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PETER LORRE- OKJA- MALICK- JERRY LEWIS

CONVENÇÃO DAS BRUXAS de Nicolas Roeg com Anjelica Huston e Mai Zetterling.
Jim Henson, o gênio por trás dos Muppets, produziu este horror juvenil e para dirigir chamou Roeg, o diretor de Inverno de Sangue em Veneza. E funciona. Em clima de fábula, se conta a história de um garoto que se hospeda em hotel que está cheio de bruxas. Passou muito na Sessão da Tarde e é um bom filme. Tem clima, tem boa trilha sonora e ótimos atores ( Mr. Bean faz o gerente ).
REI ARTHUR de Guy Ritchie com Jude Law e Charlie Hunnam.
Guy dá uma super bola fora. Faz com Arthur o que fez com Holmes e dessa vez fala sozinho, este filme foi e é ainda o fiasco do ano. Começa com uma guerra sem graça, então vemos a Londres de 800 DC como um tipo de Londres de 2000, só que mais suja. Arthur é uma ex moleque de rua, um tipo de "transpotting" medieval. E Guy enche o filme de efeitos espertos tipo "Canos Fumegantes". Voce sente asco. Ele tira de Arthur todo o aspecto de magia e de lenda e bota no lugar o clima de modernismo, já demodée, de acid party 1998. Um absurdo lixo.
OKJA de Bon Joon Ho com Tilda Swinton, Paul Dano, Jake Gyllenhaal e An Seo Hyun.
Que linda surpresa! Brad Pitt produz este filme Netflix com coreanos. Ele começa parecendo ser banal, mas então se transforma em algo surpreendente. Uma corporação desenvolve um tipo de porco gigante. E dá espécimes para famílias os criarem. Dez anos depois, eles os querem de volta, mas uma menina não quer se separar dele. Ela o segue até NY. O filme, belo, tem humor e tem drama em doses fartas. E nunca parece tolo ou fofo. Há até uma sátira aos ativistas verdes. Os últimos dez minutos do filme são dignos de uma obra-prima. Poucos filmes atuais sabem encerrar sua história de uma maneira tão sublime. Lindo filme. Veja.
O ZOOLÓGICO DE VARSÓVIA de Niki Caro com Jessica Chastain e Daniel Bruhl.
Um dos mais chatos filmes sobre a guerra já feitos. Jessica é dono de um zoo e a guerra detona todos os bichos. Ela usa o zoo então, para esconder judeus. Dizem que é uma história real. O filme é tão mal feito que parece uma anedota sem graça.
UM GOLPE DAS ARÁBIAS de Jerry Paris com Jerry Lewis e Terry Thomas.
Um dos grandes fracassos de Jerry Lewis. Tenta ser um filme espertinho, daqueles tipos Gambit, estilo que se fazia muito por volta de 1970. Mas não tem bom roteiro e Jerry está impregnado de vaidade. A grande armadilha que destrói qualquer humorista: a vaidade.
SCROOGE de Ronald Neame com Albert Finney.
Adaptação musical de Dickens que dá a Finney, um ator excelente, sua pior atuação. O filme é chato. Muito chato.
CRIME E CASTIGO de Josef Von Sternberg com Peter Lorre, Edward Arnold e Marian Marsh.
Não é nada mal. Tem o clima de horror de Dostoievski e Lorre é um super ator. Impressiona a beleza de Marian Marsh. Talvez seja o menos Sternberg em estilo e fotografia dos filmes de Sternberg.
SONG TO SONG de Terrence Malick com Rooney Mara, Ryan Gosling, Michael Fassbender, Natalie Portman, Patti Smith,
Malick erra em tudo aqui. As falas são banais, as cenas se repetem, a fotografia é bonita mas nada interessante, a história não anda. O estilo dele tem essas características, mas seus filmes são bons quando ele tem algo para revelar. Aqui nada é revelado. O filme fala sobre o mundo vazio de gente que tem tudo. Quase insuportável.

