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ENQUANTO HOUVER CHAMPANHE, HÁ ESPERANÇA - JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS. UMA BIOGRAFIA DE ZÓZIMO BARROZO DO AMARAL

   Seiscentas páginas sobre um colunista social? Há tanto assunto assim? Se for o Zózimo, há. Não que a vida dele tenha sido uma aventura. Ele nasceu rico, na zona sul do Rio, em 1941. Cresceu entre Jockey Clube e Gávea, Lagoa e Ipanema. Dinheiro novo? Não. Ele era chique. Falava francês como quem fala português. Voz educada, sempre bem vestido. Bonito. O livro começa bem, fala das origens da família, fala do pai, apelido Boy. Aquele tempo que adoro ler: Rio de Janeiro anos 50, a ilusão de que aquela era a cidade mais civilizada do mundo. Boy aprontava muito! É divertido de ler.
  Depois o livro cai um pouco. O autor entra na armadilha. Mais um jornalista com saudade da bossa nova de daquele povo do começo da ditadura. Enche o saco ler de novo como aqueles caras eram legais. " A gente era preso mas dava risada"...Pois é.
  Mas volta a ficar legal, o livro, quando volta à história do Zózimo. Coluna social era Ibrahim Sued. Quem é da minha geração sabe: Ibrahim era tão famoso quanto Chacrinha. Nasceu pobre e turco, ralou muito, virou rico e orgulhoso. Falava dos jantares. Das festas. E às vezes uma fofoca sobre grana de política. Antes ainda houve Jacintho de Tormes. Uma delícia. Mega esnobe. Texto à Oscar Wilde. Culto pacas.
  Então em 1969 veio Zózimo. De berço nobre. Falava dos amigos. Carmen Mayrinck, Baby Pignatari, Guinle, Duda, dinheiro velho, dinheiro muito, alta educação. O diferencial de Zózimo? Ele fazia o povo sorrir. Sua coluna era pra começar do dia com um sorriso na boca. Além do que, ele falava do Rio inteiro, de como se devia viver, era guia de estilo. No JB. O livro é cheio de textos dele, o melhor escritor brasileiro em 3 linhas.
  Fico feliz ao saber que Telmo Martino, meu jornalista favorito, era amigo e ídolo de Zózimo. Eu li Telmo no JT aqui em SP. De 1977 a 1981. Não houve nada melhor. Ele me civilizou. Telmo nos fazia rir e ao mesmo tempo nos fazia querer ser como ele: witty. Muito do que penso, escrevo e gosto tem a marca dele. Telmo Martino e Paulo Francis, meus gurus forever.
  Voce acha que a rivalidade esquerda direita é muito forte hoje? Sabia que Millôr disse que não confiaria no Chico Buarque nem pra ir na esquina com seu cachorro? E que Chico cuspiu em Millôr? Pois é. Tá no Zózimo. Para ele, Brizola matou o Rio. Era um homem que odiava tudo que o Rio tinha de bom, e em seu governo desconstruiu a cidade. O Rio pós Brizola era outra. Suja, quebrada e sem identidade. Refém do tráfico. Zózimo não era direita. Nem esquerda. Era liberal. Circulava pelos dois lados.
  No elenco do livro tem Miriam Leitão ( chamada de gata e de conservadora...??? ), Ricardo Boechat ( sim, ele mesmo, foi assistente de Ibrahim e de Zózimo ), Elio Gaspari, Augusto Nunes, Fred Suter ( uma figuraça, carioca e malufista, super esnobe, engraçado e mal humorado ), e mais aquela turma de playboys estrangeiros, atores e atrizes, milionários discretos e deslumbrados bregas.
  Daí um dia, nos anos 80, Zózimo cansa. As festas agora são pobres. A bebida é de segunda, a comida é comum, as pessoas não sabem conversar. O trabalho vira um porre. Tudo sempre igual, as mesmas caras nos mesmos lugares. Muita cocaína nas festas. O pó tomou o lugar do caviar. As reuniões não eram mais nas casas, eram em boates. Surge a celebridade, o famoso, e Zózimo começa a beber, muito. Os capítulos finais são de decadência física. Vai para O Globo a peso de ouro. 45 mil dólares de salário. Mas o Rio morreu e ele com a cidade. Chega a dizer o impensável: Que cidade feia é esta? Zózimo vai morar em....Miami. ( Ele antes odiava Miami, ia 12 vezes por ano à Paris. Mas então, em 1992, viu que havia uma região na cidade americana que era exatamente aquilo que o Rio poderia ter sido... )
  Houve um tempo em que jornalista tinha estilo, voce começava a ler e sentia: é texto de Francis. Isto é Telmo. É puro Sergio Augusto. Preciso dizer que isso acabou? Voce sabe quem é o colunista por suas opiniões, não pelo modo como ele escreve. Os textos são todos padrão, um robot escreveria tudo aquilo. O JB faliu. O Dia faliu. O JT faliu. A Folha da Tarde faliu.
  Zózimo faria um site? Uma página no youtube? Sim. E faria muito sucesso. Seria seu sonho, poder publicar do bar. Sem ninguém amolando.
  Por fim, em justiça ao Zózimo, não cito texto nenhum dele. Quero que voce pesquise. Ou melhor, compre o livro. Ótima leitura de tempos sem elegância.
 

