Mostrando postagens com marcador t.rex. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador t.rex. Mostrar todas as postagens

RINGO, UM DISCO DE RINGO STARR

   Houve um breve período, entre 1972-1974, em que Ringo gravou a sério e em que ele quase conseguiu ser levado em conta. Seus 3 discos dessa época são memoráveis, e este, o segundo do período, é o melhor. Sucesso em vendas, com singles que estouraram, RINGO é um grande disco pop. Para fazê-lo Ringo recebeu uma ajudazinha de alguns amigos.
   I Am The Greatest abre o LP, e é ótima! Composta por Lennon, tem uma maravilhosa guitarra de George Harrison. Na verdade George tem aqui um de seus melhores solos de toda a vida. É um terço dos Beatles nesta faixa. E Klaus Voorman, que fez a capa de Revolver comparece no baixo. Have You Seen My Baby foi composta por Randy Newman. Randy hoje é o cara que faz as ótimas trilhas de desenhos como Monstros, Up! e Wall E. Melhor, a guitarra é tocada pelo grande amigo de Ringo na época, Marc Bolan, do T.Rex. O riff é cem por cento Bolan.
   George Harrison compôs Photograph e ela é uma das melhores coisas que ele fez na vida. Os vocais unem os dois e a melodia é lindíssima. O sax fica com Bobby Keys, dos Stones. Sunshine também é de George e mantém o alto nível. Além de George temos Robbie Robertson na outra guitarra, Rick Danko no violino e Garth Hudson no teclado...Todos os 3 são da The Band. Talvez seja a melhor faixa do álbum. Clima de J J Cale. O lado A fecha com You`re Sixteen, mais ou menos.
  Oh My My foi um big hit como single. Saltitante, dançante, traz Billy Preston no orgão. Uma linha de baixo excelente de Klaus. Step Lightley tem o mito Steve Cropper na guitarra. Steve foi o cara que acompanhou Aretha, Otis e Wilson Pickett na Stax. A faixa, sutil, puro Cropper, é viciante. Six O`Clock é uma composição de Paul MacCartney e tem Linda e seu esposo nos teclados e vocais de apoio. Puro Paul anos 70, grudenta, bem arranjada, ela pede vocais melhores. Paul, ao contrário de John e de George, não compunha para cantores ruins. Ringo faz a canção se perder. Devil Woman é o ponto baixo e o disco se encerra com a terceira faixa de George, a bonita You and Me.
  Tudo super produzido por Richard Perry, no vinyl ele trazia um livreto de 12 páginas e uma capa que, cheia de detalhes, se perde completamente em cd. 
  Sim, Ringo caiu de paraquedas no maior fenômeno pop da história. Surfou na fama por 3 anos, logo após o fim do grupo. E a partir de 74 se dedicou a beber, viajar e namorar. Algum talento ele tinha. E aqui, com a mão de amigos muito talentosos, ele comete um belo disco.
  Jamais pensei que escreveria sobre este LP. Mas eu adorei este disco por vários anos e ele, reescutado agora, sobreviveu.
  Valeu.

