Mostrando postagens com marcador séries de tv. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador séries de tv. Mostrar todas as postagens

SOBRE A TV

Estava vendo um programa de culinária na TV. Oberve, não é gastronomia, é culinária. Uma senhora cozinha um peixe e leva quarenta minutos nisso. Com vagar, ela corta os ingredientes, dá a lista, cozinha. É quase impossível voce não aprender a fazer o tal peixe. ------------- Em outro canal, americano, 3 chefes disputam um prêmio. O que vemos? Uma sucessão hiper editada de facas que cortam, panelas sendo colocadas ao fogo, liqueidificadores triturando, relógio que corre. Nessa confusão nervosa, é impossível voce aprender a cozinhar aquilo que eles fazem. Então porque voce assiste tal programa? Porque ele dura apenas 15 minutos. Porque ele parece correr. PORQUE ELE TEM O RITMO DA MINHA VIDA HOJE. E assim não me causa estranhamento. Ele é apenas um ruído de fundo que eu observo sem ver. ------------------- A TV nunca foi tão sem razão de ser. Ela não serve para mais nada. Não informa, não forma, não diverte também. Ela se assumiu como aquilo que sempre foi, um eletrodoméstico, um aparelho que emite som e cor e para o qual olhamos como quem olha a janela. Um olhar apagado de quem nada tem para fazer. ------------------ Um casal pelado sobrevive no mato por 21 dias. O que eles fazem ? Sofrem. Só isso, sofrem. As pessoas observam aquilo sabendo que não irão morrer, mas vão sofrer. Caso voce não saiba, LARGADOS E PELADOS é o cinema de aventura em sua pobreza máxima. O casal de herois colocado numa situação de perigo controlado. O enredo previsível. O final de alívio. Venceram. Aventura sem enredo. Personagens sem caráter. Atores sem atuação. Um esqueleto. --------------- Assim como é o BBB, caso voce não saiba, um grupo de pessoas interagindo num espaço restrito é o Teatro levado também à sua máxima pobreza. --------------- Tudo hoje é assim, quando não é pior. Pessoas reformando casas. Gente consertando carros. Documentários em que o documentarista é mais importante que o tema do documentário. ( O tema passa a ser o homem que faz o doc e não aquilo que ele mostra ), programas de viagem em que a paisagem é hiper editada, quando não tapada pelo rosto do apresentador que nos diz como aquele lugar é lindo ( mas tudo que vemos é seu rosto olhando a paisagem ). Dessa mixórdia de programas, são doze canais, a impressão que fica é que além de tudo ser barato, pobre, rasteiro, são programas que não só apresentam algo, como também USUFRUEM DO QUE É MOSTRADO. É como se ao espectador nem mais fosse dado o direito de ver e ouvir, apreciar e tirar conclusões, pois eles mesmos fazem isso por nós. ------------- Por isso hoje se mostra o cozinheiro comendo o que fez, o apresentador elogiando o programa onde ele atua, o BBB sendo um personagem que não é dubio pois é ele mesmo. É uma TV sem ficção, onde até mesmo aquilo que se apresenta como ficção tem de ser baseada em fatos reais ou ser uma biografia de uma vida dita real. --------------- Uma das mais belas características do homem é a ficção. Conseguimos criar algo do nada, inventar algo que não existia e fazer com que um grupo de pessoas participe de nossa invenção. Não mais. Pois mesmo quando uma completa ficção como Batman ou Conan são feitos, não é mais uma invenção que surge do nada, é uma produção baseada numa invenção que já se tornou fato cultural. --------------- Estaremos perdendo o dom de criar e de crer na criação?

