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TOURNEUR/MINELLI/JULIE CHRISTIE/NAVARONE/

O HOMEM LEOPARDO de Jacques Tourneur
Val Lewton produziu para a RKO uma série de filmes de suspense. Filmes baratos, com 70 minutos de duração e que acabaram marcando um lugar na história do filme b. Porque ? Porque como nos melhores filmes de Dracula ou Sherlock Holmes, o que importa não é o crime ou o mistério. O que nos seduz é cada sombra do cenário, cada travelling da câmera, os acordes da trilha sonora, o maravilhoso rosto dos atores ( irreais, sempre irreais ), as ruas cheias de neblina na madrugada deserta, a garoa e a luz dos postes, o som dos passos na calçada escorregadia, o grito agudo, a calma do herói teimoso. É uma fórmula. É quase perfeito. È para se ver numa noite gelada, vários cobertores sobre a cama, a casa vazia e escura, o cão roncando no tapete. Delicioso. Um adendo : Tourneur foi um diretor frances que sabia fazer filmes de suspense, polciais noir, filmes de pirata. Eis o cara ! nota 8.
O PIRATA de Vincente Minelli com Judy Garland e Gene Kelly
Existem 3 níveis de amor ao cinema. O faroeste é o primeiro. Depois vem Buster Keaton e por fim o musical. Nada nesta arte dá maior prazer que o musical. Nada é mais refinado, civilizado, bem feito, artísticamente nobre que um grande musical. Tudo nele é artifício. Tudo nele é falso. E é na sua artificialidade que mora seu mérito. Um mundo ideal, perfeito, ilusório, um mundo como deveria ser, como achamos que poderia ser, e, em seus momentos mais sublimes, o musical nos faz crer que o mundo é O Musical. Nós é que não o percebemos. O Pirata é delicioso como um conto de fadas. Profundo como Mozart. Sublime como um amor aos 14 anos de idade. Eterno como a memória de uma paixão. Foram musicais como este, com seu capricho, sua beleza colorida, seus diálogos espertos, sua cultura vienense, que fizeram de mim um aficionado por cinema em geral. Gene sorrí como nenhum ator sorrí. O cenário é um carnaval de plantas, panos, janelas, biombos e muita gente. A música é mais que vibrante, é quente. Judy, etérea, paira soberana, hipnotizando nosso olhar com sua estranheza. Um gigantesco bolo de noiva, um revellon de luxo. nota 10 com muito louvor ! - informação : O musical terminou quando o talento minguou. Nada era mais dispendioso. Para se fazer um grande musical se precisava de atores famosos que interpretassem, cantassem e dançassem bem. E fossem engraçados e "adorados". Roteiristas treinados em comédia, afiados em diálogo rápido e leve. Compositores de sucessos. Arranjadores com técnica erudita. Orquestras gigantescas. Cenógrafos e coreógrafos da Broadway. Imensos estúdios. Tempo para ensaios. E um diretor que entenda de dança e de música. Quando juntar tanto talento se tornou um risco grande demais, o musical acabou. Sobreviveu, parcamente, em milagres feitos por um gênio solitário ( os de Bob Fosse ) e algum acaso fortuito.
OS CANHÕES DE NAVARONE de J. Lee Thompson com Gregory Peck, Anthony Quinn e David Niven.
Perfeição. Uma aventura com personagens bem delineados, excelentes diálogos, ação que emociona, suspense e diálogos que podem ser citados ( há um sobre a inutilidade da guerra que é genial ). Porque tudo deu tão certo ? O mérito é do roteirista, Carl Foreman, perseguido pelo MacCarthismo e brilhando como roteirista e produtor nesta aventura divetidíssima. Este filme é o parâmetro em que toda aventura deve ser julgada. Explosões, tiroteios, naufrágios, fugas, traições... maravilhoso!!!! nota 9.
DESPERATE JOURNEY de Raoul Walsh com Erroll Flynn e Ronald Reagan
Lixo. Uma imensa decepção!!!! Um roteiro patético, fazendo dos nazistas idiotas completos e dos americanos gente que sorrí durante tortura. Se a guerra fosse essa infantil piada... nota zero!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
DR. BULL de John Ford com Will Rogers
Não chega a ter a alegria de Juiz Priest, filme que Ford e Rogers fizeram no ano seguinte. Mas é um bom exemplo de filme rural, bucólico, lentamente agradável. Rogers tinha mágica simpatia e Ford, relaxado, lhe dá todo espaço e tempo para brilhar. nota 7.