WEMBLEY, 8:30... T.REX, DITADURA, EU, BOWIE E MICKEY MOUSE

   Em 1972 eu tinha 9 anos. E lembro de ficar noites e noites lendo Mickey e Tio Patinhas. E desfilei no 7 de setembro. Foi o ano do Sesquicentenário da Independência. Na escola a gente fazia cartazes com Dom Pedro e José Bonifácio. Desfilei numa avenida, em formação militar. Coisas do fascismo tupi.
   Mas eu nada sabia. O que me pegava era o monte de gibis. ´´Aureos tempos do Homem Aranha. Na TV eu via só desenhos. Eram aqueles de sempre: Flintstones, Corrida Maluca, Zé Colméia, Pernalonga. Eu ia à escola com calças cor de vinho. Tinha também uma marrom. Outra azul claro. Boca Sino, claro. O tecido era uma droga! Um tipo de sintético que dava coceira e mal cheiro. Todo tecido era sintético! Tempo do Nylon, do tal Fio Escócia. Jeans? Só USTOP. Duro feito um pau. Era como vestir uma armadura. Eu usava também um casaco de Marujo. Azul marinho com botões de latão dourado. Caspa. Eu usava cabelos longos e tinha caspa. Caloi vermelha. Mas não é sobre nada disso que quero falar. Vou falar sobre o que eu NÃO sabia então.
   No cinema voce podia escolher entre O Poderoso Chefão e Cabaret. Era um tempo em que o big hit de bilheteria ainda se construía em cima de atores e história. Mas já havia O Destino do Poseidon. Houve Uma Vez Um Verão era pra chorar. A Noite Americana, O Discreto Charme da Burguesia, O Último Tango em Paris. As grandes estrelas em 1972 eram Steve McQueen, Paul Newman, Robert Redford, Jack Nicholson, Clint Eastwood, Dustin Hoffman, Marlon Brando. A revelação se chamava Al Pacino. E Diane Keaton. As atrizes big stars eram Jane Fonda e Barbra Streisand. Tinha ainda Woody Allen e Mel Brooks.
   Os escritores da moda eram Philip Roth, John Updike, Gore Vidal, Truman Capote e Tom Wolfe. Tinha ainda Borges, Marquez e Llosa. Sartre tava vivo e falava muito. Nabokov também.
   1972 tinha o boooom do xadrez. Isso mesmo, essa eu vi na época. A guerra fria usou a disputa do mundial entre Boris Spassky e Bobby Fisher pra ver quem era mais inteligente, americanos ou russos. Munique, Olimpíada. Terrorismo. Mark Spitz e Olga Korbuci. Vimos ao vivo. Lembro.
   Emerson Fittipaldi ganhou a F1. Lotus preta, ainda o F1 mais bonito da história.
   Muhammad Ali era o Anderson Silva de 72. Pelé ainda jogava. Mas os melhores eram Crujff e Beckembauer. O Ajax de Amsterdan era o melhor time do mundo. E aqui tínhamos Jairzinho, Cajú, Rivellino, Pedro Rocha, Ademir da Guia e Dirceu Lopes. O novato esperança se chamava Zico.
   O mundo pegava fogo. Ia acabar? Terrorismo na Europa. Baader Meinhoff na Alemanha querendo fazer de Bonn um centro maoísta. Na Itália as Brigadas Vermelhas. O ETA na Espanha e o IRA na Inglaterra.
   Nos EUA havia o Panteras Negras. Negros armados para fazer a revolução. Angela Davis foi presa. Lennon e Jane Fonda eram perseguidos.
   Eu lia o Manual do Tio Patinhas.
   E havia Rock. Muito rock. Foi uma época em que se comprava mais música estrangeira no Brasil que MPB.
   Transformer do Lou Reed. Harvest de Neil Young. Ziggy Stardust de Bowie. E ainda Led Zeppelin IV, Machine Head do Purple,  o primeiro disco do Steely Dan. The Band e seu disco ao vivo. A estréia de J J Cale. O começo do Kraftwerk. O primeiro disco do Roxy Music. Tago Mago do CAN. Exile on Main Street dos Stones...
   Lets Stay Together do Al Green e Lets Get It On de Marvin Gaye. E Superstition de Stevie Wonder. Catch a Fire-Bob Marley.
   Rocket Man de Elton John. E o melhor disco dos Faces, aquele que tem Stay With Me. Schools Out de Alice Cooper.
   Na época eu não ouvia nada disso. Eu ouvia rádio e conhecia de ouvir falar: Paul MacCartney, My Love; Michael Jackson, Ben; Bee Gees, I Started a Joke e os Monkees. Em 1972, por causa da TV, eu ainda amava os Monkees.
   O mundo pirou em 1968 e em 1972 havia algo de podre nesse mundo. As coisas eram muito radicais, tudo parecia "pra ontem", cada um queria ser mais "diferente" que o outro.
   Mas no meio disso tudo tinha o T. Rex. E o T. Rex era abominado pelos "inteligentinhos" de então. Porque Marc Bolan dava uma banana para a revolução. O que ele dizia era : "Eu amo meu Cadillac". As meninas adoravam Bolan. E não percebiam que ele era beeeeeem gay. Como dizia Liberace, só se nota o que se quer notar. Os meninos imitavam Bolan. E essa foi uma revolução que venceu. O rock inglês se tornou "Teatro". Nunca mais voltou a ser "Visceral". Pois mesmo Sex Pistols ou Clash ( que iam aos shows de Bolan ) faziam "teatro". Rock sujo e sem planejamento só nos EUA. Graças a Bolan. E a Bowie, que espertalhão, copiou tudo e deu uma sofisticada no rock simples do T. Rex.
   Dou um show deles aí abaixo, de presente pra voces. Tosco. Forte. Pop. No fim tem Ringo Starr. Vejam que é muito legal.
   Marc morreu em 1977 num carro on the road.
   Em 1977 eu descobri o Roxy Music. E essa é uma outra história...