PEPE LE PEW E O CANCELAMENTO DOS AUTO CANCELADOS

Após cancelarem Tom e Jerry por "estimular a violência", cancelaram o gambá da Warner, por "ser um péssimo exemplo de assédio". Como dizia Nelson Rodrigues, a burrice não tem limite, a inteligância sim. Assisti esse desenho a vida inteira, e mesmo assim sou tímido. Eu o achava apenas bem chatinho. Era o único desenho da linha Pernalonga que eu não gostava. Os canceladores, burros, não percebem que Pepe é ridículo, que ele é na verdade a exposição do quão ridículo é um romantico daquele tipo. Mas eu posso ir mais ao fundo da questão. ------------------------------ Educados no absolutismo da filosofia de Rousseau, é um povo cancelador porque eles realmente acreditam que toda criança nasce perfeita, um anjo de bondade, e que a sociedade, sempre má, a corrompe. Logo, nessa linha de pseudo raciocínio, se o anjo não olhar cenas de violência ele não será violento, e se ele não assistir um gambá assediador, ele não será um macho escroto. Estou rindo agora. Gambá assediador. OLhe onde chegamos....------------------------------------- Eu cresci amando 3 desenhos sobre todos os outros ( e quando amo alguma coisa eu sou maníaco ). Manda Chuva. A Corrida Maluca e Jonny Quest. Manda Chuva não fez de mim um vagabundo de rua. E não me ensinou a ser malandro. A Corrida Maluca não me deu fetiche por carros e corridas. E Jonny Quest não exaltou meu senso de aventura e de enfrentar mistérios. Meus cães nem se chamam Bandit. Se hoje sou o que sou isso se deve às tendências inatas que tenho, combinadas à educação familiar. Isso é que forma o caráter. Todo o resto é consequência. ------------------------------------ Os canceladores, povo de uma burrice atroz, não entende sutilezas. Para eles tudo é preto ou branco. Então, se Rousseau diz que um bebê é um anjo, tudo nele que se revelar ruim no futuro, terá sido obra de uma influência social má. Cabe a eles, seres iluminados, filtrar a substância do mundo. Um STF mundial. -------------------------- Maior sintoma da doença de uma civilização, a censura é sempre um mal. E hoje ela se sente no direito e no dever de ditar aquilo que podemos fazer dentro de nossas casas. É uma inquisição moral. Felizmente, tão ridícula que se torna vã.

GAME OF THRONES - HBO.

  Esperei bastante tempo e agora assisto o box da série. Era óbvio que um dia eu iria topar com esta produção. George R.R. Martin escreveu um sub sub sub Tolkien. No lugar das mensagens religiosas temos sexo e sangue. É uma mixórdia de idade média sem misticismo algum. As mulheres são atrizes de filme pornô soft e se comportam como tal. Os atores são xerox de uma xerox de algum filme juvenil dos anos 70. O anão, bela criação de Peter Dinklage, é a única coisa a se salvar. Tem vida, tem humor, é tão crível que parece ser parte de outra série. O sucesso se deve ao sangue. Todos parecem músicos de alguma banda de hard heavy speed core. Quando um deles vai comer uma rena, se mostra o bicho sendo estripado e esfolado. Legal né!!!
  Tem sexo, tem espada, tem sangue. Não tem magia. Mas então, se é tão ruim, porque assisto dois boxes seguidos...
  Por dois motivos. Primeiro porque ele tem algo que nos prende de uma forma básica, visceral: o mal. Os vilões são odiáveis e assistimos para ver a vingança do bem sobre eles. A injustiça é exagerada, despudoradamente exagerada. Impulsivamente queremos seu fim, sua destruição. Noveleiros da Globo deveriam aprender aqui a criar emoção. E o segundo motivo é que com a grande melhora da tecnologia da tela de TV, houve uma melhora, natural, na imagem de coisas feitas para a TV. Até 1995, fazer TV era escrever bons diálogos. A partir de então, a fotografia para a TV começou a se tornar cuidadosa, porque os aparelhos podiam reproduzir uma boa imagem. Esta série tem cenários bons, imagens boas, e isso nos embala.
  Dizem ser a coisa de maior sucesso nos últimos 5 anos. E 5 anos em TV equivale a uns 20 anos em cinema. É uma porcaria sem sentido nenhum. E ao mesmo tempo nos fisga e nos faz assistir. Isso é TV.

SUPER GALO, SUPER CHICKEN, SUPER SUPER.

