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HOBBIT/REX HARRISON/ AL PACINO/ RAY/ SODERBERGH/ DORIS DAY

JUMBO de Charles Walters com Doris Day, Jimmy Durante, Martha Raye.
A vida no circo, onde Doris é a filha do dono, que por sua vez gasta tudo em jogo. O filme é simples, alegre, e entretém. O trio central brilha com sua simpatia. Nota 6.
O ENXAME de Irwin Allen com Michael Caine, Henry Fonda, Richard Widmark.
Abelhas africanas botam pra quebrar no Texas. Caine é um cientista. O filme tem uma direção inábil. Tão trash que fica até funny.
O ÚLTIMO ATO de Barry Levinson com Al Pacino
Birdman? Ator em crise tem ataque no palco. Fica preso do lado de fora, vai morar isolado, se envolve com gente doida... O filme é o mais árido da boa carreira de Levinson, e Pacino está interessado. Confuso, não é um bom filme, mas é interessante. Nota 4.
ADEUS À LINGUAGEM de Godard
Incompreensível. Cenas de um casal, muita nudez, frases inteligentes, imagens trêmulas, confusão. Godard aina é difícil, rebelde, ácido. Atira contra tudo e parece concluir que a linguagem se desfez, não faz mais sentido.
O HOBBIT, TODOS OS TRÊS. de Peter Jackson com Martin Freeman, Ian McKellen
Jackson tem coragem! Após os anéis ele arrisca os dedos. Volta à Tolkien e usa um livro muito mais pobre do autor. E o estica em quase nove horas de cinema. A parte um é boa, a segunda é ruim e a terceira é a melhor. Um erro está no elenco. Freeman é um hobbit ótimo, mas o líder dos anões é fraco. De todo modo, há uma beleza estética que não cansa. O maravilhamento dos anéis se perdeu, mas é boa diversão. Nota 6, 3 e 6.
FULL FRONTAL de Soderbergh com Julia Roberts, David Duchovny,Catherine Keener
Soderbergh e seu medíocre lado artístico. Ele brilha quando pop, mas, inseguro, acha que precisa provar ser arteiro, e faz suas besteiras metidas à Cassavetes ou Godard. Aqui é um filme dentro de um filme. Só what?
THE CHESS PLAYERS de Satyajit Ray
No século dezenove enquanto a Inglaterra se apossa da Índia, dois nobres se distraem jogando xadrez. O filme é chato e é forte. Ficamos entediados, mas depois que ele acaba não nos larga. Lembramos dele com admiração. Isso é arte. Nota 7.
ASFALTO de Joe May
Filme mudo alemão de um dos mais poderosos nomes da época. Um tenente de policia é seduzido por uma mulher fatal. O filme tem um belo clima sensual. Pode ser um bom começo para aqueles que desejam adentrar o mundo do cinema dos anos vinte. Nota 6.
ANNA E O REI DO SIÃO de John Cromwell com Irene Dunne e Rex Harrison.
Primeira versão da historia da professora que vai à Tailândia ensinar rei a ser moderno. Lindo, dramático, serio e muito bem interpretado. Rex consegue ser duro, frio, e frágil ao mesmo tempo. Envelheceu nada esta produção Fox. Nota 8.

WHITE, WHITE, JABOR, DR.REY, FRASIER, QUEEN E VITÓRIA

Arnaldo Jabor escreveu ontem sobre a experiência de se assistir um filme de ação hoje. Ele fala do ruído, do movimento sem parar, da aversão ao pensamento. As duas horas que satisfazem plenamente, mas que deixam um vazio após a experiência. Quando o filme acaba, nada fica com você. Faltou Jabor falar que o efeito desse cinema sobre a mente é idêntico ao efeito da droga. Euforia, adrenalina e depois o silêncio vazio. Vem então a dependência e a aversão a lentidão e ao tempo-morto. O cinema não é mais relevante. Ele é um tipo de passatempo oco, que ainda impressiona algumas pessoas que não conseguem ler, e usam o cinema "de arte" como grife de cultura. O cinema dito "de arte" é ainda mais vazio que o cinema de ação. Vende tédio como sofisticação, ideias velhas como coragem e absoluto narcisismo impotente como estilo. É também uma droga que deprime, acalma, pacifica. Blá!
