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O CINEMA DA NOVA HOLLYWOOD

   Eis o box que tenta exemplificar o que foi esse "novo" cinema de Hollywood. Um cinema bem explicado no livro de Biskind, cinema onde os loucos tomaram o controle da indústria. Foi a única vez em que o alternativo tomou posse do núcleo da coisa. Hoje existe cinema alternativo, sempre houve, mas esse cinema não está no centro, está nas bordas, no gueto intelectual. No centro da Fox, Warner, Sony, temos o grande empresário, o marketing, temos Harry Potter e heróis da Marvel. Entre 1969-1979, o centro era de gente doida, ex-hippies, suicidas financeiros, deslumbrados cheiradores, fãs de Godard, cinemaníacos ( hoje os chefões nem sabem quem foi Godard ou Murnau ), motoqueiros. Esse movimento navegou de vento em popa até 1976. A partir daí, os egos perderam o controle e os prejuízos bateram recordes. George Lucas salvou a indústria e o cinema em 1980 era outra vez o que sempre fora: negócio.
  O grande erro do livro de Biskind, erro que muita gente aponta, é que ele infla a importância de meia dúzia de diretores e roteiristas da mesma geração, e se esquece de que a revolução foi preparada pela geração anterior, o povo vindo da TV e da publicidade, gente como Sam Peckimpah, Arthur Penn, Peter Yates, John Frankenheimer, Franklyn J. Schaffner, Mike Nichols, Sidney Lumet, Sidney Pollack, Robert Aldrich. Na verdade os filmes desses diretores envelheceram muito melhor. Não são retratos de uma época, são atemporais. Eles mudaram o cinema de dentro pra fora, e nunca se esqueceram do lucro. Uniam arte com entretenimento. Foram grandes. E abriram os olhos do público para o que viria em seguida.
 Vamos ao box:
  CORRIDA SEM FIM de Monte Hellman com James Taylor, Warren Oates, Laurie Bird e Carl Wilson.
Hellman é um mito hoje. Começou fazendo westerns nos anos 60. Era da turma de Jack Nicholson. Seus filmes são estranhamente vazios. Este fala de um mecânico e um piloto que passam a vida rodando pelos EUA. Vivem de fazer apostas em corridas. E sempre ganham. As cenas são longas e quase não se fala. Os diálogos cabem em uma página. Estranho...enquanto eu via o filme pensei: Mas ele é só isso! Um monte de cenas lentas...Mas hoje, pensando nele, sinto carinho e vontade de rever. É enormemente influente. Lembro que ele passava muito na Tv Tupi. E que o crítico de filmes de Tv metia o pau. Chamava o filme de lixo incompreensível ( naquele tempo os críticos falavam o que queriam falar ). Mas ele estava errado. É um filme invulgar. Ainda original e como dizem nos extras, atemporal. Até as roupas não envelheceram!!! James Taylor era um cara absurdamente bonito. Tem presença. Carl Wilson é o Beach Boy baterista. Morreu afogado nos anos 80. É o único da banda que tem cara de roqueiro. Oates é grande ator. Podia roubar o filme. E Laurie Bird é uma figura apaixonante. Uma menina, jeito de  moleque, linda, ela encanta quem a olha. Podia ter sido uma estrela. Mas pirou, fez apenas mais dois filmes e se matou na casa de Art Garfunkel. Eram tempos de exageros. Laurie não quis ser uma estrela. Se voce gosta de cinema...eis um filme. Mas veja sem expectativas. Ele nada tem de sensacional. ( Faço uma piada: é o Velozes e Furiosos de 1971. Seria Lentos e Sombrios. )
  PROCURA INSACIÁVEL ( TAKING OFF ) de Milos Forman com Buck Henry, Lynn Carlin e Georgia Engel.
Escrevi bastante sobre esta pequena obra-prima abaixo. Uma menina foge de casa. Seus pais entram no mundo dos jovens para tentar a encontrar. O filme, vivo, brilhante, não toma partido. Forman ama pais e filhos. Não é um filme sobre hippies, é um filme sobre pais. Forman filma rostos, feios, com um amor sublime. É um maravilhoso passeio por um mundo que não existe mais. Filhos não fogem mais de casa. Mudam de endereço. Ou se escondem no quarto.
  O COMBOIO DO MEDO de William Friedkin com Roy Scheider e Bruno Cremer.