   Assistindo um box que tem George, O Rei da Floresta; Tom Sem Freio e O Super Galo ( Super Chicken ). Eu os assistia em 1977, na TV Tupi canal 4, as 15:30 hs. Nunca esqueci. Lembro que a primeira vez que os vi, achei a coisa mais doida do mundo. Eles eram maravilhosamente esculachados. Livres.
  Retratos de uma época, foram feitos em 1967, época do Batman de Adam West, dos Monkees, do começo do Monty Python e dos Smothers Brothers. Nesse tempo as cores tinham de ser fortes, psicodélicas e a moda era ser engraçado. A palavra de ordem era relax. Não levar nada a sério, principalmente  a seriedade. A grande doença da época era a esquizofrenia ( hoje é a depressão ).
  As trilhas sonoras de abertura, dos três cartoons, são uma obra prima. George é uma cacofonia de tambores, Tom Slick um tipo de rock big band corrido e Super Chicken é uma melodia excêntrica de banda marcial com musiquinha de circo freak. Os roteiros são ainda melhores. Tudo é de um esculacho delicioso, tirando uma de todas as convenções banais. George é um idiota. Tom é um americano hiper campeão. E o Galo é um almofadinha que vira herói azarado. O bem sempre vence. Mas a vitória é ridícula.
  A dublagem é outro ponto muito, muito alto. O narrador não crê nos heróis que deve exaltar, a voz do Super Galo é totalmente chicken e a coroa de Tom Slick é uma avó do yea yea yeah. A Odil Fono Brasil-Guanabara dá mais uma prova de quê a dublagem show foi aquela feita entre 64-69, as vozes que são tão queridas quanto as histórias que acompanham.
  Nos meus reencontros com velhas séries e velhos desenhos, cerca de 90% são decepções. E sobre elas nada escrevo. Melhor esquecer. Mas estes 3 cartoons merecem sua eternalização em DVD. Blu Ray. Rede Mundial. Corações e mentes. A geração que os viu aprendeu a zombar de tudo. E desde então nunca mais deixamos de rir.

O Super Galo Dublado



leia e escreva já!

Seinfeld Sings Super Chicken



leia e escreva já!

MEMÓRIAS DE BRIDESHEAD - EVELYN WAUGH, UMA SEGUNDA LEITURA.

   Meu primeiro contato com Waugh foi através da série inglesa, em 24 capítulos, que passou na TV Cultura, legendada, em maio de 1988. O elenco era absurdo de tão sublime: Jeremy Irons, Laurence Olivier, John Gielgud, Claire Bloom. A série passara em Londres em 1981, e na época mudara toda uma geração de jovens ingleses conservadores. O Bowie de Let´s Dance é cópia visual do Sebastian Flyte da série. Bandas pipocaram imitando o visual anos 20 da série, de Style Council à Spandau Ballet. A fotografia da série e a trilha sonora eram sublimes. Natural que eu me apaixonasse. Nos Jardins, em SP, as pessoas se reuniam às quintas, com whisky e chá, para assistir um novo capítulo. Era ultra chique.
  Depois, via Paulo Francis, Sérgio Augusto, Matinas Suzuki, passei a entender quem fora Evelyn Waugh. Um famoso autor inglês, ativo dos anos 20 até os anos 60. Escrevera vários livros de sucesso. Famoso pela sátira, pela verve, pelo humor agudo. Brideshead é seu único livro "sério". Mas mesmo assim há algo de patético em certas descrições e diálogos. Waugh se converteu ao catolicismo ao fim da vida. Era gay. Bebia bastante. Ficou rico.
 Charles Ryder conhece Sebastian Flyte em Oxford. E essa primeira parte do livro é a melhor. Waugh nos faz amar Oxford, descreve a universidade com brilho. O amor gay entre Ryder e Flyte nos enleva. Ryder é ateu e plebeu, apesar de rico; Sebastian Flyte é hiper nobre e católico, uma estranha minoria na Inglaterra. Além dos dois temos vários personagens vivos e sempre interessantes, Anthony Blanche, uma bicha afetadíssima, o pai de Ryder, um velho engraçadíssimo, desligado e sovina; a mãe de Sebastian, carola e sofrida; o pai, um homem que fugiu da Inglaterra e virou um tipo de pecador boa vida. E muito mais...
  Com o tempo, Ryder se torna amigo da mãe de Sebastian, e isso os afasta. Sebastian se torna um bêbado e decai até as ruas do Cairo. Ryder se apaixona pela irmã de seu ex-namorado, a bela Julia. E o resto não conto.
  Não estranhem, o livro diz claramente que todo jovem inglês ou alemão aprende a amar com um amigo do mesmo sexo, e depois se torna hetero aos 20, 21 anos. Em países latinos isso é incompreensível. Nos EUA também não há esse "segredo". Não sou inglês então não tenho como saber. Mas não se engane, o tema do livro não é o sexo, é na verdade a decadência. O fim da era das casas de campo, dos criados, de um estilo de vida que morre na Segunda Guerra. A falência dos aristocratas e da vida aristocrática. O segundo tema, ligado ao primeiro, é a sobrevivência do sagrado no mundo moderno. A " Luzinha vermelha" que ainda está acesa, embora discreta.
 O livro é um dos 10 favoritos de minha vida. A série, idem.
 Reler foi um imenso bem.