Um milagre aconteceu! Jack White conseguiu alguns anos atrás criar um riff que se tornou tão popular como Smoke on The Water ou Satisfaction. O riff do White Stripes é cantado em todos os jogos da Euro. Um riff de rock se fazer hino é coisa que não ocorria desde 1980, quando Back in Black virou tema de jornal. Isso faz com que eu lembre de 1977, quando em meu curso de inglês tivemos aula sobre um single recém saído. Ele tinha de um lado We're The Champions e do lado b, We Will Rock You... Quem diria que naquele vinilzinho vivia a trilha sonora de todo o esporte das décadas seguintes?
Dirigir de manhã cedo escutando Barry White....em seu tempo ele era uma vergonha, hoje é chic. Eu sempre achei ele o máximo!
Mostra de filmes de Satiyajit Ray. Por um real. A Canção da Estrada é um dos mais originais e belos filmes já feitos. Obrigatório para quem nunca viu, Ray é um nobre fazendo cinema. Um quase deus olhando a miséria da vida. E se pondo em meio a seu povo. E tem uma trilha sonora de chorar de alegria. Filmes como esse fizeram do cinema uma arte central. O tacho que se raspa hoje é o tacho feito por Ray e muitos outros.
Um amigo elogia a série vitoriana da TV. Engraçado como as novas gerações só aceitam novidades vindas em pacote televisivo. Orgulho e Preconceito é a era vitoriana em seu aspecto mais bonito. Mas ninguém viu. Já a tal série.... Meu amigo sacou que aquela época é um calmante para nossos tempos. Sim. Etiqueta, valorização do "melhor" e segurança social aparente. Eu creio que o fascínio pela época de Vitória e de Eduardo vem das porcelanas e dos guarda-chuvas. Aqueles ambientes de janelas embaçadas, sofás de veludo e lareiras imponentes dão um sensação de conforto e de consolo irrecuperáveis. O Discurso do Rei exibe a fratura que matou e enterrou esse mundo. My Fair Lady é o melhor retrato desse tempo em filme. Eu amo os livros escritos nesse tempo. E.M.Foster, Conrad, Wharton, Henry James, Woodehouse....
O Saturday Night Live se revela absoluto fiasco. Pena.... Erro de cálculo. Botar um programa de humor em concorrência com bundas, sensacionalismos e a hipnose de Silvio Santos é missão inglória.  Domingo a noite é horário de vlae tudo pela audiência. Mundo cão x Mundo idiota.
Dr.Rey é o ponto mais baixo que podemos chegar?
Reassisto Frasier. O segredo de uma série de TV, aliás, o segredo da TV, é a amizade. Gente na sala, na tela de TV, se torna um tipo de amigo consolador. Se o cara na TV consegue criar esse vínculo, vem o sucesso. No cinema ninguém precisa criar amizade pelos tipos na tela para os aceitar. Na TV não é assim. A gente os recebe em casa. O Dr. Frasier é o amigo que eu queria ter. Penso que quem ama House ou amou Friends sentiu o mesmo. É por isso que a TV nunca poderá ser completamente arte. A ofensa e a provocação antipática são impossíveis na TV. Por mais crua e sanguinolenta, sempre haverá um cara bacana e uma mocinha bonita no meio da coisa. Um amigo pra se ver em casa.

OLIVIER/ VISCONTI/ RAY/ RENOIR/ CLAUDIA/ HUXLEY/ STAMP

ORGULHO E PRECONCEITO de Robert Z. Leonard com Greer Garson, Laurence Olivier, Maureen O'Sullivan e Edmund Gwenn
Olivier compõe um excelente Mr.Darcy. Sua mistura de timidez com altivez atinge a medida certa. O roteiro deste belo exemplo de produção MGM, ou seja, muito luxo, é de Aldous Huxley. Sim jovens, houve um tempo em que gente como Huxley, Faulkner e Hecht trabalhavam para Hollywood. O roteiro consegue condensar o romance de Austen em duas movimentadas horas. Não senti falta de nenhuma cena. Há uma versão recente deste livro igualmente boa. Nota 8.
