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WOODY ALLEN/ GORE VERBINSKI/ ANTHONY MANN/ JAMES STEWART/ FELLINI/ BERGMAN

O DORMINHOCO de Woody Allen com Diane Keaton
Em termos de humor puro, nenhum filme de Allen é melhor ( entendam, este é o mais pastelão,e eu adoro pastelão ). Na saga do nerd que é adormecido em 1973 e acorda em meio a revolução séculos mais tarde, encontramos defeitos de diretor iniciante ( irregularidade ) e qualidades dessa mesma juventude ( irresponsabilidade ). Uma delicia!!! E que humorista genial Diane sempre foi ! São dela as melhores cenas. Nota 7.
RANGO de Gore Verbinski
Cheio de altos e baixos, esta homenagem ao western melhora muito ao final. Seu defeito é ter um personagem central fraco. A homenagem a Clint Eastwood é excelente! Aliás, a trilha sonora paga tributo a Morricone. Nota 5.
WINCHESTER 73 de Anthony Mann com James Stewart
Primeiro dos clássicos de Mann/Stewart. Um rifle é o que move bando de homens no oeste. Na verdade há mais que isso, há o ódio entre irmãos. O western de Mann em nada se parece com aquele de Ford, onde Ford canta a vastidão e a camaradagem, Mann destaca a solidão e a desconfiança. Stewart exibe uma então nova faceta de seu talento: o dom de mostrar a fúria contida. Um filme maravilhoso. Nota DEZ.
DESTRY RIDES AGAIN de George Marshall com James Stewart e Marlene Dietrich
Stewart é um muito calmo filho de antigo justiceiro que vai a cidade dominada por chefão. Ele, com seu jeito calmo e cheio de "causos" acaba por vencer, claro. Esta comédia-western é uma graaande diversão. Há humor genuíno neste excelente personagem. Nota 8.
...E O SANGUE SEMEOU A TERRA de Anthony Mann com James Stewart, Arthur Kennedy e Rock Hudson
Aqui Stewart cria amizade com tipo suspeito e ficamos sem saber por quase todo o filme o que os une. A fotografia é espetacular. Mas a ação carece da eletricidade de Winchester 73. De qualquer modo é um bom exemplar do filme de bangue-bangue. Nota 7.
A DOCE VIDA de Federico Fellini com Marcello Mastroianni, Anouk Aimée, Anita Ekberg, Yvonne Furneaux, Alain Cuny e Magali Noel
Crítica abaixo ( no texto sobre a avendia Sumaré ). Numa estranha coincidência, revi este filme antes de saber que ele seria vendido em banca de jornal. A figura do paparazzo é criada e batizada neste filme. Que marca a segunda fase da carreira de Fellini. Ele deixa de ser realista e passa a se aprofundar dentro de si-mesmo. Acompanhamos Marcello ( um soberbo Mastroianni ) em sua jornada por Roma. Ele caminha para o esvaziamento, o que vemos são mortes, de mitos, de sonhos e de intenções. Roma nunca esteve tão bela, escura, misteriosa, sexy. Não é uma obra-prima, tem muitas cenas falhas, mas suas grandes cenas ( o final é histórico ) são de antologia. Nosso mundo nasce neste filme. Nota 9.
UM ESPÍRITO BAIXOU EM MIM de Carl Reiner com Steve Martin e Lily Tomlin
A excelente história da ricaça que morre e encarna no corpo de Steve é ótima. Mas Reiner perde o ritmo várias vezes. Steve Martin, o melhor humorista americano dos últimos trinta anos, brilha. Seu papel é não só engraçado, é uma peça de arte. Nota 6.
MORANGOS SILVESTRES de Ingmar Bergman com Victor Sjostrom, Ingrid Thulin e Bibi Andersson
Em coincidencia, além de ver A Doce Vida, ainda tive minha quarta apreciação de Morangos Silvestres. Que também sai em banca de jornais. Vou passar o resto de minha vida vendo este filme uma vez por ano. Já o comentei longamente neste blog. Suas imagens são de sonho. Mostram a busca de resgate/remissão de um velho médico em viagem. Nesse caminho ele descobre ter errado sempre. É genial a forma como Bergman mistura o velho homem alquebrado com suas lembranças sempre jovens. A famosa cena do sonho ainda é rica em material e em sentidos. E tem um final inigualável, o velho homem olha seus jovens pais a pescar em lago, o velho sorri para eles e todo o sentido do filme se revela. Ele está conciliado com seu inferno. Em que pese duas cenas ruins, o filme é tão superior ao meio "cinema" que só pode ser comparado a Mozart ou Tolstoi.