TORNATORE- JASON STATHAM- JOHN HUSTON- DIANE LANE- MALICK- MICHAEL CAINE

   RAÍZES DO CÉU de John Huston com Trevor Howard, Errol Flynn e Juliette Gréco.
De 1957, este é um dos fracassos de público e de crítica de Huston. Mas...que coisa! É um filme muito bom! Ele se passa na África francesa, e mostra um inglês, Howard, excelente, tentando defender os elefantes da matança. Ou seja, o caçador Huston faz um filme ecológico. Isso porque, como mostra o ótimo filme de Clint Eastwood, quando filmou The African Queen, em 1951, Huston teve um arrependimento. Viu que elefantes são sagrados e não podem ser mortos. Neste filme, feito sete anos mais tarde ao seu grande sucesso, African Queen, vemos como ainda era visto como insano aquele que pensasse em defender bichos. O inglês é tratado pelos outros colonos como um louco, um tipo de desequilibrado que prefere animais à humanos. Na época, 30.000 elefantes eram alegremente mortos por ano, isso sem contar os filhotes abandonados à sorte! Huston se preocupou com isso, e este filme, incompreendido então, sofreu por parecer em 1957, bobo. Sem assunto relevante... Os únicos que ajudam o lutador ecológico são uma prostituta, feita pela musa dos existencialista, Juliette Gréco, e um bêbado, feito por Errol Flynn. O filme é poderoso, bonito, e muito atual.
   SECRETARIAT de Randall Wallace com Diane Lane e John Malkovich.
Baseado numa história real, o filme conta a saga de uma mulher que consegue transformar seu cavalo no maior corredor de todos os tempos. O único desde muito, a ganhar a tríplice coroa americana. Eis um filme muito legal, aquele tipo de filme "empolgante" que só o cinema americano sabe fazer. Notei isso enquanto via o filme, o modo como ele vai num crescendo, até o êxtase final. Voce já viu filmes nesse esquema, e quando funcionam são sempre bons de se ver. Voce sabe que o cavalo vai vencer e mesmo assim fica em suspense e emocionado. Malkovich está maravilhoso fazendo um treinador elegante e excêntrico. E Diane nasceu para fazer esse tipo de papel. Ótima diversão!
   O NOVO MUNDO de Terrence Malick com Colin Farrell, Christopher Plummer e Christian Bale.
É uma bela experiência. Na primeira parte Malick nos faz ver o que era os EUA em 1600 com um realismo soberbo. Medo, violência e crueldade. Fome, muita fome. Depois há a história do envolvimento de um índia com dois homens. O filme é longo e lento, e vale à pena. Não espere a filosofia metafísica de Malick, este é para ser visto e fruído.
   FUNERAL EM BERLIN de Guy Hamilton com Michael Caine.
A fama internacional de Caine nasceu com este personagem, o detetive Harry Palmer, um tipo de 007 sem glamour. Palmer tem pouco dinheiro, é feio e suas missões são realistas, ou seja, pouca ação e muita complicação. O filme não é bom. Mas o clima de guerra fria é delicioso. Fico pensando em como esse mundo já me parece antigo. Caine está excelente.
  ASSASSINO A PREÇO FIXO 2 de Dennis Gansel com Jason Statham, Jessica Alba.
Eu adoro os filmes de Statham. São bem editados, nada pretensiosos e ele é um ator muito simpático. Mas este aqui é tão mal escrito que chega a insultar.
  LEMBRANÇAS DE UM AMOR ETERNO de Giuseppe Tornatore com Olga Kurylenko e Jeremy Irons.
Que filme ruim!!!!!!!!!!!!! Como em seu filme anterior, Tornatore fala das aparências, da verdade que pode ser ilusória e da mentira que se sustenta como realidade. Uma moça perde seu namorado e ele deixa tudo organizado para parecer ainda estar vivo. Dio mio! Olga se revela boa atriz e Irons continua fazendo filmes ruins. Tornatore nunca me enganou.
   O RESGATE DO BANDOLEIRO de Budd Boetticher com Randolph Scott e Richard Boone.
Budd era assim: dois cenários e cinco atores e ele te dá em 18 dias um bom filme. O filme B, como este, é o equivalente ao que hoje é a série de TV. Uma equipe de direção e produção fazendo bons roteiros de uma forma decente e direta, objetiva. Neste western de 1958, temos Scott preso por bandidos. O filme inteiro é sua tentativa de se sair bem. Muito suspense, alguma violência em um filme que não é uma obra-prima, mas é uma bela diversão. Tem comentários de Scorsese e de Peter Bogdanovich que botam o filme lá no alto.

SPOTLIGHT- RON HOWARD- MALICK- ASTAIRE- JUDY- GENE

NO CORAÇÃO DO MAR de Ron Howard com Chris Hemsworth, Cillian Murphy e Ben Wishaw.
Que decepção! O filme tem tudo que gosto: ação, aventura no mar, ambiente soturno, névoa e um tema brilhante: a história de Moby Dick contada para Herman Melville, e não por Melville. Mas tudo dá errado! Posso contar alguns motivos: os efeitos digitais parecem efeitos digitais, toda a ambientação se torna fake; o vilão é fraco, frágil, sem charme; Chris já provou ser OK, mas o personagem é grande demais para ele, caça à baleia é uma coisa intragável hoje em dia... O filme se arrasta. Um monte de coisas acontecem, mas a sensação é de que nada importa muito. Nota 2.
SPOTLIGHT de Tom McCarthy com Mark Ruffalo, Michael Keaton e Liev Schreiber.
Uma coisa legal: Michael Keaton é ótimo. Sempre foi, mas seu ego quase o matou para Hollywood. Coisa ruim: o filme não é nada mais que um tipo de episódio de série policial. O fato de ter ganho o Oscar de melhor filme apenas mostra o quanto o prêmio está desvalorizado. O tema mistura duas coisas que americanos adoram: ver jornalistas como heróis e ver católicos como seres esquisitos.
CAVALEIRO DE COPAS de Terrence Malick com Christian Bale, Cate Blanchett, Antônio Banderas e Natalie Portman.
Me parece que o mundo começa a não mais suportar Malick. O que é uma pena. Escrevi sobre o filme abaixo e vou tentar não me repetir. O filme em seus piores momentos lembra um A Doce Vida raso, e em outras muito fracas lembra A Grande Beleza em versão fake. Há algo também de Asas do Desejo. Ou seja, ele lembra 3 dos filmes mais geniais que já vi. Mas, infelizmente ele se arrasta, claudica, se enrola e se perde. E ao mesmo tempo, ao final, saímos do filme em estado de graça. Ele nos dá quase uma epifania. E notamos que toda as duas horas de cenas que se parecem demais com propaganda chique de segunda, tem uma razão de ser. Atravessamos o filme como Cavaleiros passam pelo canto de Sereias...Se você sabe do que falo, veja o filme.
VER, GOSTAR E AMAR de Charles Walters com Fred Astaire e Vera-Ellen.
Fred é, de novo, um playboy. Ele se apaixona por uma missionária na NY de 1900. O filme foi feito no ponto baixo da carreira de Fred ( 1951 ), quando ele era considerado ultrapassado. Mas surpreendentemente é um filme ok. Tem um belo número junto ao bonde da cidade e humor leve e bobinho, como deve ser. Nada inesquecível, mas bem aproveitável. Nota 6.
CASA, COMIDA E CARINHO de Charles Walters com Judy Garland e Gene Kelly.
O dvd tem um doc sobre Judy e os problemas que ela causou durante as filmagens. O filme fala de um bando de atores que se hospedam na fazenda de Judy. Este foi talvez o primeiro musical que vi na minha vida. Eu tinha por volta de 10 anos e vi com minha mãe e minha tia. Lembro que gostei do clima, senti que um musical era uma fantasia que podia viciar. Visto agora noto que a magia se foi, mas ainda nos emocionamos com alguns momentos. Nota 6.