VAGAS ESTRELAS DA URSA de Luchino Visconti com Claudia Cardinale, Jean Sorel e Michael Craig
Logo após o soberbo O Leopardo, Visconti fez este pesado drama sobre casal de irmãos que tem relação dúbia ( incesto? ). Claudia, estranhamente feia, é uma recém casada que leva o marido inglês a mansão onde ela e irmão cresceram. O irmão, meio doido, logo tenta voltar aos tempos de contato íntimo com a irmã. O filme não flui. Visconti tenta se renovar, pega alguns tiques da nouvelle-vague e se perde. O visual é estranho, às vezes se parece com tv. A questão é: quem se interessa por personagens tão vazios? Nota 4.
MORTE EM VENEZA de Luchino Visconti com Dirk Bogarde
Dificil falar desse filme. Porque? Por ser um dos mais esquizos filmes já feitos. E também por ser exemplo de um tipo de filme velho, morto, mumificado. Vamos aos porques. Ele é esquizo por ser ao mesmo tempo ruim e excelente. Excelente são as roupas de Piero Tosi, figurinista mais famoso do mundo. Um desfile de detalhes, cores, requinte, soberba. Excelente são os cenários e a fotografia de Pasqualino de Santis. Veneza no explendor. A produção reformou e restaurou um hotel de verdade para filmar o luxo de 1911. Excelente a trilha sonora de Mahler, de tristeza cósmica. Então a gente fica meio hipnotizado ( se voce for um esteta ) admirando o visual e escutando a trilha sonora. Mas por outro lado, o filme em si é risivel. Discussões filosóficas sobre arte, pedantes e redundantes; movimentos de câmera irritantes e atores conduzidos como zumbis empaturrados. O efebo é anódino e Bogarde interpreta Thomas Mann como um entediado burguês. Detalhe: é um filme com som à Jacques Tati: diálogos que não se ouvem e muito som ambiente, o que ressalta seu caráter visual, de turismo em Veneza. Não é um filme, é uma coleção de souvenirs de uma viagem de um velho. Fofocas: Visconti era tão perfeccionista, que na obra-prima O Leopardo, ele atrasou a filmagem em horas para que em cena as champagnes estivessem na temperatura exata. E observe em como Dirk Bogarde tem o rosto de Johnny Depp!!!!!!! Nota 5.
BILLY BUDD de Peter Ustinov com Terence Stamp, Peter Ustinov, Robert Ryan, Melvyn Douglas e Paul Rogers
Navios ao mar. Preto e branco fantástico de Robert Krasker. Um marujo ingênuo é recrutado para a guerra. No navio ele se verá em conflito com o mal nada ingênuo. Stamp faz um retrato preciso, seu marujo é exemplo do bem e do bronco, é tolo e é angelical. O filme jamais filosofa por nós. Ryan é o mal, e o mal vence. Uma aula de cinema. Nossa mente fica completamente ligada ao filme, ele diverte e faz pensar. O final é digno de grandes filmes, exato. Nota 9.
O ATALHO de Kelly Richardt com Michelle Willians, Bruce Greenwood e Paul Dano
Western de arte. Argh!!! Para mostar três meninas cruzando um riacho são gastos vários minutos. Há quem confunda arte com fazer sofrer. É o pensamento do jeca: se voce quer arte, sofra de tédio. Imagens escuras, múrmurios, ação lentíssima, pseudo-profundo. Um porre!!!! Pra que fazer isso? Nota ZEEEEEEERO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
A SALA DE MÚSICA de Satyajit Ray
Um nobre empobrecido. Um palácio sujo. Um rio vasto. E muita música. Com poucos elementos Ray faz um imenso filme. É cheio de falhas. Algumas cenas são excessivas e outras chegam perto da caricatura. Mas perto do valor de seu todo é uma obra de poesia cósmica e original. Cinema atemporal, belo e sincero. Nota 9.
O SEGREDO DO PÂNTANO de Jean Renoir com Dana Andrews, Walter Huston, Anne Baxter, Walter Brennan, Ward Bond
Pântanos. Belas imagens da água e lodo. Um jovem atrás de seu cão conhece condenado que lá se esconde. A história corre através dessa relação e da relação do jovem com seu pai e com sua vila. Renoir fugiu da França nazista e fez alguns filmes americanos. São bons filmes, mas não procure o estilo Renoir neles. São impessoais. Nota 6.

