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GROUCHO, CHICO, HARPO E ZEPPO/ STEPHEN CHOW/ VON STROHEIM

  Todo fim de ano eu aprecio uma revisão de filmes de Fred Astaire. Combina muito com champagne e roupa alinhada. Mas este ano fiz diferente, engoli uma leva de filmes dos irmãos Marx. Se alguém nunca viu um filme deles ( creia em mim, isso existe ), vou avizando:
  1- Eles não são engraçados.
  2- São atores ruins.
  3- Não usam humor inteligente como exibicionismo.
  Então porque se mantém à tona desde 1930 ?
  Porque:
  Não são engraçados mas nos dão bom-humor. São crianças, eles vêem o ridiculo das coisas e as bagunçam. Anarquizam inclusive os filmes. Os diretores os odiavam, não seguiam scripts e não se deixavam dirigir. Eles simplesmente saem pela tangente em tudo. São absolutamente auto-centrados. E muito, muito cruéis. Não a toa, o povo do dadaísmo e do surrealismo os idolatravam. Nada neles faz o menor sentido. O Monty Python perto dos três Marx parece travado. Um adendo: Eu aindo dou risadas com certas cenas. Mas hoje não é mais isso que nos pega. Principalmente pelo fato de que a maioria das piadas verbais são trocadilhos intraduzíveis. O que nos pega é a energia vital, a aula de alegria de vida, o descompromisso com a seriedade morta.
   São atores ruins porque não são e nunca pensaram em ser atores. Eles iam lá fazer um filme. E nesses filmes faziam seu show de vaudeville.
   Nunca exibem inteligência. Nada de piadas que mostram como eles são melhores que nós. É humor de moleque de rua, de tio ranzinza, de circo. O legal é que eles eram Muito bem relacionados. Harpo era amigo dos grandes cabeças de seu tempo.
   Os filmes que revi, alguns pela quinta vez, na ordem em que revi:
   UMA NOITE NA ÓPERA de Sam Wood
   É o filme favorito de Groucho mas não dos fãs. É o primeiro feito na Metro, sob a proteção do produtor Irving Thalberg. Grande sucesso. Tem a histórica cena da cabine lotada, que muitos acham ser a cena mais cômica da história do cinema. Gosto muito deste filme, mas eu prefiro os Marx mais mambembes da Paramount. Nota 7.
   UM DIA NAS CORRIDAS de Sam Wood com Maureen O'Sullivan
   Será que Woody Allen se casou com Mia Farrow por causa da mãe dela? Woody é fanático pelos Marx e Maureen é a mãe de Mia... Este é o segundo filme na Metro e também virou nome de disco do Queen. Adoro este filme! Tem uma cena no consultório que é absurda demais até para os padrões deles. O enredo mistura casa de saúde com corrida de cavalos. E ainda tem um fantástico clip de jazz. Nota 9.
   UMA NOITE EM CASABLANCA  de Archie Mayo
   Thalberg morre jovem e Louis B. Mayer, dono da Metro não gostava de Groucho. Os Marx são chutados para produções classe B. Eles desistiriam de tudo, não fossem as dívidas de Chico no jogo. Mesmo assim este é um filme muito ok. Nota 6.
   A GRANDE LOJA de Charles Riesner
   O mais modesto dos filmes que revi. Se passa numa grande loja de departamentos e tem muita música. Usam mais pastelão que o habitual. Nota 6.
   OS GÊNIOS DA PELOTA de Norman Z. McLeod
   Os irmãos ainda na Paramount, ou seja, muito mais soltos. Harpo corre atrás das mulheres ( na Metro ele se infantilizou ), Chico exagera em seu sotaque de araque e Groucho pode falar besteiras a vontade. O filme tem uma das melhores entradas de Groucho em cena. Aqui ele é reitor de uma universidade. É o filme que tem o jogo de futebol no final. Totalmente anárquico. Nota DEZ.
   OS QUATRO BATUTAS de Norman Z. McLeod
    De tudo o que eles fizeram é este o que consegue ter menos história. Eles são clandestinos em navio. Muitas cenas sexy, muita correria, muita piada de vários sentidos. Nota 7
   O DIABO A QUATRO de Leo MacCarey
   Numa entrevista, MacCarey dizia que dirigir os Marx foi a pior experiência de sua vida. Eles nunca o escutavam e ficavam macaqueando o estúdio. Este filme é hoje considerado a melhor comédia da história. Não acho, mas é um filme muito original, muito alegre e o único com viés sério dos irmãos. Groucho é o primeiro ministro de Freedonia e por causa de mal entendido ele leva o país à guerra. Os vinte minutos finais são das coisas mais geniais de toda a história do cinema. Este filme, amado por dúzias de diretores, é um acidente, a gente nota que tudo foi feito por um fio. Transborda de ideias. Uma obra-prima. Nota DEZ.