CAVALEIRO DE COPAS- TERRENCE MALICK

   Perdemos as asas e distraídos por uma poção, esquecemos da Pérola, a joia que devemos encontrar...
  Las Vegas tem distrações. O filme não distrai, mas é cheio de coisas que distraem. Casas, praias, plantas em vasos, muitas mulheres, estradas, propaganda, festas, drogas. O Cavaleiro de Copas cambaleia entre as coisas, o excesso de coisas do mundo. A memória se apaga. Qual a joia...
  O filme cambaleia. Os melhores cineastas existenciais estavam filmando à procura de pureza, de vazio, de liberdade. Malick encontrou tudo isso faz muito tempo, e por isso paga um preço: seus filmes agora se parecem com conclusões e não com construções. Vemos uma verdade sendo exposta e nunca participamos da aventura da procura.
  Mas ele é um poeta. Este filme é seu A Doce Vida ( claro que o filme de Fellini é um infinito melhor ), e onde o italiano achava o mistério, Malick encontra a verdade. Qual é ela: Somos como cavaleiros que se perderam. Mas ainda podemos achar nossa joia, a Pérola. Basta ir atrás.
  Parece simples, e é. Desconfie sempre de filosofias muito complicadas. De Montaigne à Kierkegaard, os melhores são diretos.
  A recompensa que o filme dá vem no fim: duas mensagens: temos muito mais amor dentro de nós que aquele que admitimos dar. E a dor é uma benção por nos afastar do mundo. A dor faz com que vejamos o que importa.
  Longe de ser um grande filme, chato e vazio em muitas partes, ele merece ser visto e entendido. No mundo de espetacular distração ou de dores pornográficas, é bom ver imagens que remetem ao nada.

ALBERTO SORDI/ JEAN DUJARDIM/ JOHN LE CARRÉ/ PI/ RICHARD BURTON/ CLAIRE BLOOM

   AS AVENTURAS DE PI de Ang Lee
Resiste muito bem a uma segunda olhada. É um vencedor de Oscar que vai sobreviver. Tem aventura, humor e imagens de sonho. Mais, instiga interpretações. Na verdade ele fala do valor da narrativa como alma da vida. Nesta minha segunda visita meu prazer foi maior. Esse é o sinal do bom filme, na segunda assistida ele cresce. Nota 9.
   O ARTISTA de Michel Hazanavicius com Jean Dujardim, Berenice Béjo, John Goodman, Malcolm McDowell
Minha mãe tentou ver este filme e eu o revi com ela. Ela adormeceu, eu gostei mais que na primeira visita. Agora vejo algo mais que apenas sua coragem. Aqui se usa toda a linguagem que o amante de filmes conhece e guarda no peito. Citações da história da arte usadas modernamente. Sim, a forma é a de 1928, mas a mensagem, a narrativa é a de 2012. Dujardim tem uma atuação histórica. Ele seduz, varia, cresce, faz rir, hipnotiza. É uma estrela, um grande ator! Que belo filme!!! Nota 9.
   VIAGEM FANTÁSTICA de Richard Fleischer com Stephen Boyd, Donald Pleasence, Raquel Welch
Uma equipe é diminuída e colocada dentro do corpo humano. O objetivo é destruir um coágulo no cérebro. Os efeitos especiais são pueris, mas até que o filme sobrevive. Foi malhado quando de seu lançamento. Houve um tempo em que temas ridiculos eram ridicularizados a priori. Lembro de assisti-lo na TV com 11 anos de idade e passar mal. Agora me diverti. Nota 5.
   MEU PÉ DE LARANJA LIMA de Marcos Bernstein
Até tú José Mauro? Botaram um monte de tiques de arte nesta história simples e transformaram isto num trambolho frio e sem porque. Apagaram a poesia, limaram as lágrimas e deixaram um filme ruim. Nota Zero.
   DEEP IN MY HEART de Stanley Donen com José Ferrer e Merle Oberon
Conta a vida do austríaco Romberg, que apesar de suas pretensões eruditas se tornou uma estrela da Broadway. O filme tem um problema central, a vida dele é desinteressante. Nada acontece. Donen dirige sem capricho e até sua leveza mágica está ausente. Tem números com Gene Kelly e seu irmão, Fred. Além de Howard Keel. Nem eles salvam o filme da banalidade. José Ferrer, queridinho da critica na época, transpira antipatia. Nota 4.
   TO THE WONDER de Terrence Malick com Ben Affleck, Olga Kurilenko, Rachel McAdams
Um erro sério de Malick. O tema é sublime, o amor como dom da alma, como condição de vida, como alma do mundo. Mas o modo como isso nos é passado é desastroso. O filme tenta nos levar ao sonho hipnótico com o uso de cortes ritmados e movimentos de câmera dançados. Os atores rodopiam e o ângulo mais usado é do alto e de costas. Isso cansa, produz tédio. O filme é muuuuito chato! Nota 1.
   42, A HISTÓRIA DE UMA LENDA de Brian Helgeland com Chadwick Boseman e Harrison Ford
Em 1947, o dono dos Brooklyn Dodgers contrata o primeiro jogador negro da história, Jack Robinson. O filme é quadrado, básico, mas é impossível não se deixar levar pelo tema. Robinson, que era briguento, suporta as provocações com frieza e vence. Hoje ficamos revoltados com aquilo que ele viveu. Xingamentos no campo de jogo, ameaças das arquibancadas, preconceito do próprio time. Ford está maravilhoso como o dono do time. Digno e muito real. Um bom filme que acho que não será exibido aqui. Procurem em dvd. Vale a pena. Nota 7.
   O ESPIÃO QUE SAIU DO FRIO de Martin Ritt com Richard Burton, Claire Bloom, Oskar Werner
Meu Deus, que mundo era esse! Todos tinham de se posicionar, esquerda ou direita. Um mundo rigidamente dividido. Este magnífico filme fala disso. Burton é um agente inglês. Ultra desiludido. É usado numa tortuosa trama para salvar um colaborador na Alemanha Oriental. Num preto e branco frio e fascinante, obra do genial Oswald Morris, o diretor americano Ritt, grande nome da esquerda de então, faz um filme inesquecível. Não espere aventura e galmour. O livro de John Le Carré desmistificou a vida de James Bond. A espionagem é trabalho de entediados, de homens sem alma. Burton tem uma atuação de mestre. Um monstro de ressentimento, de dor fria e sob controle. O filme é brilhante. Nota DEZ.
   UM AMERICANO EM ROMA de Steno com Alberto Sordi
Sordi cria uma personagem hilária: um italiano que pensa ser americano. Vive falando frases em inglês macarrônico, canta como Gene Kelly e dança sapateado. Pensa ser cowboy, gangster, playboy. Alguns momentos de sua atuação beiram o sublime. Mas há um problema: o roteiro se perde ao final. Parece que não se sabe o que fazer com personagem tão louco. Uma pena... Nota 5.

