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A CANÇÃO DE ROLANDO

Guerra e guerra. A CANÇÃO DE ROLANDO, texto que funda a literatura francesa, traz para nosso cínico mundo pós-moderno a lembrança de que nossa história é a história da guerra. O texto, escrito por volta de 1ooo anos atrás, discorre sobre a morte de Rolando, herói de França, e de seus onze companheiros, dentre os quais Olivier, mortos em batalha contra os árabes em terras de Espanha.
A guerra dói. Vísceras são expostas no livro. Intestinos e fígados escorrem pela barriga, miolos saem pelos ouvidos. Cada golpe de espada é um jorro de sangue. Cavalos são estropiados. E em meio a toda essa sujeira, todo esse horror, irrompe o riso de Rolando, primeiro herói francês. Que herói é esse? Rolando guerreia. E vemos que toda a arte, todo o engenho, toda a inteligência humana se realizam, então, na batalha. Eles avançam com júbilo e matam com prazer. Morrem em dores terríveis, porém, certos da glória. O livro nos choca. É mais imoral que a mais imoral das transgressoras peças de arte moderna. Matar e morrer são o ponto mais elevado da vida de um homem.
Na história real Carlos Magno e seus pares de França ( Rolando e Olivier ) foram pegos encurralados no país Basco. Quem os atacou foram os bascos e mais alguns espanhóis. No livro, escrito cerca de 300 anos após o fato, são os árabes que os atacam. Milhares de árabes matam 60 franceses. O modo como o ódio se manifesta sem culpa nos é hoje odioso. Os inimigos são bestas desprovidas de sentimento. Todo árabe é mentiroso, cruel e traiçoeiro. Uma raça de demônios dos infernos. Matá-los é ter lugar cativo no céu.
Amanhece e o sol brilha sobre relva verde e plana. De cada lado do campo, inimigos se ofendem e se preparam para avançar. Uniformes coloridos, brasões, bandeiras e tambores. Os inimigos avançam. ( Futebol ou Rugby? ). Nada é mais belo para a mente medieval que esse combate. O sangue manchando o verde da mata, cavalos relinchando e armaduras brilhando ao sol. Gritos de ataque. Avante!
Cem anos mais tarde a cavalaria seria tomada pela paixão à Virgem e a mulher ideal, e o amor menestrel se tornaria o centro de sua missão. Rolando celebra o mundo da guerra pré-mulher. Em tempos cínicos, onde fingimos ser tudo paz, a caçada e execução de Bin Laden ( para mim, um assassino indigno de julgamento ) nos mostra que nada mudou. A única diferença, imensa, é que hoje fingimos não ver e não ter nada com isso.