SORRISOS DE UMA NOITE DE AMOR de Ingmar Bergman com Harriet Andersson, Ulla Jacobson, Eva Dahlbeck, Margit Carlvist
Uma constatação: onde Bergman acha tantas atrizes bonitas? Esta é uma comédia de Bergman, ou seja, é um filme estranho. Fez imenso sucesso de público ( o que testemunha a favor do público de 1955 ). Conta, com ironia, a história de casais que se traem, mentem, falam bobagens e seduzem uns aos outros. E se vingam também. É dos mais imitados filmes da história. Woody Allen já o refilmou e Paul Mazurski também. Mais Altman, o próprio Allen e uma infinidade de nomes têm se inspirado nele. Há ainda uma aula de sensualidade sem culpa da vulcânica Harriet Andersson. Leve, bonito, mas com um amargor que permanece. Nota 7.
A VIDA DURANTE A GUERRA de Todd Solondz
Adorei o que Cássio Starling Carlos escreveu na Folha. Ele denuncia esses filmes "chantagistas". Filmes como Rio Congelado, Preciosa e Inverno da Alma, todos milimetricamente formatados para ganhar festivais indie e serem endeusados por pessoas "com bom coração". Quem não gosta desses filmes é rotulado de insensível. Necas!!!! São filmes ruins feitos para enganar. Fáceis de fazer, fáceis de inscrever em festivais, fáceis de esquecer. Este é um deles. ZERO!!!!!!!!!!!!!

ELIA KAZAN/ WARREN BEATY/ TOTÓ/ PAUL GIAMATTI/ GAINSBOURG/ MICKEY ROURKE/ RENE CLAIR/ BERGMAN

TOTÓ PROCURA CASA de Mario Monicelli e Steno com O Grande Totó
Que humorista foi esse tal de Totó!!!! Que rosto! Não espere elaboração dele. Não espere "humor sofisticado". Totó é um palhaço, como Mazzaropi, como Renato Aragão, como Buster Keaton e o Jim Carrey dos bons tempos. Seu humor é infantil, direto, simples, e portanto corajoso. Aqui o objetivo é o riso, só o riso, se seu público não ri o humorista falhou, daí sua coragem. Neste filme ( dos primeiros desse fenômeno chamado Monicelli ) ele é um pai de familia sem casa. O filme mostra ele tentando achar lugar para morar ( tenta uma escola, cemitério e até no Coliseu ele se aloja ). Uma chanchadona que é de um doce saudosismo. Totó foi um graaaande comediante! Nota 7.
CLAMOR DO SEXO de Elia Kazan com Warren Beaty e Natalie Wood
Crítica abaixo... É mais um belo retrato da América feita por esse tão importante diretor. Warren está muito bem como o jovem aluno inocente e rico ( é seu primeiro filme ). Natalie não está a sua altura na primeira parte do filme, depois ela cresce e acaba por nos comover. Drama de primeira. Nota 8.
FAY GRIM de Hal Hartley com Parker Posey e Jeff Goldblum
Talvez um Alphaville? Uma brincadeira de Hartley que lamentávelmente não dá certo. Parker está muito sexy ! Mas que roteiro é esse???? Nota 2.
NINHO DE COBRAS de Joseph L. Mankiewicz com Kirk Douglas, Henry Fonda e Warren Oates
Pois bem... este é um filme muuuuito errado! Explico o porque. Temos David Newman e Robert Benton, os dois mais brilhantes roteiristas da época. Eles escrevem uma história sobre um cowboy ladrão e uma prisão de desajustados. O roteiro, típico da época contracultural, atira em xerifes, racistas, mulheres, westerns etc. Mas, chamam para dirigir o filme Joseph L. Mankiewicz, o diretor, excelente, de A Malvada. Um grande nome, mas um estranho no ninho!!! O que acontece então? Nada. O roteiro, cheio de boas ideias, é asfixiado numa direção acadêmica. O resultado é morno. Kirk é perfeito para esse tipo de perverso/espertinho e Fonda brinca com seu tipo de americano/Lincoln. Mas é Hume Cronyn, fazendo uma espécie de debilóide que mais impressiona. Não é uma grande comédia, mas é ok. Nota 6.
