge aí. Desde então novas gerações se sucedem e o livro nunca mais deixa de vender. São 120 milhões até 1995. Após os filmes, mais 10.
  Tolkien morre em 1973. Rico, mas ainda sovina. Discreto, com medo da fama, sem entender o porque de tanta adoração. 
  Como homem Tolkien era um daqueles ingleses que não mais nascem. Um homem que adorava conversar com outros homens, inseguro com mulheres, o tipo que considera o máximo de alegria ter um cachimbo aceso e uma poltrona quente ao pé da lareira. Passava noites com seu grupo de amigos ( C.S. Lewis era seu melhor amigo ), discutindo livros, religião ( Lewis era protestante até a medula ), aulas. Tolkien não tinha o menor interesse por politica, música ou arte em geral. Odiava comida francesa, adorava cerveja preta, tinha um excelente dom para as aulas, e nunca foi visto sem o cachimbo na boca. Falava com ele pendurado no lábio. Seu mundo era seu escritório, a coisa mais importante era o catolicismo. Rezava muito, acreditava no poder da fé e ia muito `a igreja. Era ecológico antes do termo ser moda, ficava bravo quando uma árvore era derrubada, tinha aversão a carros, TV e toda máquina. Vivia suspenso no mundo imaginário do século XI ou XII. E escrevia todo o tempo.
  Terminando a leitura fica a impressão que, assim como aconteceu com Chagall, por méritos próprios, Tolkien foi um grande vencedor. Não no sentido material. Vindo de uma infância de desamparo, de pobreza e de dor, ele, com a força de sua mente, venceu. Foi professor na maior das universidades e de quebra eternizou seu nome nos corações de milhões de leitores. A sorte nunca fez parte desse ganho. Na verdade ele venceu o azar. 
  Quanto a minha opinião. O título que usei foi propositadamente enganoso. Eu odiava os filmes dos Anéis sem os ter visto. E odiava Tolkien com o orgulho idiota de jamais o ter lido. Era como se ao dizer ODEIO TOLKIEN eu declarasse ser invulgar, culto e adulto, tudo ao mesmo tempo. Estranho fenômeno esse, ao NÃO fazer algo ( ler Tolkien ) me torno um leitor melhor. Uma verdadeira asneira de nosso tempo. Preconceito de classe. 
  Comecei a mudar no momento em que percebi que minha leitura estava travando. Lentamente eu perdia o prazer da leitura. Meu preconceito, a vontade que me foi imposta de só ler o que fosse ""relevante, único, brilhante"", dava ao ato de ler o sabor de coisa fria, estéril e ocasionalmente mórbida. 
  Lembro de quando isso mudou. Foi com Sherlock Holmes. E em seguida com os livros de Jeeves. O prazer de se acompanhar uma trama, de se conhecer personagens bem criados, de sofrer surpresas, de se crer naquilo que se lê, me salvou do abismo do desprazer. Reconquistei a magia da leitura. Foi uma sorte.
  Desde então respeito e invejo, assumidamente, todo criador. Admiro o dom, arcaico e primordial, que alguns poucos têm de nos fazer viajar através das palavras. De poder recuperar a hora da história ao pé do fogo. 
  Esse dom não tem explicação. E esse presente não tem preço.

Ultravox - Sleepwalk (Live St Albans 16.08.1980) HQ



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Ultravox - Vienna - Live 1983



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VIENNA=ULTRAVOX. O TEMPO PASSA...

