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O IRRACIONAL ( AMOR E BICHOS )

Respeitar um animal NÃO significa imaginar que ele seja como nós. Eles não são fofos nenês amorosos, eles são irracionais, bichos, feras em potencial, mistérios. Seus pensamentos, se os há, são "não verbais", e portanto, inatingiveis, inimagináveis por nossa razão. Mas eles têm sentimentos, sentem medo, dor, fome, solidão. Gostar dos bichos, como eu gosto, é respeitar sua animalidade tola, sua irracionalidade estúpida, sua vulnerabilidade. Portanto tenho pena de quem os veste como dondocas, tinge seus pelos ou lhes obriga a viver em bolsas Chanel. Cães são cachorros, todos ansiam por ser como vira-latas bem nutridos. Amo meus cães por serem eles-mesmos. AMO OS BICHOS POR SEREM COMPLETAMENTE DIFERENTES DE EU-MESMO. É esse o amor desinteressado de que fala Milan Kundera ao final da INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER. O amor de um homem por um cão é desinteressado porque o homem sabe, todo o tempo, que seu amor jamais será retribuido. E mesmo assim, ele ama. Nietzsche teve como ato inaugural de sua loucura o abraço choroso que deu em cavalo, nas ruas de Turim. O filósofo pedia perdão, aos prantos, pelo mal feito a todos os animais. Após essa cena, sim, patética, ele passou cinco anos trancado. Mas o que ele fez ( em alucinação ) nós devemos fazer, conscientemente. Se ainda há algo de digno no homem, se ainda podemos pensar numa trajetória de alguma nobresa em nosso caminho, devemos necessariamente passar pela reavaliação do animal no planeta e do irracional em nós. Se nosso caminho veio das trevas do medo e da intolerância, do racismo e do ódio ao diferente, chegando à aceitação do vizinho e do não-igual, chegará, necessariamente, o momento de começarmos a considerar os direitos do bicho como coisa séria, e NÃO COMO EXCENTRICIDADE DE PESSOAS BOBAS. Pois quando chegarmos nesse momento de ajuste de contas, e é isso que assusta muitos homens risonhos, teremos de sofrer a consciencia do mal perpetuado. Perceber o bicho como ser digno e existente, como um ser existente, trará uma série de insights, de concientizações, de preços a se pagar, o maior deles sendo o remorso. Não confio em pessoas que desgostam de animais. Principalmente daqueles que dizem que deveríamos nos preocupar mais com as crianças ( como se uma coisa excluisse a outra ). O homem que só consegue amar outros humanos tem sempre algo de narcísico em si. Seu amor é dado, com regular sobriedade, a apenas quem lhe é parecido. Um amor domesticado. Amo muito mais aos humanos. Mas amo, e muito, a todos os bichos. Um não exclui o outro, antes o refina, o sensibiliza, lhe dá liberdade.