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SINATRA, INCONSCIENTE, LINGUA E MEUS BISAVÔS

   Felicidade é dirigir segunda-feira com Sinatra no som. Aristocrata da voz, dicção perfeita, suas frases se modulam como ritmo e como harmonia. A voz se sacode. E meu carro desliza entre carros que ouvem noticias ( que são sempre as mesmas ) e cds ( que são sempre os mesmos ). Sinatra na segunda é ser mais.
   Cientistas vasculharam todo o cérebro e alardeiam: Não encontramos o inconsciente. Tudo é mecanismo consciente. O cérebro reage a fatos "conscientemente", aquilo que não faz parte da intenção não existe. Weeellll...cientistas não entenderam que o inconsciente é uma questão de fé. Ele nunca será encontrado fisicamente, assim como jamais se achará o lugar da "alma". Humanidades, seja poesia, psicologia ou filosofia, lidam com possibilidades, com aquilo que pode ser, ou não. Não são ciências porque, como diz Henri Bergson, lidam com o movimento, com o ser e deixar de ser, com aquilo que era e não é mais. A ciência só lida com um momento congelado no tempo, com partículas, frações. Jamais acharão a alma porque ela é um movimento incessante, uma dinâmica. O trágico é quando uma humanidade deseja se fazer ciência. Ela se trai, admite sua pequenês e deixa de ver o processo. Passa a congelar seu saber, deixa de mudar, de evoluir. Nunca se faz ciência de fato, se faz coisa morta.
   Conversando com um amigo falamos da ancestralidade. Um dos modos de se reequilibrar ( se é que isso existe ), é reconciliar sua ancestralidade dentro de si. Ir em busca das raízes-vivas, forças que pulsam dentro de voce. As vozes que falam de onde voce veio. Um dos grandes erros da modernidade é essa crença na rebelião contra a origem. Quem disse que ser adulto é negar sua origem? Porque? Ora, o desinteresse por ancestralidade tem a mesma raiz do desinteresse por estética ou pela poesia. Burgueses odiavam tudo o que era aristocrático. Burgueses desconhecem sua linhagem, sua ancestralidade. Assim como eles abominam a poesia por não a compreender e ridicularizam a estética por desconfiar do próprio gosto, eles criaram o desprezo pelos antepassados por terem vergonha de suas raízes. Mas assim como sentimos o amor  poéticamente e ansiamos pelo que é belo estéticamente, vivemos a verdade daquilo que é nossa origem. Negar tudo isso, esconder sua raiz é negar sua profundidade.
   Voce aprende linguística no primeiro ano para depois saber que a sintaxe nega mais da metade daquilo que os linguistas postulam. Isso é humanidades.
   Sim, as fissuras em meu cérebro aumentam com minhas leituras. Ok. É um fato. Mas o que desejo saber é: Que processo transforma pensamento em palavra? E que via faz de uma palavra uma ranhura? Quero saber da coisa acontecendo e não das conclusões sobre o processo encerrado ( que serão desmentidas em dez anos ). 
   Minha professora quase diz que a linguagem nasce como cheiro. Sonho de todo poeta: Fazer de seu texto um perfume.
   Valeu.

007/ LINCOLN/ COLE PORTER/ WILLIS/ TOM HANKS

   A VIAGEM de Tykwer e os Wanchowski com Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugh Grant
Em 1998 nada era mais excitante que Run Lola Run e Matrix. Em 2013 nada é mais cool que meter o pau nos diretores desses dois filmes ( Shyalaman é outro ex gênio daquela geração ). Este filme não tem pé nem cabeça! Faz uma mistureba de espiritismo, fisica, futurologia e termina como apenas uma ode óbvia a all you need is love. São três horas de profundo tédio. Tom Hanks se diverte em imitar Alec Guiness, faz um monte de personagens.  É a única diversão do filme, descobrir quem é quem debaixo daquela montanha de maquiagem. Nota 1.
   LINCOLN de Spielberg com DD Lewis e Tommy Lee Jones mais a grande Sally Field
Escrevi sobre ele abaixo. Como aula de história, vale. Como cinema é enfadonho. Lincoln fala e fala e murmura. Salas escuras e negociações. Lewis está ok. Tommy é o único que dá vida ao filme. Longe de ser um grande filme, não diverte e jamais emociona. Mas dá dignidade a profissão de politico. O que hoje é louvável. Cavalo de Guerra era bem melhor. Quem quiser saber mais sobre o presidente, veja o muito superior filme de John Ford. Nota 6.
   SKYFALL de Sam Mendes com Daniel Craig
Ó James Bond...então é esse o nosso Bond versão 2013? Craig não é mal ator de todo, ele apenas nada tem a ver com o personagem. Fleming sonhava em ver Cary Grant como Bond e ninguém é menos Cary Grant que Craig. Esse Bond tem cara de burro com suas orelhas de abano. Nada sedutor, ele parece sempre estar fingindo ser James Bond. Well...cada época tem o Bond que a reflete, Danny é um pseudo-Bond numa época de virtualidades. O filme tem ação banal, enredo pobre e nunca mostra aquela coisa divertida e sacana que fez a lenda de Bond. Alguns criticos o elogiaram. Com certeza são aqueles que nunca gostaram de 007. Nota 1
   E A VIDA CONTINUA  de George Stevens com Jean Arthur, Cary Grant e Ronald Colman
Este roteiro é muito esquisito. Começa como drama, vira comédia leve e termina como drama novamente. A impressão é a de que as 3 partes não se unem. Fala de um acusado de assassinato que foge e se esconde na casa de ex-namorada. Um famoso juiz se hospeda lá... Stevens foi um dos gigantes de Hollywood e o fato deste filme ser agradável, mesmo tendo roteiro tão confuso, mostra o quanto Stevens sabia dirigir. Ele começou como montador nos filmes de Laurel e Hardy, sabia dar ritmo aos filmes. Nos anos 50 Stevens faria clássicos como Giant, e Shane. Cary está meio fora de papel e Colman domina o filme com muito tato e humor. Agradável. Nota 6.
   ALTA SOCIEDADE de Charles Walters com Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly
Um filme com Bing e Frank cantando ótimas canções de Cole Porter. O que mais se quer? Grace Kelly, bonita como uma deusa. E ainda tem Louis Armstrong fazendo Louis Armstrong. O filme, modelo de chique, fala de uma moça frigida que vai se casar. O ex-marido fica por perto e a perturba. O roteiro é uma simplificação da peça de Philip Barry que fez a glória de Kate Hepburn. Hollywood teve duas aristocratas atrizes: Kate e Grace, as duas fizeram este papel. O filme é alegre, leve, colorido, elegante, um exemplo do que antes se chamava de "diversão civilizada". As canções de Porter são sensacionais, saltitam. True Love foi um hit depois regravado por George Harrison. Grace brilha intensamente. Frank nunca esteve tão simpático. Nota 9.
   HUDSON HAWK de Michael Lehmann com Bruce Willis, Danny Aielo e Andie MacDowell
O filme que quase acabou com a carreira de Willis. Superprodução, foi um fracasso em 1991. É uma comédia sem graça que fala de plano para roubar pedras que formariam uma máquina de Leonardo da Vinci que transformaria chumbo em ouro. As piadas não têm graça, Willis está exagerado e a ação é confusa. De qualquer modo há a bela Itália e o estilo de Andie. Nota 4.
   ZOOLANDER de Ben Stiller com Stiller e Owen Wilson
Fuja! Nada aqui tem graça. Nota Zero.
  