   Estranho. Para onde foi a emoção? Aos 22, 23 anos eu me emocionava profundamente com este disco. Agora eu o acho bonito, mas não arrepiante. Seria porque eu evolui? Mas então porque um disco como Magic, de uma cantora chamada Cheryl Dilcher, um disco pop, comum, que eu amava aos 15 anos, hoje me comove como sempre comoveu? Magic não é melhor que Vienna. Será que encontro uma resposta satisfatória?
   Acho que sim. O garoto que amou o disco de Cheryl aos 15 anos era um garoto que desejava de um disco apenas aquilo que Magic tem, música e diversão. E isso ele sempre vai ter. Músicas de um pop festivo, às vezes tristonhas, sempre simples. O que eu buscava em Magic no ano de 1978 continuo obtendo em 2015. Vienna não. Porque?
   Em 1984, ano em que comprei Vienna ( ele é de 1980 ), os críticos mais interessantes se chamavam Pepe Escobar, Matinas Suzuki e Luis Antonio Giron. Nos textos de Pepe ele citava Keats, Huysmanns, Cocteau e Miró. Matinas falava de brumas londrinas, chá na madrugada e dores suicidas de amor. Já Giron escrevia como quem pinta porcelana, com extremo cuidado. Essa é a chave. Todos eles partiram, à partir de 1989/90 para outros campos. Giron foi escrever sobre música erudita e literatura, Matinas se debruçou sobre tecnologia e futurologia e Pepe foi viver fora, escreve sobre tudo, menos rock. Os três eram apaixonados pelo rock e pelo pop mais britânico dos anos 80, pop do qual Vienna é um belo representante. O que houve?
  Aos 22 anos eu tinha em Vienna a porta de entrada para um mundo novo. O mundo que ia da primeira geração romântica até Andy Warhol. O disco prometia o acesso, fácil e simples, ao mundo da Arte. identifiquei isso na primeira vez em que ouvi, anos depois, uma banda como Radiohead. Ele facilita a entrada na Arte, mas sem ser Arte. O ouvinte sente toda a emoção de coisas como poesia, pintura abstrata, cinema japonês e romances modernistas, SEM PRECISAR TIRAR OS FONES DO OUVIDO. ( Basta dizer que em todo o ano de 1984 eu li apenas 5 livros ). O que acontece então?
   Com o tempo eu conheci a fonte, o artigo genuíno, a tal Arte, e as emoções refinadas que Vienna parecia conter empalideceram. O que eu sentia escutando o disco agora sinto, de uma forma muito mais complexa, lendo, vendo ou ouvindo outras coisas. Vienna ficou lá. Foi trocado.
   Isso não pode acontecer com, por exemplo, o Led Zeppelin. Ou mesmo Bowie. O que eles dão só em música pop ou rock podem dar. O meu amor por eles sempre foi puramente musical e rock`n`roll, no caso do Led, e no caso de Bowie, musical e estilosa. Bowie era um dos artigos autênticos que Vienna anunciava. A emoção de ouvir Beatles ou The band permanece porque amamos ""apenas""suas canções. Em Vienna eu amava a música, mas essa música simbolizava e anunciava mais do que ela era. Essa é a tragédia de tudo que se torna passado sem volta.
  Mas é bonito. 

The English Beat - Get A Job/Stand Down Margaret (Live at US Festival 9/...



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The English Beat - Mirror In The Bathroom (Live at US Festival 9/3/1982)



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I JUST CAN`T STOP IT!- THE ENGLISH BEAT ( politica na ilha )

