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ULYSSES, BARBARA GANCIA, HAVAIANAS, ROBERTO CARLOS E MONKEES

   Paulo Coelho não gosta de Joyce. Seria surpreendente se ele gostasse. Porque tanto blá blá blá? Paulinho conseguiu o que desejava. Ele vingou aqueles que não conseguem ler Joyce. Que leiam Coelho.
   A Cinemateca produz uma multi-facetada mostra de filmes silenciosos. É sua chance, voce pequeno preconceituoso, de descobrir as delicias do mais cinematográfico dos tipos de filme. Imagem pura, ação sem diálogos, filmes que independem da lingua do país em que foram feitos, o mais pop dos estilos. E com trilha sonora improvisada ao vivo. Vão passar O Gabinete do Dr Caligaris. Tenho péssimas lembranças desse filme. Assisti aos 16 anos, e apesar de ter o dvd, nunca tive coragem de reve-lo. Hiper doentio, me dá um medo horroroso. Ver esse filme de Robert Wienne é como entrar na mente de um louco.
   Os Monkees, amados, vão excursionar. Se viessem ao Brasil eu iria. E teria de levar calmantes, balão de oxigenio e lenços à mão. Sem Davy Jones não será a mesma coisa. Mas lá estarão Peter, Mickey e Michael. E aquele monte de canções estupendas. Monkees é a única banda fake que virou lenda. E seu programa de Tv era anarquia pura. Ácido para crianças.
   Roberto Carlos foi o cantor da primeira canção que cantei na vida. O tempo voa e ele permanece de pé. Assim como MacCartney consegue, sem esforço, ser a alma em música da Inglaterra viva, com tudo de bom e ruim que ela tem ( comodismo, romantismo simplificado, humor, harmonia e hierarquia ), Roberto é o Brasil. Ele é doce demais, suave demais, sentimental demais, saudosista demais e carola demais. E ao mesmo tempo é profundamente verdadeiro, sincero, comovente e consolador. Ele não ousa. Ele executa. Ouvir coisas como Detalhes ou A Beira do Caminho é tomar contato com os arquétipos imorredouros de uma nação. O tempo voa e ele cresce. No deserto da canção romântica deste mundo velho e cínico, Roberto Carlos é bálsamo de esperança.
   Barbara Gancia é sempre ótima. Um texto dela: "Onde estão os Ricos?" Brilhante e hilariante. Ela toca com pé de chumbo e humor de veludo em assunto que muito me interessa. Ou seja: Com essas camisetas simplesinhas, essas bermudas horrorosas e chinelos fedidos, ainda existem ricos? O que define a riquesa? Afinal, hoje todos se vestem como pobres, assistem coisas de pobre e falam como pobres. Existem ricos, ricos de verdade? Onde estão esses endinheirados que se vestem como ricos, se divertem entre ricos e usufruem apenas do que é exclusivo? Barbara fala das imagens do Brasil de 1950, onde, ao contrário de hoje, todos parecem ricos. Ternos de linho e camisas brancas alinhadas. O pobre virou lei geral?
   Dou meu palpite: Ditadura da democracia. Ser rico é uma vergonha. Ser feliz é ser personagem da novela das oito. E rico de novela se comporta e goza a vida como pobre. A única diferença entre classes é que eles assistem Batman em poltronas melhores e usam a mesma bermuda de pobre comprada em loja mais cara. Fora isso, é o mesmo mundo de churrasco, balada e chinelo.
  Pense nisso: Na vida ou voce crê em tudo ou em nada. Isso é coerência. Crer em tudo: Anjos, física nuclear, na história, no marxismo, na psicanálise, em Jung e nas religiões. Porque tudo é uma questão de fé e se voce admite uma, creia, voce admite a validade de qualquer outra construção da mente criativa. Ou descrer de tudo. Religião, história, poesia, Freud e Marx, Kant e Goethe, admitir que tudo é vã construção da razão FANTASIOSA e assim se despir de toda crença e se guiar apenas por SUA EXPERIÊNCIA DE VIDA. Esse é o pensamento do mais importante filósofo vivo. E ele é tão bom que deixa a hipótese em aberto. Creia em tudo ou creia em nada. Mas jamais cometa a bobagem de crer em uma coisa e negar outra, ou negar tudo menos uma única teoria. Voce deve ir fundo. Ser um homem aberto a tudo, ou ser um homem descrente de tudo.
   Pra finalizar: Eu adoro a Inglaterra. E abomino os ingleses vivos.

