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O CARADURA DE DINO RISI E PERDIDOS NA ÁFRICA DE ETTORE SCOLA, DOIS FILMES SOBRE O ESTRANGEIRO

Dois filmes italianos, dois filmes sobre viagens. No primeiro, de Dino Risi, Vittorio Gassman, brilhante como sempre, é um produtor de cinema. Ele leva suas atrizes e seu roteirista para o Festival de cinema de Mar Del Plata, na Argentina, onde seu novo filme irá concorrer. Falido, ele pensa em encontrar um amigo seu que emigrou para Buenos Aires e ficou milionário. O filme parece, no início, um banal veículo para enaltecer a Argentina, é 1964 e o país vive seu último período de fartura. Lá, Gassman encontra um italiano, Amedeo Nazzari, dono de terras e gado. Absurdamente rico, ele trata os italianos que ainda vivem na Italia como deuses. Mima-os, enaltece-os, fica a seus pés. Começamos então a perceber o objetivo do roteiro de Age e Scarpelli ( existe dupla de roteiristas com mais filmes que essa? ), a emigração, os italianos que foram e não voltaram, o modo como eles hiper valorizam seu país de origem e por isso não conseguem retornar. O filme é leve, alegre, cheio de piadas, mas há um fundo trágico, duro, sombrio, o milionário enaltece Gassman mas ao mesmo tempo finge não perceber seus pedidos de ajuda. Na parte final do filme ele se torna belíssimo. É quando Gassman finalmente encontra o amigo "rico", papel curto e forte de Nino Manfredi. Vemos logo que Nino é terrivelmente pobre, sua vida de imigrante foi um fiasco e mesmo assim ele tenta fingir riqueza. Até que, num momento raro em filmes, tipo do momento que nenhum cinema conseguia fazer melhor que os italianos, surge a verdade: Manfredi abre o jogo no meio de uma frase, se revela, Gassman faz o mesmo, e de repente estão os dois, rindo de suas desgraças e amigos como nunca. O produtor falido levará o amigo pobre numa festa de milionários para tentar descolar um emprego para o amigo, os milionários irão oferecer entrevistas de emprego, mas Nino sabe a verdade, imigrantes ricos têm vergonha daqueles que não deram certo. Tanto na Italia como na Argentina não há lugar para ele entre seus conterrâneos. Quando ele recusa o taxi e parte sozinho rumo à sua vida de proletário, sabemos estar diante de um grande momento em filme. Mas o show continua! Gassman vence o prêmio e continua falido. O avião decola rumo à Italia, os pobres amigos de Manfredi acenam e sabemos que nada mudou. Em outro avião, que desce, chega o cantor Celentano, e vemos o milionário Nazzari correr para o homenagear. O filme revela vícios e charmes da alma da Italia como poucos. ---------------- Preciso enaltecer Vittorio Gassman, ator de teatro, shakespeareano, talvez o maior do país, que via o cinema apenas como exercício e que por isso brincava enquanto interpretava. Há nele uma sabedoria, um domínio da arte que nos faz sentir prazer 100% do tempo. É genial. Sempre, em qualquer filme. Famoso, ele fez filmes nos EUA nos anos 50, e ao fim da vida, nos anos 80-90, chegou a filmar com Altman e Woody Allen. -------------------- No segundo filme que vi, de Ettore Scola, feito em 1968, também se fala de outro país, no caso Angola. É a Angola portuguesa, e é cômico para nós vermos os extras falando minha língua. Alberto Sordi é um industrial em crise existencial que vai à Africa procurar um parente que desapareceu por lá. No começo ele se comporta como um turista rico, fotografa animais, pessoas, se coloca superior. Mas com o tempo ele muda, muda muito, e se envolve numa aventura absurda e com ares de pesadelo ( embora o filme jamais deixe de ser uma comédia ele toca em coisas muito sérias ). É uma aventura maravilhosa! Um dos filmes menos conhecidos de Scola, é meu favorito. Sim, é quase uma obra prima. Vemos no filme influências que vão de Huston à Joseph Conrad, dá pra dizer que nesta saga de um homem à procura de um desparecido, o Apocalypse Now de Coppolla fica vários pontos para trás. Este é muito, muito melhor! Selva, desertos, um português maluco e malandro ( portugueses na