A SALA DE MÚSICA- SATYAJIT RAY, UM DIRETOR COMO NENHUM OUTRO

Índia. A vastidão sem fim de um rio. Um horizonte que não termina. Um palácio a beira desse rio. Decadente, sujo, úmido. No terraço vive um velho que foi rico, e seus serviçais. Esse homem não desce aos outros andares faz muito tempo. Em flash-back saberemos o porque.
Ray criou o cinema de arte na India. Antes dele só havia Bollywood. Nascido rico, Ray usou o que tinha e o que não tinha para fazer seu primeiro filme. Este é o segundo, feito em meio a trilogia de Apu. No caos da falta de recursos, Ray fazia a direção, produção, cenários, figurinos e ainda ajudava na fotografia e na música. O milagre é que seus filmes são plasticamente maravilhosos, amplos, abertos, e também são lentos, sujos, cruéis até, mas sempre belos. Chega a emocionar vermos um tipo de vida, um tipo de cinema tão diferente do Ocidente. O tempo é outro, os sets são outros, a língua ( deliciosa ) é exótica, os rostos são estranhos. Mas há em seu cinema o mesmo espírito do cinema de Mizoguchi: nobreza. Ray ama seus personagens, mais que isso, ele nos faz sentir esse amor, mais ainda, ele nos faz sentir a dor do tempo que se vai, das mortes inevitáveis ( sempre há uma morte em seus filmes ), dos erros e dos vicios.
O erro aqui é o orgulho. O nobre decadente perderá tudo por seu orgulho, por se sentir obrigado a ser superior sempre, por acreditar em seu sangue, por vaidade sem fim. E por seu amor a música. O filme é cheio de cenas de música, todas lindíssimas, porque ele insiste em fazer saraus para e pela música. Gasta o dinheiro que já não tem com músicos e festas para seus amigos. E no ápice do filme, já no tempo presente, ele dá a última festa e o que vemos é uma execução perfeita. Música indiana ( Ustad Vilayat Khan ) que empolga, e dança que beira o sublime. Atenção às mãos da dançarina, é nas mãos que vive a arte da dança hindú. Toda a melodia é traduzida em movimentos que voam e falam.
O nobre fica extasiado, e parte numa última cavalgada, rumo ao fim. Bêbado.
Difícil fazer justiça ao cinema de Ray. Ele não deixou herdeiros ( ou todo o cinema do terceiro mundo o é? ). Seus filmes devem ser vistos em tranquilidade. Nada têm de filosóficos ou religiosos. São belas observações, isentas, sobre a vida da India de seu tempo. E se há uma moral em sua obra é apenas esta: a vida passa como dor, mas existe um momento em que ela vale a pena e se explica. Cada um de seus filmes mostrou esse momento. Um nobre.

WYLER/GROUCHO MARX/AVANT-GARDE/RAY

INFÂMIA de William Wyler com Audrey Hepburn e Shirley MacLaine
Numa escola feminina, aluna acusa as sócias da tal escola, de terem um caso gay. Está feita a tragédia. Filme levado com bela discrição e grandes atuações. Mais um acerto desse venerável Wyler, o mais premiado diretor do cinema americano. Voce se envolve, torce e fica chocado com seu final absolutamente pessimista. nota 7.
ANDREI RUBLEV de Andrei Tarkovski
Não consigo assistir Tarkovski. Percebo sua originalidade, sua nobreza e seu realismo. Mas me irrito com sua lentidão, me perco em seus devaneios, adormeço com sua frieza. Nota 1.
ROBERTO CARLOS EM RITMO DE AVENTURA de Roberto Farias com Roberto Carlos, Reginaldo Farias, José Lewgoy
Há uma cena em que vamos dentro de um helicóptero em vôo rasante pelo Rio de 1967. É de doer : que bela cidade ela foi ! Quase sem favelas, muito verde e um trânsito ainda civilizado. Quanto ao filme : é um Help tupiniquim. Um Roberto, muito jovem e cheio de alegre ingenuidade, vive aventuras moderninhas em ritmo de nouvelle vague. Suas roupas são fascinantes e Reginaldo está hilário como o diretor de cinema doido. A trilha é uma brasa, mora! Tem desde "Eu sou terrível " até "Negro Gato". Roberto era um tipo de bom menino com roupas bacanas. Funciona, o filme é o retrato de um país que não existe mais : jovem e inocente. nota 6.