Quando li o livro de Peter, pensei: como pode um cara estourar o orçamento fazendo uma refilmagem de O Salário do Medo, a obra-prima de Clouzot, filme de 1954 que narra um bando de caminhoneiros transportando nitro por estradas ruins...Bem, Friedkin, entupido de cocaína, conseguiu. Em vinte minutos já percebemos o esbanjamento: cenas em Israel, Paris, América do Sul e numa ilha. Depois, cenas numa vila miserável que teve de ser toda construída. E vai por aí. Ele conseguiu isso por ser o jovem diretor que mudou o filme policial com Operação França, onde ganhou Oscar, e por vir do hit O Exorcista. Mas aqui ele jogou tudo no lixo. E após este fiasco, nunca mais recuperou seu poder. Virou um tipo de diretor pária. ( A 3 anos ele fez um grande filme que ninguém viu ). Pior de tudo: o filme é muito muito muito ruim! Não dá pra assistir. A miséria é caricata, não tem o menor suspense, e todos os personagens parecem fake. Nada se salva, nada. Se eu ainda desse notas seria um zero merecido. É óbvio que o diretor fez o filme sob efeito de muito pó. Lixo puro.
  ESSA PEQUENA É UMA PARADA ( WHAT'S UP DOC ) de Peter Bogdanovich com Ryan O'Neal, Barbra Streisand e Kenneth Mars.
Peter não errava! Fizera A Ùltima Sessão de Cinema, depois Paper Moon ( filme maravilhoso ), e então esta comédia que tenta reviver os filmes doidos e leves dos anos 30. Peter era um saudosista. Dizia em entrevistas que o cinema acabara em 1948. Todos os seus filmes, até hoje, são revisões de estilos antigos. Aqui ele homenageia Howard Hawks. Refaz Levada da Breca. Ryan é um musicólogo e Barbra uma ricaça doidinha que o persegue. Todos acabam em um hotel. Há uma montanha de personagens secundários excelentes. E perseguições em ruas de San Fran. Mas falta alguma coisa...Ryan não é Cary Grant. Bom...até Cary Grant dizia não ser Cary Grant. Mas Ryan não sabe fazer comédia. Ele se perde. Não parece natural. E Barbra faz o que pode. Mas contracena com um poste. ( Ryan era uma estrela em 1973. Love Story ). Do meio para o fim o filme melhora muito. É um bom filme, se voce esquecer Hawks vai parecer melhor. Em tempo: Peter era o caretão da turma. Sua carreira foi destruída em seu filme seguinte: Daisy Miller. Apaixonado por Cybbil Shepperd, ele começou a fazer filmes para ela e perdeu a mão. ) Esta comédia foi um sucesso enorme. Lembro dos cartazes deste filme no jornal do meu pai. Bons tempos, estavam em cartaz na cidade, além deste, Alice Não Mora Mais Aqui, A Conversação, O Fantasma da Ópera de De Palma, O Fantasma da Liberdade e A Última Noite de Boris Grushenko...além de Gritos e Sussurros...pois é.
  A OUTRA FACE DA VIOLÊNCIA ( ROLLING THUNDER )  de John Flynn com William Devane, Tommy Lee Jones e Linda Haynes.
Na famosa lista de seus 10 filmes favoritos, Tarantino cita este em décimo. Achei que jamais sairia aqui, é um filme bem pequeno de 1977. No Texas, dois soldados voltam do Vietnã. Então um deles sofre um assalto e parte pra vingança. Devane dá um desempenho brilhante, Linda é perfeita e Lee Jones, bem jovem, tem uma presença magnética. Violento, seco, viril, é um western passado nos anos 60. Pessimista. Um bom filme.
  VOAR É COM OS PÁSSAROS de Robert Altman com Bud Cort e Sally Kellerman.
Quase ao mesmo tempo que MASH, Altman fez este filme. ( Brewster MacLoud é o nome do filme ). E que filme doido!!! O assisti na Globo aos 14 anos de idade. Entendi nada. Revejo agora. Entendi, mas ainda não compreendi. René Auberjonois faz uma aula sobre pássaros. Ele vai pontuar todo o filme. Bud Cort é um menino, parece Wally de Onde Está Wally, que deseja poder voar. Sally é uma mulher misteriosa que ajuda o menino a voar. Tem um serial killer, uma menina que se masturba debaixo de panos, um policial suicida, um governador gay, uma groupie, um carro roubado e muito cocô de pássaros. Tudo misturado naquele estilo orquestral que Altman criou do nada e que tanta gente imitou depois. Este filme tem alguma coisa de Wes Anderson. É engraçado, sem noção, cheio de gente esquisita, leve, infantil, livre e bonito de ver em sua feiura estilizada. É um filme único. O público doidão da época gostou do que viu. Mas em seguida Altman destruiria sua carreira com o western deprimido McCabe e o experimental Imagens.