TELMO MARTINO E O LUXO DO HUMOR

   Telmo Martino foi o cara que me ensinou que humor e inteligência andam sempre juntos. Suas colunas no Jornal da Tarde mudaram minha vida ( e pelo visto, a de muita gente ). Ele era o cara que todo mundo se espelhava para ser "top". Informado e fino, no auge da "bicho-grilice" paulistana, da "intelectualice rabugenta", Telmo fustigava com chicote de ouro os chatos, os bobos e os sem jeito. Ler Telmo fazia com que nos sentíssemos cosmopolitas. Eu lia, nas terças, quintas e sábados, e me sentia em London Town.
   Telmo cresceu amigo de Paulo Francis e de Ivan Lessa. Em comum, a inteligência, o humor feroz e a consciência de que New York e Londres eram o centro do mundo. Eles sacudiam a pasmaceira.
   Fagner, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Maluf, Antonio Fagundes, Vera Fisher, autores de teatro em geral dentre um imenso etc eram suas vítimas. Dos poucos que mereciam elogios estavam Suplicy e Beatriz Segall. Telmo era elitista? Muito. Mas não era uma elitização apenas financeira, era a elitização do gosto, do costume, dos bons modos. Telmo fazia, sem saber, a sobrevida do mundo antes-da-democracia-geral-de-tudo. Nos anos 80 a vitória foi do hiper-pop e o mundo de Telmo se desfez e se escondeu nas caves secretas do gosto. Telmo sumiu. Ou quase isso. Quem o leria hoje?
   Adoraria ler Telmo falar do funk, de Tiririca, dos BBB, da TV Record...Olha só o que eu disse! Telmo jamais escreveria sobre essas coisas. Iria tirar uma do mensalão, da moda das ruas, dos atores globais e dos sobreviventes da velha MPB. Não escreveu... sua coluna se foi assim como se foi o JT. O que lemos hoje são as colunas banais de Calligaris ( a de ontem sobre a prostituição foi de doer de tão ruim ), as colunas iradinhas de Pondé, e algumas boas tiradas de Da Matta e de Coutinho, mas nada com "finésse", com "chic", com luxo, inteligência e prazer.
   Acho que esses valores estão em baixa. Me parece que conforto, esnobismo chic e luxo esnobe irritam e não inspiram mais.
   O mundo ficou mais pobre. Mais óbvio e muito medroso.
   Telmo se foi.