FRANK SINATRA/ BRANDO/ MEL GIBSON/ MONICELLI/ JEAN COCTEAU/ DORIS DAY/ GILLO PONTECORVO

   OS COMPANHEIROS de Mario Monicelli com Marcello Mastroianni, Renato Salvatori, François Perrier e Bernard Blier
Norte da Itália, fins do século XIX. Estamos numa fábrica, entre seus operários. Eles vivem em condições miseráveis, trabalham 14 horas por dia. O filme acompanha sua tentativa de obter melhores condições de vida. Uma greve acontece. Mastroianni é um professor pobre que aparece do nada , e que procura organizar os operários. O filme adota um tom quase documental. Não é o Monicelli humorista, é um filme de esquerda, como tantos em seu tempo. Ele consegue nos deixar revoltados e comovidos ao exibir o contraste entre as crianças operárias e os donos da fábrica. Mas hoje sabemos onde o esquerdismo iria dar...Teremos nos tornado mais cínicos? Admitimos a vitória do capital ? Porque nos é tão dificil tomar pura e simplesmente o partido dos explorados? Bem...é um filme forte. Nota 7.
   SANTO ANTONIO de David Butler com Erroll Flynn e Alexis Smith
Não é um dos bons faroestes de Flynn. Falta um melhor vilão, falta um personagem melhor definido para seus talentos de estrela. Ele já estava aqui no inicio de seu fim, as marcas dos excessos e dos escândalos já se podem notar. Mas é ainda uma produção de bom nivel da Warner. Alexis faz uma cantora de saloon e Flynn é um forasteiro que tenta livrar a cidade de seus bandidos. Apenas isso. Nota 5.
   QUEIMADA! de Gillo Pontecorvo com Marlon Brando
Em seu livro Brando diz ser este seu melhor papel. Não é. Posso citar cinco atuações melhores de Brando ( Um Bonde, O Chefão, Tango, Os Pecados de Todos, A Face Oculta ). Mas é um grande filme e uma grande atuação! Ele conta no mesmo livro ter discutido muito com o diretor. Pontecorvo insistia em fazer um filme completamente de acordo com a cartilha marxista, Brando queria mais sutileza. E lhe revoltava ver que um marxista como Pontecorvo explorava os figurantes de um modo tão óbvio. Mas ao mesmo tempo ele elogia o diretor e o filme. Com uma trilha sonora mágica de Ennio Morricone, o filme mostra a história de William Walker, um enviado da Inglaterra que "ajuda" os escravos negros a se livrar de seus senhores. A coisa se complica quando esses mesmos negros se voltam contra Walker, que afinal era apenas um novo explorador. Brando consegue refinar Walker. Ele é apenas um funcionário da Inglaterra, sem opiniões e sem nenhuma paixão. Faz um jogo impecável, obtém o poder para os ingleses, mas não vê nada de glorioso ou de errado nisso. Marlon Brando foi um gênio. O filme é muito bom, uma soberba aventura marxista. Um tipo de western de colonizados. Nota 8.
   O PIRATA de Vincente Minelli com Judy Garland, Gene Kelly e Walter Slezak
Numa ilha do Caribe, moça sonha em conhecer o famoso pirata Mococo. Mal ela sabe que seu ridiculo noivo é Macoco. Kelly faz o papel de um ator de circo, que para a conquistar finge ser o pirata Mococo. Músicas de Cole Porter em filme que não é um dos geniais musicais da época, mas que está longe de ser vulgar. Hiper colorido, alegre, cheio de vida e com belas canções, seu ponto fraco são as coreografias. Minelli e Kelly fariam bem melhor em outros filmes. Nota 6.
   ORFEU de Jean Cocteau com Jean Marais, Maria Casares, Marie Dea
Ou voce ama ou odeia. Cocteau traz o mito de Orfeu para a França de 1950. Para gostar voce deve se despir de linearidades e razões. O filme é só poesia. As coisas acontecem como em sonho e Cocteau tinha o dom para isso. Vê-lo é de certa forma como sonhar. Em dado momento voce perde a certeza de estar vendo um filme. Porém, se voce procura uma história emocionante ou um espetáculo, fuja. Os filmes de Cocteau, em que pese sua poesia, sempre resultam frios, distanciados. A fotografia é belíssima e surpreende a elegãncia francesa de então. São belas roupas e belos décors. Nota 7.
   PLANO DE FUGA de Adrian Grunberg com Mel Gibson
Mel Gibson era um excelente ator de ação. Como Bruce Willis, ele conseguia fazer tudo o que Stallone ou Arnold faziam, mas com muito mais humor e uma dose refrescante de hironia e inteligência. Mas após os Oscars de Braveheart Mel pirou. Aqui ele volta a ação pura e consegue ser outra vez o ator irônico que eu e minha geração adoramos. Mas o filme não é digno dos talentos do ator. É um desses filmes que tem prazer em mostrar dor, sujeira, destruição e vísceras. Ele é um americano em prisão mexicana. Lá ele tenta se dar bem. E é só. Eis a estética do cinema deste século: o prazer em se ver coisas sendo destruídas e sangue espirrando.  Moral: O mundo é uma merda. O filme também é.
   YOUNG AT HEART ( JOVEM NO CORAÇÃO ) de Gordon Douglas com Doris Day, Frank Sinatra, Gig Young, Dorothy Malone e Ethel Barrymore
Uma surpresa. O filme mostra aquilo que se conheceu como a tipica familia americana feliz. Uma familia de musicos felizes com três irmãs. Duas namoram, Doris não. Chega a vizinhança um alegre, confiante e rico compositor. Não, não é Sinatra, é Gig Young. Doris se enamora dele. Mas ele tem um amigo, e só no meio do filme surge Sinatra. E que impressão ele causa! Mal humorado, pobre, pessimista, Sinatra faz uma imitação de seu amigo Humphrey Bogart que magnetiza o filme inteiro. E quando ele canta, com sua voz no auge da forma, tudo fica muito mais real. Doris foge com ele e juntos passam momentos ruins. O filme, que surpresa, é muito bom. Tem a doçura saudosista da América em seu apogeu, e também anuncia a amargura daquilo que estava reprimido. Doris é encantadora. Nota 8.

