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UMA TARDE DE HORROR ( ATOM HEART MOTHER, PINK FLOYD ), O DISCO DA VACA

   Foi uma péssima viagem. As sombras de um fim de tarde frio e os móveis pesados, madeira e mármore, na sala que fedia ao mofo de cortinas e tapetes. Um grande tapete cinza e as cortinas com forros e rendas. Do aparelho de som que estava em outro cômodo, vinha a música. Que música? Eu abominava aquilo. E mergulhava numa deprê sem nome, pura melancolia. Eu me afundava naquela música do lado 1, uma coisa dividida em segmentos, mais de vinte minutos de tortura.
   Metais que não se encontram e ruídos de vozes, teclados que soam como sirenes e aviões que caem. Uma melodia que lembra cemitérios e barulho incessante. Coro de vozes que me fazem ter medo e guitarras soterradas em explosões. Suplico para que esse pesadelo termine logo. Esses gritos...
   Então tem If.
   E agora me vem um sono que me desabo. E esse solo de guitarra bocejante que dura pra sempre.
   Então vem Summer of 68.
   Que é o tema do Jornal Nacional de então.
   E mais duas faixas que me esqueço de ouvir.
   Não estranhe. Minha madrinha me deu esse LP de presente. Eu tinha 11 anos. Conhecia Beatles, Elton, Monkees....Fiquei abismado ao escutar essa "doidice sem sentido" naquela tarde maldita.
    Mas um dia, mais de vinte anos depois, eu lhe dei outra chance.
    Uma rica viagem. Surpreendentes climas que se mudam em emoções conflitantes. Timbres inusitados e a doce melancolia de uma poesia triste. Trágica quase.
    A beleza de If. Que tem um piano que é a coisa mais linda do mundo.
    A nostalgia de Summer. Que se ergue em cadências.
    E as duas viagens de LSD finais.
    O êxtase num café da manhã. Em torradas, em ovo frito, na boca que mastiga.
    O medo de ontem é o prazer de hoje.

E EU SENTI MEDO....



leia e escreva já!

SÁBADO SOM ( PINK FLOYD NÃO VEIO )

   Era 1973 e eu era uma criança. Era inverno mas fazia sol e naquele sábado de tarde, 2 horas, ia estrear na Globo o Sábado Som. Apresentado por um cabeludo sorridente chamado Nelson Motta. Eu era então um grande ouvinte de rádio ( AM ). Difusora e Excelsior. A Difusora era mais rocknroll, lembro que tocava até Led Zeppelin, já a Excelsior era bastante pop, tocava de Benito di Paula à Elton John. As duas tinham uma imensa programação de black music, e 1973 foi o auge da black music ( Stevie Wonder, Al Green, Marvin Gaye, Diana Ross, Barry White, Spinners, War, Stylistics, James Brown, Billy Preston, Billy Paul, Harold Melvin, Jackson Five ). Bem, que droga seria esse tal de Sábado Som?
  Desde sempre os musicos pop faziam promos. Promo era um video de divulgação, feito em filme, que era exibido em programas de tv. Nada parecido com o video-clip. Video-clip, que seria criado pelo Queen era uma peça em tape, pensado exclusivamente para a venda do produto-disco. O promo tinha a pretensão de ser "arte", era um troço sem objetivo, mais de "curtição". Dessa forma, o que o novo programa ( em horário que hoje tem Angélica e Xuxa ) passava eram os tais promos, e shows ao vivo também. E foi no Sábado Som que assisiti pela primeira vez ao Jean Gennie, o video de Bowie que mudaria minha vida. Não acho que eu seja bissexual, mas eu realmente me apaixonei por David Bowie. Velvet Goldmine conta bem a coisa toda.
   Mas a estréia do programa foi com a exibição de Pompeeii do Pink Floyd. Eu conhecia o Floyd de Us and Them, que tocava no rádio. Mas eu era muito crianção e não estava pronto para o que foi exibido. Lembro que me deu muito medo. Senti medo daquelas ruinas, medo daqueles cabeludos de cara feia e medo das músicas. Rock era pra mim alegria ou romantismo fofo, aquilo parecia tétrico. Odiei. Odiei muito. Depois, muito mais tarde, comecei a gostar de ATOM HEART MOTHER, que é meu disco favorito do Pink Floyd. Quanto ao que tocou no especial da tv, posto ao lado um trecho que acho hoje genial.
   O tal de rock progressivo, que não morreu jamais e que é feito hoje por todos os filhos do Radiohead, se dividia em 3 vertentes. Os medievais, os exibidos e os espaciais. Os medievais adicionavam muito folk à base psicodélica. Flautas, contos sobre bruxas, pandeiros e violões. Os exibidos eram os amantes da musica clássica. Solos longos e chatos, um tipo de "olhe como toco bem"!
  Se Yes e ELP fazem parte dos exibidos, e se Genesis e Jethro Tull são os medievalistas, o Pink Floyd, assim como o rock alemão e o King Crimsom são espaciais. O que os define é a "viagem mental", o cuidado de produção, as letras desesperadas, ou o nonsense absoluto. Nada têm de medieval ou de exibicionismo gratuito. O objetivo é "fazer a cabeça".
  Meus amigos dos loucos 70's eram todos fãs de rock progressivo. Rush, Renaissance, Rick Wakeman e Gentle Giant eram mitos pra eles. Eu era o estranho conservador que odiava toda essa baboseira. O meu negócio era rock puro e preto.
   Mas que esse som ( postado ao lado ) do Pink Floyd é legal, isso é.
   Voce que vai no show hoje, aproveite: voce nunca vai esquecer. Mesmo que desgoste.
PS: Uma das piores coisas de hoje no pop é a divisão. Quem gosta de rock clássico escuta só isso, quem gosta de sons moderninhos ingleses ouve só esse som.... Antes, sem FM e muito menos internet, voce, se queria ouvir Bowie, tinha de esperar e acabava sendo exposto a Martinho da Vila, Isaac Hayes e Paul Simon. Abrir a cabeça era isso.