T Rex Children of the revolution



leia e escreva já!

E TODO MUNDO OUVIA O T.REX ( MENOS OS INTELIGENTINHOS )

   Marc Bolan ( que nome ótimo para um rock star ), não teve sorte. Em fins de 1970 ele ( e o produtor Tony Visconti ), criaram o glitter rock, mas em 1972 o ladrão David Bowie lançou Ziggy Stardust e ficou com a fama. David Bowie É um ladrão, isso todo mundo sabe. Ele roubou o som e o visual de Bolan. Porém, Bowie, gênio que é, melhorou a coisa, amplificou, enriqueceu. Mas o papo agora é sobre T.Rex...
   Entre 1971/1974, apesar de Floyd, Led, Elton, Wings e Rod, entre a molecada inglesa, o que vendia era T.Rex. Tanto que na época se falava da T.Rexmania, se dizia que Bolan poderia bater os Beatles...sózinho. Mas era um sucesso ( ele botou seis singles em primeiro lugar nesses anos ), local. Ao contrário dos nomes citados acima, que vendiam bem no mundo todo e vendiam MUITO na América, o T.Rex vendia apenas na Grã-Bretanha, o que deixava Marc Bolan cada vez mais frustrado. Ele não entendia o porque... ( Hoje sabemos o motivo. Nada de sexualmente dúbio vendia nos EUA da época. Tanto que Bowie só virou POP por lá depois da fase Ziggy ).
   A crítica foi cruel com Bolan. Todo o tempo. Atacavam suas letras, seus riffs, seu visual, sua alienação. A molecada de 12 anos o adorava. E é legal constatar, de Duran Duran a Jesus and Mary Chain, de Human League a Blur, todos foram fâs de Marc Bolan. Toda essa galera, que hoje tem entre 35/50 anos cresceu ao som de seus discos e odiando aquilo que a crítica da época endeusava ( King Crimsom, Gentle Giant e Yes ). O que fascinava a molecada é o fato de que Bolan não parecia real, ele lembrava um cartoon, uma brincadeira, um ET. E seu som, simples e complexo ao mesmo tempo, se comunicava com a ansiedade pré-adolescente, era um som redondo, convidativo, sensual.
   Em sua origem o T.Rex se chamava Tyranossaurus Rex e fazia folk-psicodélico. Quando Marc Bolan conheceu Tony Visconti, um muito afetado e muito ambicioso produtor de discos obscuros, a coisa pegou. Visconti colocou eletricidade no som, percussão e vocais de fundo "glamurosos". Nascia a febre made in England.
   Interessante observar que o timbre da guitarra de Bolan é um dos segredos do som. Ela é cheia, sinfônica, cada acorde simples repercutindo e ocupando todo o espaço. Na engenharia de som de Tony Visconti trabalhavam dois futuros produtores de sucesso: Roy Thomas Baker que criaria o som do Queen, e Martin Rushent, que seria o rei do techno-pop anos 80. Ah sim....em 1974 Bowie roubaria Tony Visconti, que seria seu produtor entre 74/80, sua melhor fase...
   Vamos ao disco. THE SLIDER, meu disco favorito da banda.
   A capa tem foto de Marc Bolan tirada pelo fotógrafo...Ringo Starr...Sim, na época Marc, Ringo e Elton John eram inseparáveis. Vai saber...
   Ele abre com Metal Guru, faixa que literalmente arromba o barraco. Tem clima de anos 50 e logo se percebe a beleza original dos backing vocals. Esses vocais de fundo, marca registrada do som T.Rex, são feitos pelos ex-componentes da banda Turtles e também pelos próprios Visconti, Baker e Rushent. Eles gemem, gritam, cantam, sibilam e harmonizam, sempre "glamurosamente"...
   Mystic Lady é uma faixa linda e estranhamente "silenciosa". O baixo decola e tem um arranjo de cordas pensativo. Marc divaga sobre seu tema favorito, o misticismo espacial ( era isso o que mais irritava os inteligentinhos da época ).
