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ANTONIO E CLEÓPATRA- SHAKESPEARE, RETRATO DE UMA PAIXÃO?

Antônio foi o último herói. Ele representa aquele tipo de lider que se impõe pelo carisma e pela palavra. Sua linhagem nasce com Alexandre, passa por Julio César e encontra em sua alma a última pegada desse líder hercúleo. Depois de Antônio, como bem diz Harold Bloom, o que vemos são burocratas e gerentes de reis.
Quando a peça começa, Antônio, já em meia-idade, está perdido no Egito, desacreditado, tornado escravo por amor a rainha Cleópatra. Roma se volta contra ele. Todos os cinco atos representam a decadência desse outrora dono de meio-mundo, agora feito animal de estimação, homem que hesita, teme, se desconhece. Vemos sua despersonalização. Antônio sabe não ser mais Antônio.
O texto é surpreendente. Onde esperávamos um drama pesado, lemos comédia, onde achávamos encontrar um casal louco de amor, encontramos um casal entediado. Onde a paixão de Antônio? Onde o amor de Cleópatra? Genialidade do bardo inglês: suas peças são inesgotáveis. Admitem múltiplas leituras. Antônio ama a sí-mesmo via Cleópatra. Embaralha-se nesse amor e quando acuado, precisando voltar a ser o herói, não consegue mais se ver como fora um dia. Se perde e mesmo em seu suicídio demonstra incompetência. Antônio beira o patético.
Cleópatra apaixona-se pelo papel que desempenha na história. E nela o texto se faz pós-moderno. Ela tem consciência de ser ficção, leva o papel adiante por saber ser esse seu destino: atuar no drama de sua vida. Suas falas sempre são auto-conscientes, parecem distanciadas, quase nascem ensaiadas. Mas a peça é ainda mais. Vários personagens vêm e vão, são todos bem definidos, íntegros, não-gratuitos. E vemos em Otávio o futuro do mundo.
Shakespeare acreditava no amor? Impossível saber. Mas é flagrante que aqui é o amor que destrói o homem, que faz de um herói um pateta, e leva uma mulher ao vazio. Shakespeare é sempre realista, o amor infantiliza. Mas o que lhes resta mais?
Gregos sabiam que o amor era uma falha, que amar aquele com quem se deita era ser vulnerável. Sexo sem amor, sempre. Amor aos filhos e aos amigos, nunca ao desejavel. Antônio, romano, falha nisso. Deixa de ser soldado, se feminiliza. Shakespeare exibe por cinco atos o suicidio desse homem. E no magistral ato final, o suicidio de Cleópatra, que não é uma derrota, antes uma afirmação de independencia.
Ler Shakespeare é recordar sempre o quanto podemos ser grandes. Esta peça é um milagre.
PS: Harold Bloom insiste em que só podemos apreciar plenamente o bardo no palco. Suas falas são maravilhosas se lidas, mas são nascidas para a fala. Weeellll.... ele fala da glória de ter visto a jovem Helen Mirren como Cleópatra, a melhor rainha do Egito dos palcos. Mas aqui, em SP, ver isso onde?

A PRESENÇA DA MALDADE

Discutir se o mal existe é tão vazio de significado como saber se Deus é real ou se os vampiros vivem. Deus é real e os vampiros vivem ( simbolicamente, e símbolos são para sempre ). Para saber o que é o mal é preciso saber o que é o bem. O mal é sua ausência. Mefistófeles é aquele que tudo sabe, que se vê como auto-suficiente. O FAUSTO de Goethe, (ao lado de MACBETH de Shakespeare), é a melhor síntese do que seja a maldade. Mefistófeles ousa desafiar Deus e é expulso do paraíso. Eis a raiz de todo mal: orgulho egocêntrico e complexo de exclusão. Em toda maldade há a ilusão de se ser um homem especial, uma sensação de superioridade, uma ditadura do ego. Lady Macbeth sucumbe ao mal quando descobre que seu marido será rei. Mas todo herói é também um homem isolado, um homem que sai do convivio dos seus, e dono de ego exaltado, parte em busca de sua missão. Mas existe um oceano de diferenças entre Macbeth e Persival. O herói é dono de seu ego, como diria Jung, ele usa seu ego como escravo de si e não o contrário. O vilão é dominado por esse eu autoritário e surdo. O herói escuta o apelo do mundo e mesmo só, ele trabalha pelo outro, ou por algum ideal diferente de si-mesmo. O vilão só vê espelhos. O bem é a virtude e conhecer o mal é saber o que seja ser virtuoso. Na raiz de toda virtude está o conhecimento do outro. Bondade, compaixão, humildade. Todo mal foge dessas três palavras. Em nosso mundo, 2011, acontece uma perversa armadilha contra o bem. Tudo exalta o ego, a auto-realização, tudo quer fazer com que tenhamos a ilusão de sermos únicos, especiais, e tudo leva ao enfrentamento de toda autoridade. Somos todos Nietzsches de araque, desprezamos a bondade como fraqueza. Triste situação, o bem só é reconhecido como verdade em sociedade que preza a virtude, numa sociedade voltada ao individualismo o bem sempre será perdedor. Resta ainda saber que o que conhecemos como bem é genial criação cristã. Para os gregos todo bem se ligava a beleza física e a violência em defesa do estado. O mal seria o desequilíbrio das formas e a covardia. Somos muito desse grego, mas o bem que nos interessa é o bem da bondade, da justiça e da compaixão. O bem cristão. Ele é hoje quase impossível. Os pagãos voltaram com tudo. A violência é sempre um mal? Matar crianças é sempre um mal. Assassinar uma moça num sinal de trânsito é sempre um mal. Mas atirar em bandido que está prestes a matar um inocente, é um mal? Assassinar nazistas era um mal? A violência se justifica contra aqueles que crêem nela. Porque essa é a única língua que eles entendem. O ponto fraco do cristão é exatamente esse: contra quem tem a violência como fé suprema ele nada pode. O ego só pode ser vencido quando o espirito encontra uma brecha para se manifestar. Contra o aço do ego, o aço da ação. O mal existe? Nenhum ato de maldade deveria nos surpreender. O milagre é exisitir o bem.