   No tempo de Clash, Police e Costello o que vendia ( na Inglaterra ) era ska. O movimento, chamado de Two Tone ( branco e preto ) misturava festa com o desejo socialista. Era tempo do começo da era Thatcher, ela batia forte na classe operária e o bando do ska botava fogo nas passeatas diárias. A ilha estava em convulsão. Os brancos da esquerda se uniram aos negros pobres de Brixton e juntaram tudo: deu no Two Tone. Pra mostrar a ideologia, roupas pretas e brancas. ( Me dá banzo do tempo em que visual era uma atitude politica ). A direita mandou os new romantics pra rua. Anti-ideológicos, deslumbrados com o glamour, amantes da nova Inglaterra made in USA, os romantics faziam um som que falava de noite, frio, viagens espaciais e bissexualidade. Sim, filhos de Bowie e de Ferry. Sim, a direita os amava. A esquerda....não. Os romantics venceram a guerra. No som houve um empate.
   Aqui falo de The Beat. Da trinca suprema foi o de menos sucesso. Mas menos sucesso em 1980 ainda é muito sucesso. Se o Madness era o que mais vendia e os Specials os mais radicais, The Beat tinha a pegada mais rock. É ska, mais ska que aquilo que foi feito na retomada do ritmo, nos anos 90 pelos americanos, mas é um ska com velocidade de punk, o que não acontecia com os outros dois. O disco que cito é seu auge. Depois viria o comercialismo maior e as brigas.
   Poucos discos possuem um som de baixo tão poderoso. Ele comanda tudo e ele pipoca nos ouvidos como uma bala ricocheteando em ravina. Seus pés  vão tentar acompanhar esse baixo coriscante, não conseguirão, irão morrer tentando. David Steele é o nome do cara. E tem a bateria. Essa é tipo pulga. Ela pula para onde voce menos espera. A velocidade no chimbal é alucinógena. Nesse contexto a guitarra poderia ser esquecida, mas não. Duas guitarras, uma se dedilha, a outra faz chung chung.... Tá feita a coisa. Mesmo após o arrastão de tantos anos de dance music, este disco ainda é soberba e aliciantemente dançante. E o discurso é punk. Punk estilo The Jam. De partido. Uma festa.
   Eu estive por lá. Em 1982. Vi as meninas de laranja e verde, minis e óculos escuros, no verão, bebendo os últimos goles do ska. Vi os new romantics começarem a dominar tudo, e transformarem a ilha nessa pasmaceira que dura até hoje. Acabaram com todo o fabianismo, toda a tradição de Shaw e Keynes e jogaram tudo ao ar. Londres optou pela festa de luz e droga. Deixou de lado a festa na rua, de ska e tambor.
   Escuta isto. 1978-1983 foi o penúltimo orgasmo da música inglesa. The Beat foi um de seus centros. Enjoy.

O POVO DESAPRENDEU A OUVIR. E AGORA DESAPRENDE A OLHAR.

   Uma conversinha rolou. De atroz burrice. Comparar Cisne Negro com Birdman.
   Qualquer inteligência mediana há de notar que o primeiro é um horror.
   E o segundo uma piada.
   Posto isso, entenda como quiser.