APARAJITO de Satijajit Ray
Segunda parte da vida de Apu. Ray, com dinheiro de amigos e de imóveis, criou o cinema indiano realista. As 3 partes da vida de Apu dignificam o cinema. Aqui vemos Apu adolescente, indo para a cidade grande e se tornando bom aluno. Mas o foco é sua relação com a mãe : dolorosa. O filme é menos emocionante que "O mundo de Apu", mas ainda assim é fascinante e hipnótico. Ray foi um grande poeta e suas histórias têm o encanto de fábulas. Nota 8.
UTAMARO E SUAS CINCO MULHERES de Kenji Mizoguchi
Dos três gigantes do cinema japonês, Mizoguchi é o mais nipônico. É fascinado por sexo e morte, e tudo em sua obra exibe cuidado plástico e tradição. Porém ele se perde neste confuso e inconvincente drama sobre erotismo, arte e mentira. O roteiro é mal desenvolvido e a ambição está acima da realisação. O mais fraco Mizoguchi. Nota 4.
A AVENTURA de Michelangelo Antonioni com Monica Vitti e Lea Massari
Excelente filme para quem sofre de insônia. Após 30 minutos é impossível não se adormecer. O filme tem o pior dos defeitos : fala do tédio da burguesia. E nos entedia. Nota Zero.
OS 4 PRIMEIROS FILMES DOS IRMÃOS MARX : THE COCOANUTS, OS GÊNIOS DA PELOTA, OS 4 BATUTAS e OS GALHOFEIROS. Diretores : Victor Hermann, Norman Z. McLeod e Robert Florey. Com Groucho, Harpo, Chico e Zeppo. Mais Lilian Roth e Margaret Dumont.
Uma das alegrias da vida é poder assistir os filmes dos irmãos Marx. Não é cinema, como WC Fields não o é. É mais que isso. Assistimos seus filmes como se neles encontrássemos um segredo : são uma religião. Por isso que com eles não há meio termo, ou se ama, ou nada se entende. Não existe o mais ou menos, não existe a meia fé. E minha fé é grouchoharpochicoana. Graças ao vaudeville. Seus filmes não têm história, não têm evolução. Assistimos para comungar com sua felicidade. Pois o mistério dos irmãos é esse, eles exibem uma profunda felicidade. Amar os irmãos Marx não é sinal de inteligência ou de bom gosto. É sinal de saudável espirito brincalhão. São um topo inatingível de descompromisso com tudo, de criatividade anti- correta, de brilho hedonista. Groucho fala o que pensa e o que ninguém entende, Harpo anda pela vida como um cachorro no cio e Chico é o mal-humor feliz. E nós, crentes na Marxilandia do espírito anarquista, sorrimos gratificados com o fato do cinema nos ter dado tal clarividencia. Para o mundo dos Irmãos, a vida é uma bosta e para viver bem é preciso nada se levar a sério. Os quatro primeiros filmes, da fase da liberal Paramount, são meus favoritos por serem os mais toscos. Na Metro eles ficariam um pouco presos. E palmas para Margaret Dumont, a vítima perfeita de Groucho, e atenção para Lilian Roth, símbolo belíssimo e sapeca das estrelinhas dos anos 30. Nota Um milhão quatrocentos e setenta e oito mil e sete.
A ARCA RUSSA de Alexander Sokurov
Crítica abaixo. Dizer mais o que ? Um diamante, uma porcelana de Sévres, um quarteto de Haydn, um conto de Voltaire. O filme brilha e é uma obra-prima dos anos 90. Nota Dez.