PASSION PLAY de Mitch Glazer com Mickey Rourke, Megan Fox e Bill Murray
A capa do dvd promete: Rourke como um trompetista de jazz decadente. O ambiente é Utah. Fox é uma angelical esperança de redenção e Murray um empresário sacana. Atraente né? Pois é um drama risível de tão ruim. Deve ter sido escrito por algum fã de cinema com 8 anos de idade ( o roteiro macaqueia Asas do Desejo e um monte de filmes noir dos anos 40 ), o diretor, é flagrante, pensava estar fazendo um bom filme, deve ser um nerd de 11 anos e quem o produziu crê que o público de cinema é imbecil. Megan Fox é um anjo ( ela tem asas )..... e na última cena Mickey Rourke voa com ela rumo ao céu.... se aqui descrito parece ruim, creia-me, é bem pior na tela. Chega a ser cretino. Sem nota. Faz de conta que jamais o vi.
SLOGAN de Pierre Grimblat com Serge Gainsbourg e Jane Birkin
Um publicitário conhece em Veneza Jane Birkin. Ele é casado. Se amam, mas Jane o abandona. Pois é.... eu gosto muito de Serge e este é o filme em que ele conheceu Jane. Mas que lixo é este? Serge é péssimo ator e Jane chega a rir em cena !!! O filme é constrangedor de tão amador!!! Não é um filme, é muito mais um documentário sobre um flerte. Nota 1.
PORTE DE LILÁS de René Clair com Pierre Brasseur e Henri Vidal
Em favela francesa ( sim, são barracos em ruinas ) um assassino se esconde. Fica no porão de um cantor fracassado e é ajudado por um tolo ingênuo. O filme tem belas imagens, mas se perde em sua excessiva glamurização da pobreza. Clair funciona melhor em fantasias puras, onde ele pode "levantar vôo". Nota 5.
ATRAVÉS DE UM ESPELHO de Ingmar Bergman com Harriet Andersson, Max Von Sydow, Lars Passgard e Gunnar Bjorsson
Uma obra-prima, devastadora. Retrato de uma personalidade em crise ou retrato de nossa condição desde sempre? Bergman nada enfeita, nada exagera, nada dramatiza. Faz o que ele pensa dever ser feito, sem jamais mudar de rumo. É um filme de tristeza polar, mas também de uma beleza profunda, seca, perturbadora. Nota DEZ.
A MINHA VISÃO DO AMOR de Richard J. Lewis com Paul Giamatti, Dustin Hoffman e Rosamund Pike
Uma coleção de clichés. Acompanhamos a vida de um mala por 3 décadas. Cliché: a década de 70 e suas drogas, a esposa doidona, a vida como irresponsável flerte. Segundo cliché: a segunda esposa é uma chata judia à woodyallen... Já a terceira esposa é dos tempos atuais, mais cliché: gente que só pensa em saúde e equilíbrio. No final, supremo cliché: violinos e pianinho enquanto ele sofre de doença incurável.... Os críticos gostaram? Pobre crítica! Paul Giamatti imita Jack Nicholson. Faz exatamente o tipo que ele faz desde 1983. Mas é bom ator. É imitação de bom nível. Dustin nada tem a fazer. Fica lá, como um tipo de velho tarado. A direção é franciscana: pobre. O filme já nasce velho e com cheiro de reprise do SBT. Nota 3.

ATRAVÉS DE UM ESPELHO-INGMAR BERGMAN, O OLHAR IMPASSÍVEL DE DEUS.

Não há maior prazer em arte que ver um mestre dispor de seus elementos e exibi-los a nosso olhar. O que temos aqui é a radiografia de uma crise, e também a questão que funda nossa civilização.
Sven Nykvyst fotografa o filme. Temos a ilha, o universo limitado, o isolamento. Horizonte sem fim. Temos uma familia. Moradores únicos daquele mundo. Últimos ou primeiros seres. O filme, como tudo em Bergman, começa expondo seus personagens, sem apelação, sem atropelos, com musical crescendo.