SÉRIES DE TV: MASH E SEINFELD, AS DUAS MAIS ICÔNICAS

   Mash. Lembro de quando eu tinha uns 12 anos. Ela era exibida na TV Bandeirantes. Sábado, dez da noite. Nunca fez sucesso aqui. Eu nunca assisti. Comprei um box agora. Comento.
   Para quem não sabe, MASH tem o recorde de audiência da TV americana ( se não considerarmos os jogos do futebol americano ). O último episódio, em 1983, bateu esse recorde. Ela começou em 1972 e logo estourou. Baseada no filme de Robert Altman, temos os mesmos personagens no mesmo ambiente. Um centro médico na guerra da Coréia. No lugar de Donald Sutherland entra Alan Alda, e no posto de Elliot Gould vem Wayne Rogers. Funciona. O humor continua amargo, niilista, atirando pra todo lado. Penso que esse humor seria impossível hoje. Não porque não se faça crítica, mas hoje a destruição tem um alvo. Aqui não há alvo. Se atira. E se destrói. Me surpreendo notando que a série de TV tem mais ligação com os Irmãos Marx. Hawkeye fala como Groucho. Passam o tempo bebendo, transando e afrontando a ordem militar. São hippies médicos. Às vezes a coisa fica bem triste. Uma série que caiu como uma luva nos anos 70.
   Assim como Seinfeld é a cara dos anos 90. Nada faz o menor sentido. Ou faz sentido demais....Há uma lógica dentro dessa loucura e a sacada de Jerry Seinfeld e de Larry David é levar o roteiro até seu fim lógico. Se uma bola é arremessada, vamos acompanha-la até ela parar. O modo como se arquiteta tudo é uma aula de escrita: cada história corre paralela a outra e ao fim todas trombam numa coda musical. Jerry não atua, observa e comenta; Kramer é genial, um clown assustador; Elaine é a amiga doida que todo mundo precisa e Jason Alexander faz o mais infame e ridículo dos amigos. A mistura funciona. São tão pouco charmosos que ficamos intrigados. Não fosse tão inspirada seria um desastre.
  Nas famosas listas de melhores da TV eu já vi Seinfeld ganhar como a melhor de todos os tempos. Já vi MASH vencer. E na última que vi Seinfeld era a segunda melhor e MASH a terceira. ( Venceu BREAKING BAD...deve cair com o tempo...).
  Em termos de humor, são os ícones.