TO THE WONDER- TERRENCE MALICK

   O amor consagrado no lugar onde ele nasceu. Ao alto da catedral o mais fantástico espetáculo se abre a vida. O mar pleno cinzento. A maravilhosa. Sim, o Milagre é sempre o Amor. E todo amor é como Ver.
   Para sempre. O Amor morre? Como pode morrer a maior das forças?
   Procurando Deus, procurando o Amor. Encontrando o amor e deixando ele partir. Não encontrando Deus e jamais O vendo partir.
    Do mar de onde menestréis cantaram o Amor a terras devastadas pela sujeira. A angustia da América de espaços que não se acabam. O imenso céu vazio. Como preencher?
    A câmera segue os corpos. Roda por entre. Capta. Ocasionalmente Asas do Desejo. Mas este filme de Malick é um pecado, pois é chato, quase insuportável. Asas nunca é chato. Nos eleva. Este nos aborrece.
    Os cortes hipnóticos falham e assim não encontramos.
    O Amor faz de dois Um. Deus sempre Um. Eu me torno ela quando a amo. Eu deixo de importar, vale somente ela. Deus como Tudo e Todo.
    Pena.

TERRENCE MALICK/ FORD/ O DITADOR/ HANYO/ MORGAN FREEMAN/ JOHN WAYNE

   A DIFICIL VINGANÇA de Terry Miles com Christian Slater e Donald Sutherland
Dificil este modesto western passar aqui. Continuam insistindo em fazer faroestes sem ter nenhum conhecimento sobre a mitologia do gênero. Os atores não têm tipos fisicos para o assunto e sua linguagem cheia de Fuck é toda de LA 2012 e não de Dakota 1885. Nota 1.
   NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS  de John Ford com John Wayne, Claire Trevor, Thomas Mitchell e John Carradine
O Homero da América ( Ford ) e seu filme Odisséia. Uma diligência cruza território hostil. Nela vão os personagens icônicos do país: o jogador, o comerciante, o banqueiro-ladrão, a prostituta, uma esposa fiel, o bêbado e o fora da lei. Wayne tem seu famoso close, uma apresentação à eternidade como jamais outro ator mereceu. É uma aventura, é suspense e é um filme-mito. O elenco explode em carisma e Ford filma como quem narra uma saga cantada. É o mais americano dos filmes. Minha professora de literatura diz que gênio é o homem que capta todo o insconsciente de uma país e o traduz em linguagem. É o homem que traduz e batiza uma nação que não se conhecia e não se reconhecia. No cinema é John Ford esse homem. Ele captou a América de 1776 até 1976. Depois de então o mundo de Ford permanece como sonho perdido de uma ideal de país que não mais existe no mundo sólido, mas que se faz eterno e mitológico no universo do desejo. Um filme que não é o melhor de Ford, mas que é insecapável. Nota DEZ.
   A MOCIDADE É ASSIM MESMO de Clarence Brown com Elizabeth Taylor, Mickey Rooney e Donald Crisp
Quem criou este mundo? Tudo aqui é um tipo de paraíso: as casas, as pessoas, até mesmo as dores parecem paradisíacas. Eis o mundo que o século XX, sofrido, desencantado, pobre em sonhos, tolo, sonhou. Como cada vez mais descreio de criações vindas do nada, deve ter havido um dia um mundo parecido com este. Onde e quando eu não sei. Com certeza não em 1948. Liz tinha quinze anos então, exagera um pouco no choro. O filme fala de um cavalo e do sonho de uma menina em vencer um derby. Rooney está ótimo como um ex-jockey. É do tempo em que animais eram filmados como animais e não como pseudo-humanos. Nota 7.
   CREPÚSCULO DAS ÁGUIAS de John Guillermin com George Peppard, James Mason e Ursula Andress
E não é que é bom? Uma surpresa! A história fala de um ex-soldado de infantaria, que na primeira guerra entra para a aviação alemã. Ora, em 1915 aviação era coisa de nobres, de esnobes. Ele não é aceito e passa todo o filme quebrando regras de cavalheiros, sendo ambicioso e afoito, tentando se vingar do despeito com que é tratado. As cenas nos céus, com aviões de época, são maravilhosas. Nuvens, tiros, piruetas, quedas. Chegam a hipnotizar. Uma diversão correta, com belo estudo de um "herói" ruim, egoista e destrutivo. A fotografia de Douglas Slocombe é de arrasar. O diretor prometia bela carreira, mas se perdeu em filmes tolos. Este é ótimo. Nota 7.
   HANYO de Ki-Young Kim
É considerado um clássico do cinema coreano. Um casal contrata uma empregada. Ela seduz o patrão e a vida de todos vira um pesadelo. Um dos filmes mais desagradáveis que vi. Todos são cruéis, brutos, estúpidos. Pequenas violências se acumulam. O filme não é bom. Mal filmado e com atores muito ruins. Mas tem originalidade e em seu país é o equivalente ao que para nós é Glauber Rocha, fundador de novo caminho. Nota 4.
   UM VERÃO MÁGICO de Rob Reiner com Morgan Freeman e Virginia Madsen
Um escritor alcoólatra vai passar um verão na praia. Lá conhece familia de divorciada. Se aproxima das crianças e tudo acaba bem. Reiner teve seu momento ( Harry e Sally ), esse momento passou. Lançado este ano, duvido que passe por aqui, deve ir direto para dvd. Tudo é previsivel, todos se tornam bons com facilidade, tudo se resolve. Mas sei lá, às vezes a gente precisa desses filmes do bem. Relaxa ficar vendo essa gente legal vivendo de um modo legal e tendo um destino legal. Sei lá, de repente a vida é mais isto que um cara se entupindo de drogas e comendo mulheres modernetes na noite. Bem, pelo menos o meu mundo está, felizmente, mais perto disto. Nota 5.
   THE THIN RED LINE de Terrence Malick com Jim Caviezel, Sean Penn e John Cusak
Um amigo me fala que este é um dos filmes recentes do cinema que Pondé mais gosta. Então o revejo. Tinha a lembrança de ser um filme chato. Ele é. De ser apelativamente cruel, e é. Mas agora percebo algo que antes não percebera. Malick é um cristão no sentido medieval e "puro" do termo. O mundo é um horror, os homens se matam, se comem, e em nada mais conseguem crer, Acreditam apenas na força e na dor. Então vivem uma realidade de força e de dor. Um mundo de gemidos, sangue, tiros e solidão extrema. Mas, para quem ainda quer ver, existe a folha que balança, um raio de sol na água, bichos olhando distanciados, praias e crianças. Caviezel ainda pode ver. O mundo dele é o mundo do espirito. Ele não se deixa engolir, não se deixa perder. Para Malick, o que podemos fazer é conquistar nossa alma, ela é nossa potencialmente, cabe a cada um a merecer. Caviezel a possui. Penn talvez um dia a obtenha. O comandante feito pot Nick Nolte é a carne absoluta. Todos os filmes de Malick repetem esse mesmo tom. Este, talvez o mais crú, é o mais dificil. Com certeza foi por este papel que Caviezel se tornou o Jesus de Gibson. Nota 8.
   O DITADOR de Larry Charles com Sacha Coen
Não é cinema. É um programa de Tv. Engraçado? Poucas vezes. Tem a fluência atravancada de Austin Powers. Mas Powers era mais engraçado. Humor rasteiro, de amigos bêbados, fácil de fazer. Basta atirar pra todo lado e pensar que o público é idiota. Tão ruim quanto Borat, ele faz humor sem alegria, risos sem celebração. É o humor pesado, o anti-humor segundo Comte-Sponville. Nota 2.