ELMER GANTRY de Richard Brooks com Burt Lancaster e Jean Simmons
O filme ataca um dos calcanhares de Aquiles da América : a religião. Deu o Oscar de ator à Burt e ele brilha como um malandro que se torna pastor. Nos irritamos com sua falsidade, mas ao mesmo tempo, nos apaixonamos pelo seu carisma. Burt lhe dá várias facetas, o que faz de seu desempenho exercício fascinante. Mas a direção de Brooks é crispada, séria demais, veemente em excesso, pesada. O prazer em se ver o filme se esvai na direção dura de Brooks. Nota 5.
HANGMAN'S HOUSE de John Ford
Filme pseudo irlandês, da fase muda de Ford. Tem belo trabalho de fotografia e se assiste com belo interesse. Mas está longe das obras-primas do mestre maior. Nota 6.
LES AMANTS de Louis Malle com Jeanne Moreau e Alain Cuny.
E Malle continua sua obra sobre a culpa. A não-culpa, no caso. Uma chatíssima burguesa entediada tem um amante. Diverte-se com ele como quem compra um novo casaco. Mas o marido, esteta chato, convida o amante e a amiga da esposa a passarem um fim de semana na mansão do casal. No caminho a esposa infiel conhece jovem e arruma um novo amante. Nada de culpa e nada de drama. Malle é um grande diretor : mostra o tédio e jamais nos entedia. O filme flui lindamente e tem uma fotografia em p/b brilhante ( de Henri Decae ). Moreau, atriz que não me agrada, está aqui sensual e muito bem. O filme arrisca em seu final : o apaixonar-se dos dois tem todos os hiper clichês de uma nova paixão. Sentimos enjôo. Mas funciona, vemos toda a tolice do se apaixonar por tédio. As cenas são plasticamente belíssimas, mas o que eles dizem é chocantemente tolo. O filme se faz comédia estratosférica. Malle sabia tudo. Nota 7.
PAL JOEY de George Sidney com Frank Sinatra, Kim Novak e Rita Hayworth
O azar de Kim Novak foi seu contrato com a Columbia. Ela era muito mais do que o studio acreditava. De qualquer modo ela esteve em dois anos em Vertigo e em Pic Nic. E neste Pal Joey, onde ela rouba o filme. Linda e vulnerável. Sinatra é um cantorzinho mulherengo fracassado, que tem sua grande chance ao conquistar viúva rica ( Rita muito abatida ). O filme tem na trilha "My funny Valentine", "The lady is a trammp" e "Bewitch", todas de Rogers e Hart. Precisa mais ? São três das maiores canções já escritas. Mas o filme sofre de um roteiro pouco inspirado, bobo. Melhora quando Kim aparece mais e Sinatra se humaniza. Em tempo : no filme Frank conquista toda mulher que deseja. Sua teoria é : trate a mulher sempre como ela não espera. A bonita como se fosse feia, a feia como bonita; a deusa como vagabunda, a vagabunda como deusa; a séria como palhaça e a palhaça com seriedade. Isso é puro Sinatra ! Nota 6.
A PARTIDA de Yojiro Takita
Fuja deste chatíssimo exemplo de filme vazio e sem porque. Deve agradar ao tipo de público bonzinho. Mas é exemplo do vazio absoluto de idéias e de projetos do atual cinema japonês. Chato pacas!!!!! nota zero.
A FRONTEIRA DA ALVORADA de Philippe Garrel com Louis Garrel e Laura Smet
O diretor, séculos atrás, foi namorado de Nico. Este filme recorda isso. Tem os piores tiques moderninhos dos anos 70 levados aos xoxos anos 2000. O filme é uma imensa crise existencial que só pode interessar a quem a vive e nunca a nós que a assistimos. Exemplo de filme masoquista. nota zero.
AVANT-GARDE
Houve um momento na história do cinema em que ele precisou se definir. Ou se assumia literatura, ou se fazia arte plástica. Venceu a literatura, e o cinema que hoje conhecemos tem história. Tem enredo, personagens e narrativa pessoal. Esta coleção de dvds, mostra a vertente derrotada, a turma que via no cinema algo próximo a fotografia e a pintura, imagens, puras imagens em movimento. Se alí fosse percebido algum sentido literário seria por mero acidente. ( Aliás, uma pintura pode contar uma história. Mas não é o principal. O que define a pintura é sua realidade como imagem, como puro visual. E isso lhe justifica, lhe basta. )
O que vemos nestes videos são curtas de artistas que filmaram imagens em movimento. Alguns são completamente aleatórios, outros possuem enredo, mas todos têm o fascínio da imagem solta, livre, sensual. Se os video-clips tivessem alma seriam assim. ( E a gente nota que todo diretor de clips assistiu e estudou estes filmes ! ). Que filmes são estes ?