   NO HOTEL DA FUZARCA de Florey e Santley
   Primeiro filme dos irmãos, 1929. Feito com uns trocados, é pobre e mal produzido. E por isso dá pra ver os três sem nenhum controle. Uma história legal: Na década de 30 um garoto do interior de Pernambuco se tornou fã de Harpo e ao ir para o Rio trabalhar na Radio começou a imitar o gênio dos Marx. Nome do pernambucano? Chacrinha. O filme é nota 7.
   Fora isso, nesses dias ainda vi:
   GREED de Von Stroheim
   Atenção! Lançaram este clássico em dois dvds e 4 horas de duração. Greed é um filme lendário do doido Erich Von Stroheim. Por décadas se pensou que o filme estivesse perdido, mas eis ele aqui. Com um problema: Faltam cenas e mais cenas. Trechos enormes sumiram e ver esse filme se torna uma epopéia aborrecida. Evite.
   KUNG FU HUSTLE de Stephen Chow
   Mais uma vez essa obra-prima do humor dos anos 2000. É aventura, é fantasia, é dança, é humor. Não sei por onde anda Chow, mas o que sei é que isto é obra de muito, muito talento. PS: Mamãe engasgou de tanto rir. Nota DEZ.

MICHAEL POWELL/ LEAN/ HEPBURN/ FRED E GINGER/ CHOW

KUNG FU HUSTLE de Stephen Chow com Stephen Chow
Imenso sucesso na Asia, este filme é o que pode ser chamado de festa de reveillon. Ele é muuuito engraçado e é feito com uma técnica cinemática assombrosa. Chow usa todas as referências possíveis : Tarantino, Keaton, Tati, Scorsese e ainda Fred Astaire ( há bela homenagem a Top Hat ). Sem dúvida é um dos grandes filmes deste milênio. É ver para crer. Nota DEZ!!!!!
OS 5 VENENOS de Chang Cheh
Clássico da Shaw Brothers. Fala de grupo de ex discipulos Shao Lin que procura tomar posse de fortuna. É cada um por si. As lutas são estupendas, os cenários muito criativos e a diversão está garantida. Como já falei, após esse aprendizado de filmes orientais, fica dificil para mim engolir a parte de ação de filmes como Batman, Homem de Ferro e que tais. Nota 7.
O ESPIÃO NEGRO de Michael Powell com Conrad Veidt e Valerie Hobson
Para Scorsese e Coppola, Michael Powell foi um gênio, o maior diretor da Inglaterra. Eu concordo. Todos os seus filmes variam entre o genial e o excelente. Além do que ele fez de tudo : comédia, drama, musical, fantasia, aventura, filme experimental. E culminou com A Idade da Reflexão, o filme mais alegre da história. Este é de seus primeiros filmes e fala de espião nazi que trabalha na Escócia. Suspense hitchcockiano, belo clima de fatalidade, tudo feito com rapidez e simplicidade. Um gênio em seu nascimento. Nota 7.
UMA MULHER DO OUTRO MUNDO de David Lean com Rex Harrison
Mas a maioria acha que David Lean é o maior dos ingleses ( Spielberg e Fincher o colocam nas alturas ). Sem dúvida foi um gigante. Aqui, no começo de sua hiper vitoriosa carreira, ele adapta uma peça de imenso sucesso de Noel Coward....Ah Noel Coward....Nada foi mais pop no final do imperio britânico que Coward ( lá entre 1915/1955 ). Suas peças, suas canções, as frases que ele dizia... Noel era o inglês que todo inglês queria ser. A partir de 1959, quando os Angry Men tomaram a cena, Noel Coward se foi para o limbo. Waaaal....esta peça/filme trata de fantasma de esposa que volta a terra para atrapalhar o casamento de ex-marido. Há ator de comédia fina melhor que Rex Harrison ? O filme é uma efervescente bobagem. Nota 7.