Karin é a filha. Ela acabou de voltar de hospital. Seu caso psiquiátrico é incurável. Karin está em um de seus bons momentos. Aparentemente. Com ela vem seu namorado, que realmente a ama e sofre com ela. Há um irmão mais jovem, assustado com aquela situação e o pai, escritor famoso e distante da familia. Bergman em 80 minutos nos mostra esse drama cósmico, de quebra ganha seu segundo Oscar e modifica o alcance do cinema para sempre.
O filme é dedicado a esposa de Bergman ( uma das várias ) e é fácil perceber que o pai distante é Bergman. Mas na verdade ele é também Karin e sua loucura, o namorado amoroso e o irmão que odeia as mulheres ( e é fascinado por elas ). O filme em primeira visão é retrato de uma alma ilhada em conflito consigo mesma. Fosse apenas isso seria um ótimo filme, mas sendo muito mais alcança uma estatura de obra-prima ( isso se voce possuir a mente capaz de ver o que lhe é mostrado. Não indico o filme a meninos e inteligentinhos. Fiquem com a tola obviedade pornô de Cisne Negro/Anticristo e que tais ).
Karin começa a voltar a seu mundo dividido. E em quarto da casa "tenta entrar na parede". Alguma coisa a chama. A sutileza impera. Bergman não grava vozes a chamando, não usa trilha sonora de suspense, não exagera coisa alguma. Karin parece "normal", não somos invadidos por sua loucura, somos convidados a compreender e observar. Começamos então a sentir um incômodo imenso, vazio, começamos a sentir, suavemente, a loucura de Karin.
Há uma cena brilhante dentro de um barco encalhado. Chove, e os dois irmãos se escondem lá dentro. A água escorre pela madeira, eles se abraçam e se encolhem. Eis uma das mais belas cenas da história do cinema. O que vemos ali é toda a condição humana, desamparo,crise, e então voce começa a perceber o alcance do filme. A partir daí ( em seus vinte minutos finais ) o que temos é superlativo. Como gênio que é, Bergman traz a tona, sem estardalhaço, a questão fundamental de nossa civilização.
Karin volta ao quarto. A voz que a chama é Deus. E ela quer ir a seu encontro. Uma porta se abre e Ele vem a seu encontro. Karin grita, foge, se apavora. Ela é levada por sua familia e medicada. E diz: Eu vi Deus e Ele é como uma aranha, um terrível animal que me olhou com seu impressionante olhar frio, ausente, vazio. Karin optará por voltar ao hospital. No conflito de seus dois mundos, ela escolhe a loucura.
Mas o filme continua. E é nesse final que o toque do mestre se faz. Mas antes um comentário.
Deus seria uma aranha, a vida a teia em que Ele nos captura. Somos insetos em sua teia, presos. Mas não é apenas isso. O pai, numa cena crucial, diz que observa Karin, sem se envolver em seus problemas. Eis outra imagem de Deus, alguém que nos observa, indiferente, rompido com os homens. O filme tange a ideia de que somos um tipo de experimento que não deu certo, Deus nos virou as costas.
O irmão reclama logo no inicio que o pai não fala com ele, o ignora. Após Karin ir embora, rumo ao hospital, o irmão pergunta ao pai se Deus existe. O pai diz que não sabe, mas que o amor existe, com certeza o amor existe. O irmão pergunta se Deus não seria esse amor. O pai responde que isso não importa, o que interessa é que Karin está cercada pelo amor de sua familia. Esse diálogo, breve, é feito à luz de uma janela. O pai sai de lá e o filho, sózinho, diz com um quase sorriso: "Meu pai falou comigo!" Imediatamente o filme se encerra. Sem música, sem The End, sem nada, simplesmente vem o final. Seco.
Quem já tentou produzir arte, seja romance, pintura ou música, sabe o quanto é dificil chegar a simplicidade plena. Como é árduo conseguir dizer muito falando pouco. Impressionar sem chocar e despertar emoções sem violência. Quando o rapaz diz sua fala final, todo o drama de pais e filhos, de mestres e discípulos, de fiéis e Deus, cai sobre mim. Cubro meus olhos com a mão e choro. E peço a meu pai que fale comigo. Fale comigo como jamais falou. Fale comigo. Eis o drama central de toda a nossa civilização, esse pungente pedido de que alguém fale conosco, nos olhe, preste atenção, afirme que existo.