FAMA E ANONIMATO- GAY TALESE

   Um amigo me empresta este livro. Entre baforadas de um cigarro esquisito ele me diz: "É do caralho!" Bem, eu o leio em dois dias. Do meu modo, entre doses de suco de laranja e rosquinhas de passas eu falo: "Deveras!"
 Gay Talese foi um dos pioneiros do Novo Jornalismo, e este livro tem de ser lido por todos aqueles que um dia quiseram trabalhar em jornal. Assim como Kane desperta desejos de fazer filmes e o Velvet Underground o desejo de montar uma banda, Talese deu a um monte de moleque a vontade de fazer reportagens. Mas, triste saber, o próprio Talese diz que esse estilo de reportagem acabou. Hoje os caras fazem toda a matéria sem sair da redação, via internet. Caraca! Chegam a cobrir uma tragédia urbana sem ir ao local do fato! Conclusão: Noticias frias, anônimas, de pouco detalhe ou vida. Impessoal.
 O Novo Jornalismo era jornalismo por se ater ao fato, a verdade, ao ocorrido, o Novo era o estilo, escreviam como romancistas. A reportagem se parecia com literatura, mas não, óbvio, a literatura empolada, era um tipo de Heminguay. Este volume contém um monte dessas matérias de Talese. É diversão, é informação e é arte. Sim, arte. Em três matérias ele atinge a altura do melhor da prosa do século XX.
 Basta ler o texto que abre o livro. Talese anda pela New York dos 50's e observa os tipos que encontra. Em frases simples e curtas ele fala dos estranhos retalhos de humanos que vivem e trabalham na cidade, dá os números de lojas originais, profissões bizarras e estatísticas insuspeitas. Aqui ele nada deve ao melhor de Cheever, Mailer ou Capote. O texto faísca em humor, em urgência e em criação. E nunca perde seu aspecto de jornalismo: informação e verdade factual.
 Gay Talese escreve então o melhor texto sobre Sinatra sem entrevistar Sinatra. Ele apenas o segue, pega informações e descreve a preparação de um especial de TV com o cantor. O que vemos é um Sinatra fragilizado, inseguro, e ao mesmo tempo forte, agressivo, protegido. Das páginas irrompe um homem-mito completo, o enigma permanece, mas muito dele é revelado. Obra-prima.
 Mas a coisa fica melhor ainda. O Perdedor é um soberbo texto sobre Floyd Patterson, ex-campeão dos pesados que vive recluso e disfarçado após perder duas vezes. Talese entra no cotidiano de Floyd, ouve e vê sua vida, está lá. Patterson se revela. Tem medo, tem raiva, tem arrependimento. Há uma cena na saída da escola da filha do pugilista que é antológica. Penso, e o texto confirma, que o grande campeão se mostra grande na derrota. Floyd é grande como homem e como motivo de matéria. Talese sabia tudo de escrita rápida.
  Há ainda matérias boas com o diretor de teatro e cinema Joshua Logan e com o grande Peter O'Toole. Peter voltando a Irlanda e demonstrando seu ódio ao país e as freiras que arruinaram sua vida. No auge da fama, Peter bebe e joga nos cavalos, paquera e é muito assediado, e enfim conta sua paixão pelo teatro. Um tipo esfuziante, um cara original, um dos meus atores mais amados.
  George Plimpton foi um ricaço que aos 26 anos em 1952 foi pra Paris fazer uma nova revista. A revista foi a Paris Review que publicou Philip Roth, Irwin Shaw, William Styron e James Baldwin. A redação era uma festa, o apartamento de George era uma festa. Corriam de touros em Pamplona, lutavam boxe, bebiam, ouviam jazz, viviam em roda viva. E eram donos da melhor revista. Em 1956 mudaram de rota, foram pra New York e lá fizeram tudo igual. Gente exótica no apartamento de George, redação anárquica, festas e festas e festas. O que eles queriam afinal? Ser Heminguay. Não sabiam que nem Heminguay foi Heminguay.
  Um texto sobre a Vogue. Hilariantemente delicioso.
  Joe Louis. Apesar de Ali e de Sugar Ray, não estranhe se alguém falar que Joe foi o melhor. Talese acompanha Joe Louis aos 48 anos, em sua rotina diária. Um cara que lutou pela causa negra nos tempos mais duros ( anos 30 ), um simpático exemplo para os negros. Um texto solar.
  Deixo o melhor pro fim. No texto sobre Joe DiMaggio, o astro do beisebol que foi marido de Marilyn Monroe e talvez o grande amor dela, Gay Talese atinge o sublime. O que vemos é um herói completo. Triste, lutador, cheio de segredos, ético, teimoso, vitorioso, desiludido. Pungente, emocionante, que me comam se este não é um dos melhores textos do século.
  Valeu amigo. Concordo com voce, livro do caralho!

SINATRA'S SWINGIN' SESSION !!!