   Rock On exibe o riff perfeito. Riff da guitarra de Marc Bolan. Ele criou em toda a vida dois riffs, e tudo o que compunha era variação sobre esses dois. Mas e daí? Esse riff justifica toda uma carreira. Rock On é pop perfeito.
   Chega a hora de The Slider, faixa que dá nome ao album. E eu penso: -Qual é o mistério da tensão que há nessa canção? Tensão que vicia, música perfeita. O riff quase se desfaz, quase nada de voz,  e ela se esparrama no ar, cristalina, diáfana, sedutora. É um dos mais sublimes momentos de todo o pop inglês.
   Baby Boomerang ( os nomes das faixas são deliciosos ), é totalmente milk-shake, vocais festivos e dança discreta. Alegre.
   Spaceball Ricochet é outra meditação de Bolan. Ele divaga e canta com sua voz mínima.
   Entra então Buick MacKane, um kaos. Uma sinfonia de rocknroll. Gritos, muita percussão e um riff absoluto. Impossível não ser tocado na alma por essa celebração ao rock mais genuíno. Sanguinea.
   Telegram Sam, eis o riff que Marc criou em sua mais completa simplicidade. Os ooooooohs de fundo são o supra-sumo da afetação gay. Lindo.
   Rabbit Fighter é insinuante, sensual. O timbre da guitarra é trabalhado até a saturação.
   Baby Strange tem cordas exatas. O riff é insistente. A colisão das cordas e da eletricidade da guitarra faz da canção um doce envenenado.
   Ballrooms of Mars. Clima de fim de festa, pensamentos soltos, dispersão.
   Chariots Choogle tem backing vocals muito agudos, um riff sublime e cordas graves, urgentes. É um dos pontos mais altos do disco.
   Por fim, Main Man, uma absurda canção triste. Ah sim...em 1974 quando Bowie lançou sua editora musical a batizou de Main Man....
   Em 1974, dois anos após este disco, Marc Bolan destruiu sua carreira. Primeiro se casou com Gloria Jones, uma cantora americana...negra. Seu público estranhou, não exatamente por ela ser negra, mas por ela NÃO ser glamurosa. Logo em seguida ele muda seu som. Bolan passa a fazer canções dançantes, soul music, negras. E se muda para a América, em busca do sucesso que por lá nunca veio. Em 1977 ele morreria em acidente de carro.
   Ah sim...em 1975 David Bowie lança seu disco dançante, Young Americans e se muda para New York...mas aí é maldade dizer que essa guinada de Bowie foi roubo sobre Bolan. Na verdade nessa altura Bowie seguia os discos solo de Bryan Ferry, soul de plástico bem produzido. Logo depois David iria para Berlin, roubar ideias de Eno e do Kraut Rock.
  Marc Bolan foi um rei durante apenas três anos. Mas foram grandes anos. Num momento de pop brilhante, de fortíssima concorrência, ele conseguiu se destacar fazendo tudo da forma mais simples. Mas o tempo mostrou que era um simples sofisticado, polido, sábio. Quando a fórmula se esgotou, ele tentou outro caminho. Seus discos dançantes são ruins. Bolan não tinha o talento da reinvenção ( talento que sobrava em seus rivais, Bowie e Ferry ).
  Odiado pelos hippies, vaiado pelos cabeças, ele foi idolatrado pelos moleques que se tornariam no futuro punks e new waves. Marc Bolan é um dos belos segredos do pop.
  PS: foi a partir de 1972 que o rock inglês começou a se distanciar dos EUA. Se nos anos 60 quase tudo que estourava na Inglaterra vendia nos EUA ( as excessões foram Kinks e Small Faces ), a partir de 72 bandas como Slade, Status Quo e Roxy Music, grandes vendedores na GB, eram desconhecidas na América. Os campeões americanos continuaram e continuam a vender na Inglaterra, mas o contrário deixou de ser verdadeiro.