A ROSA SECRETA de WILLIAM BUTLER YEATS ou MINHA DECISÃO DE ESTUDAR INGLÊS

No Brasil não há um só livro de Yeats em catálogo. O que levará incautos a pensar que Yeats é menos importante que Pound ou Eliot. Não. Yeats está para a poesia em inglês assim como Pessoa para a em português, ele é popular e erudito, central. Mas então porque em Portugal tudo de Yeats está em catálogo e nada nas terras tupis? Porque tive de comprar todos os livros em edições portuguesas, preço em euros, e não em edições brasileiras, com boas traduções daqui? Why?
Não sei. A última edição de Yeats é uma coletânea de 1991 !!! Em Portugal em 2010 tudo dele foi lançado. Penso que os portugas talvez compreendam melhor a poesia de Yeats. Coisa de quem vive nos cantos da Europa. Portugal, assim como a Irlanda, tem aquela sensação de viver entre pedras, ao vento, numa terra que ninguém desejou, em meio ao nada e nas bordas do vazio. E não à toa um dos contos deste livro chama-se "ONDE NADA EXISTE DEUS EXISTE".
Sim. É um livro de contos. Yeats recolheu vários contos folclóricos irlandeses e os publicou em 1900. Contos que falam de heróis e de magia. Recolher essa tradição, dar-lhe nova vida, foi a forma do poeta lutar contra a opressão inglesa e contra o racionalismo estéril do seu tempo. Na nota introdutória fala Yeats da maldição que foi para ele ter lido racionalistas ingleses na adolescencia e em como toda a sua vida foi uma longa estrada de retorno à religião.
Estrada de Yeats que é a minha estrada. Sou um homem profundamente religioso, mas não sou um homem de dogmas ou de igrejas. Nomear Deus, dar-lhe voz é para mim negá-lo.
Não consigo entender como alguém pode viver vendo na vida apenas células e luta evolutiva. A verdade não é apenas isso. A verdade é também isso. Mas é muito mais. Mas se voce quiser ser apenas um monte de sangue e ossos, é seu direito. Eu não sou. E entenda, dizendo isso não digo que Deus exista ou não, digo tão somente que a ideia de Deus existe em minha vida diária. Penso em anjos e em deuses: isso me basta. Não me importa se eles são "reais". São tão "reais" quanto são o amor ou o ódio. Os sinto. Me são dados. Vivem em mim.
Quero também dizer que meu ateísmo deve muito a negação de meu pai. Eu sempre precisei ser o oposto de tudo o que ele foi. Se ele era português eu odiaria Portugal e se ele acreditava em Deus ( apesar de odiar padres ) eu não iria crer. Desde de sua morte estou me sentindo livre para experimentar quem sou. Mais que isso: PERDI A VERGONHA DE SER FILHO DE MEU PAI. Me assumo como "purtuguesinho", filho de camponeses, católico, desconfiado e macho. Pedra e secura.
Quero também falar que desisto de estudar francês. Que ficar quatro anos falando de Baudelaire e de Rimbaud não dá!!! Estou cheio dessa coisa tão USP de acreditar que tudo é Merleau-Ponty, Levi-Strauss e Saussure. Em literatura só se fala de Valery, Flaubert e Mallarmée. Caraca!!!!! E Blake? Wordsworth? Se ignora Whitman, se ignora Keats, se ignora Shelley, se ignora Stevens. Chega de francês!!!!!! Eu adoro Yeats, Eliot, Henry James e Joyce. Apesar de Proust e de Stendhal, é da cadência de Shakespeare que sou par. Adeus França, é a língua de Sterne e de Wilde que abraçarei.
O livro de Yeats, creia-me, me fez ver tudo isso. E é para isso que existe a voz poética ( mesmo em prosa ).