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ILHAS, VEREDAS E BURITIS - ELIANE LAGE, UMA VIDA INCRÍVEL !

   A família Lage começa a se tornar importante no século XIX. Fazem barcos, têm minas de carvão, são absurdamente ricos. O bisavô de Eliane compra algumas ilhas na baía da Guanabara. E vive numa delas, a de Santa Cruz. Traz pássaros de todo o país e cria-os soltos em sua ilha. Um paraíso com vista para a Serra do Mar. Na ilha apenas uma casa, o palacete do dono. Os filhos desse homem estudam na Europa, têm sangue francês, enriquecem.
  Eliane nasce nos anos de 1920. O pai é um playboy. Jorge Lage não trabalha, tem ideias. E todas dão errado. Como tantas famílias ricas brasileiras, eles começam a perder dinheiro e poder. Eliane é filha desse homem com uma inglesa rica, Margie. E a menina, tímida, ama a ilha do bisavô. Interna na suíça, que odeia, sente a felicidade nas férias brasileiras, na ilha, como uma indiazinha, no sol, a cavalo, solta. A mãe volta à Europa, o pai tem festas e namoros, a menina cresce só. Internato no Rio. O que lhe salva é a natureza.
  Essa a infância de Eliane. Depois os Lage constroem o Parque Lage, se tornam reis do glamour e perdem as ilhas e o Parque quando Getúlio Vargas confisca tudo, após a morte do avô que não deixou testamento. Continuam ricos, mas nunca mais serão donos do glamour. Passam a pensar em dinheiro ( o rico verdadeiro não pensa nisso ).
  Eliane nunca ligou. Ela cresce com raiva de rituais, de etiqueta, de poses e gostos. E com uma elegância natural sublime. Sua vida é terra, é chão. Mora em Paris, em Londres. Depois na fazenda de Yolanda Penteado. Vira atriz de cinema da Vera Cruz. Vira estrela, mas nunca gostou de cinema, fez filmes por amor ao marido, Tom Payne, um inglês cineasta. O casal tem filhos e mora no Guarujá. No Tombo, selvagem ainda em 1955. Três casas em toda a praia. Vivem no interior de SP, num sítio e depois de 15 anos se separam.
  Eliane larga o cinema e encontra a vida que sempre quis. O interior de Goiás, uma fazenda. Cria gado. No meio do nada. Perde dinheiro. Mora em Ouro Preto. Mora em Olinda. Mora num sítio em SP de novo. E lá, na casa rosa, escreve este livro de memórias. 1998.
  Eliane fez o trajeto que tinha de fazer: da ilha ao mundo, do mundo aos bichos. Forte, bela, única, ela poderia ter sido uma revoltada, uma ressentida, uma dondoca da sociedade. Escolheu ser ela mesma. Bacana este livro de 2002 que releio agora.