Italia têm a fama de malandros, eu não sabia disso ), nativos passivos, uma pobreza absoluta, um casal racista, nesse caldo de gente e lugares, Sordi e seu contador, Blier, ambos brilhantes, nos fazem entrar dentro de Angola, dentro deles mesmos. O desaparecido, que foi padre, ladrão, traficante de armas, um mistério eterno, afinal surge no meio de uma aldeia no fim do nada: é um guru místico. Ou não, pois quando eles conversam vemos que ele é nada mais que um maconheiro viajante mentiroso. Nino Manfredi faz esse guru e sua atuação nos faz apaixonar por ele. É um homem que fugiu e nada achou, ou achou tudo, talvez. Eles fogem da aldeia e entram em navio luso, rumo à Europa. Mas Nino olha os nativos na praia que o chamam....as mulheres negras....--------------- Obra prima completa, longo e que vemos o tempo todo com prazer, é uma saga cômica do tipo que Voltaire escrevia. O homem que se dá mal e aprende então um segredo. Filme tão bom que dá vontade de ver de novo. ---------------- Entre 1945-1970 não houve cinema como o italiano. E nunca mais haverá. Foi uma conjunção, uma sorte, que uniu um país em momento de enriquecimento e mudança moral, roteiristas revolucionários, atores brilhantes e diretores ousados. E ainda, de brinde, algumas das atrizes mais belas da história. Termos a chance de usufruir desses filmes é um privilégio. Sem preço. Dê um presente a si mesmo e veja esses dois grandes filmes.
   O CICLO DO PAVOR de Mario Bava
Bava hoje tem o status de ser cult. Bobagem. Ele é apenas um diretor ruim. O povo cult tem um desejo imenso de descobrir novos nomes e nos anos 80 encontraram este italiano, autor de filmes de horror gore. Se voce tiver muito bom humor dá até pra rir, mas é um filme ruim. Fala de um cara que chega numa cidade maldita.
  LOBO SAMURAI de Hideo Gosha
Feito em 1966, este maneiroso filme de samurai já apresenta influências do western italiano. Música alta e gritante, ângulos de câmera ousados, violência gráfica. Um samurai solitário e pobre chega a cidade e resolve a vida de uma moça cega. Engraçado que foi Kurosawa, com Yojimbo, quem criou o  molde de Leone e Clint, e aqui a influência volta ao Japão. Este é um filme barato, mas divertido.
  DERSU UZALA de Kurosawa
Em 1974, em crise moral, esquecido no Japão, o mestre foi à URSS filmar esta história simples e ecológica sobre um velho mongol que ajuda soldados russos na Sibéria. É um filme belíssimo e franciscano. Percebemos Kurosawa em seu momento de renascimento. Dersu é como uma vela na noite escura.
  CIÚME À ITALIANA  de Ettore Scola com Marcello Mastroianni, Monica Vitti e Giancarlo Giannini.
Era 1976, e eu assisti este filme com meu irmão na TV Sharp nova. Engraçado como tem coisas tão distantes que a gente não esquece. Eu e ele nos apaixonamos pelo filme, por Marcello e por Monica. Lembro de ficar imitando Oreste, o tipo de Mastroianni aqui. Nunca mais o revi. E agora penso ser difícil o rever, pois é um filme feito em 1970, no auge da Itália comunista, de Gramsci. E, sim, o filme é sujo, filmado em meio a pobreza, entre operários, Marcello faz um comunista típico. Mas o filme é tão bom que sobrevive. Marcello ama Monica que conhece Giancarlo e trai Marcello. Os atores brilham de um modo comovente. Oreste é patético, burro, sensível, tonto, correto, humano. É talvez a maior atuação de Marcello, esse ator, esse italiano, talvez o maior dos atores em qualquer língua. Mas Giancarlo é sublime. Seu pizzaiolo, malandro ingênuo, nos conquista. É o melhor filme de Scola.
   PROFISSÃO: LADRÃO de Michael Mann com James Caan e Tuesday Weld.
O primeiro filme de Mann é seu melhor. Caan faz um ladrão de joias que aceita um último trabalho. Todo noturno, feito em 1981, este filme antecipa o cinema policial da década inteira e ao mesmo tempo resume os anos 70. É quase uma obra-prima. Fatalista, simples, seco, bonito, com um Caan brilhante. ( Ele foi uma estrela tão Grande quanto Pacino, De Niro e Jack ).
  CAÇADOR DE MORTE de Walter Hill com Ryan O'Neal e Isabelle Adjani.