   Um amigo pediu pra que eu lhe indicasse qual o melhor album de Sinatra. Eu respondo que das coisas que ele gravou entre 52 e 62 tudo tem o mesmo nível alto ( e são mais de vinte e cinco discos ). A dica que dou é que ele gravava um disco down e um up, um para a dor de corno e outro para as alegrias do amor. Indico este. aleatoriamente, por ser o primeiro que comprei ( em 1996, no sebo do Eric, vinyl pesadão, da época, capa de cartão grosso, um luxo ). Na revista da livraria Cultura deste mês, a Heloisa Seixas indica um outro. Como disse, dessa fase de Frank, a única em que ele fez as coisas pra valer, tudo é de ouro e de pérolas.
   Este é dos alegres, e é engraçado o que vou dizer, não sei se é lenda, mas dizem que ele gravava os discos imaginando um encontro. Tipo assim: a primeira faixa era pra acompanhar a chegada de voce e ela ao seu apartamento, na segunda é oferecida uma bebida, na terceira voces conversam bebendo, uma comidinha depois, mais um drink, voce a tira para dançar e ela tira os sapatos para não cair. Lá pela faixa sete voce a beija, na oito as mãos avançam e no fim do disco, quando a agulha fica chiando, bem.... voce sabe.... ( Recordo do último filme que Mel Gibson fez, quero dizer, o último assistível, acho que o nome era "DO QUE AS MULHERES GOSTAM", em que ele, garanhão, se arrumava pra sair sempre ao som de Frank ).
   Arranjos de Nelson Riddle, o que significa metais muito fortes, escorreitos, incisivos e uma bateria swingada que é a coisa mais coruscante já gravada. Sabe como é: tchim tchim tchim tác!!!! Boooom!!!! E a voz de Frank, extra, hiper, cool...ou como ele dizia, it's a gas! Dá pra "ver" ele estalando os dedos enquanto canta. O homem sabia tudo de beat, de ritmo com modulação. A voz nunca se esforça, canta fácil, sem suor, lágrima ou sangue, com muita bossa, charme e savoir faire.
   When you're smiling, a primeira já dá o recado: relaxe e caia na festa, a vida é breve e a noite é bela. Blue Moon é a boa-vinda para a menina que voce está de olho e S'Posin bota tudo nos eixos. Sinatra a essa altura estaria servindo um martini ou um Jack, eu prefiro gim tônica, mas dá na mesma, é tudo jazz.
   O disco fecha ( pós sexo? antes da cama? ), com duas jóias de Cole Porter. I Concentrate in you e depois You do Something to Me... bem... não vou dizer o que penso delas, pra que? Elas tão salvas, jamais vão deixar de ser ouvidas. Mas eu vou deixar um PS aqui:
   Demorou muito pra eu voltar a esse cool world de Frank e Fred e Cole. Isso porque dentro dos seis anos de namoro sério que tive, os dois paradisíacos primeiros anos tiveram como trilha sonora exatamente e tão somente esses ícones da elegãncia. Eu me vestia pra pegar a menina ao som de Frank e dirigia pra casa dela ouvindo Fred. Então posso contar com sabedoria, elas podem odiar Frank, podem achar ele machista, antigo, feio.... mas não sabem que muito de seus sonhos, prazeres e delirios foram arquitetados ao som de Frank e seus amigos.
   Quer mais ou chega?