VENUS de Roger Mitchell com Peter O'Toole e Jody Whattley
Nada revela mais o caráter aristocrático inglês que a classificação que eles dão à seus atores. Michael Caine, ator que trouxe o inglês cockney-malandro para as telas, jamais será visto, em Londres, como Gielgud ou Richardson. Pois John e Ralph são do mundo de Shakespeare, Michael não é. Dito isto, falo que Peter sempre foi um rei. Nada se compara a seu Beckett ou ao que ele faz em Leão no Inverno. Foi uma estrela maior, um conquistador compulsivo, um bebedor imbatível. E ocupa, na hierarquia britânica, um lugar dúbio. Apesar de ser um excelente ator teatral, por ter se popularizado demais no cinema, é colocado atrás de Paul Rogers ou Michael Redgrave. Absurdo!!! Falando deste filme... é triste ver seu rosto estragado. A bebida e a idade devastaram seu olhar de Lawrence da Arábia. Mas é belo ver como ele se diverte e dá conta deste papel difícil, sutil, e comicamente trágico. Fora Peter, é um filme tolo, frio, pretensioso, quase idiota. Ele foi indicado em 2007 por este papel, e perdeu o prêmio pela oitava vez ( um recorde de derrotas ). nota 1.
CINCO COVAS NO EGITO de Billy Wilder com Erich Von Stroheim, Franchot Tone e Anne Baxter.
Segundo filme americano de Billy. Um suspense de guerra em que o grande Erich rouba o filme em seu papel de Rommel, a raposa do deserto nazista. Um filme muito bem feito, muito bem escrito e com linda fotografia do mestre John Seitz. nota 7.
LONGE DELA de Sarah Polley com Julie Christie e Gordon Pinsent.
Preciso. Sarah Polley, atriz mirim do Munchausen de Gillian, se revela aqui muito boa diretora. Neste filme, triste, árido, geriátrico, tudo poderia levar às lágrimas fáceis ou às gracinhas de velhos bonzinhos. Sarah não faz nada disso. Conta sua história. Não força, não doura e nunca apela. Observa. Julie, que perdeu o seu segundo Oscar de forma injusta para Piaf, interpreta como só grandes atrizes podem : com os olhos, com as mãos, com o cabelo. Ela flutua, aturdida, medrosa, sedutora, completamente perdida, variando entre infantil e madura. Um desempenho feito de discreta elegancia. Uma lady. Mas eu já esperava isso de minha atriz musa-para sempre. De minha Kate Hepburn de Londres. Mas Gordon Pinsent arrasa. Seu desamparo, seu abandono e a teimosia de quem insiste em fazer o amor sobreviver é simplesmente acachapante. Um ator superlativo. E eis, ainda com o brilho de Olympia Dukakis e Michael Murphy ( antigo ator de Altman ) um simples e discreto drama outonal. Cheio de neve e de árvores. E em que a diretora, muito jovem, faz algo tão raro no cinema atual : conta a história e deixa que os atores brilhem. Parece tão pouco. Mas é tão raro. nota 8.

VIGO/MEL BROOKS/BECKETT FAVORITO DO REI

L'ATALANTE de jean vigo com dita parlo, jean dasté, michel simon e louis lefebvre
todo grande filme é mais que cinema ( mas nunca deixa de ser cinemático ). desse modo visconti ou david lean são também história; fellini e ophuls são pintura; bergman e kurosawa são filosofia e aqui temos vigo- que é poesia. o filme é o mais livre do cinema. o mais poético. possívelmente seja o grande filme da história. nota dez.
JAMAICA INN de alfred hitchcock com maureen o'hara e charles laughton
o mestre fez este filme às pressas. havia assinado com selznick e estava com malas prontas rumo à américa. dá pra notar sua falta de interesse. nota 4.
THE PARADINE CASE de alfred hitchcock com gregory peck, alida valli e louis jourdan
aqui, sete anos depois, o mestre se vê diante de uma briga com selznick. o filme sofre com a interferencia do produtor no roteiro e na própria filmagem. nota 2.
PS- CHAMO HITCHCOCK DE MESTRE PORQUE NÃO EXISTE DIRETOR MAIS PRECISO, MAIS PERFEITO E COM TÃO GRANDE QUANTIDADE DE FILMES DE GÊNIO.