O AGENTE DA UNCLE- GUY RITCHIE ACERTA MAIS UMA

   Este filme funciona muito bem porque retrata de um modo não caricato, de um modo confiante, o mais cool dos períodos históricos, aquele entre 1959-1965. O tempo da guerra fria e do medo da bomba, mas também o tempo de Dior, St.Laurent, BB e do cool jazz.
   O AGENTE DA UNCLE foi uma série inglesa que meu pai adorava. Lembro muito vagamente da TV ligada à noite, eu brincando no tapete e os adultos assistindo aquela coisa barulhenta e que eu já percebia ser muito cool e muito sexy ( eu juro que aos 6 anos eu sentia as vibrações daquele momento especial ). A série fez enorme sucesso e depois virou cult. Robert Vaughn e seu personagem Napoleon Solo se tornaram nomes tão icônicos daquele tempo como James Bond ou Inspetor Clouseau. E havia ainda David McCallun no papel de Ilya, o russo do bem ( mais ou menos do bem ).
  As pessoas compram a ideia de que a TV está agora em seu auge. A TV SEMPRE vende a ideia de estar em seu auge. Ela se vende, isso é normal. No tempo de UNCLE havia Missão Impossível e Star Trek, A Feiticeira e Hawaii 5.0...nada mal. Besteira também dizer que o cinema pega hoje atores da TV. Em 1964 Clint Eastwood era um ator de TV e só da TV. Well....
  Guy Ritchie é um bom diretor. Ele tem senso visual, ritmo, e aqui ele consegue ir mais devagar, quase no ritmo de 1964. O filme não é só ação, aliás seus melhores momentos são todos em diálogos. E surpreendentemente os jovens atores se saem muito bem. São bonitos sem parecer bonecos e sabem ser elegantes sem parecer meninos usando as roupas dos pais. O filme tem ainda uma boa trilha sonora que usa despudoradamente os climas que John Barry, Lalo Schiffrin e Qincy Jones punham nas cenas de então. Mas o melhor é mesmo o visual, a doce beleza moderna das roupas, a alegria suave dos objetos, a ousadia otimista dos cenários. Vemos de novo a Roma rica de Fellini e a Berlin cinza dos filmes de espionagem. A diversão se garante. É um filme para a geração que ama MAD MEN e 007.
  Existem falhas, e como em todos os filmes de Ritchie, há uma momento em que o excesso de exuberância cansa. Mas a coisa anda e na verdade já estamos ganhos faz muito.
  Guy é o cara.

RIN TIN TIN, A VIDA E A LENDA-SUSAN ORLEAN, UM LIVRO TRISTE, AMARGO E BONITO.