PAT E MIKE de George Cukor com Kate Hepburn, Spencer Tracy e Aldo Ray
Kate e Spencer tiveram um caso extra-conjugal que durou toda a maturidade dos dois. Mas, por ele ser um fervoroso católico irlandês, jamais se divorciou da esposa. A imprensa, que respeitava muito os dois, sabia de tudo mas não divulgava nada ( belos tempos éticos ). O caso só veio à tona quando a esposa de Tracy morreu. Nesse tempo de affair ( que terminou com a morte dele em 1967, foram 35 anos de caso ), os dois fizeram uma série de comédias adultas. O tema era sempre sobre casais de opostos, ela geralmente sendo uma feminista e ele um machão bonachão. Alguns desses filmes se tornaram clássicos absolutos e outros nem tanto. Este, que fala de esportista fenomenal ( Kate ) que se sente insegura quando assistida pelo noivo chato, é dos menos bons. É bacana ver como eram o tênis, o golfe e o basquete na época, mas Cukor está em seus dias de preguiça. ( George Cukor tinha o dom da imagem. Fez alguns dos filmes mais "belos" do cinema. Sabia ser chic, esperto, leve. Mas por ser um grande festeiro e colecionador de arte, as vezes parecia fazer filmes preguiçosos, feitos no piloto automático. Este é desses. ) De qualquer modo, é sempre um prazer ver Kate em ação. Nota 5.
FOLLOW THE FLEET de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ele é um marinheiro em folga. Ela é sua ex-noiva. Ele tenta reconquistá-la. Com as músicas de Irving Berlin fica fácil. O filme é dos menos geniais da dupla: é "apenas" delicioso. Ginger Rogers está belíssima e apimentada como sempre. Fico imaginando a alegria que deveria ser em 1937, ver esse filme e em seguida levar sua menina para jantar e dançar.... Nota 8.
TOP HAT de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton
Cenários art-déco em branco. As paredes são brancas, os móveis são todos em branco, o chão é prata, os objetos de vidro. Van Nest Polglase e Carrol Clark faziam esses sets que eram como o paraíso na tela. O filme fala de homem que conhece garota, se apaixona, a perde e tenta a reconquistar. Astaire consegue o milagre: dizer tudo dançando. Para entender a genialidade dos melhores musicais é preciso entender isso : quando a música começa, a alma dos personagens fala. Ouvimos e vemos o que eles pensam e sentem. E ninguém fez isso melhor que Fred e Ginger. Cada passo e cada olhar transmitindo tudo aquilo que voce já sentiu ou viveu com alguém. Isso é magia pura. Este foi o maior sucesso da dupla e salvou a RKO do vermelho. Um dos maiores clássicos do cinema, homenageado em Wall E, em Kung Fu Hustle, em A Lenda e mais uma infinidade de filmes. Ele é sempre usado como " a coisa mágica que ficou do passado lembrando ao homem que viver vale a pena ". Quem fez mais que isso? Nota impossível.
SWING TIME de George Stevens com Fred Astaire e Ginger Rogers
Os críticos mais "sérios" consideram este o melhor filme da dupla. Eu discordo. Acho o mais esquisito. A parte cômica é a menos ótima, porém, a parte musical é a melhor. Jerome Kern fez uma seleção de canções que variam do sublime ao inesquecível. Bojamgles of Harlem em que Fred se pinta de negro e homenageia seu ídolo ( Bill Robinson, o gênio do taps ) é dos maiores momentos da história das telas. Mas tem mais: a cena na neve ( que lindo set ! ) e a hora em que se canta The Way You Look Tonight, quem já amou irá se comover. Mas a magia insuperável nasce quando Fred e Ginger se despedem "para sempre", e tentando reatar ele canta Never Gonna Dance ( para mim, junto com Falling in Love Again, as duas músicas que melhor retratam o amor ). Nesse momento, junto a escadaria em set vazio, Fred consegue em música e dança, transmitir todo o desespero de alguém que percebe o amor partir. É de uma beleza aterradora ! Bergman precisa de duas horas para fazer o mesmo efeito ! ( E Bergman é um gênio ! ). Quando Ginger afinal cede e começa a dançar com ele, voce percebe então : eis a tal "arte americana", a arte puramente da América, a arte de se dizer muito se usando pouco, a arte de se comunicar a muitos um segredo de poucos. O filme, em que pese suas várias cenas erradas, se afirma como um monumento ao sentimento de amor. Nota DEZ.