The Tales of Hoffmann (1951) - The Tale of Giulietta



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MARCEL CARNÉ/ POWELL/ TRUFFAUT/ MELHORES FILMES DA FRANÇA

   O BOULEVARD DO CRIME de Marcel Carné com Arletty, Jean Louis Barrault, Pierre Brasseur, Maria Casarés
Foi eleito, a coisa de cinco anos, o melhor filme francês de todos os tempos. Será? Esta foi a minha segunda visita a esse épico de 1945. Com mais de 3 horas, trata das paixões, misérias, ilusões de um trio ligado ao teatro. Arletty faz a atriz que todos amam, Barrault é Pierrot, o ator ingênuo que a adora. Brasseur é um ator-astro, cheio de si. Ao redor deles uma multidão de ladrões, nobres, escroques. Tudo lembra Balzac. É uma painel da França do fim do século XIX. Ruas com multidões, lixo e luxo. Tudo no filme é superlativo. A fotografia, o cenário, a música. E todos os atores. As interpretações são ao estilo francês puro, palavrosas e posadas. Hoje lembram cinema moderno, envelheceram tanto que viraram novidade. O roteiro, do poeta Jacques Prévert é brilhante. O filme varia entre poesia, drama pesado e comédia leve. Crime e vingança. É o maior filme da França? Não sei se é, mas o título não fica mal. Para mim existem 3 grandes filmes que merecem o título: este, Orfeu de Jean Cocteau e O Atalante, de Jean Vigo. Com vantagem para a obra-prima de Vigo. Claro que há ainda Clair, Renoir, Clouzot, Godard, Bresson, Melville, Tati, Truffaut...mas estes 3 são gigantes, amplos, completos. Cada um a seu modo, Vigo é intimista e simples, Cocteau é simbólico e hermético e Carné, belo e imenso.  Um filme que todos devem ver. Nota DEZ.
   CAPITÃO PIRATA de Gordon Douglas com Louis Hayward e Patricia Medina.
Aventura padrão de piratas dos anos 50 da Columbia. Pirata inglês se envolve no resgate de seus companheiros capturados por espanhol mal em ilha do Caribe. Nada de especial, produção pobre, mas para quem como eu adora filmes de piratas, não decepciona. Nota 5.
   ALEXANDRE O GRANDE de Robert Rossen com Richard Burton, Fredric March e Claire Bloom.
Há quem diga que Burton deveria ter sido o maior ator de todos os tempos. Mas ele se vendeu à Hollywood e perdeu tempo e vontade em filmes como este. Uma produção grande sobre Alexandre da Macedônia. O filme...bem, como levar a sério Burton de peruca loura? Rossen era um diretor metido a artista, mas este filme afunda em roteiro sem ação e personagens ralos. Só March se salva. Seu Filipe, pai de Alexandre é complexo, sutil e ao mesmo tempo dramático ao extremo. Nota 2.
   O RIO SAGRADO de Jean Renoir com Esmond Knight e Adrienne Corri
Renoir saiu dos EUA e foi a Inglaterra. De lá à India fazer este que é um dos filmes favoritos de Wes Anderson. E é realmente um filme mágico. E, como tudo de Renoir, de uma simplicidade absoluta. Uma familia inglesa vive na India à beira de um grande rio. Vivem de uma fábrica de juta. São cinco meninas e um garoto. Um americano chega e passa a ser cortejado. Uma tragédia ocorre, mas a vida continua. Renoir consegue nos fazer entender um conceito profundo sem falar quase nada. Imagens belas de Claude Renoir, irmão de Jean, e apesar dos atores ruins, o filme se eleva `grandes altitudes. É seu melhor filme. Disso não duvido. Nota DEZ.
   A NOITE AMERICANA de François Truffaut com Jacqueline Bisset, Jean Pierre Leaud, Valentina Cortese e Jean Pierre Aumont
Me apaixonei por cinema em 1978 vendo este filme na Sessão de Gala da Globo. Eu quis ser Truffaut. Durante uns 3 anos ele se tornou meu diretor fetiche. E 3 anos na adolescência são dez como adulto. Então posso dizer que Truffaut atingiu sua meta, mostrar o amor ao cinema de uma forma simples, ingênua  e pura. É claro que fazer um filme não é isto, mas o que Truffaut quis foi mostrar o amor à coisa, nunca um documentário sobre a feitura de um filme. Godard rompeu com François por causa deste filme. O que mostra a cegueira de Jean Luc. O filme é sublime, encantador, o conto de fadas dos que amam cinema. E tem uma das melhores trilhas da vida de Georges Delerue, o que não significa pouco, pois Georges foi sempre magnífico! Nota DEZ.
   OS CONTOS DE HOFFMAN de Michael Powell
Eis...Powell, o irriquieto, o corajoso, faz um dos mais arriscados filmes da história. Filma os contos de E.T.A.Hoffman em sua forma original, ou seja, como ópera, inteiramente cantado. E com cenários que são extremamente artificiais. O resultado é radical, voce adora ou odeia. Eu não me dou bem com ópera, mas adorei o filme. Porque ele é de uma beleza irreal, artificial, embonecada, brega, surpreendente, mágica. Se voce quer saber o que seja o romantismo eis o filme. Ele nos apresenta todo o universo de Hoffman, mas também de Shelley, Hugo, Lamartine...e chega até Poe. Vejo que George Romero é um de seus fãs e isso não me surpreende, este é um filme de horror. A beleza aqui é morta, espectral, como aquela de um cemitério. Se voce gosta desse mundo, veja. Se voce é um prático pés no chão, fuja correndo. Nota.........?