CARMEN MIRANDA SPENCER TRACY HILLARY SWANK CLIVE OWEN LIZ TAYLOR

   ENTRE A LOURA E A MORENA de Busby Berkeley com Alice Faye e Carmen Miranda
Um roteiro bobo num musical hiper colorido da Fox. Busby Berkeley era completamente louco. Seus números musicais são imagens de LSD antes da invenção do psicodelismo. Carmen Miranda era genial. O filme abre com Aquarela do Brasil. Emociona. Tem ainda a orquestra de Benny Goodman. E eu adoro Benny! E Edward Everett Horton. Mas o roteiro podia ser um pouquinho melhor... Nota 4
   DÍVIDA DE HONRA de Tommy Lee Jones com Hillary Swank, Tommy Lee Jones e Meryl Streep
Aff...no tempo do oeste, em Nebraska, uma mulher parte sozinha para resgatar mulheres que enlouqueceram em outro estado. O filme é um pé no saco. Hillary faz seu papel de machona, Tommy é um velho esquisito e todo o filme nada tem de atraente ou de novo. Tédio, puro tédio.
   DEPOIS DA VIDA de Hirokazu Kore-Eda
Os países que perderam a guerra tiveram de se reinventar. Mantiveram a tradição, mas ao mesmo tempo zeraram sua história. Li isso no livro sobre o Kraftwerk. Este filme, extremamente chato, extremamente gratificante, é aquilo que o Japão é: uma cultura em construção eterna, ou: o mesmo de sempre se vestindo de novo. Passei todo o filme em quase transe, minha memória trazia de volta coisas que eu achava ter esquecido. É um filme que tem esse poder, ele nos faz mergulhar dentro de nós mesmos. Japonês. Os atores são sublimes.
   POR AQUI E POR ALI de Ken Kwapis com Robert Redford e Nick Nolte
Um filme bem simples. Um velho escritor de viagens resolve fazer uma viagem pelos EUA a pé. Sua esposa, Emma Thompson, só o deixa ir se for com companhia. Ele convida um monte de amigos e nenhum aceita. Mas do passado surge um amigo esquisitão, um bêbado meio sujo. Os dois partem então. Well...a geração baby boomer ficou velha e os filmes geriátricos abundam. Quando minha geração chegar aos 70 esse tipo de filme será maioria. Este é ok. Não é comédia, é apenas um filme leve, tranquilo e alto astral. Redford está um caco. Mas envelhece dignamente. Nota 5.
   A CONFIRMAÇÃO de Bob Nelson com Clive Owen e Maria Bello.
Na verdade é Ladrão de Bicicletas em versão 2016. O que vemos é um pai fracassado perder suas ferramentas de carpinteiro. Com o filho ele parte numa busca por quem as roubou. Emoção zero. O filme é bem bobo. Se a América é hoje desse jeito, estamos ferrados.
   ESPOSA SÓ NO NOME de John Cromwell com Cary Grant, Carole Lombard e Kay Francis.
Melodrama pavoroso! Cary é um homem casado que conhece Carole. Se apaixonam. A esposa de Cary, uma megera, faz de tudo para os separar. Uma pena ver dois atores tão geniais num roteiro tão ruim. O filme é velho, mofado, quase inacreditável.
   A GAROTA DOS OLHOS DE OURO de Jean Gabriel Albicocco com Marie Laforet, Françoise Dorleac e Paul Guers
Em 1961 este filme causou sensação. A fotografia era ousada, esquisita, bela. Hoje ela ainda impressiona...por dez minutos. O filme é insuportável. Uma mixórdia sobre um playboy que se apaixona por uma mulher misteriosa. Tudo contado de um modo truncado, torto, abrupto, bem à moda de então: nouvelle vague. Duvido que alguém consiga o ver até o fim.
   NO CAMINHO DOS ELEFANTES de William Dieterle com Elizabeth Taylor e Peter Finch
Uma inglesa jovem vai morar com seu marido rico no Ceilão. Lá ele se revela um doido. machista e beberrão. E há ainda os elefantes que ameaçam destruir a casa... Este filme dá pra passar o tempo. O cenário é bonito, Liz está linda e a direção faz a coisa fluir.
   A SELVA NUA de Byron Haskin com Eleanor Parker e Charlton Heston
Agora é na Amazônia. Uma moça se casa por procuração e vai à selva encontrar o marido que nunca viu. Ele a trata muito mal e aos poucos os dois se aproximam. Enquanto isso formigas ameaçam a fazenda...Quase a mesma história. Este é pior. Algumas falas são de doer! Eleanor Parker exala desejo por todos os poros...isso é fascinante.