NOEL COWARD, PONDÉ, ROBERTO DA MATTA, BOB GRUEN E TELMO MARTINO

   Alvíssaras! Comemorem! Dêem vivas! Noel Coward está tendo uma peça exibida em SP !!!!! Eu bem que senti que o ar de SP está um pouco mais wit. Noel Coward em cartaz é um privilégio tão sublime como ter disco novo de Bryan Ferry para ouvir. Noel é do tempo em que ser educado era objetivo de uma vida. A peça é Blythe Spirit e está no teatro que fica no Shopp Eldorado. Lugar horroroso que deve ter de súbito se tornado very classy. Essa peça, que foi filme de David Lean, trata de espirito que volta à Terra para atazanar ex-marido. Rex Harrison fazia o marido no filme. Nas telas o que eu recordo foi do colorido e das frases de Noel, uma profusão de linhas inteligentes. Humor britânico.
   O que me deixa assim assim é saber se há público na cidade para prato tão fino. Afinal, mesmo no teatro as pessoas regrediram e desaprenderam a escutar. E depois, a Inglaterra, como vimos em O DISCURSO DO REI, ainda tenta fazer peças e filmes com alguma elegância. O filme com Colin Firth, cá na selva, jamais foi apreciado como deveria. As massas preferiram o grand-guinol de segunda categoria de CISNE NEGRO e outras estultices. Bem...há quem evite o glamuroso O ARTISTA por achá-lo "dificil".... Glamour é hoje um tipo de sânscrito para o frequentador de cinema.
   Como estamos abaixo do Equador e nada aqui pode ser perfeito, Noel Coward tem em seu elenco Adriane Galisteu. Galisteu recitando Coward é como colocar Elba Ramalho para cantar Cole Porter. O encontro da buxada de bode com Dom Perignon.
   A soberba Barbara Gancia criticou Pondé na Folha. Mas Barbara é moça fina e sua critica foi apenas uma chamada à razão. Pondé se tornou um tipo de araponga de jornal. Ele grita e incomoda, mas ninguém entende o que ele fala. Eu já sabia que para a Páscoa ele mandaria algo cheio de sangue, crueldade e canibalismo. Afinal, o que ele queria dizer? Que o mundo pós-cristão é muito mais civilizado? Ora, isso qualquer intelectualzinho de barba e blusa vermelha sabe. Barbara fala que quem escreve em jornal não deveria ter uma atitude tão suicida. Pondé ataca o leitor e se coloca acima de quem o lê. Bem....Paulo Francis se colocava muito acima de quem o lia e era adorado por isso. O que me parece ser o erro de Pondé é que ele baba naquilo que redige.
   Roberto da Matta escreveu que existem obras que tomam o artista. Que quando um regente comanda uma orquestra que toca Mozart não é ele que rege Mozart mas sim Mozart que toma o maestro. Depois ele diz que até um cantor banal como Rod Stewart se torna maravilhoso quando grava Cole Porter ou Gershwin. Ora...eu tenho os cds em que Rod canta Cole e não há nada de maravilhoso lá. Como também já vi Mozart ser regido como se fora Berlioz. A grande arte só assume o comando de um artista quando ele previamente habita o mesmo endereço do autor. Rod é genial cantando folk e blues, isso porque ele vive nesse mundo. No universo do pop ninguém gravou a canção americana dos anos 20/40 decentemente. E olhe que vários tentaram, de MacCartney à Bowie e Ferry.
   Há uma expo de Bob Gruen na Oca. Bob é do tempo em que rock stars eram big stars. Suas fotos pegam a era em que o rock tinha a relevância que hoje é dada ao esporte. Se Bob fosse começar hoje e fotografasse os atuais rock stars todas as fotos teriam de ter legenda. E o visitante ganharia um Who1s Who na entrada. Bem...se começasse hoje Bob Gruen fotografaria apenas Lady Gaga. Ela em uma pose tenta imitar tudo o que Bob clicou por toda a vida.
   - Esta coluna é uma homenagem ao rei das colunas: Telmo Martino.