SHALL WE DANCE de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Eis o meu favorito ( ou será The Gay Divorcée, que preciso rever ). É o mais tolo de seus filmes, quase um cartoon. E por isso eu o venero. Fred é Petrov, um americano que se finge russo bailarino clássico. Ginger é uma apimentada sapateadora yankee. E vêm os desencontros de sempre: mal entendidos, frases ferinas, muito bom humor e os números que contam exatamente o que eles sentem. A trilha é de George Gershwin... precisa dizer mais ? Todas as canções são clássicos do jazz. Cenários em branco e prata, figurinos chics ao extremo ( os anos 30 são estranhamente a era da depressão e ao mesmo tempo o ponto mais chic do século vinte ). Quando estou chateado e quero me reerguer é fácil : boto este filme pra rodar ! Foi o primeiro da série que assisti ( lá se vão vinte anos ) e foi na época uma revelação. Nota DEZ !!!!!!!!!!!!
CIÚME: SINAL DE AMOR de Charles Walters com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ginger sempre brigou com Fred. Ela queria ser uma atriz séria e achava que Fred lhe roubava o mérito. Quando a dupla acabou, ela conseguiu ser a tal atriz séria e logo ganhou seu Oscar em drama. Dez anos depois da separação, eis que os dois se reencontram aqui. E é um filme estranhamente triste ( o único dos dois ). É claro que é uma comédia, mas há algo de muito melancólico em todas as cenas. Eles fazem um casal que se separa porque ela quer ser atriz séria. Fred não a esquece ( na vida real ele jamais foi apaixonado por ela ) e no fim eles se reencontram ( felizmente tem um final feliz ). Ginger está já madura, ainda leve e linda, mas com algo de sério naquela menina dos anos 30. Fred envelheceu bastante. Continuava insuperável ( faria em cinco anos seu grande clássico: A Roda da Fortuna ), mas não é mais o jovem alegre e tolo da década anterior. E tudo isso dá ao filme algo de muito doído: a consciencia da passagem do tempo. Torna-se o único musical trágico da história. Nota 7.

KUNG FU HUSTLE - STEPHEN CHOW

Quantos filmes voce já assistiu que te deixaram feliz com a vida ? Este é um deles. Feito em 2004, pelo maior star do oriente ( Chow ) ele é uma carinhosa sátira e também homenagem, aos filmes de kung fu dos anos 60. E é, principalmente, a melhor comédia da década.
Nos anos 30, a Quadrilha do Axe aterroriza um bairro proletário da China. Mas não sabem eles que alguns dos moradores são velhos mestres Shao Lin. Só isso ? Não, há muito mais. Todos os persoangens são criações geniais. Não há preguiça em sua gênese, o que existe é muita inspiração. Vemos o herói ( Chow ) que é um valentão que não sabe lutar; seu amigo balofo e uma vendedora de sorvetes muda. Há a senhoria que só grita e tem um cigarro enfiado na boca, o marido, tipo ridiculo de conquistador barato; o barbeiro de bunda de fora e o alfaiate gay; o lider dos axes, estiloso, que tem cena de dança hilária, o velho assassino de chinelos e careca.... há tanta criação no filme, tanto prazer em fazer ( e em agora assistir ) que fica dificil transmitir sua riqueza.
Posso garantir que seus primeiros vinte minutos são das melhores coisas que já vi no cinema dos últimos trinta anos. Velocidade, surpresas, colorido, e uma trilha sonora vibrante e puramente chinesa. Como diz Roger Ebbert, é uma mistura de Tarantino com Pernalonga, mais Buster Keaton e Jackie Chan. Há de tudo aqui, arte superior e tolice de cartoon, sangue e risos, dança e filosofia. E depois desses vinte minutos, quando já nos acostumamos com tanta criatividade, relaxamos e usufruimos do resto da festa.
Só agora, no fim da década, é que vejo o que perdi : filmes de Hong Kong, Taiwan, China, Coréia, Malásia, Cingapura e Tailândia. Todo um continente preso em nosso preconceito ( ou preguiça de procurar ). Filmes Pop como os americanos não conseguem mais fazer. Sem medo, sem pretensão, sem preguiça.
Será Stephen Chow o melhor diretor do mundo ?
Não sei se ele é melhor que os Coen ou que Tarantino. Não sei se ele é tão fascinante como Scorsese ou se tem uma marca autoral como Eastwood. Também não posso saber se ele é tão inquieto como Aronofski ou Almodovar. E se ele tem a gana de Arau ou de Frears. Mas o que eu sei é que nenhum deles é MELHOR DIRETOR que Stephen Chow. Diretor no sentido de saber fazer um filme, entender da técnica, da montagem, do roteiro e da cor. Fosse americano ou inglês, ele dominaria facilmente Hollywood. Talento tão pop e tão brilhante não há.