AS CENTENAS DE FILMES DA SIGHT AND SOUND

   TerrEnce Malick deve ser o maior diretor da história do cinema. É o único que obteve 100% de seus filmes indicados. Acabo de ver os cerca de 1500 filmes que foram citados pelos votantes na enquete dos 250 melhores da revista inglesa Sight and Sound. Nessa lista, publicada em ordem alfabética, temos várias justiças, algumas surpresas boas e esquecimentos surpreendentes. Malick é o único diretor a ter tudo o que produziu
 citado, e seu ARVORE DA VIDA é o filme melhor classificado ( dentre os americanos ), dos que foram feitos de 2000 pra cá. O que a gente logo percebe é que neste século a produção se pulverizou. Hong Kong, Coréia, China, Irã, Turquia, Formosa....são esses os países com a nata das citações.
   Wes Anderson tem apenas um filme entre os 1500 citados e Tim Burton apenas Edward Mãos de Tesoura. Já Tarantino tem seis filmes lembrados, e os irmãos Coen quase todos. Mas não vou ficar aqui falando detalhes, quem quiser que veja a lista. Está disponível a dois toques de teclado. Prefiro comentar as surpresas.
   Maravilhosamente Chuck Jones tem cinco desenhos dos Looney Tunes entre os maiores. Desenho é arte e Jones, assim como Tex Avery, Bob Clampett e alguns outros sempre soube disso. Mas ao mesmo tempo vemos uma injustiça com a Disney. Citaram apenas Mogli !!! Logo Mogli, um dos menos bons da fase clássica. Deixar Pinóquio ou Dumbo de fora é esquecimento de gente que deveria ter pensado melhor. De qualquer modo, WALL E éstá ente os 80 melhores filmes já feitos. Justo.
   Michael Powell continua valorizado. Tem seus principais filmes citados ( mais de dez ), esqueceram CONTOS DE HOFFMANN, mas tudo bem, Powell está no posto que merece, é um dos 3 melhores da história do cinema britânico. Esqueceram Stephen Frears, nenhum de seus filmes foi lembrado, e Carol Reed está em baixa, citaram apenas 3 de seus filmes. Com David Lean se esqueceram de OLIVER TWIST, provávelmente por ter fama de racista. OS EMBALOS DE SÁBADO A NOITE está entre os 1500, mas senti uma certa má vontade com o cinema dos anos 70. De qualquer modo, os básicos da década mais louca estão lá. O que não aceito é entre oito filmes de Robert Altman citados, ninguém ter lembrado de MASH....imperdoável.
   O Brasil tem lembrado quase tudo de Glauber e muita coisa de Nelson Pereira dos Santos. Adorei ver meus dois filmes favoritos made in Brasil lembrados: MACUNAÍMA e O BANDIDO DA LUZ VERMELHA estão presentes.
   Bacana lembrarem do pouco visto AS 3 MORTES DE MELQUÍADES de Tommy Lee Jones. Esse filme, de 2007, é uma bela homenagem a Sam Peckimpah.
   Vincente Minelli, Raoul Walsh, Howard Hawks, Billy Wilder, o cinema clássico americano está muito lembrado. Buster Keaton tem um monte de filmes citados e John Ford aparece com mais de 12 filmes. Mas é estranho não terem citado Scarface de Hawks, Asas de Wellman e Inimigo Público de Le Roy.
   Jean-Luc Godard é talvez o maior vencedor da lista. São dezenas de filmes lembrados. Godard fazia aquilo que todo cinéfilo sonhava, se divertia filmando. Interrompia a narração quando se entediava, enfiava cenas improvisadas ao ter uma inspiração, liberava seu desejo. Godard fazia tudo o que um diretor não pode fazer hoje, inventar . Daí  sua valorização atual. É de longe o francês mais citado. Bresson vem logo depois.
   Todos os grandes gênios estão fartamente lembrados. Não há um só Bergman ou Kurosawa que merecesse ser citado que tenha sido esquecido. São 19 Bergmans e 15 Kurosawas. E há também uma tonelada de Dreyer, Bunuel, Lang, Kieslowski, Tarkovski, Fellini...
   A Itália é o grande perdedor. Sim, eles citam os De Sica, Antonioni e Visconti obrigatórios. Tem Pasolini às dezenas, tem Bertolucci, Rosselini...mas o cinema da Itália foi tão grande que dá uma frustração ver apenas um Scola, um Risi, dois Zurlini e dois Monicelli.... Lembraram dos ETERNOS DESCONHECIDOS, mas esqueceram BRANCALEONE!!!!!
   Todos os Clint Eastwood que valem a pena foram lembrados ( esqueceram Bird, e eu acho justo isso ), assim como Scorsese, De Palma e Woody Allen.
   Vertigo de Hitchcock é o maior de todos. Não sei se é o maior, mas também não sei se ele não é o maior. Hitchcock tem mais de vinte filmes na lista. E mesmo assim tem alguns que mereciam ser incluídos e que ficaram de fora. Ele conseguia unir o cinema pop a arte mais sofisticada. Ação e introspecção. Humor e horror. Senso de imagem e dom para diálogo. Erotismo e romantismo. E tudo isso mantendo sempre o senso de beleza, de diversão e de comunicação. Não sei se foi o maior de todos, mas se for, lhe fica muito bem.