   Mas que livro terrivelmente triste! Escolhido pelo New York Times um dos melhores livros de 2011, a própria autora confessa ter ficado deprimida nesses dez anos de pesquisa que levou para escrever este livro. 
   Alguém não sabe quem foi Rin Tin Tin? Penso que aqueles com menos de 40 anos não sabem, mas TODOS com mais de 40 sabem. Eu o conheci na TV, As Aventuras de Rin Tin Tin foi provavelmente a primeira série que assisti na telinha. Foi produzida nos EUA, pela ABC, entre 1954/1960. Aqui passou por toda a década de 60/70, e devo ter visto logo em 1966-1967. Meu pai adorava e me colocava para ver. Rin Tin Tin ou Zorro, uma das duas foi minha iniciação ao mundo da ficção. O sucesso televisivo foi imenso e foi mundial. TODO o mundo assistia a série de TV. Por mais de 30 anos ele rodou mundo afora. Mas vamos ao inicio...
   No começo do século XX houve um garoto solitário do interior da América. Lee Duncan, um solitário, amava bichos. Serviu na primeira guerra mundial, na França devastada. Primeiro fato triste do livro, o fato de que num mundo préTV, a Europa era tão estranha para um americano comum como a Lua. Comida, gente, paisagem, clima, tudo era assustador. E o inferno da guerra química, das trincheiras, das amputações, das mortes às centenas. Lee Duncan, um dia, invadiu uma fazenda destruída. Norte da França, lama, fogo, frio, cinzas, cadáveres. Ele vê uma construção que deveria ter sido um canil. Montes de cães mortos, e de repente um gemido. Uma fêmea de Pastor Alemão sobreviveu, com quatro filhotes. Lee Duncan, o caipira solitário, os salva. Milagrosamente todos sobrevivem na guerra. Ao final, em mais um golpe de sorte, Lee consegue trazer um deles para os EUA, num navio lotado. Volta ao sítio, pobre, e cria esse cachorrinho que lhe restou. Andam pelos bosques, sobem montanhas, ficam inseparáveis. O nome do cão é Rin Tin Tin. 
  Lee ensina truques ao cão e começam a fazer shows pelas estradas. Vão à Califórnia e acabam no cinema. Rin Tin Tin começa a fazer filmes de cinema, longas, é tempo do cinema mudo. São cinco, seis filmes por ano, e mais um milagre ocorre: Rin Tin Tin salva a Warner da falência! Ele se torna a estrela mais querida e mais conhecida do cinema americano. Seus filmes rodam o mundo, ele viaja, ganha dinheiro, se torna um mito. 
  Quem viu os filmes, eu nunca os vi, diz que ele era mesmo surpreendente. Rin Tin Tin conseguia ter expressões faciais, conseguia comover com seu olhar triste. Os filmes repetiam sempre o mesmo tema, o conflito entre o selvagem e o domesticado, conflito que ocorria dentro do cachorro-ator. Como os filmes eram mudos, Rin Tin Tin era como mais um ator, já que todos eram mudos. Sem precisar de dublagem ou legendas, os filmes, como os de Chaplin e Keaton, eram entendidos em todo o planeta. Mas...
  Com o cinema falado seus filmes foram perdendo público. Agora os atores falavam e um cão não podia falar. Os animais passaram a servir apenas para cenas secundárias, de humor, de pastelão. Lee Duncan, que via Rin Tin Tin como um tipo de nobre, não aceitou a vulgarização de seu astro e se afastou do meio. Voltou ao sitio. 
  Rin Tin Tin morre. Os filhos dele continuam seu legado. Alguns aparecem em exposições, em filmes mais dignos, e nos anos 50 ressurgem na TV. A série, sucesso imenso, inaugura em 1954 a era do merchandising. Roupas, botas, chapéus, revistas, discos, mochilas, brinquedos, tudo com a marca Rin Tin Tin. Lee Duncan nunca soube ganhar dinheiro, foi explorado e mal conseguia sobreviver. O cão ator, tataraneto do Rin Tin Tin dos tempos da guerra, tinha talento, não como o primeiro...
  Ficamos sabendo que foi o primeiro Rin Tin Tin que popularizou a raça dos Pastores Alemães, mais que isso, foi a partir dali que as pessoas começaram a educar seus cães, a permitir que eles vivessem dentro da casa e não mais jogados no quintal. Rin Tin Tin humanizou os cães, urbanizou os animais, revolucionou costumes. Antes da Disney, foi ele o bicho que fez com que as pessoas deixassem de olhar animais como bestas. Rin Tin Tin mudou o mundo. 
   Mas é tudo tão melancólico....Lee Duncan nunca deixou de sentir falta do primeiro Rin Tin Tin. Foi feliz apenas nas caminhadas com seu cão, no começo de tudo. E o produtor da série, homem de talento que depois faria as séries Rota 66 e Naked City, também morreu falido, querendo reviver o mito de Rin Tin Tin. 
   A autora percebe que a história de Rinty é a história do país. Da ingenuidade dos caipiras solitários, à ambição dos advogados e executivos. Do espaço sem fim à vida ordenada das cidades. Rin Tin Tin lembrava a uma América recém urbanizada ( foi em 1919, ano do primeiro filme, que pela primeira vez a população urbana passou a rural ), a vida que eles não mais podiam ter. Daí o amor-paixão que todos davam aquele cão. A partir dos anos 60, quando as raízes rurais já começavam a morrer, Rinty, assim como os westerns e os cavalos, começou a nada mais significar. Mas Susan, assim como todos que o viram em sua segunda incarnação, na TV, nunca esqueceu de Rin Tin Tin. Triste e belo livro.
  PS: Meu primeiro cão foi um imenso Pastor Alemão chamado Bucky. Apesar de meu amor por Boxers, nenhum cachorro que tive depois de Bucky tinha a metade de sua inteligência.

KARL PILKINGTON E JIM HOLT, A INQUISIÇÃO LAICA.