NOEL COWARD, PONDÉ, ROBERTO DA MATTA, BOB GRUEN E TELMO MARTINO

   Alvíssaras! Comemorem! Dêem vivas! Noel Coward está tendo uma peça exibida em SP !!!!! Eu bem que senti que o ar de SP está um pouco mais wit. Noel Coward em cartaz é um privilégio tão sublime como ter disco novo de Bryan Ferry para ouvir. Noel é do tempo em que ser educado era objetivo de uma vida. A peça é Blythe Spirit e está no teatro que fica no Shopp Eldorado. Lugar horroroso que deve ter de súbito se tornado very classy. Essa peça, que foi filme de David Lean, trata de espirito que volta à Terra para atazanar ex-marido. Rex Harrison fazia o marido no filme. Nas telas o que eu recordo foi do colorido e das frases de Noel, uma profusão de linhas inteligentes. Humor britânico.
   O que me deixa assim assim é saber se há público na cidade para prato tão fino. Afinal, mesmo no teatro as pessoas regrediram e desaprenderam a escutar. E depois, a Inglaterra, como vimos em O DISCURSO DO REI, ainda tenta fazer peças e filmes com alguma elegância. O filme com Colin Firth, cá na selva, jamais foi apreciado como deveria. As massas preferiram o grand-guinol de segunda categoria de CISNE NEGRO e outras estultices. Bem...há quem evite o glamuroso O ARTISTA por achá-lo "dificil".... Glamour é hoje um tipo de sânscrito para o frequentador de cinema.
   Como estamos abaixo do Equador e nada aqui pode ser perfeito, Noel Coward tem em seu elenco Adriane Galisteu. Galisteu recitando Coward é como colocar Elba Ramalho para cantar Cole Porter. O encontro da buxada de bode com Dom Perignon.
   A soberba Barbara Gancia criticou Pondé na Folha. Mas Barbara é moça fina e sua critica foi apenas uma chamada à razão. Pondé se tornou um tipo de araponga de jornal. Ele grita e incomoda, mas ninguém entende o que ele fala. Eu já sabia que para a Páscoa ele mandaria algo cheio de sangue, crueldade e canibalismo. Afinal, o que ele queria dizer? Que o mundo pós-cristão é muito mais civilizado? Ora, isso qualquer intelectualzinho de barba e blusa vermelha sabe. Barbara fala que quem escreve em jornal não deveria ter uma atitude tão suicida. Pondé ataca o leitor e se coloca acima de quem o lê. Bem....Paulo Francis se colocava muito acima de quem o lia e era adorado por isso. O que me parece ser o erro de Pondé é que ele baba naquilo que redige.
   Roberto da Matta escreveu que existem obras que tomam o artista. Que quando um regente comanda uma orquestra que toca Mozart não é ele que rege Mozart mas sim Mozart que toma o maestro. Depois ele diz que até um cantor banal como Rod Stewart se torna maravilhoso quando grava Cole Porter ou Gershwin. Ora...eu tenho os cds em que Rod canta Cole e não há nada de maravilhoso lá. Como também já vi Mozart ser regido como se fora Berlioz. A grande arte só assume o comando de um artista quando ele previamente habita o mesmo endereço do autor. Rod é genial cantando folk e blues, isso porque ele vive nesse mundo. No universo do pop ninguém gravou a canção americana dos anos 20/40 decentemente. E olhe que vários tentaram, de MacCartney à Bowie e Ferry.
   Há uma expo de Bob Gruen na Oca. Bob é do tempo em que rock stars eram big stars. Suas fotos pegam a era em que o rock tinha a relevância que hoje é dada ao esporte. Se Bob fosse começar hoje e fotografasse os atuais rock stars todas as fotos teriam de ter legenda. E o visitante ganharia um Who1s Who na entrada. Bem...se começasse hoje Bob Gruen fotografaria apenas Lady Gaga. Ela em uma pose tenta imitar tudo o que Bob clicou por toda a vida.
   - Esta coluna é uma homenagem ao rei das colunas: Telmo Martino.

QUEM É TELMO?

   O festival de Gramado está tomando providências. Vai contratar aviões líbios para o transporte de filmes e de críticos para o seu concurso anual. O festival de Gramado está impressionado com a tranquilidade e desfaçatez com que esses aviões transportam bombas e outros explosivos pelos ares.
   Fernando Henrique Cardoso, o pavernu do palanque já mandou engomar e polir seu melhor blazer. Ele aguarda o convite que insiste em não chegar. É que um jornal paulista fará debate com politicos negros. FHC está magoado com tanto esquecimento. Ninguém se lembrou de sua recente declaração, na qual se anunciava, sestroso e orgulhoso, como um autêntico senateur mulâtre.
   Fernando Gabeira, o único escritor do mundo que ao escrever seu primeiro livro escreveu suas obras completas.
   Maluf e seus quarenta Ali-Babás....
   Carla Camuratti é a única atriz da Globo que dá a certeza de que aquilo é mesmo a Globo. Todas as outras só nos faz lembrar os motivos que levaram a Tupi a falência.
   Franco Montoro, o último fã de Zazu Pitts, perdeu toda uma noite lendo livros sobre cucos, queijos e fondues. Enganado por mais uma distração, ele estava convencido de que iria receber os reis da Suiça. Já ia começar a falar sobre chocolates quando notou uma total falta de garbo entre seus assessores. Como garbo é associável a Greta, Franco Montoro só então se deu conta de que aquele era o rei da Suécia.
   Elba Ramalho, a frajola do flagelo, está desnorteada. Apesar de todo seu jogging joazeiro, ela deixou de ser a rainha do Palace. Foi destronada por Caetano Veloso. Caetano em São Paulo está atraindo um público que ainda não o conhecia. São as dames cultivées que resolveram prestigiar a turma do jábá e jabô. As dames cultivées vão e ficam encantadas. Com muita eau de vie na joie de vivre, elas deliram com entusiasmo: - É o Mallarmé do afoxé! É o Cocteau do agogô!
   Washingtan Olivetto, o golden boy da publicidade, esteve no Rio. Foi para um daqueles festivais em que publicitários se confraternizam em autocelebração, e dizem uns aos outros como são geniais.
   O jantar que Abilio Diniz ofereceu aos politicos foi um retumbante sucesso. Tancredo Neves, Ulysses Guimaraens e Franco Montoro até repetiram a papinha.
   Alguns jornalistas estão adorando a greve dos correios. Não recebem mais convites para peças de Antonio Abujamra no Lira Paulistana. Nem para lançamentos de livros de contistas mineiros.
   Feliz Ano Velho já virou peça de teatro. Agora vai virar filme. Quem sabe um dia não vire livro?
   Desde que lhe cobraram mais conhecimento de periferia, FHC, o senateur mulâtre, tem sempre o mesmo pesadelo. Ele caminha, caminha e caminha e nunca chega a Etoile, a Concorde ou a Passy.
   Patti Smith escrevia poemas e ninguém lia. Depois de se lançar no rock, agora todos querem seus poemas. Mario Chamie está tendo aulas de new wave.
  