BRAD PITT/ MICHAEL POWELL/ JERRY LEWIS/ SOFIA COPPOLA/ MURNAU

   O HOMEM QUE MUDOU O JOGO ( MONEYBALL ) de Bennett Miller com Brad Pitt
Não se trata de cinema. E nem mesmo de TV. Isto é rádio. Se a arte cinematográfica consiste em contar uma história com imagens, aqui o que temos são imagens que falam o absoluto vazio. O filme tem uma pobreza visual absoluta. São closes sobre closes e mais closes. Desafio alguém a se recordar de uma só imagem do filme... Hitchcock dizia que um grande filme é aquele que pode contar a mesma história com o som desligado. Se tirarmos o som deste filme ele morre. É rádio, voce pode acompanhar a história de olhos fechados. A cena mais "emocionante" é aquela da negociação de jogadores, dois babacas fazendo transações em telefones...wow! Nossa, que demais!!!! Serão esses os heróis do século XXI ? A moral do filme é infantil: em tempos de crise dá pra ser um campeão com pouco dinheiro e muita organização...caramba! Que novidade!!! É a velha moral made in the USA: não seja um loser. O filme seria rebelde se o cara largasse tudo e fosse tentar outra vida. Ah sim, tem uma cena emocionante, aquela em que o cara rebate a bola do recorde... triste filme, essa cena emocionante é da Fox Sports... É um dos filmes mais deprimentes já feitos ( para quem como eu adora cinema ). Nota ZERO. PS: Brad Pitt, que é um bom ator, faz o que pode. O filme fica o tempo todo focado em seu rosto. Entediante...
   THE RED SHOES de Michael Powell com Moira Shearer e Anton Wallbrook
Um dos maiores e melhores filmes da história. Ele dá uma estranha sensação de alucinação, de febre. "Tem atuações que beiram o sublime", ( palavras de Scorsese ), "algo de muito mágico acontece aqui". O filme possui um visual louco, exagerado, barroco, LSD, hiper-colorido e exultante de tanta vida. O filme após encerrado te acompanha, passa a fazer parte de voce, as cenas se fixam na sua memória. É cinema, cinema de verdade, imagens em movimento contando uma história. E essas imagens são complexas, ricas, detalhistas. É uma obra-prima inesgotável. E é o último suspiro do romantismo. Brilhante! Preciso dizer a nota? ( Mais comentários em outra postagem abaixo )
   A ÚLTIMA CAÇADA de Richard Brooks com Stewart Granger e Robert Taylor
Western com mensagem ecológica. Talvez seja o primeiro a defender os animais. Taylor é um caçador. Ele adora matar. E mata, mata e mata mais...Os búfalos são mortos às dezenas e o filme exibe mortes reais, cada animal que cai morto está morrendo de verdade. Granger é um ex-caçador, que por necessidade volta a matar. Mas ele odeia aquilo tudo, embora nada tente para parar a matança. Dá para ver o prazer sexual nos olhos de Taylor ao matar. Ele exibe um gozo absoluto. Uma índia entra na história, e após Taylor matar seus companheiros, ela se torna uma escrava sexual dele. O filme é de 1954 e foi um imenso fracasso de bilheteria. O público não suportava ver seu passado exposto. Brooks, amigo de Huston, sempre seguiu o mesmo caminho, filmes de macho. A diferença é que Brooks sempre exibiu consciência social. A cópia em DVD tem imagem muito ruim. Mas é um filme fantástico por sua coragem e originalidade. PS: os bichos são mortos com autorização do governo dos EUA. Todo ano uma porcentagem é sacrificada para controle de população... Nota 7.
   OS SONHADORES de Bernardo Bertolucci
Saudades de 68...apenas isso. O filme é muito bem dirigido ( compare-o com Moneyball, comentado acima ), Bernardo cria imagens, movimentos, mesmo sobre um roteiro pobre. Os extras do DVD são melhores que o filme. Comento este filme com mais detalhes numa postagem abaixo. Nota 5.
   DEMORA-SE A CEGONHA de Henry Koster com Betty Grable e Dan Dailey
Casal que trabalha em TV tenta adotar criança. É apenas isso, um casal estéril tentando conhecer as alegrias da paternidade. Tudo em tom de comédia musical. O filme é alegre, colorido e tem a curiosidade de vermos as Tvs de então, enormes móveis de madeira que eram vistos como decoração da sala e não como tecnologia. O filme é desfrutável, mas bastante banal... Nota 4.
   O MENSAGEIRO TRAPALHÃO de Jerry Lewis com Jerry Lewis
Em OS SONHADORES, há um momento em que o americano diz que Lewis é ruim e o francês o chama de gênio. Os americanos erraram, Jerry nunca é ruim, mas os franceses erraram também, Jerry era irriquieto e criativo, mas nunca genial. Pobre Jerry Lewis, enquanto comediantes como Keaton e Tati são reavaliados e hoje têm enorme popularidade, Jerry Lewis, que já foi o mais famoso humorista do planeta, é hoje um desconhecido para quem tem menos de 40 anos. Nas Sessões da Tarde dos anos 70, seus filmes eram reprisados toda semana. E revendo-o hoje descubro o porque de sua queda. Ele perdeu a graça. Hoje admiramos o arrojo e a habilidade de Keaton. Se não rimos não importa, são grandes diversões. Com Tati amamos sua poesia e seu visual. Mas os fimes de Jerry Lewis precisam fazer rir, se não dermos gargalhadas nada há para se admirar. Pior, ele passa todo o tempo fazendo caretas, fazendo caras e bocas, exigindo nosso riso. Cenas que poderiam ser de belo cinema, são estragadas pelas caretas de Jerry Lewis. Ele deveria ter aprendido com Keaton, com Tati, com Stan Laurel, a simplesmente fazer a cena e NUNCA tentar ser engraçado. Nisso os americanos acertaram na mosca: Jerry era histérico. Nota 4.
   MARUJOS DO AMOR de George Sidney com Gene Kelly e Frank Sinatra
Tenho um amigo que adora os filmes de Gene Kelly e não os de Fred Astaire. Entendo o porque. Astaire dança sapateado e ballet pop. Gene Kelly dança sapateado e é um grande atleta. Astaire é "apenas" elegante e cool. Gene Kelly é muito mais quente, simpatico e humano. Astaire é um ideal. Kelly é quase real. Neste filme, a famosa história de dois marujos que conhecem garota e se envolvem com ela, há a cena de Gene Kelly dançando com o rato Jerry. É muito bem feita e fez a fama de Hanna e Barbera. Sinatra, muito jovem, faz um marujo virgem, tímido, que quer aprender com Kelly a ser malandro. O musical é chato. Pedimos por mais Gene Kelly e menos enrolação. Nota 4.
   MARIA ANTONIETA de Sofia Coppola com Kirsten Dunst e Marianne Faithfull
Será que um dia Sofia chega lá? Pelo menos ela tenta fazer cinema. Foge das imagens de TV. Mas lhe falta a habilidade básica: contar uma história. Todos os seus filmes dão a sensação de serem uma coleção de cenas, de clips, e jamais uma história interligada. Aqui acontece mais um problema: ela critica a tolice da adolescencia via Maria Antonieta, rainha futil por excelência; mas faz um filme que é fútil também. Tem a profundidade da rainha que critica. É um bobinho, engraçadinho e fofissimo filminho. Nota 3.
   AURORA de FW Murnau com George O'Brien, Janet Gaynor e Margaret Livingston
Há um movimento atual que pede para que este filme, e não CIDADÃO KANE, seja considerado o maior filme da história do cinema. Eu não sei qual o maior filme da história. Dificil decidir entre ATALANTE, VIVER, MORANGOS SILVESTRES, 2001, RASTROS DE ÓDIO, VERTIGO  e tantos outros... Mas este pode ser ele. Porque ele é imenso. E essa é a sensação que uma obra de gênio dá. Ela é como um mar, vasto, de horizontes que não têm fim. E todas essas obras dão vontade de ver e rever e rever e rever... Há tanta riquesa visual neste filme, as imagens são tão cheias de detalhes, de sombras e luz que nós ficamos impressionados com a imaginação e o dominio técnico de Murnau. É o ponto mais alto da arte da imagem em movimento. É uma obra que dá orgulho a quem ama o cinema. Nota acima de sublime....