Nunca é tarde para descobrir coisas novas, e este filme é absolutamente NOVO. Ele não entende o novo como colocar telas de computadores no filme e fazer a câmera tremer. Ele não procura ser novo abusando de efeitos ou enchendo a trilha de pop music. Nem comete a bobice de confundir novidade com video game ou tédio deprê. Ele sabe que o novo, o que só nosso tempo pode ter, é o carnaval de referências, a irreverência plena, a elétrica criação sem pudor algum. Um caldo onde tudo cabe e tudo é válido. Um caleidoscópio chinês. Uma feira de contrabandos. Isto é novidade, isto é jovem. Delicie-se....
Stephen Chow é o máximo.

KUNG FUSÃO - STEPHEN CHOW

Não escrevo sobre os filmes que mais gosto. Às vezes um grande filme dá ensejo a apenas um "maravilhoso" e um filme médio dá toda uma dissertação. Mas aproveito este filme para falar do que é um bom e um mal filme.
Sigo sempre a regra de Pauline Kael. Bom é o filme que atinge seu objetivo. Mal é o que não o consegue. Uma comédia deve fazer rir. Um drama tem de emocionar. O filme romântico faz com que amemos os personagens e um filme de arte tem de nos fazer ver algo de novo. Aventuras nos distraem e terror nos assusta. Bem.... até aí tudo simples. Isso seria a regra do filme ok. Porém, o filme realmente bom teria uma regra adicional. Ele jamais, seja em que gênero fosse, poderia ofender nossa inteligência. A honestidade seria a regra dourada. Manter o respeito ao bom gosto. E quando falamos de filmes excelentes estamos falando de comédias que também são drama ou arte, de aventuras que são épicos existenciais ou de filmes de amor que são poesias.
Stephen Chow faz uma comédia que tenta ser apenas uma comédia. E consegue. Mas o que me faz escrever sobre este filme não é seu talento ( que existe ). È algo que a princípio me incomodou no filme, mas que depois reconheci em mim mesmo. O cinema hoje só é possível como filho da tv e não mais o contrário. Explico.
A geração de Chow ( que é a minha ) é a geração que cresceu hipnotizada por Speed Racer, Pernalonga e Super Dínamo. Por mais que depois tenhamos amado Fellini ou Ford, nosso primeiro contato significativo com o audio-visual foi através das correrias de Road-Runner ou das trapalhadas dos Flintstones. As coisas acontecem em vinte minutos, tudo é colorido e os personagens agem sem pensar.
Se no cinema mudo a influência era do circo e se no cinema dos anos 30 foi o teatro, agora é tudo tv. ( Assim como o cinema dos anos 50/60 parecia tão rico por ser feito pela geração influenciada pelo próprio cinema ).
Cada vez mais os atores interpretam como se interpreta na tv. Um tipo de interpretação feita para o close, para o cenário pequeno, para dois personagens em cena. Os filmes diminuem. O visual é para telas menores, para ser apreciado em casa. ( Falo de filmes comuns. É claro que Avatar é melhor em tela gigante. Mas note: mesmo assim os closes abundam ).
Não é por acaso que a animação tem hoje um status tão grande. O fato não é o de ela ter melhorado. O filme com humanos, real, é que se tornou mais "desenho animado". Todo humorista é hoje Patolino. Todo herói de aventura é He Man e toda ação remete a Tom e Jerry ( correria sem fim com violência aos trambolhões ). O cinema de arte neste universo não passa de uma matéria de tv educativa.
Kung Fusão ( Soccer Shao Lin ) dá um passo adiante. Seus ( bons ) atores interpretam como cartoon. O filme jamais tenta ser de verdade, ele é tv todo o tempo. Mas, por ser tão honesto em seu objetivo, ele agrada e agrada muito. É bobo, superficial, mas nunca grosseiro ou fake.
Stephen Chow bateu todos os recordes de bilheteria na Asia com este filme. Trata de mestre de arte marcial que forma time de futebol. As cenas de ação são boas, mas há cenas muito engraçadas!!! Além do que, como ator, Chow tem um tipo excelente. Não se trata mais de desenhos terem de se parecer reais. Agora a realidade deve se parecer com cartoons.
O pessoal que hoje tem 20 anos, quando começar a fazer seus filmes trará o visual do pós-tv. Será o cinema influenciado pela internet e pela conexão 24 horas. Bem mais velozes que os filmes velozes de 2010 ( que ainda são tv ), e com ainda menos vida interior e tempo para reflexão. Talvez seja feito interativamente, sem diretor final ou sem roteiro fixo. Vai saber.
Kung Fusão é o máximo a que hoje podemos aspirar. E quer saber? Basta.