   AMOR ELETRÔNICO de Walter Lang com Kate Hepburn e Spencer Tracy
Numa emissora de TV se instala um computador. As funcionárias não aceitam isso, têm medo de perder o lugar...É 1956, o computador ocupa toda a sala e faz ruídos " de computador". Kate e Spencer são tão bons que a coisa funciona! É um gostoso passatempo. E uma doce curiosidade. O computador é da IBM.

007/ LINCOLN/ COLE PORTER/ WILLIS/ TOM HANKS

   A VIAGEM de Tykwer e os Wanchowski com Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugh Grant
Em 1998 nada era mais excitante que Run Lola Run e Matrix. Em 2013 nada é mais cool que meter o pau nos diretores desses dois filmes ( Shyalaman é outro ex gênio daquela geração ). Este filme não tem pé nem cabeça! Faz uma mistureba de espiritismo, fisica, futurologia e termina como apenas uma ode óbvia a all you need is love. São três horas de profundo tédio. Tom Hanks se diverte em imitar Alec Guiness, faz um monte de personagens.  É a única diversão do filme, descobrir quem é quem debaixo daquela montanha de maquiagem. Nota 1.
   LINCOLN de Spielberg com DD Lewis e Tommy Lee Jones mais a grande Sally Field
Escrevi sobre ele abaixo. Como aula de história, vale. Como cinema é enfadonho. Lincoln fala e fala e murmura. Salas escuras e negociações. Lewis está ok. Tommy é o único que dá vida ao filme. Longe de ser um grande filme, não diverte e jamais emociona. Mas dá dignidade a profissão de politico. O que hoje é louvável. Cavalo de Guerra era bem melhor. Quem quiser saber mais sobre o presidente, veja o muito superior filme de John Ford. Nota 6.
   SKYFALL de Sam Mendes com Daniel Craig
Ó James Bond...então é esse o nosso Bond versão 2013? Craig não é mal ator de todo, ele apenas nada tem a ver com o personagem. Fleming sonhava em ver Cary Grant como Bond e ninguém é menos Cary Grant que Craig. Esse Bond tem cara de burro com suas orelhas de abano. Nada sedutor, ele parece sempre estar fingindo ser James Bond. Well...cada época tem o Bond que a reflete, Danny é um pseudo-Bond numa época de virtualidades. O filme tem ação banal, enredo pobre e nunca mostra aquela coisa divertida e sacana que fez a lenda de Bond. Alguns criticos o elogiaram. Com certeza são aqueles que nunca gostaram de 007. Nota 1
   E A VIDA CONTINUA  de George Stevens com Jean Arthur, Cary Grant e Ronald Colman
Este roteiro é muito esquisito. Começa como drama, vira comédia leve e termina como drama novamente. A impressão é a de que as 3 partes não se unem. Fala de um acusado de assassinato que foge e se esconde na casa de ex-namorada. Um famoso juiz se hospeda lá... Stevens foi um dos gigantes de Hollywood e o fato deste filme ser agradável, mesmo tendo roteiro tão confuso, mostra o quanto Stevens sabia dirigir. Ele começou como montador nos filmes de Laurel e Hardy, sabia dar ritmo aos filmes. Nos anos 50 Stevens faria clássicos como Giant, e Shane. Cary está meio fora de papel e Colman domina o filme com muito tato e humor. Agradável. Nota 6.
   ALTA SOCIEDADE de Charles Walters com Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly
Um filme com Bing e Frank cantando ótimas canções de Cole Porter. O que mais se quer? Grace Kelly, bonita como uma deusa. E ainda tem Louis Armstrong fazendo Louis Armstrong. O filme, modelo de chique, fala de uma moça frigida que vai se casar. O ex-marido fica por perto e a perturba. O roteiro é uma simplificação da peça de Philip Barry que fez a glória de Kate Hepburn. Hollywood teve duas aristocratas atrizes: Kate e Grace, as duas fizeram este papel. O filme é alegre, leve, colorido, elegante, um exemplo do que antes se chamava de "diversão civilizada". As canções de Porter são sensacionais, saltitam. True Love foi um hit depois regravado por George Harrison. Grace brilha intensamente. Frank nunca esteve tão simpático. Nota 9.
   HUDSON HAWK de Michael Lehmann com Bruce Willis, Danny Aielo e Andie MacDowell
O filme que quase acabou com a carreira de Willis. Superprodução, foi um fracasso em 1991. É uma comédia sem graça que fala de plano para roubar pedras que formariam uma máquina de Leonardo da Vinci que transformaria chumbo em ouro. As piadas não têm graça, Willis está exagerado e a ação é confusa. De qualquer modo há a bela Itália e o estilo de Andie. Nota 4.