Continuo vendo o box policial e encontro este filme de 1978. Ryan faz um calado motorista de aluguel. Bruce Dern é o policial que tenta o pegar no flagra. Ryan aceita um grande assalto e os dois jogam o gato e rato. Hill tem uma imensa influência do cinema japonês. Suas personagens são samurais em roupas ocidentais. É um bom filme. O roteiro tem furos, mas a gente relaxa e se diverte.
   O HOMEM QUE BURLOU A MÁFIA de Don Siegel com Walter Matthau e Felicia Farr.
Numa cidade pequena acontece um roubo a banco. E sem saber, o dinheiro que eles roubam é da máfia. Agora eles devem escapar da policia e dos mafiosos. Matthau é o ladrão. Siegel é o cara que fez Dirty Harry. O filme é um dos bons policiais dos anos 70. A trilha sonora de Dave Grusin é brilhante. Aquele funk sincopado com piano elétrico da época. Tempo das grandes trilhas sonoras. O filme é divertido pacas.
   OS AMIGOS DE EDDIE COYLE de Peter Yates com Robert Mitchum e Peter Boyle.
Peter Yates é o inglês que fez com Steve McQueen o genial Bullit. Este é um policial soturno. Nos extras eles dizem que este filme lembra Grisbi, a obra prima de Jacques Becker sobre um gangster velho e cansado. Não. Este é muito mais trágico. Mitchum é um ladrão assustado. Ele está cercado por delatores e ladrões fracassados. O filme é lento, pesado, duro. Mitchum faz a perfeição esse homem em fim de linha. Um quase morto. veja.

MASTROIANNI/ SOPHIA/ 1941/ JOSH BROLIN/ ANTHONY QUINN/ DEANNA DURBIN

   GI JOE, RETALIAÇÃO de Jon M Chu com Channing Tatum e Dwayne Johnson
A equipe é traída pelo governo. Aquelas coisas, voce disfarça a patriotada com alguns politicos "do mal". O enredo é primário, mas a ação é bem ok. Dá pra ver sem se irritar. Depois de dois minutos terminado voce não lembra de mais nada. Não é exatamente isso que o povo quer? Nota 3.
   O PREÇO DE UM COVARDE de Andrew V. McLaglen com James Stewart, Dean Martin, Raquel Welch e George Kennedy
Martin é um ladrão. Pego pelo xerife é salvo da forca pelo irmão, Stewart. O xerife, que é um puritano, os persegue pelo deserto. Os bandidos levam Welch com eles, como refém. Stewart e Martin formam um boa dupla. Um já velho e bom moço, o outro amargo e rebelde. Concordo com Tarantino, Dean Martin foi um ator subestimado. O filme é legal e de todos os westerns de McLaglen que vi, diretor que erra muito, é o melhor. Bela diversão! Nota 7.
   1941 de Steven Spielberg com Dan Akroyd, John Belushi, Toshiro Mifune
É o filme que quase destruiu a carreira de Spielberg. Caríssimo, foi um hiper fracasso de bilheteria e de crítica. É um comédia histérica e muito sem graça. O humor parece aquele de meninos de 11 anos. Mais que grosseiro, ele é bobo. Bons atores são desperdiçados e atores ruins ganham papéis grandes. Após os sucesso de Jaws e de Close Encounters, Spielberg se dava mal. ET seria sua salvação na sequência. Fuja!
   UM RAIO DE SOL de Henry Koster com Deanna Durbin, Charles Laughton e Robert Cummings
O maravilhoso ator inglês Charles Laughton faz um milionário que está morrendo. Seu filho apresenta uma desconhecida como sua noiva ( ele não encontra a noiva verdadeira que está fazendo compras ). O velho se apaixona pela falsa noiva. O filho precisa manter a farsa. Henry Koster, o diretor do sublime Harvey, faz aqui aquilo que fazia melhor, filmes para se sentir bem. Tudo é artificial, falso, ingênuo? Que bom! Porque não podemos crer em nossa própria ingenuidade? Durbin foi a atriz que salvou a Universal da falência nos anos 30. Aqui, adulta, ela exibe sua leveza etérea de sempre. O filme é uma delicia. Nota 7.
