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SPINOZA E A ECOLOGIA

Por sermos temporais, individualmente pessoais e conscientes, tendemos a imaginar Deus como um ser no tempo, um ser individual e um ser consciente. E se não cremos Nele, tendemos a crer ser impossível existir um ser que seja atemporal, não-individuo e não-consciente. Nossa mente sómente vê aquilo que por ela é percebido, tudo o que percebemos se dá em sua forma. ( Como a mente do computador que só entende a linguagem binária ).
Na ignorância, os sentidos nos mantém inconscientes de nossa ignorancia. Na ciência, o intelecto nos torna conscientes de nossa ignorancia. Pela sabedoria o intelecto nos livra da escravidão da ignorancia.
Nada na natureza é feito duas vezes. Toda manifestação da natureza é única, pois a natureza/Deus é infinita. Integrar-se ao todo cósmico, essa é a missão de cada um de nós. Mas essa integração não é feita ao modo oriental ( em que a integração se dá pela despersonalização ), aqui a integração se faz sem a perda da individualidade. Não devemos perder nossa individualidade por ser ela obra única. Nada na natureza pode ser desperdício.
Compreender é estar livre ( frase tão cara aos freudianos ), ser livre é ser livre da ignorancia. Conhecer a verdade é estar livre. E para ser livre é preciso estar liberto do que é ignorado.
Ser livre é ser livre do medo e do ódio. Toda prisão é medo e é ódio. Ver a vida como processo eterno. O que faz parte da vida é eterno no processo eterno da vida, na infinita variedade da natureza infinita e incriada.
Ser aliado da vida. E saber que Deus não é a natureza ( pensamento oriental ) mas está com a natureza. Deus não está em tudo, não é tudo. Deus está ao lado de tudo. Enorme diferença: se Ele está ao lado Ele não é tudo. Cabe a nós o livre arbítrio de ver Deus nas coisas e não as coisas em Deus.
A alma é uma potência que ansia por agir. A alma é plena na ação a que é naturalmente inclinada. A potência é a alma. Triste é tudo aquilo que restringe a força da alma. Alegre é o que a afirma em sua potência. Humildade é a ideia de nossa fraquesa. Amor-próprio é a ideia de nosso poder.
Cada objeto desperta o sentimento que lhe é natural. Assim, o amor que lá é despertado não será o mesmo amor que ali é despertado. Cada amor é amor por aquele objeto/ser. Nenhum amor pode ser igual a um outro amor. Como também cada tristeza, desejo ou ódio é peculiar a cada objeto entristecedor, desejável e odioso. Há tantas espécies de alegrias e tristezas como há coisas no mundo.
Existe em toda alma a potência para governar toda paixão. O desejo de cada um é diferente do desejo do outro. A alegria de cada um é diferente da alegria do outro. A tristeza de cada um é diferente da tristeza do outro.
Ao estar nas mãos das paixões o homem deixa de contar com seu livre arbitrio e passa a contar com a sorte. A paixão leva o homem ao acaso, onde o melhor pode vir a fazer o pior. Não existe paixão na natureza, não existe paixão em Deus. Nada na natureza é fora do certo, pois nada é feito com paixão. A natureza desconhece o que seja acaso/sorte. As coisas são em sua certeza e em sua clareza. Quando o homem reclama da natureza ele reclama de sua paixão. A natureza não o atrapalha, não o castiga, não lhe faz favores ou sortes. O homem é que a enxerga assim.
Portanto, nada na natureza é bom e nada na natureza é mau. Mas nela há a perfeição, perfeição sendo a livre manifestação de seu poder, de sua potência.
Tudo que postei acima são muito breves relatos de Spinoza. Uns poucos grãos de seu pensamento. Mas que pensamento! Qualquer dessas sentenças pode ser desenvolvida ao infinito e é isso que define um pensamento correto: ele é potente, leva a novos pensamentos que não o negam, que antes o fazem crescer.
Pego por exemplo o último que escrevi: a livre manifestação de uma potência é o bom na natureza. Um vulcão não é bom ou mau para nós. Não é bom ou mau por sua consequencia. Não é útil ou destrutivo. Não é necessário ou supérfluo. Mas se for um vulcão em plena e livre potência de seu poder "vulcânico", será uma potência boa. Vai daí que talvez o homem seja muitas vezes ( por paixão ) um bloqueador de potências. Um rio que deixa de ser rio, uma ave que se faz cativa ou um andarilho que é impedido de andar. Por inveja, cobiça, ganancia, fazemos de uma floresta um deserto ou de uma criança naturalmente sã uma neurótica. Potências que são bloqueadas para ter sua energia usada em outro canal: eis o mal. Eis a neurose.
A atualidade de Spinoza é surpreendente.