   Leio em alguma revista que Jim Holt lança um novo livro que discute a única questão filosófica que me importa: Por que o mundo existe?
   Essa é a questão levantada por Leibnz em 1710. Uma questão base de toda a filosofia, matemática, física modernas. Holt evita cuidadosamente toda religião. Ateu, tenta abordar a metafísica sem invocar nada de sagrado. Óbvio que não consegue. Toda questão que se coloca além da nossa escala temporal/material se torna religiosa. O preconceito de Holt faz com que ele se limite. Mas o livro serve para deixar ateus mais nervosos e religiosos em dúvida sobre seus dogmas.
   Vamos a questão. Por que o Nada originaria algo? Se houve um Nada, uma situação em que não existia matéria, tempo e espaço, como desse Nada poderia advir algo? Por outro lado, se sempre existiu alguma coisa, de onde ela surgiu? Mais além, se esse Algo existe desde sempre, então o tempo não pode ser real pois esse Algo desconhece tempo e tamanho.
   Se houve uma explosão primordial por que ela aconteceu? E o que havia antes desse momento Um?
   Voltamos a questão: Se havia um Nada, o que o fez Ser?
   Religiões muito antigas falam de chuva de fogo que originou a vida. De guerra entre deuses terminadas em kaos e explosões. Cobras que comem a própria cauda. Vida como continuação do Nada, sendo o Nada a realidade e o Aqui a ilusão. Essa a falha de Holt. Mesmo ateus devem estudar as religiões porque elas se colocam essa questão desde sempre. Incapazes de raciocinar em termos simbólicos, eles e prendem às imagens de deuses e heróis e não conseguem perceber que são imagens, versos num narrativa, modos de se contar uma percepção.
   Se tudo é movimento por que há a ideia de repouso?
   Se tudo foi repouso, o que causou o movimento?
   Afinal, o que sabemos sobre aquilo que realmente importa
   Mudando de assunto.
   João Pereira Coutinho é hoje o melhor da Folha. Ele escreveu sobre Karl Pilkington, ator-personagem de uma série inglesa. Nessa série, Karl, que abomina viajar, é levado a lugares como China ou Egito. E, que beleza!, ele detesta tudo. A série é um hit, o que leva Coutinho a perguntar o porque de uma figura tão rabugenta fazer sucesso. ( Não esquecemos de WC Fields ).
   Sua coclusão é a de que Karl Pilkington nos alivia da atual "FOGUEIRA DAS INQUISIÇÕES LAICAS". Ele fala que comer baratas é coisa de gente suja e louca, que o calor e a miséria nada têm de "charmoso" e que hotel ruim e costumes ridículos são RUINS e RIDÍCULOS. Ele é um ocidental, mais que isso, um inglês, que tem a coragem de ser o que é. Orgulhoso de seu conforto, seu desenvolvimento e de sua civilização. Adoraria ter uma caixa dessa série.
    Porque tenho sofrido na pele as chamas dessa inquisição.
   

MONARQUIA, PAPA E TV.....bééééééééééééééééé.....