   A 25# HORA de Henri Verneuil com Anthony Quinn e Virna Lisi
Quinn faz mais uma vez Zorba. Impressionante! Não conheço caso de ator que ficou mais preso a um grande papel. Após 1964, quando fez Zorba, Quinn passou trinta anos fazendo variações sobre Zorba. Aqui ele é um romeno que na segunda guerra é confundido com um judeu. Vai preso. Depois o confundirão com várias "raças" até que ao final vai a julgamento como um nazista!!! O filme é tão improvável, tão absurdo que se torna até cômico. Uma bobagem gigantesca. Ah! No começo Quinn dança! Como Zorba, claro! Nota 4.
   SOLARIS de Andrei Tarkovski
Poucos filmes mexeram tanto comigo. Ele me deixou muito introspectivo, triste, me sentindo isolado. A verdade é que me identifiquei com o personagem central. O filme fala das coisas que mais me absorvem: tempo, memória, amor e imaginação. É um filme chato, preciso dizer isso. Mas que consegue nos dar alguns momentos de beleza sublime. Romântico então, verdadeiramente romântico. Nota 9.
   CAÇA AOS GANGSTERS de Ruben Fleischer com Josh Brolin, Ryan Gosling, Sean Penn e Nick Nolte
Pessoas que nada entendem de filmes falaram que este era um film noir. Onde? É um filme de gangster! O filme noir tem um homem sózinho, confuso, tentando desvendar um mistério. O filme de gangster, que foi criado em 1930 com Scarface e Public Enemy, fala de grupo de tiras lutando contra uma organização criminosa. É este o caso. E devo falar que é um bom filme. O roteiro é bastante fraco mas ele é salvo pela direção cheia de ritmo e sem frescuras de Ruben. Josh Brolin é perfeito. Tem voz e rosto de homem, passa a sensação de verdade. Já Ryan está no filme errado. Parece um menino vestido com o terno do pai e fumando escondido. Sean Penn imita De Niro em seus piores dias. Parece Dustin Hoffman em Dick Tracy. Mesmo assim este filme, de visual lindo, diverte e nunca cansa. Um adendo: Que época é esta em que vivemos? Cenas de violência são mostradas em detalhes pornô e cenas de sexo são feitas com lingerie e puritanismo. Why? Porque sexo só pode existir em filme "doentio"? Sempre vindo em embalagem de mal, de distúrbio e de doença? Porque seios, bundas e pênis nunca surgem em filmes alegres, leves e pop? Mas corpos dilacerados e sangue jorrando podem? Welll....Dito isto, este filme vale um 6.
   UM DIA MUITO ESPECIAL de Ettore Scola com Sophia Loren e Marcello Mastroianni
Quase um milagre. Scola consegue fazer um filme tristíssimo que não entristece. Um filme hiper dificil que nunca aborrece. Um filme tipo teatro que não parece sufocar. Ele se passa em dois apartamentos e a trilha sonora é feita pelos sons do dia em que Hitler veio visitar a Itália de Mussolini. Sophia é mãe de filhos fascistas e tem um marido do partido. Marcello é um homossexual que foi expulso do trabalho por não ser " marido, pai e soldado". Os dois se conhecem e uma mudança acontece nela. Ou não? Scola dirige com uma delicadeza exuberante. Toda cena é suave, dolorida, desbotada. Nos assustamos com um fato: Como pode aquilo ocorrer? Todos, alegremente fascistas, comentando a beleza de Hitler, a sabedoria do Duce. Bem, falo agora dos dois atores. Sophia é uma grande atriz. Nas cenas finais ela comove em sua derrota. Ela está vencida, presa, humilhada. Mas é Marcello que atinge o sublime. Nunca assisti um retrato tão perfeito de um homossexual. Em cada movimento de suas mãos, de seus olhos, percebemos sua homossexualidade, sem caricatura, sem exagero, sem nada de ofensivo, natural. Quanta melancolia naquele homem, quanta raiva muda. Lembro que em 1977 ele concorreu ao Oscar e o perdeu para Richard Dreyfuss em The Goodbye Girl. Dreyfuss estava ótimo, mas isso aqui é histórico! Um belo filme. Nota 8.