   ZOOLANDER de Ben Stiller com Stiller e Owen Wilson
Fuja! Nada aqui tem graça. Nota Zero.
  

LINCOLN

   Leio hoje que o século XX não mereceu o século XIX. Eu jamais havia pensado isso. Que o século XIX preparou o mundo para ser um lugar muito melhor. Que o ano de 1900 prometia paz, progresso e cada vez mais justiça. O século XIX desenvolveu a ciência, trouxe a ideia de democracia de volta às mentes, popularizou as artes, e acabou com a escravidão. Mas meu século, o XX, destruiu quase todas essas ideias. Tudo o que os sonhadores do século anterior sonharam, o XX desfez.
  Lincoln não é um grande filme. Spielberg depois de velho resolveu ser John Ford. Mas ele não pode ser Ford porque o mundo onde Ford foi formado foi o idealista mundo do século XIX. Mas Spielberg tenta e devo dizer que pelo menos nesta época de cinismo e de negativismo blasé, Spielberg insiste em nos oferecer humanismo. O filme é digno, solene, seco e não faz concessões. Fala do tempo em que os homens faziam politica.
   Politica...Voce pode não acreditar mas a politica já foi a coisa mais importante da vida. Hoje ela não existe. Não se faz politica, se administra um banco. A economia tomou seu lugar. Porque politica não é pensar em termos de lucro e divida. Politica é ter projetos, pensar o futuro, acreditar em ideologias e saber fazer aliados e calar inimigos. Não há um só lider nacional que pense em termos politicos hoje. Pensam em conseguir lucros e assim garantir mandatos. São gerentes de bancos.
   Lincoln nos mostra a politica. E recordo de outra coincidência. Não faz mais de dois dias que li que o sexo tomou o lugar da politica na vida dos jovens. Nenhum jovem pensa em politica e isso é bom para quem odeia a politica mas ama o poder. Pois Lincoln amava a politica.
   Cheguei a acompanhar o último politico grande vivo: Maggie Thatcher foi pura politica. Uma raposa, uma gênial mistura de crueldade e de visão a longo prazo. Depois dela...vácuo.
   Terá a geração teen a consciência da importância histórica do que lá é recordado? De que enquanto nós aqui pagávamos o mico de ter uma familia real de sangue europeu, os EUA, na vanguarda, continuavam a construir seu projeto de nação? ( Que foi traído no século XX ). Podemos odiar os yankees, mas é a verdade, os EUA do século XIX são um projeto racional, duro, teimoso de nação. O filme mostra isso. Se Lincoln errasse o país negaria seu destino, ele não errou. O erro viria em 1898 com o começo do imperialismo nas Filipinas e Porto Rico. Como dizia Gore Vidal, a partir daí os militares passariam a ser o poder do país. No tempo de Lincoln não. Há o projeto civil, republicano e representativo. Um projeto que ousa, em 1864, dar a liberdade aos negros africanos.
   Spielberg apenas filma, nada inventa. O filme não tem uma grande cena. Daniel Day-Lewis está pegando todos os grandes papéis. Além de ser grande ator, tem concorrentes fracos. Quem mais poderia ser Lincoln? Sean Penn? Não temos mais Gregory Peck, Gary Cooper ou Henry Fonda. Esse tipo de ator, digno, viril, elegante, de voz poderosa, ponderado, desapareceu. Então quando precisamos desse tipo de ator temos Daniel. E Daniel. Ele está muito bem. Assim como Sally Field, melhor que ele, menos composta, mais quente que o inglês. E o grande Tommy Lee, cada vez melhor ator, que na verdade é o que mais me agradou, fazendo uma interpretação natural, matreira, cheia de nuances.
   Não é um grande filme. Longe disso. Espertamente Spielberg fez o filme certo na hora certa. O tema é muito bom. ( O roteiro é de Tony Kutchner. É aquele Tony, de Angels in America? ).
   Na verdade Cavalo de Guerra, como filme, me agradou bem mais. Mas todos devem ver este filme. Nem que seja para saber que um dia se fez politica no mundo. Que ela não é apenas isso que agora vemos, a administração de dinheiro e de negócios. Foi uma ideia, um plano e uma visão.
   Tá dito.

