CRÍTICA DE ROCK, ESSA COISA SEM SENTIDO.

   Crítica de rock não faz sentido. Opinião de rock seria melhor. Escrever sobre música já é quase impossível, e sobre o gênero rock é ainda pior. Isso porque a tendência é acabar por tratar o rock como aquilo que ele não é. E dar à ele um verniz de erudição e de intelectualidade que ele nunca teve. E nem pode ter, pois isso significa sua morte como gênero original. Críticos de rock, mesmo os que pregam a simplicidade do som, acabam por fazer crítica. Educados em faculdades de letras ou de jornalismo, revelam em suas linhas os vícios da crítica literária. Acabam por dar à uma banda de iluminados iletrados de Newcastle a honra duvidosa de serem colocados no mesmo saco de Baudrillard ou de Chomsky. É o momento em que matam o rock.
  Desse modo, gente do meio que se presta a ser comparado a gente das letras acaba sendo incensado pelos críticos. E aqueles que não podem ser enfiados em uma comparação com Keats, Whitman ou Baudelaire, ficam a ver navios. São ignorados.
  Ainda é assim, mas já foi muito pior. A pulverização da imprensa em milhões de vozes na internet acabou com as patotas. Nos anos 70 só gente da esquerda era levada em conta. Desse modo, Dylan era rei e Lennon vice rei. E alienados como Black Sabbath ou Queen eram completamente deixados à margem. Ouvir Ozzy ou Mercury era coisa de analfabeto. O povo inteligente tinha de preferir Joni Mitchell. Ou The Clash.
  Na virada da década, entre 78-82, o Clash era chamado de maior banda da história do rock. Os destruidores marxistas do passado. Os caras que iam reorganizar o rock em bases igualitárias. Com eles vinha o Gang Of Four, Elvis Costello, The Jam e mais uma multidão de camaradas. Nesse mundo, The Police, The Cars ou Kraftwerk não eram muito comentados. Eles não cabiam nesse universo letrado. ( E os Ramones eram a sombra, um tipo de vício secreto culposo e culpado ).
  Nos anos 80 o niilismo imperou e a patota da crítica amava aqueles que lembravam Nietzsche. Nunca a crítica de rock foi tão poderosa e nunca esteve tão distante das massas. Eram textos gigantescos e nesse universo Iggy Pop era rei. O cinismo de Bowie era elevado à arte absoluta. Oscar Wilde mandava nas cabecinhas jornaleiras.
  Hoje nada disso faz sentido. Um crítico é um homem no gueto. Suas opiniões são levadas a sério apenas por seus amigos. Seus seguidores. Então podemos notar neste mundo muito mais aberto, que o Rush não era tão ruim e o Clash não era tão bom. Que o Grand Funk Railroad tinha seu valor e que talvez Neil Young não fosse um gênio. Leio sites de rock e é isso que vejo, o resgate de coisas que eram chamadas de lixo ( Cheap Trick e Thin Lizzy ).
  Ray Davies era tão bom quanto Dylan. Sempre foi. Mas sua patota não era A Patota.

O VENDEDOR DE ARMAS, UM LIVRO DE HUGH LAURIE.

   Sim, Laurie além de ser um bom ator e uma figura muito interessante, é escritor. Este é seu primeiro livro, de 2006, e desde então ele lançou mais três. Ele é da escola do genial Wodehouse, o cara que nos anos 30 lançou a maravilhosa série de Jeeves. Claro, não podemos esperar de Laurie tamanho senso de humor, mas sua escrita é bem feita. Tem ritmo, tem humor, tem agilidade.
  Um ex soldado inglês é envolvido, sem querer, numa complicadíssima trama que envolve venda de armas, drogas e mulheres bonitas. Laurie herdou de Wodehouse o amor à palavra, e assim dá atenção aos diálogos e aos duplos sentidos. O herói leva toda frase em seu sentido exato, que acaba sendo o sentido errado. Leia que voce vai entender o que falo.
  Este livro foi indicação de uma amiga que é mestre em conversar desse modo. Ela nunca leu os livros de Jeeves, mas por instinto ela pensa e fala como o personagem de Wodehouse. Conversar com ela é um belo exercício mental.
  Termino dizendo que este livro seria um filme muito bom.
  Quem se habilita?

Beach Boys - Help Me Rhonda (The Andy Williams Show 1965)



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HELP ME RHONDA!

A canção começa com acordes doces de guitarra ( deve ser Glenn Campbell no estúdio com seus Wrecking Crew ). Esses acordes logo são sobrepostos pela voz pensativa e bem adolescente. Voce pensa então em cozinhas de fórmica e quartos com fotos de astros de Hollywood. Mas então, sem avisar, entra o refrão, e a mágica se faz.
São as vozes dos Beach Boys e elas não estão doces. A melodia vem num ascendente quase atonal, ela vacila, e ela é, ora que coisa, profundamente angustiada. O adolescente pede socorro, insiste no pedido, chama e implora, socorro Rhonda, socorro...Nessas vozes, nessa melodia torta, há desejo frustrado, impaciência, dúvida e desespero. Há beleza superlativa.
É um dos cinco maiores singles da história do rock e do pop. Apenas dois minutos e meio, mas é um romance completo. Voce é capturado para o resto da vida. A massa instrumental aumenta, o que era doce vira quase fúria e o solo é esquálido, o pobre desejo virgem contra a contingência da vida.
Há quem ache, até hoje, que música pop é simples. Brian Wilson era simples como uma chuva de verão. Este single é pra eternidade.