OSCAR NIEMEYER, SCOLA E MONTAGEM

   Niemeyer odiava tudo o que fosse natural. Em seus projetos, e o Memorial é um belo exemplo, tudo é exato, concreto, árido. Ele fez projetos que não respiram. Minha opinião é a mesma de Robert Hughes, Niemeyer era um arquiteto ditatorial. Seus enormes templos de cimento, sem árvores, esmagam a individualidade. Equivalem a uma tropa unida. Pior, são velhos, secos, enrugados. Temos de conviver com a feiúra de Brasilia, com seu futurismo fascista, suas linhas racionais, a ausência de acaso, de arabescos. Niemeyer abominava a cor, é sempre o cinza, o branco, o nada.´O Sambódromo chega a ser cômico de tão ruim. E a marquise do Ibirapuera tem um peso que nos esmaga. Não é preciso falar da leveza da Ópera de Sidney para mostrar a verdadeira boa arquitetura. Basta olhar para o Rio e ver como o espírito da capital era outro. Tudo questão de cor, de natureza, de curvas ao acaso. Niemeyer fez uma cidade no árido, árida. Chamo isso de burrice.
   Ettore Scola diz que o cinema da Itália está tão ruim porque o italiano não ama mais a Itália. Talvez. Scola fez alguns filmes maravilhosos, mas acho que ele exagera. Amar o país não é condição para boa arte. O ódio também inspira.
   Leio numa revista de matemática um artigo sobre cinema. Matemáticos falando de cinema pode ser uma coisa bem interessante. Falam de montagem. Que hoje cada tomada tem em média 5 segundos. E que 5 segundos, matematicamente, é o tempo que uma pessoa leva para ver sem pensar. Se a cada 5 segundos voce faz um corte, uma mudança de tomada, o público fica num estado de quase hipnoze, não raciocina, acompanha sem perder o interesse "na própria montagem." Qualquer coisa montada em tomadas de 5 segundos "parece interessante". O que faz com que "os filmes ruins de hoje sejam mais fáceis de ver que os filmes ruins de antigamente."
   Pra mim filmes ruins são sempre ruins e insuportáveis. E o excesso de montagem não me prende, pelo contrário, não poder pensar e apreciar uma cena me desliga, fico ausente da ação. Talvez seja pela minha idade, mas penso que é uma questão de costume. De qualquer modo é um texto muito bom. Porém, eles erram feio ao falar que "hoje essa montagem é feita conscientemente. Cortes de 5 segundos são espalhados igualmente por todo o filme. Antigamente os cortes eram aleatórios, em alguns momentos eles eram acumulados e em outros eram raros."
   Eis a diferença entre ciência e arte. O autor não percebe que os cortes são irregulares no cinema antigo, porque são feitos em função do roteiro. Quando a história pede muitos cortes eles acontecem, quando não são necessários, não são feitos. Hoje o roteiro é escravo da montagem. Até em cenas "paradonas", como uma conversa num trem, temos milhares de movimentos de câmera e de cortes. Tudo para prender o cara na poltrona.
   Dado interessante no texto: Goldfinger, de 1965, tem mais ação que Solace. Mas Solace "parece" mais movimentado. Ação é uma atividade que ocorre no filme: luta, tiro, correria, Goldfinger tem mais disso. Movimerto são os cortes. Solace é então mais "fácil" de assistir.
   Conclusão do texto: um filme dito dificil de 2012 é muito mais fácil de se assistir que um filme fácil pop de 1950.
   Será?

OLIVER REED/ STEVE CARELL/ SCOLA/ NICHOLAS RAY

   DEPOIS QUE TUDO TERMINOU de Michael Winner com Oliver Reed, Carol White, Orson Welles
Um publicitário bem sucedido larga tudo e volta a seu emprego antigo, editor de uma pequena revista literária. No processo ele abandona esposa, filha e duas amantes. Mas antigos contatos são insistentes...Os primeiros 50 minutos deste filme são gloriosos! Winner filma com vida, calor, dá movimento a tudo, surpreende com cortes magníficos. Mas ele não é um gênio e portanto não pode manter esse ritmo. O filme cai em seu tempo final. Mesmo assim jamais se torna banal, é um dos grandes filmes de seu tempo. Belo retrato da Londres de 1966, tem montes de cenas nas ruas. Winner prometia muito em seus primeiros filmes, mas naufragou. Nos anos 70 filmaria coisas com Charles Bronson. Oliver Reed era um dos atores não-shakespeareanos da época. Ele e Michael Caine trouxeram as ruas inglesas para as telas. Carol White era adorável. O filme dá vontade de ver outra vez. Nota 9.
