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O LEOPARDO, de GIUSEPPE TOMASI DI LAMPEDUSA

   Um dia eu teria de escrever sobre essa obra-prima. É um dos grandes romances do século XX e deixou embasbacados os leitores ao ser editado em 1954. Quem era esse tal de Lampedusa?
   Nobre italiano, Giuseppe Tomasi di Lampedusa viveu a realidade de seu personagem central. O empobrecimento da nobresa européia e a consequente mudança de valores. Escreveu pouco. Apenas este livro, editado já postumamente, e um volume de contos ( excelentes ). 
   Salinas é esse inesquecível personagem. Poderoso, rico, viril, ele foi educado para existir num mundo sólido, ordenado, imutável. Mas o que ele verá será bem diferente. Revoluções fazem do mundo algo de cambaleante e a classe dos mercadores assume o poder financeiro. Mas não o poder sobre as mentes. Aliam-se então. Vem a famosa frase de Lampedusa : " Ceder os anéis para não perder os dedos, ou melhor, mudar tudo para não mudar nada."
   O livro vale por tratado de sociologia, de história e de costumes. Dói em Salinas perceber a falta de cultura e de sabedoria da nova classe dirigente. E esses mercadores sabem, têm consciência de sua vulgaridade. Unem-se. Toda a melancolia explode no enredo. Por mais que os vulgares novos-ricos admirem o nobre Salinas, ele se encontra em posição subalterna. Olha suas coisas, suas terras, sua vida com a consciência de que é um mundo condenado. O que ele simboliza vira mito. A única verdade passa a ser a do dinheiro, não a do berço.
   A prosa de Lampedusa é magnífica. Simples e rica. Amamos o nobre e ao mesmo tempo vemos o quão duro ele é. Um pavão, um touro reprodutor. E pouco a pouco percebemos sua queda. Ele afunda em meio a herdeiros ambiciosos e inseguros e a alianças vergonhosas. Tudo tomba e afunda em cada página sublime.
  Eu amo este livro. Tanto quanto O Morro dos Ventos Uivantes ou Anna Karenina, ele demonstra e escancara alguma coisa que me é muitocara: a amarga e viciante beleza da decadência.
  PS: O filme de Visconti consegue algo de muitíssimo raro: ser tão bom quanto o livro, sendo igual e diferente. Burt Lancaster é Salinas. Seus olhares transmitem toda a dor perplexa do personagem. Ele tem autoridade, savoir faire e também uma humilhante impotência.  E há a cena do baile, uma das sequências mais lindas da história da arte. São 50 minutos em que cada frame é pleno de significado, drama e sentido. E de esfuziante e acachapante beleza. Jóia de imenso requinte, junto ao Oliver Twist de David Lean e Os Mortos de Huston, é dos raros filmes que não decepcionam os amantes de seus livros originais.