TOM CRUISE - JERRY LEWIS - GLENN FORD - JEREMY RENNER

FEITO NA AMÉRICA de Doug Liman com Tom Cruise.
O traficante como um cara legal. Ok, o filme é amoral. Mas é bom pra caramba. É uma história real daquelas que só poderiam ter acontecido na América. Cruise, ótimo, é um piloto comercial em 1976. Contrabandista leve, ele é cooptado pela CIA para levar armas para os "contras" na Nicarágua. Mas logo o vemos enganando a CIA e fazendo contato com o cartel de Medellin. Ele leva armas à Colombia e drogas para os EUA. O dinheiro flui e o filme é uma comédia excelente. Sim, a moral do filme é "seja esperto e se divirta" .Mas com tantos filmes tendo por moral um tipo de culpa pós-cristã tipo " Deus não existe, a vida é um lixo", é uma alegria achar um filme que é seu oposto exato. A vida é uma festa, aproveite enquanto o tiro na cara não vem. A história desse otário-esperto adentra os anos 80 e ele se vê trabalhando para Reagan!!! Creia, os anos 80 não fizeram o menor sentido...Grande filme!
A MÚMIA de Alex Kurtzman com Tom Cruise e Russell Crowe.
Muito ruim. O roteiro não faz sentido, a ação é óbvia, as falas são ridículas. Para quem conhece A Múmia de 1936, filme cheio de erotismo e de mistério, esta balbúrdia é uma ofensa. Lixo.
ALMAS SELVAGENS de Jacques Tourneur com Glenn Ford e Ann Sheridan.
O filme se passa em 1900 na América Central. Um americano amotina um navio com a ajuda de alguns bandidos. Adentram Honduras, os bandidos achando que é por tesouro, o americano sabendo que tudo é feito para derrubar o ditador de plantão. O velho Tourneur de guerra em mais um de seus filme simples e bons.
O DIA EM QUE A TERRA SE INCENDIOU de Val Guest
Este filme inglês, de 1960, é talvez o primeiro filme a falar do fim do mundo do modo como entendemos isso hoje. Explosões nucleares desestabilizam o eixo da Terra e o clima entra em colapso. Mesmo para os padrões da época, os efeitos são ruins e o personagem principal, um jornalista beberrão, é um chato engraçadinho. O filme não é bom.
TERRA SELVAGEM de Taylor Sheridan com Jeremy Renner
Dão milhões na mão de diretores novatos e depois reclama do lixo que se produz. Hollywood tirou o poder dos individualistas e o negócio, a longo prazo, não é bom. Vemos uma manada de diretores com estilo idêntico e ideias feitas por molde de cera. Frio, caçadas, busca implacável, clima de niilismo, chatice atroz. Este é mais um.
O HERÓI de Brett Haley com Sam Elliott e Katharine Ross.
O projeto de vida do bom ator Sam Elliott. Ele é um ator esquecido que descobre ter câncer ( sim, mais um filme sobre doença ). Resolve tentar fazer um último filme enquanto reencontra a ex esposa, filho etc etc etc. Voce já viu isso milhares de vezes. Pena Sam.
ARTISTAS E MODELOS de Frank Tashlin com Jerry Lewis, Dean Martin, Shirley MacLaine
Um dos 3 melhores filmes com a dupla. Jerry é um desenhista que sonha com quadrinhos de sua heroína favorita. Dean aproveita para usar isso como modo de ganhar dinheiro. A muito jovem MacLaine é a heroína. Tashlin foi da equipe de cartoons da Warner. Ele transforma seus filmes em desenhos do Bugs Bunny. O filme começa como uma obra prima, depois cai...tem canções demais...
DETETIVE MIXURUCA de Frank Tashlin com Jerry Lewis.
Um dos filmes menos lembrados de Jerry. Ele é um detetive que procura um herdeiro que é ele mesmo na verdade. Não é bom.

The Champs "Tequila"



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Dick Dale - Surfin' Swingin'/Misirlou/Wedge Live 1963



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Duane Eddy "Forty Miles of Bad Road"



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Link Wray "Rawhide"



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HERANÇA HAVAIANA

   Recebo de herança uma das coisas mais fantásticas já feitas na face da Terra: Duas coletâneas, completas e brilhantes, de surf music. E a surf music, voce sabe, é a mais feliz das ondas musicais do século XX.
  Em forma de livro, com um texto longo e leve e fotos raras e variadas ( tem desde anúncios de produtos surf até instrumentos e carros ), são sete cds e mais de seis horas de sons excitantes. Uma mistura de sol, estradas e garotas que te leva ao coração da coisa.
  Surf music mistura country, mariachi, trilha de James Bond, sons de faroeste e r and b num coquetel de alegria e ousadia. Voce pensa em camisas havaianas, cenas de filmes, guitarristas solitários, acampamentos no mato e pranchas da Lightning Bolt. Link Wray foi um gênio, mas tem muito mais, de Ventures à Shadows, de Santo and Johnny até Jet Harris. Algumas faixas atingem o cume do rock n roll e nenhuma é chata. Faz voce pensar no quanto Dylan e Lennon estragaram o rock ( sem querer ) e no quanto Chris Isaak, Cramps e Pixies beberam aqui. O timbre das guitarras é sublime, a bateria é sempre o centro do som e eles enfiam algum som surpreendente no meio da receita certeira. Voce ouve e celebra. Dá vontade de sair. De rir e de amar. É fun. Super mega fun.
  Dentre as joias raras da herança de meu brother, só os LPs de garage podem chegar perto, e sobre eles escrevo depois.