Karin foi sacrificada ( auto-sacrificada ) para chegarmos a esse encontro de pai e filho. E o mar, liso, vasto, magnífico, a tudo assiste sem se importar. A ilha permanecerá a mesma, mas aqueles quatro seres terão chegado perto de um sentido.
O que mais algum filme pode dizer?
UM BICHINHO, UM PERIGO, UMA MULHER
Descobri a atriz sueca Harriet Andersson há apenas dois mêses.
Acho incrível ainda ser possível, após tanto tempo assistindo e estudando filmes clássicos, ainda existirem tesouros para serem descobertos.
Harriet iniciou sua carreira em 1951, e vou comentar exatamente esse começo através de 2 filmes : Monika e o desejo, Noites de circo.
Em Monika ela é uma adolescente tosca, com modos e aparencia de camponesa. Ela foge para uma ilha com seu tolo namorado. Engravida, tem um filho, se casam, trai o garoto.
Brigitte Bardot ficou famosa por representar, pela primeira vez, um tipo de mulher sexy que não era uma vagabunda e nem uma musa etérea. BB era uma garota saudável. Com desejos. Ela não fazia um tipo, ela era uma mulher.
Como Goddard escreveu nos anos 60, Harriet em Monika fez isso antes. Neste filme ela não é culpada por nada, não é boazinha, não faz pose de diva, ela é simplesmente uma mulher que deseja sexo. E consegue.
Sua sensualidade chega a ser hipnotizante, e ela tem uma cena de nú ( em 1953 ! ), do mesmo tipo das que BB faria. Ela não posa nua, ela caminha nua.
Bonita, belíssima ela é ( embora para os padrões dos meninos de hoje, ela seja fêmea demais ), mas é uma beleza real, sem artifício, animal.
Num de seus livros Bergman chama Harriet de um dos poucos gênios que o cinema já conheceu. Note bem, Bergman chama Harriet, uma atriz, de gênio. Eu concordo. Porquê?
Hepburn e Bette Davis foram as melhores atrizes que o cinema já viu, mas não eram geniais. Elas faziam tudo com arte e carisma, mas não criavam, não arriscavam. O gênio arrisca, faz o novo, tenta, procura e pode até ser ridículo. Brando era gênio. Giulieta Masina era. E Harriet.
O jovem Goddard nos 50, ainda crítico dos Cahiers, disse que Monika tem o mais belo plano do cinema. É quando, em meio a um diálogo, Harriet se abstrai da conversa e encara de frente a lente da câmera. Ela sai do filme, e como nossa cúmplice, nos encara. Nos tornamos seus amigos, olhamos sua alma, compreendemos Monika e participamos da genialidade.
Goddard faria isso com Ana Karina em diversas vezes, mas aquela foi a primeira vez que um ator sai da cena e encara a platéia ( não como Groucho, que nos olhava sendo Groucho e comentava o filme. Não. Harriet nos olha como Harriet ).
O filme em sí não é um dos grandes Bergman. É apenas isso, um solo de Harriet.
Noites de Circo, feito dois anos depois, é um filme melhor. De uma amargura sem saída, com algumas cenas belíssimas ( o perfeccionismo visual de Bergman é inigualável ).
Um velho dono de circo namora uma amazona ( Harriet Andersson ). Cansado da miséria, ele tenta voltar a ex-esposa, mas é recusado. Ela se envolve com ator rico e esnobe, é humilhada. Os dois, o velho e ela, acabam juntos e derrotados. Apesar desse tema árido, o filme é fácil de assistir, jamais enfadonho e muito bonito sem parecer afetado.
Harriet marca muito, como Ana, a amazona, dando seu show de total sensualidade, parecendo um bichinho mimado, depois uma menina sexy e então, uma camponesa vulgar.
Em tempo, mais um toque:
Mesmo nesses secundários filmes de Bergman, notamos com facilidade algo de original, de único, em cada take, em cada cena. Autoridade. Não houve diretor que passasse mais autoridade. Aquela impressão de que ele sabe do que está falando, que ele sabe segredos, pode nos ensinar a viver, pode desvendar a vida.
No cinema de hoje, a ambição máxima é ser um novo Spielberg, um novo Scorsese. Sinto falta da verdadeira ambição. A de ser um novo Bergman.