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A PRISÃO DE PEDRO JUAN GUTIÉRREZ

Há um livro de Pedro Juan em que ele é convidado a ir à Suécia. E lá ele percebe algo que o decepciona muito: os intelectuais suecos o admiram por sua pobreza. Em país de fartura, Pedro Juan é visto como um tipo de ser especial por ser pobre, por escrever em país tão original, país pobre. Percebemos então que esses suecos não desejam que a pobreza de Pedro Juan desapareça, eles querem que " ele se mantenha como uma espécie animal, um tipo de bicho homem que está extinto na Suécia e que por isso deve ser PRESERVADO em seu país". Pedro Juan está preso na pobreza assim como um rinoceronte branco está preso em sua reserva. Suecos, ricos, limpos, educados, cheios de bons sentimentos, amam e ficam excitados com a sujeira, o sexo, o cheiro, o gosto dos livros e do mundo de Pedro Juan. Ele lhes salva do tédio de uma vida pós humana. ----------------- O país de Pedro Juan é Cuba, um museu ilhado, uma história conservada em formol, uma nação sem tempo. Penso que temos o mesmo sentimento em relação ao nosso nordeste. Queremos que a Bahia de Jorge Amado e Caymmi dure para sempre e para ela durar deve ser pobre e ignorante. Não queremos que ela seja Miami e nem mesmo Costa Rica, queremos o Pernambuco de sempre. Sujo e pobre, "nosso". Estou usando o pronome "queremos" por educação, não é o que eu quero, não é o certo. Pedro Juan merece evoluir e ser rico, assim como seu país merece ser Coreia ou Taiwan. Sem sujeira e sem doenças. Sem fome. O tempo deve voltar a andar por lá. Como cá.

PEDRO JUAN GUTIÉRREZ, HANEKE, VERMEER E LUCY

   Então Haneke disse que usa seus filmes para dar um soco no estômago de seu público? Diz ele que seu povinho só reage a base de socos...Well....É por isso que estou fora desse clubinho. Não quero que me soquem e não preciso de socos para reagir. Sou daqueles que ainda possuem sensibilidade fina. Ainda sei o que significa estética, beleza e ironia. Não preciso do soco. A visão da mão e a consciência de meu estômago já me bastam. Seu cinema é publicitário. Ele entope seus fãs com produtos: socos no estômago. Coisas do tipo: hey! A vida é um lixo! Somos especiais por sabermos disso!
   Minha resposta a esse cinema fake: Blá!
   Um amigo afirma que sou contra psicólogos, filósofos e sociólogos. A priori não sou. Apenas penso que eles são hiper-valorizados. Por eles mesmos! Desconfio de quem vomita certezas. Tenho amigos psicólogos. Admiro aqueles que botam a mão na lama. E duvidam de tudo. Filósofos são boçais quando apenas brincam com palavras. Só creio em filosofias de vida. Sociologia jamais!
   Dá pra resumir tudo assim: Se o sujeito engoliu um dogma sem o desafiar tem meu desprezo. Se ele foi à vida verificar o dogma, bem, aí começamos a nos entender. Frases feitas, mesmo as "profundas", never!
  Vermeer criou cor. Todos nós, e mesmo os artistas apenas "bons", passam pela vida sem criar nada de novo. Os excelentes apenas misturam coisas que já existiam. Gênios como Vermeer são como um deus. Criam alguma coisa nova a partir do inexistente. Milagres.
  O tom daquela pele só existe em Vermeer. 300 anos podem se passar, aquela pele continuará a ser irrepetível. A dobra do tecido é obra da mão de Vermeer. Nenhum outro poderá repetir aquela dobra. Mais do que tudo, esse quadro vive. Vive por falar comigo ( o que aqui escrevo veio de uma conversa com a obra ), ele influencia, escuta, muda ao passar do tempo e se reproduz. O Vermeer que vejo não é aquele que voce vê. Eles são vários.
   Pedro Juan Gutierrez. Releio O Ninho da Serpente. Falam que ele lembra Bukowski. Sei lá. Pedro é latino. Ele tem prazer com o sexo. É sempre uma festa. E Pedro não é niilista. Ele crê em vudu, em olho-gordo, em macumba. No mundo de Pedro tudo é questão de destino. Voce tem sorte ou não. Gosto dele...Durante trinta páginas. A partir dái me entedia. Merda, bundas, pinga e fome. Tudo se repete sem parar. A voz do cara é boa. Ele pensa fundo e pensa bem.
   Pedro Juan morreria de tédio na Avenida Paulista.