LOSEY/ VISCONTI/ BURT LANCASTER/ OLIVIER/ HITCHCOCK/ HELEN MIRREN/ JACK NICHOLSON

EVA de Joseph Losey com Jeanne Moreau, Laurence Harvey e Virna Lisi Se eu gostasse tanto de Moreau como Losey parece gostar, o filme seria melhor. A trilha sonora de Michel Legrand é fascinante e a fotografia de Gianni di Venanzo faz deste um dos mais elegantes filmes já feitos. Fala de uma relação completamente vazia entre um homem poderoso, confiante e uma mulher sem alma. Ele sucumbirá. Filme bom de se olhar, mas tão árido quanto seu tema. Losey fugiu do MacCarthismo e se deu bem na Europa. Tem vários filmes maravilhosos, este não é um deles. Nota 5.//////// RUMO A FELICIDADE de Ingmar Bergman com Maj-Britt Nilsson, Stig Olin e Victor Sjostrom Bergman é uma alegria em minha vida. Toda a dor que ele mostra em seus filmes ( e que deprime alguns ) me dá força, paz e confiança. Porque? Pela magnifica beleza que existe em seu mundo. Cada close, cada tomada, todo ator em cena, a escolha das músicas, tudo é digno, claro, hipnótico, belo sem ser tolo ou piegas. Este é seu último filme antes da entrada em sua fase genial, fase de inigualável sequencia de obras-primas ( entre 1951/1982 ). Este fala de jovem casal que não consegue ser feliz. O egoismo dele tudo aniquila. Um filme simples, um ensaio para coisas maiores. Nota 6. ////////HAMLET de Laurence Olivier com Olivier e Jean Simmons Não preciso falar da excelencia dos atores. Este foi o primeiro filme ingles a ganhar o Oscar de melhor filme ( em ano muito forte, basta dizer que venceu Sierra Madre ). Já foi meu filme favorito, o que confirma a tese de Paul Valery de que crescemos todo o tempo com a prática da apreciação artistica. O filme é ainda maravilhoso, mas com esse texto e esses atores que filme não seria? Shakespeare tem alguns bons filmes no cinema, mas o melhor não é este ( é RAN de Kurosawa, baseado em Rei Lear ). O cenário é feito de escadas em espiral, fumaça e escuridão, e Simmons é a Ofelia mais bela possível, mas a direção de Olivier se perde as vezes num excesso de freudianismo ( sim, este é Hamlet sob a ótica de Édipo ). De qualquer modo é um espetáculo nobre e que deve ser sempre visto e revisto ( é minha sexta apreciada ). Hoje um filme tão elevado ganharia o prêmio? Nota 9.//////////// O AGENTE SECRETO de Alfred Hitchcock com John Gielgud e Madeleine Carrol Hitch na Inglaterra fez filmes melhores que nos EUA? Ele próprio pensava que não, mas fica bem para um certo tipo de esnobe dizer que sim. Tolice! Embora na Inglaterra ele tenha feito algumas obras-primas, é nos EUA que ele atinge o cume dos cumes. Este é um suspense médio que serve para mostrar Gielgud, o melhor ator ingles de teatro ( é dele o maior dos Hamlets ), e que jamais deu certo nas telas. Nota 6. ////////////SABOTAGEM de Hitchcock com Silvya Sidney e Oskar Homolka Um belo Hitch da fase inglesa. Cheio de ação e com um clima opressivo, sórdido, cruel até. Lemos em entrevistas que ele não gostava do filme, mas é incompreensível: é uma obra invulgar. Destaque para a cena no ônibus e a da sala de cinema, Hitchcock já