BRANDO/ DONEN/ DELON/ MALICK/ WALSH/ ZURLINI/ MASTROIANNI/ HUSTON

   CANDY de Christian Marquand com Marlon Brando, Richard Burton, John Huston, Charles Aznavour, James Coburn, Walter Mathau, Ringo Starr, Anita Pallemberg e Ewa Aulin
Um dos mais famosos dos filmes "bem louco" dos anos 60. Não há uma cena de drogas, mas o filme é uma viagem. Do que fala? De uma menina meia ingênua, meia idealista, que zanza pela vida sendo perseguida por homens que desejam levá-la pra cama. Ewa Aulin é muito bonita, mas como atriz é um desastre. De qualquer modo, o filme é surpreendentemente bem feito, e tem alguns momentos divertidos. Burton faz um professor super-star, é uma das boas cenas. Brando aparece no fim, como um guru charlatão. Magro, e de peruca longa, é hilário ver o mito Brando tirando uma do movimento hippie. Ele finge levitar, diz bobagens new age e transa com a menina até se esgotar. É a melhor coisa do filme. Há ainda Aznavour em cena ruim, Coburn como cirurgião superstar ( o filme é cheio de críticas aos superstars ), Mathau faz um militar tarado ( é a pior cena do filme ), e Ringo é um jardineiro mexicano virgem. Como disse, é um filme doidão. Nota 4.
   O DIABO É MEU SÓCIO de Stanley Donen com Dudley Moore e Peter Cook
Cook e Moore se tornaram famosos na tv inglesa fazendo um tipo de humor à Monty Python antes dos Python. Cook escreveu este roteiro que fala de rapaz tímido que é ajudado pelo diabo em sua tentativa de conquistar o amor. O filme nunca teme o politicamente incorreto, Deus é objeto de humor crítico e tudo aquilo que o diabo diz tem a marca de alguém que sabe falar. Peter Cook é um filósofo. Mas trata-se de uma comédia, e é triste dizer, nada aqui tem graça. Os cenários são tristes, o ritmo é lento, e Dudley é péssimo!!! Stanley Donen começa aqui a rumar a sua aposentadoria. De bom, o estilo "dandy do rock psicodélico" de Cook. E a cena em que Dudley se torna um astro do pop. É pouco. Nota 2.
   BORSALINO de Jacques Deray com Jean-Paul Belmondo e Alain Delon
Um grande sucesso de bilheteria do cinema francês em 1970. Fala de dois pequenos malandros que se tornam amigos e passam a dividir suas tramóias. Bem.... os atores se divertem muito com seus socos, tapas, caretas e mulheres bonitas. As roupas anos 30 são charmosas, a trilha sonora de jazz é perfeita, os cenários são lindos, mas falta alguma coisa.... Talvez falte Paul Newman.... Delon é excelente para fazer tipos angustiados e frios, ou seja, tipos que são o oposto do humor; e Belmondo, bom ator em comédias, está aqui totalmente descontrolado. Vê-se o filme com indiferença. Nota 4.
   A ÁRVORE DA VIDA de Terrence Malick com Brad Pitt, Jessica Chastain
Crítica abaixo. Malick tenta ser Kubrick e se torna um sub-Tarkovski. O tema que ele escolhe é sublime, mas boas intenções não fazem um grande filme. Se tirarmos a soberba trilha sonora de Alexandre Desplat e a fotografia de Emmanuel Lubeski, o que sobra? Um diretor com boas ideias perdido em sua pretensão absurda. Me emocionou porque toca na minha vida, mas que efeito ele causaria em alguém diferente de mim? Esquecendo o que ele tenta falar, como cinema puro, o que ele é? Uma coleção de cenas que não se resolvem e um amálgama de conceitos que jamais se desenvolvem. Falho, mas jamais vulgar.  Nota 6.
   BLITZ de Elliot Lester com Jason Statham e Paddy Considini
Ah! Maravilhoso cinema.... indústria que vai da arte de Loach e Frears ( para falar dos caras de agora ) à pretensão fru-fru de Malick e Boyle. Da eficiência nobre de Eastwood e Scorsese á arrogância tipo novo-rico de Jackson e Bay.... Se o cinema fosse culinária, diria que o filme de Malick seria um souflé que murchou, excelentes ingredientes, excelente intenção, porém desandado. Aqui temos um belo pão com manteiga e média escura. Pão quente e café fresco, manteiga gordurosa, como deve ser. Gosto muito de Statham, como adorei em seu tempo Bruce Willis e Mel Gibson. Atores de ação com carisma são como dádivas das telas, nos dão prazer, prazer em estar, prazer em os reencontrar. O suflê é melhor, mas no dia a dia é a média que nos sustenta. Dá-lhe!!!!! Nota 6.
   GIGANTES EM LUTA de Raoul Walsh com Yvonne de Carlo e Rock Hudson
Walsh era um desses diretores-padeiros. Faziam a toda hora, por toda a vida, aqueles filmes pão-quente, filmes deliciosos, simples, leves, inesquecíveis. Ação, humor, romance e bons diálogos: isso é cinema puro. Este fala de espionagem em tempos de Napoleão. Rock Hudson era desses atores-prazer ( como eram Erroll Flynn, John Wayne, Steve McQueen, e agora Brad Pitt ou George Clooney ), atores que a gente sabe não serem tão bons assim, mas são rostos e vozes que adoramos reencontrar sempre. Nota 6.
   DOIS DESTINOS de Valerio Zurlini com Marcello Mastroianni e Jacques Perrin
Aqui a coisa pega. Um tristíssimo filme do delicado Zurlini, um dos melhores diretores da Itália. Fala de dois irmãos. O mais velho foi criado pela própria familia, o outro foi adotado por um tipo de nobre decadente inglês. Mas esse nobre se vai e o mais velho, que agora é um jornalista comunista muito pobre, vai ter de ajudar o mais novo a viver. Esse irmão, delicado, bom, indefeso, é feito com talento poético por Perrin, mas o amargo e contido comunista, feito por Mastroianni, é uma das maiores atuações da história. O jornalista procura se livrar do peso de ter de ajudar e proteger um irmão que lhe é estranho, mas acaba por se render quando esse irmão adoece e morre. É um dos mais trágicos filmes já feitos e nada nele nos alivia a dor. O filme nada tem de "belo", são os dois atores, quase sempre sós, falando e sofrendo sem parar. Sentimos a fome deles, vivemos em sua sujeira, ansiamos pelo que eles ansiam. As cenas no hospital se tornam quase insuportáveis. Voce nunca irá esquecer o rosto de Perrin. Marcello foi o maior ator da história do cinema como querem alguns? Porque não? Veja isto e tire suas conclusões. Nota 8.
   A GLÓRIA DE UM COVARDE de John Huston
Este é o filme fracasso de Huston. Ele não pode terminá-lo e o que ficou completo tem apenas uma hora de duração. Mas que filme!!!! Baseado no livro de Stephen Crane, fala de soldados na guerra de secessão americana. Há quem diga que nosso tempo nasceu nessa guerra, o filme pensa que sim. O absurdo impera. Poucos filmes têm uma fotografia tão bonita, rostos imensos em closes profundos, fumaça e gestos duros, olhos gigantes. Harold Rosson se superou. Huston, em seu estilo seco, acompanha um soldado covarde, que abandona a batalha, mas depois é tido como um tipo de herói. Ironia hustoniana pura. Não há uma cena menos que ótima, o filme é todo superlativo. É um prazer voltar a ver um filme de John Huston. Nota 8.