Man Ray é o que mais me tocou. São quatro curtas desse irriquieto fotógrafo americano, que viveu a boemia francesa como poucos. A ESTRELA DO MAR é uma das maiores obra-primas que já assisti. São cenas de um prazer imenso, de absurda sensualidade, onde toda imagem é uma nova surpresa. Mas os outros três mantém o mesmo nivel : maravilhosamente surreal. Mas há mais. Hans Richter com cenas de força e de ritmo vertiginoso, Charles Cheeler e suas tomadas de Manhattan baseadas em Whitman, BALLET MECANIQUE de Léger, famosíssimo curta que merece a fama que tem, há ainda a obra-prima de Germaine Dullac LE COQUILLE ET LE CLERGYMAN, filme encantador como sonho e como viagem de ópio, BRUMES D'AUTONNE de Dimitri Kirsanoff, com imagens de melancolia obsedante. E esse burlesco CHATEAU DE DÉ de Man Ray, que é um monumento ao nada. Todos são fantásticos, como continentes perdidos, um mundo cinematográfico abandonado, porém é mundo vivo, moderno, instigante e transgressor. Conhecer estes filmes é ver aquilo que esta arte poderia ter sido, aquilo que em seu inconsciente ela quer ser : livre. Impossível dar nota a tal monumento. Assita e se surpreenda.

pather panchali- a canção da estrada- satiajit ray

Meu caro senhor Ray.
Fazem mais de vinte anos que ouço falar em seu dom. Fazem mais de vinte anos que o senhor atiça a minha imensa curiosidade. Como seriam seus filmes ? Porque são tão amados ? O que faz com que o senhor seja chamado de o mais nobre dos cineastas ?
Bem... hoje finalmente comecei a saciar essa curiosidade. Assisti a Pather Panchali. Foi uma honra.
Primeiro a música. Que coisa misteriosa e bela é a música de Ravi Shankar feita para seu filme. Toda a India está contida nessa música. Toda a raiz de todas as árvores do mundo, portanto. É inebriante. Profundamente alegre e misteriosamente triste.
Depois os atores. Onde os achou ? A avó é tão real que chega a se sentir seu cheiro ! O pai é um pateta adorável e a mãe tem o medo e o amargor de todas as mães. A menina é maravilhosa e Apu... como o senhor conseguiu imaginar uma cena tão simples e tão especial como a primeira cena com o nascido Apu ?
O roteiro. Nada de especial acontece. A miséria é absoluta. Mas alí tem alguma coisa de muito especial, de muito original. A casa aos pedaços, os animais que são muitos e sempre presentes, a sujeira abjeta, a fome. Mas o senhor não chantageia com nossos sentimentos. Sua obra não é melosa e não é fria. É real.
Me conte por favor : como conseguiu uma sequencia tão maravilhosa como aquela da chuva ? Vemos insetos brincando sobre a água. O vento. E a chuva. A menina, numa cena inesquecivelmente perfeita, dança debaixo da chuva e corre para o irmão que sorrí. Depois aquela noite de horror e a volta do pai. Como o senhor conseguiu tanta beleza com tanta simplicidade ?
O momento em que o pai descobre o que aconteceu... são dois minutos que bastariam para colocar seu nome entre o dos grandes mestres. Mas este seu filme tem muito mais segredos.
Ele é épico, ele é forte, ele é poesia pura.
Termino lhe agradecendo por ter feito tal oferenda para a vida e celebrando a honra de ter podido apreciar tamanha maravilha do engenho humano. Seu filme repercute até hoje. Tudo aquilo que o terceiro mundo fez de melhor nasce e está contido aqui. Neste inesquecível e milagroso Pather Panchali.

Sinceras homenagens e carinhosas palavras deste teu novo fã e amigo.