sendo um mestre absoluto. Nota 7. ////////////////A ÚLTIMA ESTAÇÃO de Michael Hoffman com Helen Mirren, Christopher Plummer e Paul Giamatti Só agora é lançado este filme que assisti um ano atrás!!!! Escrevi sobre ele na época e o registro novamente. Se voce quer saber algo sobre o gênio Tolstoi nada vai saber vendo o filme. Mas se voce quer ver dois atores dando aulas de magia e carisma, aqui está. Helen Mirren é a melhor atriz viva, Plummer não desaparece ao seu lado. O filme é bastante melancólico ( existe algum filme "artisitico" feito hoje que não o seja? ), e está longe de ser do tamanho que o tema merecia. Mas é bem superior a 99% daquilo que voce pode ver agora. Nota 6. /////////////////VIOLÊNCIA E PAIXÃO de Luchino Visconti com Burt Lancaster e Helmut Berger Citando Valery outra vez, se voce tem já alguma intimidade com grandes filmes corra ao Cinesesc e se dê o privilégio de ver esta obra-prima. Se voce ainda está naquela ração de lançamentos da semana, fuja. Visconti é o contrário de tudo o que se faz em cinema agora ( quase tudo ), ele é titânico. Seu tema nunca é modesto, tudo é sempre grande, vasto, operistico. Este adorável filme me toca profundamente por falar de meu tema favorito: decadencia. Vemos a vulgarização do mundo de um esteta, o assassinato da aristocracia de gostos e de gestos. O filme exibe a vitória da vulgaridade, do espalhafato, da grosseria. Quando os novos inquilinos chegam, vemos a barbárie rica e pretensamente chic tomar o poder. Impotente, só resta ao aristocrata assistir estoicamente o fim de seu mundo. Lancaster brilha intensamente. Cada olhar que ele nos dá é um testamento de nobre pensamento. O filme é inesquecível. Nota DEZ!!!!!!!!!! O MÁGICO de Sylvain Chomet Que decepção!!!! Este desenho homenagem a Jacques Tati ( parece que ele deixou um esboço de roteiro que foi aqui usado ) é tudo o que Tati nunca foi: chato. Os traços são maravilhosos, as ruas de Londres e de Edimburgo estão belas como em sonho, mas o desenho é de uma melancolia que parece forçada, poética demais. Há que se comentar um fato: por que os desenhos feitos a mão parecem mais humanos? Sem saudosismo, os digitais são mais perfeitos, mas um desenho como este sempre tem mais "autoria", mais calor. Mas o roteiro, sobre um mágico modesto, é enfadonho! Nota 4.////////////////// HEAD de Bob Rafelson com Monkees, Jack Nicholson, Frank Zappa e Victor Mature Jack Nicholson e Rafelson, amigos até hoje, se encheram de ácido e escreveram o roteiro desta viagem psicodélica. Entregaram tudo aos Monkees, que após o fim de seu seriado de sucesso na NBC, se despediam da fama com este fracasso. O filme é um caleidoscópico dia na vida da banda. Mas é dificil resumir a história ( que história? ). A trilha é fascinante e o filme, que hoje é hiper-cult, acaba sendo uma diversão bastante instigante. Para se ter uma idéia do filme, há uma cena com Zappa puxando uma vaca e outra com os Monkees presos num secador de cabelos. Foram meus primeiros ídolos, eu os amava apaixonadamente aos 7, 8 anos de idade. Ainda sinto algo quando os vejo. Nota 6.