A ÁRVORE DA VIDA- TERRENCE MALICK

   Americanos não são bons de filosofia. Tirando William James e mais alguns pragmáticos não há nada de muito brilhante em país tão importante. Mas eles sabem, como ninguém, demonstrar coisas em ação, na prática. Mesmo suas religiões procuram esse gancho com os sentidos, com a materialidade da vida. O cinema americano consegue ser tão bom quanto qualquer outro quando usa seu dom de "fazer coisas", e não demonstrar teses. John Ford pode ser tão profundo quanto Bergman, mas jamais irá discutir abertamente aquilo que Bergman explicita. Não procure na América um Dreyer ou um Bresson. Não procure na Europa um Kazan ou um Lumet.
   Stanley Kubrick é a excessão, e várias vezes neste filme percebi o desejo de Malick em ser Kubrick. Quem quiser ver o mesmo filme sob enfoque mais profundo, veja 2001. E quem desejar ver o mesmo tema tratado de modo europeu, que alugue ASAS DO DESEJO. Cada época tem o filme que merece, e ASAS DO DESEJO vence este filme em tudo, inclusive em estética. Se voce nunca viu o filme de Wim Wenders não conhece cinema.
   Mas este filme também tem algo de FANNY E ALEXANDER, e comparar Malick com Bergman é uma covardia com o americano. Três minutos de MORANGOS SILVESTRES ( os 3 finais ) falam mais sobre o drama familiar que as duas horas aqui mostradas. O filme causa repulsa em certas pessoas porque a ambição de Malick está muito além de seu talento. Cada fotograma tenta ser "genial e solene", qualquer um percebe isso, e todos correm o risco de pensar: "Ah, chega de tanto pedantismo!" Malick tentou fazer um filme cósmico, não conseguiu, e eu me lembro também de RAN, talvez o mais cósmico dos filmes. Mas colocar Malick ao lado de Kurosawa é como comparar Bizet com Mozart.
   Uma das coisas que sei sobre mim é que sou bom em descobrir sentidos. Não vivo na doença da falta de sentido, nunca perdi o dom de ler o que me é dado. O sentido deste filme é simples, claro, e nisso há um mérito. Como bom americano Malick não perde de vista o dom de se comunicar. Sua ambição é imensa, mas ele não deixa de ter em vista seu possível público. É um filósofo que escreve claro. E a partir daqui deixo de falar do filme ( que tem o mérito de ser "do bem" ) e passo a ler o que nos é dado ( que não é pouca coisa ). Serei propositalmente contraditório. E bastante sincero.
   Ao contrário do que hoje é moda pensar, a relação familiar é um paralelo diminuído da relação de Deus com os homens. Nós não criamos Deus para espelhar e sublimar nossa relação falida com nosso pai biológico ( quanto chavão! ), é exatamente o contrário. As pessoas deveriam reaprender a ver as coisas sob mais de um ponto de vista, duvidar daquilo que lhes é dado. Nisso, o filme é cristalino. Muito mais profundo que IMAGINAR que há entre pai e filho uma rivalidade pela mãe, é PERCEBER que o amor do filho pelo pai e do pai pelo filho é o mais precioso. O que faz o filho se afastar é o fato de que ele não consegue compreender o tipo de amor que o pai lhe dá. Do mesmo modo como perguntamos a Deus que tipo de amor é esse que nos deixa sofrer, que se ausenta, que nos impõe regras duras, o filho passa a vida em rancor contra o pai descrendo de um amor que não o fez feliz. Mas o pai o ama. Com toda a força de seu ser, ele vive para ele. E tenta prepará-lo para a vida, tenta lhe incutir coragem, independência, força, confiança em si. Lhe dá regras rígidas, castigos, frieza, distancia. É um patriarca, um Deus que perde o amor de seu filho.
   A mãe, como em Jung, é a natureza. Ela nutre, ela dá a vida. Ela é toda conforto, pouco fala e tem calor. O pai/Deus é de certo modo seu Senhor, mas é a ela que os filhos/nós recorremos sempre. Ela sabe sem saber e é maravilhosamente bela sem ser bonita. Atente: nada há de edipiano aqui. Isso seria reduzir tudo ao bonde-do-Freud. A coisa é bem mais profunda, e portanto, é insolúvel. A mãe é e será sempre a NATUREZA, o ser ligado ao ciclo da vida. O pai sempre será o ser que vem de fora, o ausente, o que ama com propósito.