   A TERRA DO NUNCA-A ORIGEM de Nick Willing com Rhys Ifan
Conversei com um amigo sobre a "falta da mentira", teoria de Wilde que na verdade é de Ruskin. Veja: o realismo mata o futuro. Explico. Quando um cineasta faz um filme que é "real", ele comete dois erros: primeiro que o real é incapturável. Segundo que o real é estéril. Ele pode até ser impactante, mas não fertiliza mentes. Umberto D é magnífico, mas De Sica é eterno pela poesia real e mentirosa de Ladrões de Bicicleta. O cinema de hoje morre em realidades tolas. Veja este filme. Pegaram Peter Pan e resolveram reescrever. O que fizeram? Deram explicações para tudo. Mataram o mito. Acho que foi Jung quem disse que o mundo moderno caça e mata mitos. Aqui Peter é um ladrão de rua. Gancho é o chefe do bando. E Neverland é um globo que caiu do céu. Ou seja, tudo é explicado da forma menos "mentirosa" possível. O nome disso? Falta de coragem. O efeito? Pasmaceira. Peter Pan, o livro, o desenho, tem milhares de significados, de possibilidades. Aqui temos apenas uma verdade. É isso e fim. A nota? É Zero e cale a boca.
   O HOMEM DO SPUTNIK de Carlos Manga com Oscarito, Jô Soares e Norma Bengell
O satélite russo cai no galinheiro de um caipira. Ele passa a ser paparicado por todos, russos, americanos e franceses. Jô Soares, jovem, faz uma soberba imitação do que seria um americano típico. Quem rouba o filme é Norma. Imita Brigitte Bardot e compõe uma das mulheres mais sensuais que o cinema já mostrou. Suas cenas explodem de lascívia ( nunca usei essa palavra ). O filme vale por ela. Nota 5.
   A VINGANÇA DE MILADY de Richard Lester com Michael York, Faye Dunaway, Oliver Reed, Richard Chamberlain
É uma grande produção e é um grande desastre. Em meio a ação, Lester, diretor dos filmes dos Beatles, não consegue manter nenhum interesse. Além do que York é um herói fraco. Faye se salva, está bonita e transpira maldade. A impressão é que ela está no filme errado. Ah sim, o tema são Os 3 Mosqueteiros. O filme vale um zero.
   PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO de Lorene Scafaria com Steve Carell e Keira Knightley
Faltam 3 semanas para o fim do mundo. Steve, faz um cara down como sempre, é abandonado pela esposa. A população pira. Pessoas se drogam, crianças bebem, muita gente rouba. Ele conhece uma moça doidinha ( como sempre. Hal Ashby criou uma tradição ). Ela quer ir ver os pais, vão juntos. É um filme tipico dos anos 70, fala de estradas novas e de romper laços; mas claro, tem o estilo de 2012, é vazio e nada tem a dizer. Mas se mantém, por um fio não afunda. Triste, tem uma cena linda ao som de The air that i breathe dos Hollies. A moça é fã de vinis e fala uma frase bonita sobre o que eles significam. Mas é gozado: isso é tudo o que ela tem, seus discos, mais nada. O final não é feliz, é o fim. Este filme passou por aqui? Não lembro. Vale a pena. Nota 6.
   A VIAGEM DO CAPITÃO TORNADO de Ettore Scola com Massimo Troisi, Ornela Mutti, Emmanuelle Beart e Vincent Perez
Que lindas são Ornella e Beart!!!! O filme fala de uma troupe de atores, que em carroça se apresenta em meio ao kaos do século XVI. Todo filmado em cenários fechados, ele tem um clima de sonho. Troisi, que morreria jovem logo após fazer O carteiro e o Poeta, domina o filme. É um ator maravilhoso. Tinha o dom de parecer comum, o que é raro em atores. Nota 7.
   A BELA DO BAS-FOND de Nicholas Ray com Robert Taylor, Cyd Charisse e Lee J. Cobb
Voce se lembra de Os Intocáveis de De Palma? Lembra da cena do taco de beisebol? Foi tirada daqui. Lee J. Cobb numa reunião mata com um pedaço de ferro um dos mafiosos da familia. A cena é a mesma. Este fala de um advogado que trabalha para a máfia. Seu mundo muda ao se apaixonar por garota de programa. Taylor tem o papel de sua vida. Duro como pedra, amoral, vemos lentamente, dia a dia, sua consciência começar a rugir. Ray dirige de forma explêndida. O filme não cessa de caminhar em sua trilha feita de crueldade e de cinismo. De ruim, as cenas musicais, são 3 cenas chatas. Mas duram apenas dois minutos, os outros cem compõe um dos fortes filmes noir. O tema de Ray está todo aqui: seus filmes falam de gente torta no lugar errado. Nota 8.