O FUTURO É UMA CAÓTICA PROMESSA NÃO ESCRITA

A gente nunca sabe o que virá depois. Às vezes adivinhamos, mas é isso, adivinhação, acaso. Ontem estudamos um texto de Paul Valéry. 1922. Ele percebe o futuro da escrita. E acerta. O leitor se faz, desde 1800, tão importante quanto o autor. Mas não por bancar financeiramente a obra, não. Mas sim porque quanto mais se lê mais se penetra no mundo do escritor e mais se percebe que sua beleza e sua atemporalidade reside no erro, no que ele tem de igual a quem o lê e não em sua "divindade". Valéry nota então que para se entender a arte é preciso ter uma atitude individual- ou seja: eu lerei aquele texto a meu modo, diferente do modo de qualquer outra pessoa. Mas, o texto continuará sendo ele-mesmo: desafio constante a interpretações várias. Há mais. Shakespeare e Da Vinci são os pontos culminates do ser moderno. Te surpreende? Explica-se. No tempo de Leonardo os estetas amavam Michelangelo e Rafael. Da Vinci era uma curiosidade que fazia obras nunca acabadas, ele era imperfeito. Eis o modernismo! Leonardo não almejava a perfeição, ele sabia que a vida é caos e jamais se permitia ser acabado. Rafael, hoje amado, mas amado como algo morto, era perfeito e bem terminado. Apurado. Michelangelo sobrevive graças aquilo que ficou de inacabado, de dramático. O azar de sua vida foi sua sorte para o futuro. Mas Leonardo não! Tudo nele é esboço, é obra em andamento, é projeto, é tentativa falha ( gigantescas falhas ). Ele é mais que moderno, é vivo. Quando vivo Shakespeare era um sucesso. Mas um sucesso sem arte. Era considerado apelativo, grosseiro, um autor que misturava drama com comédia, que usava a violência sem razão de ser. Durante os duzentos anos seguintes a sua morte, tempo da razão absoluta, gostar de Shakespeare era considerado mal gosto. Ele era um bárbaro que não sabia refinar suas obras. Um crente em feitiçarias, em fantasmas, pior: um irracionalista. Com os romanticos alemães isso começa a mudar. Schiller e Goethe o reabilitam e o século XX tem uma Shakespearemania. Nosso tempo é o tempo de Shakespeare. Irracional, não refinado, uma mistura de poesia e grosseria, violento, caótico, sublime e grotesco, comico e trágico. E o principal: um bom leitor, um leitor moderno, vê em Shakespeare uma infinidade de leituras, inesgotável fonte de idéias. Hamlet pode ser farsa, freudianismo, marxismo ou delírio. Macbeth ateísmo, gnosticismo ou poesia satânica. Shakespeare conseguiu antecipar o século XX e provávelmente será presente por todo o século XXI ( se nossa era é virtual, tudo nele sempre foi virtualidade ). A leitura moderna só comporta então aquilo que abre portas para indefinições. Borges, Flaubert, Melville, Sebald, Poe, Calvino ou Joyce e Proust. Textos que se abrem infinitamente, que convidam a debate, a delirios, textos caos. Mann, Stendhal, Nabokov, Eliot, Stevens, Mallarmé, Cervantes. E outros mais. É o grande erro da literatura de auto-ajuda: eles falam do caos como coisa apreensível. O caminho da literatura é o oposto: o apreensível tornado caótico. Por fim, o bom autor passa a ser aquele que não se arvora estatuto de guia. Se escrito como pretensa obra de arte, normalmente tal texto torna-se um engodo. Vide Joseph Conrad ou Whitman, autores que jamais se pensaram como artistas. E que são arte e atemporalidade plena. ( O que me recorda o cinema de Hawks, Hitchcock e Ford, artesanato que se torna arte suprema pela graça do entendimento de quem os assiste ). Não há obra plena sem público que a complete. E não poderá ser completa sem um público que a saiba entender. Criativamente. Tá dito.

pra que serve will shakespeare

Assistindo o filme de Pacino sobre Shakespeare ( Ricardo iii, um ensaio ), noto que entre belos depoimentos de gente como Vanessa Redgrave, John Gielgud, Kenneth Branagh; ou entre os desempenhos de Pacino, Kevin Spacey, Winona Ryder, Alec Baldwin; nada é mais claro ou brilhante que o depoimento de um negro do Harlem. Ele diz que Shakespeare nos ensina a sentir. Que se sentimos a morte de um camarada, o remorso de uma má ação, deixamos de fazer uma má ação. Shakespeare então nos mostra o quanto o Homem pode ser grande. Pode ser nobre, vil, apaixonado e apaixonante. A tragédia de nossa época é o fato de que por falarmos uma pobre linguagem, vivemos uma pobre existência.
Dizemos que a vida é vazia e não que " ela é um sonho sonhado por um louco ", ficamos com alguém, não " amamos como as estrelas amam o sol que as apaga "...
Shakespeare é a maior jóia do tardio renascimento, filho da filosofia de Sêneca, criador do Humano tal como o conhecemos, um gigante entre gigantes e o maior sábio a ter pisado um dia este planeta.
Ele justifica, sózinho, a existência da língua inglêsa, a sobrevivência do teatro e toda ação do homem sobre a Terra. Foi a culminância de uma inteligência brotada em Roma, fertilizada em Paris e Oxford e colhida sob o reinado de Elizabeth.
Viverá enquanto algo parecido com civilização viver.