DAVID FRANKEL/ GRACE KELLY/ WOODY/ FREARS/ BETTE DAVIS

   TODOS DIZEM EU TE AMO de Woody Allen com Alan Alda, Julia Roberts, Goldie Hawn, Edward Norton, Tim Roth, Natalie Portman
É sempre um prazer ver esse povo dos filmes de Woody Allen. São intelectuais bem de vida, com suas casas bem decoradas, suas roupas confortáveis e seus dramas sob controle. É gostoso ver esse povo espelhar aquilo que a gente pensa ser. Este é dos que mais gosto. Lembro que em 1999, na tv, ele me ajudou a superar uma grande dor de cotovelo. O filme tem belas cenas em Paris e Veneza. O elenco é deslumbrante. E eles cantam!!! As canções são ótimas. E no fim, em reveillon, eles cantam Hooray For Captain Spaulding, bela homenagem aos irmãos Marx. Nota 8.
   UM DIVÃ PARA DOIS ( HOPE SPRINGS ) de David Frankel com Meryl Streep, Tommy Lee Jones e Steve Carell.
O povo da Folha adorou este filme. Eu achei chato de doer! Frankel faz carreira sólida com filmes tipo nada. Fez o Prada, o Marley e agora este. Seu estilo é nojento, taca música pop em toda cena. O cara tá andando no mercado e lá vem vozinha com piano; o cara tá dirigindo e tome voz e violão...um saco! Usar música pop em filme adianta quando o diretor entende que a música é secundária, ela comenta, não carrega a cena nas costas. Ah, o filme fala de um casal de meia idade que não transa mais. Todo o filme são sessões de terapia. Meryl faz caricatura, está nada bem. Tommy está excelente, a hora em que ele se abre é a única cena boa do filme. Típico filme que tenta ser sério e adulto. Erra. Todo adolescente pensa que ser adulto é ser chato e triste. Frankel é um adolescente. Nota 1.
   OS GALHOFEIROS de Victor Heerman com Groucho, Chico, Harpo, Zeppo e mais Lilian Roth
Groucho é anunciado como o grande Capitão Spaulding. Sua entrada é digna do melhor de Bugs Bunny. Adoro este filme caótico! É o segundo da turma, e tem de bônus a adorável Lilian Roth. História? Tem alguma coisa a ver com roubo de pintura. Talvez seja meu filme favorito dos irmãos. Nota DEZ.
   O DOBRO OU NADA de Stephen Frears com Bruce Willis, Rebecca Hall, Catherine Zeta-Jones
Não dá pra dizer que Frears está em decadência, afinal, recentemente ele fez o ótimo A Rainha. Em seu crédito temos ainda Alta Fidelidade, Ligações Perigosas, Os Imorais, Minha Adorável Lavanderia; e meu favorito, The Hit. Mas neste seu mais recente filme, não sei se passou aqui este ano, ele erra feio. O filme não é ruim, é desinteressante. Fala de uma stripper que passa a trabalhar com um agenciador de jogatina. O filme não chega a irritar, Frears sabe dar ritmo, mas nenhum dos personagens importa. São mal escritos. O roteiro é muito, muito ruim. Bruce faz o seu tipo número dois, o "brega meio doido", Zeta-Jones está com um rosto irreconhecível e Hall, filha do grande Peter Hall, um dos maiores do teatro inglês, mostra ser muito boa atriz, mas pouco tem a fazer. O filme é vazio. Nota 2.
   UM BARCO PARA A ÍNDIA de Ingmar Bergman
É o terceiro filme do mestre, de 1947, tempo em que ele ainda aprendia. Bons tempos, um diretor novato podia aprender-fazendo. Bergman só encontrou seu estilo no sétimo filme. Mas aqui já está em semente todo o futuro do estilo Bergman de cinema: mar,  isolamento, conflito com pai, sexo. Neste filme, que em seu tempo jamais poderia ser feito em Hollywood, temos um filho que apanha e bate no pai, esse pai traz a amante para morar com a familia, o filho a rouba do pai. O filme é forte e lembra os amados filmes do realismo poético francês, filmes de Carné, de Vigo, que Ingmar via muito então. Sinto que ninguém sabe filmar praias como ele. Visualmente o filme é primoroso. Nota 7.
   O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? de Robert Aldrich com Bette Davis, Joan Crawford e Victor Buono
Foi um imenso sucesso nos anos 60, e nos 70 passava muito na tv. Causou um choque em seu lançamento por seu mal-gosto. Hoje parece até elegante. Bette é irmã de Joan. Joan está presa a uma cadeira de rodas. Bette tortura Joan. Motivo? Joan fazia sucesso no cinema dos anos 30, Bette não. O filme é brilhante. Ficamos duas horas presos num misto de horror e admiração, prazer e medo. Aldrich, que logo depois faria a obra-prima The Dirty Dozen, faz miséria. O filme tem ritmo, tem ousadia e um humor hiper negro delicioso. Mas devemos dar vivas a grande, grande, grande Bette Davis. Mal maquiada, velha, suja, ela assusta com sua voz rouca, seu modo bêbado de andar, seus olhos esbugalhados. E melhor, percebemos o quanto ela se diverte em fazer aquilo. É um desempenho fascinante. Se Kate Hepburn foi a única a lhe fazer frente, devo dizer que Kate não conseguia fazer esses tipos tão vulgares. Tudo em Kate parece sempre "alta-classe", mesmo ao fazer gente pobre. Bette não, talvez por não ter a origem "nobre" de Kate, ela fazia mendigas, bebadas e prostitutas como ninguém. Este filme fica com voce. Repercute. Nota 9.