TARANTINO/ GRACE KELLY/ COEN/ DONEN/ DE MILLE/ CUKOR

   DUAS SEMANAS DE PRAZER de Mark Sandrich com Bing Crosby e Fred Astaire
Dois partners de shows se separam, por causa de uma mulher. Crosby que é o bonachão, vai viver no campo, e lá monta um hotel-teatro, onde apresenta shows só nos feriados. Astaire acaba indo parar lá, e eles disputam outra garota. O filme, muito alto astral, tem White Christmas, o single fenômeno de Irving Berlin. E tem muito mais, tem diversão, boas canções e atores simpaticos. Sandrich dirige tudo com finesse. Exemplo do filme standard da velha Hollywood. Nota 7.
   FUNNY FACE de Stanley Donen com Audrey Hepburn, Fred Astaire e Kay Thompson
Crítica longa postada abaixo. Que mais dizer? É lindo. Audrey convence como a intelectual que se torna modelo e Fred faz o fotógrafo que a descobre. Vão à Paris e a cidade nunca foi tão bonita. A verdadeira cidade sempre sonhou em ser esta Paris da Paramount. O filme tem um visual brilhante, as cores parecem respirar. Em termos visuais é uma obra-prima. Relaxe e aproveite! Nota DEZ.
   KILL BILL VOLUME I  de Quentin Tarantino com Uma Thurman
Um absoluto prazer! Rever este filme agora é tão bom como em seu tempo de lançamento. Tarantino, talento superlativo, um cara que sabe tudo de cinema, esbanja talento. A ação é incessante e nunca cansa. Música e cor, corpos que se lançam no vazio, olhares coreográficos. Com os Shaw Bros, Tarantino aprendeu tudo e uniu essa arte às referências dos anos 70 que ele tanto adora. Uma festa para os olhos, para os nervos, para o coração. Esse diretor dá dignidade ao cinema atual, mostra que a grande tradição da ação, do cinema tipicamente americano, é viva. Bato palmas para todos os seus filmes. DEZ!!!!!
   KING KONG de John Guillermin com Jeff Bridges e Jessica Lange
Quem esperaria que Jessica se tornaria uma atriz com dois Oscars? Ela, modelo de sucesso, estréia aqui, e brilha em sua sensualidade e beleza inebriante. Mas o filme é tolo, sem porque. O Grande Lebowski é um tipo de cientista-explorador meio hippie. O macaco é cômico. Jessica é a melhor vítima do Kong que já houve. Um tipo de nova Grace Kelly em tempos sem realezas. Nota 2.
   MATADORES DE VELHINHAS de Irmãos Coen com Tom Hanks
Pra que refilmar um filme perfeito? O original é inglês, de MacKendrick e tem Peter Sellers. Este é ridiculo. Não tem graça nenhuma, é irritante, mal escrito, sem sentido. Talvez o pior filme dos muito talentosos irmãos. Tom Hanks está constrangedor. Nota ZERO.
  MEIAS DE SEDA de Rouben Mamoulian com Fred Astaire, Cyd Charisse e Peter Lorre
Não gosto muito deste filme. E deveria gostar, afinal todos os seus ingredientes são excelentes. Mas algo desandou, as canções funcionam mal, as danças são comuns e o diálogo não tem graça. Fala de agentes russos que se deixam seduzir por Paris. Cyd é a super-russa que vai até lá, ver o que aconteceu. É refilmagem de Ninotchka. Não deu certo. É dos últimos musicais de Astaire, ele merecia coisa melhor. É um filme "de luxo", há quem o adore, não é meu caso. Nota 3.
   MESTRE DOS MARES de  Peter Weir com Russell Crowe
Foi uma das grandes decepções que tive nos cinemas na época. Revisto agora é ainda mais insuportável. Um monte de cenas escuras, tédio constante, o filme não se decide entre a ação e a tal arte. Acaba por não fazer nem uma coisa e nem outra. Quem procurar aventura ficará frustrado, quem quiser reflexão nada encontrará. Crowe parece com sono. Nota 1.
   LEGIÃO DE HERÓIS de Cecil B. de Mille com Gary Cooper, Madeleine Carroll, Paulette Godard, Robert Preston e Preston Foster
O filme fala da rebelião no Canadá. A população mestiça se rebela contra a coroa inglesa e a policia montada é enviada para cessar a briga. Cooper é um texano que está por lá com uma missão. É um filme exemplar. Após uma apresentação precisa, a ação se desenrola sempre no tempo certo. O diretor dá tempo para que conheçamos os personagens e logo em seguida cria mais uma reviravolta e mais uma cena de movimento preciso. De Mille era um cozinheiro-mestre, sabia sempre o que adiconar, a dose certa, a temperatura exata. Gary Cooper, já foi dito, era o americano perfeito, aquilo que todos eles gostariam de ser. Pouca gente lembra, mas era ele a grande estrela do cinema da época ( ele estava acima de Gable, Grant, Bogart e Fonda ). Já vi vários filmes de Cecil B. de Mille, este é aquele que mais me satisfez. Diversão pop de primeira. Nota 9.
   LES GIRLS de George Cukor com Gene Kelly, Kay Kendall e Mitzi Gaynor
Uma ex-corista lança uma biografia. Ela é processada por difamação. Quando o filme começa já estamos no tribunal. Três depoimentos serão dados, os três conflitantes, qual a verdade? O filme tem um problema sério, a primeira parte tem Taina Elg como centro, e ela não consegue segurar o interesse. O filme melhora muito nas outras duas partes. Kay Kendall, comediante inglesa de primeira, na época esposa de Rex Harriosn, dá um show como uma atriz beberrona; e Gaynor está ótima como uma bailarina americana virgem. Gene Kelly é o sedutor-diretor das três mocinhas. Não há nenhum grande número para ele brilhar, mas o filme é elegante, colorido e dirigido naquele estilo vistoso de George Cukor. Cukor foi um dos grandes de Hollywood, seus filmes sempre brilham. Nota 7.
   HIGH SOCIETY de Charles Walters com Grace Kelly, Bing Crosby e Frank Sinatra
Sempre me lembro de um reveillon em que voltei bêbado pra casa ( e insone ). Lembrei então que ia passar este filme na TV, e que no jornal saíra uma página sobre ele. O chamavam de o "filme mais chic" já feito. Liguei a TV, deitei no tapete e o assisti. Me senti tão chic, que no dia seguinte comprei uma cigarreira de prata. E procurei a trilha sonora em disco até achar. Depois desse dia já o revi por duas vezes. Ontem foi a terceira. Ele é sobre nada. O que vemos é Grace ficar bêbada, dançar, flertar e afinal se casar com seu ex-marido. Crosby é esse marido. Paciente, tranquilo, cool. E Sinatra é um jornalista pobre. Louis Armstrong faz Louis Armstrong, ele toca alguns números no filme, todos ótimos. Os outros números musicais são todos maravilhosos ( Cole Porter ). Destaque para True Love, uma das mais belas canções de amor já feitas, e tem ainda Did You Evah?, em que Crosby e Sinatra se preparam para ir à uma festa. O filme é uma bobagem, uma tolice leve e ebuliente...assim como é também um doce delicioso, um souflé, uma calda de chocolate. Vicia e delicia. Grace Kelly está muito bem. Sua personagem, nada fácil, é frágil, arrogante e sedutora. Falam de Audrey, de Liz Taylor, de Sofia Loren.  Mas para mim ninguém foi mais bonita que Grace Kelly. Ela era perfeita, sexy, tinha uma voz educada e elevada, um olhar de promessa. Mesmo ao lado de dois mitos ( Sinatra e Crosby ), o filme é todo dela. Maravilhosa!!! Nota 9.