   Eis alguns trechos curtos de Telmo Martino publicados no JT.
   Seus textos longos são ainda mais melhores. Estes petiscos são apenas para que voce entenda do que falo.
   Enjoy it.

EXISTEM PALAVRAS ESQUECIDAS. SOFISTICAÇÃO É UMA DELAS. TELMO MARTINO É O REI DA SOFISTICAÇÃO. LEIA.

   O que voce lê aos 12 anos é muito importante! Mesmo os Cebolinhas e Tio Patinhas de sua cabeceira irão, para sempre, ser parte de sua cabeça. Vivo dizendo que tudo começou com Paulo Francis pra mim. Claro que após Recreio, Zorro, Ilha do Tesouro e Tom Sawyer. E montanhas de Pato Donald e Mad. Mas antes de Francis houve TELMO MARTINO, e a união dos dois deu em Tony Roxy. Meu melhor lado é discípulo da união de Paulo e Telmo. Francis Martino.
   Telmo escrevia no JT. Era uma coluna gigante, onde ele falava daquilo que queria. Mas o que mais fazia era jorrar veneno. Telmo odiava os anos 60 e TUDO o que havia neles. Estávamos em 1977, e pra ele, nada era mais velho que 1968. Mal sabia, pobre Telmo, que 68 seria pra sempre.
   Estou relendo o livro que saiu em 2005, SERPENTE ENCANTADORA, textos de Telmo no JT, 1975/1985. Uma deslumbrante delícia. Existem palavras que saem de circulação. Sofisticado é uma delas. Fazem anos que não leio uma crítica chamando um filme novo de sofisticado. Música então, nunca mais. Pois Telmo é ultra-sofisticado, inteligente e chic, wit e muito esperto.
   Nasceu no Rio, rico e belo, aprendeu francês aos 4 anos, estudou no mesmo colégio que Paulo Francis. Se mandou pra Paris, fazer história da arte, fez direito e jornalismo na USP, morou cinco anos em Londres, e só então começou a trabalhar. Londres é sua paixão. Para Telmo, existe Londres e a periferia. Nós somos, e ele não se cansa de dizer, o interior, a terra virgem. E não pense que pra ele as coisas mudaram, nós não melhoramos, o mundo civilizado é que voltou às cavernas.
   Telmo é do mundo de Noel Coward. Lendo-o eu me sofistiquei. E me surpreendo ao perceber, décadas depois, que várias opiniões e frases que ainda uso são dele. O gosto estético grudou em mim. Para Telmo, como para mim, o auge da cultura POP do século XX é MY FAIR LADY e fim de papo.
   Telmo é sempre Pop. Ele fala de TV, de cine, de livros, de teatro. Da forma como ele escreve, seria hoje processado. Não mede seu humor, dá estocadas, mas sempre com classe. Tem elegância, é britânico, of course.
   Não há como ficar aqui citando frases de Telmo sem desmerecê-lo. Seu texto é cheio de meandros, de frases em francês, de ironia e duplo sentido, de inesperado. Deve ser lido inteiro. Caetano, Chico, Glória Menezes, Tony Ramos, FHC, Sarney, Maria Bethânia, Glauber, Cacá Diegues, Di Cavalcanti, Jorge Amado.... todos recebem suas estocadas movidas a champagne e porcelana azul.
   Fico pensando como seria Telmo escrevendo hoje. Provávelmente não escreveria. Telmo falar de um mundo em que vivem Ivette, Rafinha, Sandy e Mulher Melancia seria como escutar funk do Rio no Convent Garden.