   O CISNE de Charles Vidor com Grace Kelly, Alec Guiness e Louis Jourdan
Na curta carreira de Kelly, este é de seus piores filmes. Em 1910, a mãe de Grace, tenta casa-la com o herdeiro da coroa. Filmado em belo palácio, claro que o filme é bom de se ver. Mas a história é chata, aborrecida, sem nenhuma atração. Guiness está ótimo. E Grace Kelly foi dentre as belas a mais bela das atrizes. Mas...o que fazer com roteiro tão perdido? Nota 2.

RIDLEY SCOTT/ JEFF BRIDGES/ JORDAN/ TOMMY LEE/ SARAH POLLEY

ROBIN HOOD de Ridley Scott com Russel Crowe, Cate Blanchett e Max Von Sydow
Quanto deve ter sido estranho para Max estar aqui. Em 1956 ele visitava a idade média em O Sétimo Selo, e agora é a única figura real neste tolo e muito chato pastiche. Cate está terrivelmente chata e Crowe, ator excelente, não tem um personagem definido para atuar. O filme, longo demais, não emociona, não interessa, é um nada. Nota 2. Pelos cenários.
HOMEM DE FERRO 2 de Jon Favreau com Robert Downey, Gwyneth Paltrow, Mickey Rourke, Scarlett Johansson
Após me acostumar com a arte refinada das cenas de ação dos filmes orientais, fica dificil aturar cenas de ação tão óbvias. Todas as lutas deste filme são cliché. Lá vai o bonequinho ( desculpem, mas é um desenhinho bem chinfrim ) voando, tiros e explosões, ele quase sifu, ele reage, explosão, ele sai voando.... caraca!!! Quem ainda aguenta esses filmes de hq???? Downey mostra porque nunca se tornou um ator classe A : aqui aparece sua enorme antipatia. Seria lindo ver Mickey dar uma surra nele ! Falha do filme : Mickey é muito mais interessante. Não dá pra torcer pelo mala do Stark. O filme é chato pra cacete !!!! Nota 2 pelo Ac/Dc na trilha.
UM ANO DE CÃO de Daniel Von Akon com Jeff Bridges
Um escritor em crise se isola da familia com seu cão-problema. Para quem ama cães é um prato fino. Jeff faz o personagem com muita preguiça e mal-humor. Gran Torino versão canina. A Rolling Stone reconheceu que Jeff em O Grande Lebowski tem uma das maiores atuações da história. Demorou ! Jeff Bridges é o cara ! Nota 5.
ONDINE de Neil Jordan com Colin Farrel e Aljcia Bacheda
Atenção: Colin sabe ser ator. Mas só quando o filme fala de sua terra, Irlanda. Aqui ele é um pescador que ao encontrar moça em rede quer crer ser ela uma sereia. A moça, Aljcia, é lindissima, mas muito má atriz. É uma delicia o sotaque da ilha, mas o filme não tem nada dentro de si. Quando vem a verdade ele desaba de vez. Pobre de idéias, pobre de coragem. Neil Jordan fez este filme para que? Nota 4.
THE RUNAWAYS de Flora Sigismondi com Kristen Stewart, Dakotta Fanning e Michael Shannon
Para quem gosta de rock é obrigatório. Nada alegre, nada levinho. Um drama sério e muito bem interpretado ( mesmo pela crepuscular Kristen ). A música das Runaways era de uma pobreza óbvia, mas o filme é tão bom que faz com que elas pareçam melhor ( ou será porque hoje o som delas é cult ? ). Meninos creiam, o mundo em 1976 era daquele jeito, e era muuuito divertido ! Depois vem o bode das drogas, mas o filme consegue não ser moralista demais. Nota 7.
RISCO DUPLO de Bruce Beresford com Ashley Judd e Tommy Lee Jones
Em época de Angelina, Nicole, Scarlett e Charlize, ninguém é mais bonita que Ashley. Certos closes chegam a fazer doer de tão bonita. E melhor, ela parece de verdade, real. É uma mulher. Bem... misture isso com a presença carismática de Lee Jones e temos um belo passatempo. É verdade: o filme é uma delicia tola ! O enredo, que tenta ser Hitchcock, é cheio de furos, mas Beresford é bom diretor, sabe levar a coisa no ritmo certo. E tem New Orleans, muito bem fotografada. Profissionalismo pop, e saiba, isso é muito raro. Nota 7.