MANKIEWICZ/ REX HARRISON/ BRUCE WILLIS/ BING CROSBY/ HUSTON/ SINATRA/ OKLAHOMA!

   CHARADA EM VENEZA de Joseph L. Mankiewicz com Rex Harrison, Susan Hayward e Cliff Robertson
Um velho milionário em Veneza se finge de doente terminal para avaliar a reação de suas três ex-mulheres. Mankiewicz, o grande diretor de A Malvada, famoso por seus roteiros exemplares, não consegue criar aqui o interesse para manter o filme de pé. Sua intenção é a de fazer uma sofisticada comédia levemente cínica. Cínica ela é. De qualquer modo, Rex Harrison é sempre um mestre nesse tipo de personagem. Vê-lo atuar salva o filme do meramente ruim. Nota 5.
   CATCH.44 de Aaron Harvey com Bruce Willis, Forest Whitaker e Malin Akerman
É um compêndio de cenas roubadas de filmes de Tarantino e Rodriguez. Será que esse Aaron é um pseudônimo de um dos dois? Este filme não tem história, são apenas cenas de diálogos pseudo-espertos e tiros sanguinolentos. Forest faz seu tipo "sou um pobre diabo" e Bruce Willis faz Bruce Willis. Mas... que diabos, é divertido! E dura apenas oitenta minutos. Nada de tentativa de fazer arte, nada de tristezinhos sensíveis, nada de denúncias para festivais. É apenas um filme adolescente-macho, cheio de rocknroll ( tem Bowie cantando Queen Bitch ). E eu adoro Bruce Willis!!!! Nota sei lá....cinco tá bom.
   O BOM PASTOR de Leo McCarey com Bing Crosby e Barry Fitzgerald
É um dos filmes mais detestados pelos críticos moderninhos. Isso acontece por ele ter, no Oscar de 1944, "roubado" os prêmios de PACTO DE SANGUE, a obra-prima de Billy Wilder. Que culpa este filme tem? É um bom filme otimista e tolo. Bing, muito bem, faz um padre moderno e sempre de bom humor, que é enviado a paróquia decadente para a salvar. Fitzgerald, ator irlandês que chegou a trabalhar no Abbey Theatre, é o velho padre veterano e antiquado. Acontece um milagre no filme: ele não é meloso e nem chato. Tem uma leveza, uma falta de pretensão maravilhosa. Mérito de Leo MacCarey, diretor formado em filmes de Harold Lloyd, e diretor dos irmãos Marx em Duck Soup. Bing Crosby canta Swimming on a Star...é divino!!! A perfeita canção pop. Delicioso passatempo. Nota 8.
   A BÍBLIA, NO INÍCIO de John Huston com George C.Scott, Ava Gardner, Peter O'Toole...
Um dos grandes desastres de Huston. Mas este não é um soberbo desastre, é apenas um filme muito ruim. O antigo testamento é infilmável. Ele é poesia, feito de imagens simbólicas e prosa intrincada, nada menos filmável. Mas Huston amava textos não-filmáveis. Aqui quebrou a cara. O filme é chato, longo, tolo, infantil e feio de se ver. Um caos. Nota Zero.
   JACK, O MATADOR DE GIGANTES de Nathan Juran
Na época em que este filme foi feito ( 1962 ), Ray Harryhausen era o rei dos efeitos especiais ( Ray é o ídolo de Tim Burton ). George Pal vinha logo em seguida. Pois bem, este filme tem efeitos que Não são de Ray ou de George. Portanto são efeitos muito ruins. Não possuem a perfeição de Ray e nem a poesia de George. Isso derruba esta aventura cheia de bruxos, monstros e que tais. Tudo tem jeito de carnaval e nunca de magia. Nota 2.
   ROBIN HOOD DE CHICAGO de Gordon Douglas com Frank Sinatra, Peter Falk, Dean Martin
Chicago dos anos 30. Falk e Sinatra estão em gangues rivais. Sinatra acaba por se tornar um tipo de Robin Hood da máfia. E o roteiro é só isso. Não fossem duas coisas geniais: Peter Falk faz um mafioso "italiano" hilário!!! Tudo que De Niro faria depois está aqui. A voz enrolada e as palavras saindo como cascata, os trejeitos das mãos, o modo debochado de sorrir, é uma criação maravilhosa de um grande ator. E há Bing Crosby, que faz um almofadinha nerd, que acaba por se unir ao grupo. A cena em que Sinatra e Dean ensinam a Bing como se vestir para sair é ótima. O filme, fora isso, é bastante assistível. E ainda vemos os Rat Packs fazerem seus tipos espertinhos de sempre. Nota 6.
   OKLAHOMA! de Fred Zinnemann com Gordon McRae, Shirley Jones e Gloria Grahame
Agnes de Mille fez as coreografias e isso é muito bom. As cenas de dança, infelizmente poucas, são fascinantes. Este filme mostra o porque dos musicais começarem a ruir em cinema. Deixou-se de criar musicais para cinema, e apostando no certo, se começou a transpor para a tela sucessos da Broadway. O que funciona no palco pode ser um fiasco na tela. Este filme, imenso, caríssimo, não foi um fiasco, mas foi pensado como um clássico, e nem sequer é um bom filme. Como cinema, as cenas melhores são aquelas com Gloria Grahame, que faz uma moça incapaz de dizer não a um moço. Gloria foi uma atriz original, meia feinha e muito sexy. Sua vida pessoal foi mais interessante ainda... Zinnemann que é um grande diretor, não sabe fazer um musical. Percebemos seu desconforto, ele não corta quando devia, não estica o que merece ser apreciado. Tudo isso faz deste filme uma coisa esquizo, sem rumo, artificial. Nota 4.
   MILAGRE NA RUA 34 de George Seaton com Maureen O'Hara, Edmund Gwenn e Natalie Wood
É a história do velhinho que pensa ser Papai Noel. Ele passa a trabalhar na Macy's, onde conhece mãe solteira que tem um filha sem ilusões sobre a vida. Este filme, simples e bonito, ganhou um Oscar de roteiro. Mereceu. Embora pareça apenas um filme bacaninha de natal, ele é na verdade um muito sério debate sobre o que é real e o que parece ser a verdade. Seaton, que escreveu a história, dirige tudo como um quase documentário, cenas cruas, sem muita produção. Para quem quiser ver um filme de natal sem nada de piegas ou de bobo, este é o filme. Encantador. PS: Natalie Wood, ainda criança, dá um show como a menina "realista". Gwenn faz um Santa Claus próximo do perfeito. Nota 8.

