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CARTAS FILOSÓFICAS SOBRE O DOGMATISMO E O CRITICISMO- SCHELLING

   "Quanto mais afastado de mim está o mundo, quanto mais intermediários eu coloco entre ele e mim, tanto mais limitada é minha INTUIÇÃO dele. Tanto mais impossível aquele abandono ao mundo, aquela aproximação mútua..."
   "Dai-me mil revelações de uma causalidade absoluta fora de mim e mil exigências de uma razão prática fortalecida, e nunca poderei acreditar nelas enquanto minha razão teórica permanecer a mesma!"
   " Se tivéssemos de tratar apenas com o Absoluto nunca teria surgido uma controvérsia de sistemas diferentes. Somente por termos saído do Absoluto surge o conflito com ele, e somente por esse conflito originário do próprio espírito humano surge a controvérsia dos filósofos."
   "Como chegamos em geral a julgar SINTÉTICAMENTE?"
   "Como chego em geral a sair do Absoluto e a ir a um oposto?"
   " Por isso acredito também poder explicar por que para um espírito que conquistou sua liberdade própria, e que deve sua filosofia somente a si mesmo, não há nada mais insuportável do que o despotismo das cabeças estreitas que não podem tolerar nenhum outro sistema a não ser o seu. "
   Schelling funda o pensamento idealista-romântico. O EU se faz sua filosofia, a filosofia da liberdade. Em seu quarto de estudante, com seus colegas Hegel e Holderlin em conversas sem fim, funda-se a filosofia como ideia de porvir. Deus, o Mundo, o Infinito como coisas em constante e sem-fim construção. A vida sendo processo, ideia e criação ao mesmo tempo e para sempre. Funda-se o valor da modernidade: a Originalidade. A Imaginação como uma Realidade do Real Verdadeiro.
   Hegel logo levaria tudo isso a um outro rumo. O Conflito da História. E Holderlin se tornaria o maior poeta-filósofo da Alemanha após Goethe. Schelling não abriria mão de suas críticas a Espinoza e a Kant. Sua obra é um debruçar-se sobre releituras e mais releitura do Spinozismo e do Kantismo. 
   A intuição primeira, a intuição não aprisionada pelos sistemas dogmáticos, como força real do conhecimento do Absoluto. Absoluto sendo o Verdadeiro, a totalidade em sua vida enquanto é. A vontade de conhecer e o poder de conhecer. Intuição e Imaginação como dois caminhos que levam ao Absoluto. Romantismo. Arte moderna.
   O pobre mundo daqueles que lidam com sistemas únicos em oposição a rica existência daqueles que constroem múltiplos conhecimentos. Que não chega a um fim pois o Absoluto é o ato de fazer e não a coisa feita e acabada. Possibilidades ilimitadas. O Homem tem um poder de criação que transcende a vida e o visível. O homem é o Absoluto ao mesmo tempo que o conhece. Infinito. 
  Bruno e Dante comparecem em Schelling. A mente se abre ao perceber o fim de uma época. E vê o infinito. Schelling preenche esse infinito de Ideia e de Imaginação. O homem é um ser que cria sem parar. A vida é uma transformação infinita. Viver é imaginar dentro da criação. O Dogma único é um sistema que interrompe e asfixia essa Criação. 
   A Arte é a Verdade porque ela é Criação e Ideia ao mesmo tempo. A Arte não dogmática, a Arte aberta, inacabada, em criação. Processo que jamais se interrompe. 
   O romantismo vem daí. E nossa arte ( a que resta ) bebe nessa fluidez. Para quem vê poesia, Schelling é primordial.

FRIEDRICH WILHELM JOSEPH VON SCHELLING

   Filósofo do romantismo, Schelling viveu entre 1775 e 1854. Contemporâneo de Beethoven, Goethe, Schiller, Haydn, Kant, Hegel, Wagner, Novalis e Holderlin....para citar só a cultura de lingua alemã. Poderia ainda falar em Schubert, Mozart, Schopenhauer... toda essa multidão de deuses vivendo e produzindo durante a vida de Schelling. O ímpeto criador fertilizando as mentes e principalmente os corações. Porque?
  Falo agora do pensamento de Schelling e arrisco a hipótese de que seu pensamento espelha a corrente sensível que pairava na alma alemã de então. Vejamos...
   A natureza e a conciência são uma só unidade infinita.
   Essa unidade, identidade de contrários, é o absoluto. Natureza e consciência, objetivo e subjetivo não são um a origem do outro, ambos procedem do absoluto.
   A reunificação da natureza e da consciência é a tarefa da obra de arte, e só ela consegue apagar a aparente oposição das coisas, unindo-as numa suprema identidade, no absoluto.
   A inteligência teórica contempla o mundo;
   A inteligência prática o ordena;
   A estética o cria;
   A mais perfeita intelecção da verdade é a que brota da criação artística.

   Essa a filosofia que permeia todo o pensamento alemão de então. O artista, cheio de confiança e ambição, sente em si a missão de criar o mundo. Vê-se como centro e como nobre. Schelling formula a perfeição sua filosofia. Não importa se hoje ela é válida ou não, o que interessa é que ela serviu a um propósito e espelhou um apogeu cultural.
   A partir daí só recuamos.