   Todos os santos foram heróis. E todos os heróis foram pessoas que romperam com sua casa. O filho perde o pai e passa a ser cruel. Ele, que tem ao lado um irmão "anjo", ponte entre o Pai e o filho, desacredita de tudo, do amor, da bondade, do sentido. Ainda se refugia no calor da mãe/natureza, mas esse calor começa a se reduzir a pele e sangue. A cena em que ele judia de um sapo ( a ciência ) e provoca dor no irmão ( a matéria ) são centrais. Isso as religiões dizem: é no filho "ovelha negra" que reside o potencial de profundo conhecimento. O filho que enfrenta o pai é exatamente aquele que um dia mais o amou.
   O pai se perde. Ele é renegado pelo mundo. Se recolhe e vai cultivar seu jardim, sua horta. A língua que o unia a vida se perdeu. Ele é demitido. Pode uma cena ser mais explícita?
   O filho rebelde, hoje, se perde em mundo que parece vazio, asséptico, morto. No universo de seus pais tudo era grama, capim, cães, pássaros, espaços livres, flores e céu. Ele vaga pela cidade e recorda. Recorda principalmente a morte de um irmão. Um filho do pai. E a dor da mãe, que milagrosamente sobrevive a dor. Convive com essa dor porque ela é a dor, ela é a mãe, ela é o ciclo. O filho então se reconcilia. A cena da catarse é bastante ruim, mas podemos ver o sentido final. O filho caminha ao lado do irmaõ, da mãe, do pai. Entre os edifícios de vidro há um céu.
   Bem....Agora dou mais um relato. E aqui falo de minha vivência pessoal com este filme. Primeiro. Malick consegue passar a impressão de "presença". Como ocorre em 2001, temos a sensação de que "alguma coisa" paira ao redor das cenas. Em 2001 é a inteligência cósmica, aqui é Deus ( sabemos que Malick é professor de filosofia e crente. Provávelmente um seguidor de Pascal e Bergson ). Alguém percebeu que ao mostrar a criação da vida, em cenas deslumbrantes, ele explicita e ao mesmo tempo cria um mistério? A vida nasce. Como?
   Em cada cena do filme, seja nas cenas de brincadeiras entre irmãos, seja nas brigas com o pai, há um personagem à parte, ausente/presente, presumível. Eis a repulsa que o filme pode causar: ele é religioso, tenta ser virtuoso, moralista, inflexível. Nada moderno, portanto.
   Chorei muito a partir das brigas entre pai e filho. Vivi tudo aquilo. Minha infância foi aquela. E é deslumbrante ver aqueles garotos todo o tempo na rua. Eles estão constantemente em estado de graças. Agradecem, sem saber, a cada árvore, cada folha de relva, ao céu que chove e que aquece. Eles usam seus olhos, seus corpos que correm e pulam. Amam sua mãe. E mais que tudo, querem amar e ser amados por seu pai ( o amor da mãe é inquestionável. Afinal, ela está sempre ali e jamais parece incompreensível ).
   Meu pai me fez sofrer demais, e todo esse sofrimento se deveu ao fato de que eu não conseguia crer em seu amor. Se ele me amava deveria fazer tudo o que minha mãe fazia: estar presente todo o tempo, ser carinhoso, real, físico, sem nada de oculto ou rigido. Ele tentava fazer de mim um homem, um ser mais duro, independente, alguém que pudesse se proteger dos perigos. E mais que tudo, ele queria que eu percebesse seu amor. A grande tragédia aí está: ele ama, mas esse amor parece não bastar. Seu amor não é percebido. ( E penso nas crianças que hoje não têm mães presentes para amar. Quem não viu sua mãe pendurando roupa no varal, cantando, o vento e o sol, não sabe o que o amor pode ser ). Essas crianças, na simbologia, perderam não só a presença da mãe; perderam a presença da natureza. Em nosso mundo sem mães e varais, também não existem gramados e espaços vazios.
   E com toda essa incompreensão, eis o sabor da vida, é exatamente em mim que vive mais forte o legado do que aconteceu. Sou eu, filho que xingava e chorava escondido, que carrego a lembrança. Sou eu, filho de um pai que nunca entrou numa igreja, que pressente mistérios sem nome e sem razão. Mistérios que são o que nos define e nos dá sentido.
   Quando Sean Penn anda pela praia, naquela cena paupérrima que remete ao pior da new-age, sou eu que ando por lá. Vejo ali meus mortos amados, minha morte futura e de todo dia. A felicidade, única, é ter tido essa mãe esse pai. Aquela rua é o paraíso. E tudo o que deveríamos fazer é cuidar dela. Cuidar com afinco, com sacrifício, com perseverança. Cercado pelos cães, pássaros e pela mãe/vida. E assistidos pelo Pai. Sem essa consciência de sentido, nada vale estar aqui, nada tem relevância e a chance de ter paz é nula.
   Um filme cheio de falhas, mas que nos dá muito o que ler. Precisa ser vivido.