FRANK SINATRA E A ARTE DE VIVER- BILL ZEHME ( NÃO INDICADO A MENINOS SENSÍVEIS, MENINAS MODERNETTES E MOÇOS INTELIGENTINHOS )

   Não é uma biografia. Apesar que até pode servir como uma. Na verdade é exatamente aquilo que o título diz, Frank Sinatra dá conselhos sobre a arte de viver bem. E Frank pode se dar esse direito, ele viveu, ele amou muito, brigou muito, errou demais e deu sempre a volta por cima. Frank dando conselhos é muito melhor que a maioria dos filósofos e psicólogos, ele fez, não leu e decorou.
   Amizades, festas, bebidas, roupas, casamentos, mulheres, familia; esses os assuntos sobre os quais ele mais se detém. Fala de forma direta, sem enrolação. Muita gíria, muita malandragem.
   Fidelidade absoluta aos amigos. Sinatra era famoso por ajudar amigos, com dinheiro, com trabalho, com apoio moral. As melhores histórias e as melhores frases do livro estão nesses capítulos. Dean Martin, Sammy Davis Jr, Bogart, Shirley MacLaine, Joey Bishop. Há ótimas histórias sobre todos eles. Engraçadas, algumas bem tristes. Zehme conta que em 1949, na época de azar, os amigos viravam a cara para ele. Isso o marcou tanto que ele nunca mais pediu ajuda a ninguém e passou a oferecer ajuda a quem o merecesse. Frank Sinatra nunca perdeu seu jeito siciliano, seu modo de falar dos amigos é o modo caloroso, familiar, honroso dos sicilianos, modo que também tem ares de máfia. E daí?
   Jack Daniels, muito Jack Daniels. Sinatra diz beber uma garrafa por dia. Todo mundo sabe que é mentira. Na verdade ele "usava" uma garrafa por dia, enchia seu copo, dava dois goles e o deixava num canto. Enchia outro, dois goles, abandono. Isso lhe dava a fama de bom bebedor, que é o que ele queria. Cigarros ele nunca tragava. Eram parte do show. Sempre a mão, mas nunca tragados. Mas mesmo assim, Sinatra sabe o que fala, entende de Jack Daniels, ensina drinks, adora vodka, e principalmente ele sabe acender o cigarro de uma dama. Um gesto fluido, leve, rápido, sem afobação.
   Sinatra é um homem a moda antiga. Para ele nenhuma mulher deve ser tratada como uma qualquer. Todas eram "mamas" em potencial. deviam ser bem alisadas, elogiadas, protegidas e nunca jamais agredidas. Dean Martin diz que para Frank até as prostitutas não eram putas. Sinatra lhes dava presentes, conselhos, ouvidos, ombros e sexo. Mas não se vangloriava de suas proesas. Era um cavalheiro.
   A vaidade era imensa. Foi filho único e com 14 anos já tinha oito ternos. Frank Sinatra adora a limpeza, a roupa certa, o lenço no bolso, a calça bem passada, a elegância discreta, correta, perfeita. Ele foi guru de moda para milhões de homens ( hoje é.... Jay Z ? ), homens que copiavam o chapéu que ele usava, a gravata, o sapato. Homens que sonhavam em achar sua Ava Gardner.
   Ava Gardner destruiu Sinatra. Foi a mulher que o humilhou, que fugia, que não baixava a guarda nunca. Ele, quando a perdeu de vez, pirou. Perdeu o rumo, afundou, quase morreu. Quando retorna a vida, lança uma montanha de lps que são a educação sentimental de todo homem que merece ter culhões. Lançando até quatro por ano ( sim, 48 faixas todo ano ), ele teve a esperteza de variar. Um Lp alegre, um triste; ou seja, um para dançar com a dama, outro para chorar a falta dessa dama. Eu conheço todos. Os discos tristes são a coisa mais deprimente que já ouvi. Quem pensa que Nick Drake ou Leonard Cohen é o máximo em tristeza nunca escutou " I'm A Fool for Love You". Por outro lado, os discos pra cima são a coisa mais alegre, chic, viril e sexy que já ouvi. O homem era foda!
   As festas são do tipo que começam sexta-feira em Los Angeles e terminam na segunda em Londres. Frank era dono de 3 jatos e era comum que ao escutar de uma dama que ela adorava lagostas de um certo restaurante em Paris, mandar um avião buscá-las e as oferecer um dia depois. Assim como oferecia advogados, guarda-costas, casa, para quem precisasse.
   Ele era intenso. Se era amigo, era um irmão, se era irmão, era Frank Sinatra. Não dormia, tinha medo de perder alguma ação. Logo enjoava das coisas, então partia para alguma nova coisa. Sempre cercado por amigos, odiava ficar só. Tinha de falar, de se mover, de se exibir. Era o que hoje chamamos de "O Cara".
   Mas não há nada parecido com Sinatra hoje. Não falo como artista, falo como homem. O tipo de homem-Sinatra foi morto pelo feminismo, pelos hippies, pelo excesso de drogas, pelo relativismo. Ele não chorava em público, não se lamentava quando devia rir, nunca baixava a guarda. Suas lágrimas, suas lamentações, suas loucuras eram exibidas em casa, para dois ou três amigos, e só. Ele servia seus fãs, respeitava-os, tinha de ser Frank Sinatra. Jamais faria coisas como os astros do rock fazem ou fizeram. No mundo de Frank, "sofrer" por ser famoso era hipocrisia de fracos. E um homem é forte. Ou não tem culhões.
   Nada do que está no livro teria valor não fosse Sinatra quem foi. O Cara, o chefe, o grande boss, o cara que sabe se divertir, que sabe onde ir e quem encontar. O que vestir, o que botar no som, o que comer e beber. Ele sabia viver, e melhor, fazia seus amigos viverem esse "saber" com ele. O cara era foda.
   Uma infinidade de homens tentou ser Frank Sinatra em alguma coisa, em algum momento. Ninguém chegou perto ( quem chegou perto foram aqueles que Sinatra seguiu: Bogart e Dean Martin ), mas tentar já é um mérito.
   Recomendo o livro como excelente leitura de ano-novo. Se voce não for um caso perdido, vai te botar lá em cima. Como deve ser.