AMORES PERROS de Alejandro Iñarritu
Uma poderosa obra-prima. De um niilismo cruel, ele jamais apela para o melodramático. A primeira parte é suja, dura, dificil de assistir. É a parte "classe baixa" com seus bebês jogados ao léu, sua violência latente, a ausência de pais e de paz. Na segunda parte vem a asfixia classe-média. A tentativa de ter amor, a falência desse amor, o desespero e o vazio absoluto. A última parte é um quase western e é nela que finalmente surge o herói. Que é um assassino. Um filme que permanecerá cravado na história do cinema. Nota DEZ !!!!!!!!!!!
LONGE DELA de Sarah Polley com Julie Christie e Gordon Pinsent
Nesta história de mulher com alzheimer que passa a não conhecer mais o próprio marido, vemos uma das situações mais tristes imagináveis. O marido, profundamente apaixonado por ela, é obrigado a testemunhar a transformação de seu amor em coisa desconhecida. Ele é agora um novo amigo. A dor no rosto desse admirável Gordon Pinsent é jóia inesquecível. Ele sofre calado, e é constante. Julie venceu dúzias de prêmios, perdeu apenas o Oscar para Piaf e Cotillard. Ainda bela, ela consegue mostrar essa transformação sem jamais sair do tom. Polley é uma das melhores direções do cinema atual. Não canso de dizer : enquanto voces prestam atenção apenas em Fincher, Nolan, Van Sant e Croenemberg, há uma dúzia de bons diretores sendo ignorados. O futuro irá os redimir ( como sempre faz ). Nota 8.
JUMPER de Doug Liman
E o roteirista de Clube da Luta ( Jim Ulhs ) nos dá esta insuportável mixórdia. É um dos piores filmes da década. Nota Zero.
US MARSHALS de Stuart Baird com Tommy Lee Jones, Wesley Snipes, Robert Downey Jr
Não é grande coisa. Os atores estão excelentes ( e esqueci de escrever que ainda tem Irene Jacob, linda de doer demais ), mas o roteiro só esquenta na meia hora final ( que é bem legal ). É fácil adivinhar quem é o bandidão e isso estraga tudo pois Lee Jones fica parecendo tapado por não perceber. Nota 4.
A CÂMARA 36 DE SHAOLIN de Lau Kar Leung com Gordon Liu, Wong You, Loh Lieh
Um grande clássico do cinema de aventura chinês. É o filme que transformou Liu em mito ( o Cahiers du Cinéma o considera o maior ator de kung fu da história ). Ver Gordon lutar é testemunhar uma arte milenar em seu estado mais puro. Coloca Jet Li e Bruce Lee pra correr. O filme, imenso sucesso, conta a saga real do primeiro homem a tirar o kung fu do meio budista e levá-lo para os leigos. Com isso esse herói ( San Ta ) tentava livrar a China do dominio de Cantão. A forma como os chineses vêem o cinema é diferente da ocidental: para eles a arte está na ação, todo o resto é secundário. Gordon Liu foi homenageado por Tarantino em Kill Bill. É ele o mestre que ensina Uma Thurman. Eu me apaixonei pelo filme. Ele faz com que nos tornemos muito mais exigentes. Bonequinhos virtuais voando perdem toda a graça então. Nota DEZ.
CREPÚSCULO de Catherine Hardwicke com Kristen Stewart e um menino
Creiam, eu devo já ter visto uns 5000 filmes. E já vi muito lixo. De Mazzaropis a gozações de terror, de westerns italianos a ficções pobres, já vi muito filme brega. E de alguns eu gostei. Muito. Mas jamais vi nada tão ruim. Deve ser uma gozação, não é possivel ter sido feito a sério. Os atores fazem caretas o tempo todo. Ela parece estar com dor de barriga e ele tem expressão de quem perdeu sua caixa de maquiagem no metrô. Eles não param de mexer a sobrancelha, fazer bico, balançar a cabeça... o que é isso ? Amor ? Não me faça rir !!! Nada há de vampiresco aqui ( perto disto os filmes de Christopher Lee parecem eróticos ), nada há de emocionante. Provávelmente é a pior coisa que já assisti ( mas toda semana descubro algo pior ainda ). O que me faz não entender nada é : Isto foi mesmo um sucesso ? Década miserável.... Sem Nota.