LA TERRA TREMA de luchino visconti com pescadores reais da sicilia.
o chavão comunista está ultrapassado. mas sobrevivem as belas imagens de um mundo passado. nota 6.
ALTA ANSIEDADE de mel brooks com mel brooks, madeline kahn.
o início já avisa : o filme é uma homenagem ao mestre alfred hitchcock ( mais uma ). o que vemos são citações de vários filmes do gênio. tudo encaixado habilmente na história de um psiquiatra que assume a direção de um hospital de pessoas muito nervosas. vertigo e intriga internacional são os mais citados, e é pena não terem achado onde encaixar janela indiscreta. a cena que cita psicose é uma das mais hilariantes e bem filmadas que já tive o prazer de assistir. nota 7.
SILENT MOVIE de mel brooks com o prórpio, marty feldman e vários atores famosos.
no auge do sucesso, de ego muito inflado, mel dá seu famoso tiro no pé : resolve fazer um filme totalmente mudo ! e infelizmente erra. o filme não funciona, e talvez seu motivo principal seja o desacerto da trilha sonora. mesmo assim, passamos todo o filme torcendo por mel, querendo ver se ele consegue renovar o filme silencioso. não consegue. o filme fracassou em seu lançamento mesmo tendo burt reynolds, paul newman e liza minelli em seu elenco ( a participação de burt é muito engraçada ). nota 5.
BECKETT de peter glenville e jean anouilh e hal wallis com peter o'toole, richard burton e john gielgud.
primeiro beckett foi peça de grande sucesso com olivier e anthony quinn. o diretor da peça, glenville, resolveu dirigí-la no cinema. dirigiu sem esforço nenhum- simplesmente ligou a camera e deixou que os atores entonassem o maravilhoso texto de anouilh.
o texto : trata da amizade do muito hedonista rei henrique II e do muito misterioso thomas beckett. os diálogos enfeitiçam qualquer pessoa com um minimo de bom senso/ bom gosto/ sensibilidade. eles voam, dizem tudo objetivamente e têm uma estranha poesia.
a produção : geofrey unsworth cuidou da fotografia, mas é a trilha sonora de laurence rosenthal que impressiona. que coisa maravilhosa ! uma mistura de canto gregoriano e música sinfônica irresistível. uma trilha absolutamente perfeita.
a duração : adiei sua apreciação. o filme tem 3 horas e eu sentia preguiça.--´pois bem- o filme alça vôo. são horas que passam com rapidez e que surpresa- após as 3 horas voce deseja mais !
os atores : richard burton diz suas falas com sua voz costumeira- perfeita. mas o papel de beckett não lhe oferece a dor descontrolada, que é onde ele brilha mais. burton se contém.
mas peter... Deus do céu... que gratidão eu sinto com o que esse ator nos dá ! Que desempenho fascinante!!! vemos em nossa frente um rei- feliz, fanfarrão, mulherengo- ir, pouco à pouco se consumindo em dor. ele ama seu amigo beckett, e é traído por esse amigo. a cena em que o rei percebe a traição é de uma genialidade sublime : vemos o rosto de peter criar nuvens de escuridão, os olhos se apagam em dor e a voz reflete uma imensa agonia. se isso não for pura genialidade, não existe ator genial.
peter teve o enorme azar de concorrer nesse excepcional ano com rex harrison fazendo higgins em my fair lady e perdeu seu oscar certo. qual dos dois é melhor ? quem sabe ? eu premiaria ambos.
beckett é um tipo de filme que deixou de existir : o filme culto ( não de arte, culto. o que é outra coisa. ) um filme que necessita ter um público de bom gosto, adulto, sério, refinado.
fazem 40 anos que alardeiam o fim do western e do musical. bem... os dois continuam por aí. mas este tipo de cinema acabou. com o fim do público adulto, e a queda na qualidade de ensino, ninguém mais tem a sensibilidade de apreciar um filme que pede atenção, conhecimento, detalhismo e alguma erudição. feito hoje, encheriam o filme de batalhas, feitiços e talvez até algum monstrengo medieval.
minha alegria é saber que este filme sobreviverá.
se voce tem alguma curiosidade intelectual, se voce consegue usar mais de dois neuronios, se voce compreende aquilo que escuta... corra e assista este filme.
e aplauda o sublime peter o'toole.