   Estamos tendo a chance de fazer um flash-back à época medieval. O Papa Francisco está entre nós. Ele, assim como sua religião, só fazem sentido se vistas sob o ponto de vista pré-Lutero, pré-Calvino. O catolicismo é religião de Uma única verdade, Uma única Terra e um ùnico Líder. O Papa. Tudo que a igreja romana diz fora desse dogma é verniz. Assim como o Islã, também medieval, o catolicismo prega a conversão e a fé única.
   Adoro Dante e Giotto. Talvez ser medieval seja um elogio. Mas em nosso tempinho transitório onde tudo pode ser verdade e nada é mentira, onde todos querem e ninguém se submete, Nada é mais "antigo" que um Papa.
   Ou um herdeiro ao trono inglês. A familia real britânica é bastante "vira-lata". Se a compararmos com a espanhola eles caem a posição de sub-vira-lata. Houve um momento em que a familia real caiu no buraco. Não havia herdeiro. Para que uma familia católica não voltasse ao poder foi importada uma familia alemã, o ramo de primos em segundo grau, os Hannover. Essa a familia real inglesa, alemães. Desde George, pai de Vitória. Ele nem inglês falava. No meu século, o XX, houve até um herdeiro nazista, Eduardo, o irmão do rei gago feito por Colin Firth no Discurso do Rei. Olhar para Andrew é ver um cara de Hamburgo.
   Caramba! Aprendi tudo isso com Paulo Francis e consegui escrever no estilo curto dele. Waaallll....
   Voce já foi ver Da Vinci e Rafael em SP? Não? Então vá! Outra chance só na Itália.
   Andei dando uma geral em séries de TV. Aquelas que "todo mundo" gosta. Todo mundo...hum...alguém fala mal delas? Acho que não pega bem né? Voce pode ser chamado de snob ou de brega, sei lá. Mas que é estranho é. Parece que ninguém se deu ao trabalho de as olhar com padrão elevado. São comparadas a filmes ruins ou a séries antigas que ninguém recorda. Ora, vamos lá! A fotografia continua a ser um lixo. O que mudou é que hoje 90% dos filmes também tem uma fotografia pobre, cheia de closes e cores frias. O que acontece é que esse povo, analfabeto estéticamente, vai comparar essas séries com o que? Outra coisa que se fala: Roteiros do caraca...hum....bons diálogos, é um fato. Mas é só isso. O único mérito é o de durar menos que um filme de cinema. São dez minutos de bons diálogos e o resto se repete na semana que vem.  Também se fala que "grandes atores" migram para a TV. Kevin Bacon? Charlie Sheen? Sigourney Weaver? Hugh Laurie? São todos atores sem mercado em cinema. Vou acreditar nisso quando Brad Pitt, Johnny Depp ou Robert Downey fizerem uma série de TV. Antes dos 60 anos claro.
   Abram os olhos e parem de crer na propaganda. TV continua a ser veículo de anúncios. O anunciante manda. E mesmo a "Meca da Arte", HBO, depende da vontade de suas centenas de donos de ações e dos anunciantes top. Quanto a FOX, Warner e Sony, elas fazem séries como vendem brinquedos, celulares ou tablets, criam um hype e mandam brasa. Tudo que vi nesses meses foram sets mal iluminados, atores falando baixinho, temas que variam entre doenças e serial killers e sempre um personagem neurotiquinho pra fazer tudo cheirar a coisa original. 
   Então tá Jeeves.
   Tem gente que não lê pra poder ver Saramandaia. Tem gente que não assiste sua caixa de Fritz Lang pra poder ver a novela das nove. Tem gente que deixou de ler pra ver as séries da Universal. Tudo a mesma coisa. Só muda a lingua e a iluminação do cenário. Lixo.
   Mas eles foram espertos. Em 1900 a burguesada queria posar de culta e chique. Como dormiam nas óperas de Wagner se criou Puccini para eles. Era ópera e lhes dava a ilusão de serem cultos e chiques. Espertamente a TV faz o mesmo. Vende lixo como se fosse "coisa fina". Puccini. Nem mesmo Rossini, é puro Puccini. Povo e críticos, esses cada vez mais tentando ser simpáticos, correm como ovelhas.
   Béeeeeeeeee.....

OS REIS DOS PATOS, KENNETH TYNAN E UM LOBITO RUIM

   Nossa crítica de mal humor tem tudo a ver com aquilo que se oferece a ser criticado. Acabo de reler o livro de Kenneth Tynan e penso que muito da beleza de suas resenhas críticas são frutificadas pela assembléia de gente interessante que havia no globo para ser apreciada. Ele viveu para escrever sobre Olivier, Bogart, Miles Davis e Kate Hepburn. Estava presente em noites de Noel Coward e de Gielgud. A matéria prima para ser escrita era de primeira. Ela exigia boa crítica, bem escrita e bem informada. O maior elogio a Tynan é dizer que ele esteve a altura de seus objetos críticos. Ler este livro, inspirador e generoso em seu oferecimento de beleza viva, é tomar contato com o best of the best.
   Hoje escrevem sobre bestalhadas.
   A melhor frase do livro ( cheio de melhores frases ), "o sorriso e a personalidade de Katharine Hepburn faz mirrar gente mesquinha e desinteressante. Ela é uma ofensa aos pobres de espírito."
   Lobão, o pretensioso-que-se-acha, diz que não dá pra viver em mundo burro. Ora caro Lobo uivador, este mundo foi feito por voce. Suas canções acostumaram toda uma geração a cantores ruins, letras bobas e mensagens deslumbradamente redundantes. Acima de tudo o mundo do Lobinho é chato.
   Na lista dos 101 melhores roteiros tem tanta bobagem que nem vale a pena falar. Vi todos os 101. É uma lista sem um só filme japonês e que ignora Bergman e Bunuel. Bem...os 10 primeiros até dá pra concordar, mas depois a coisa pega.
   Os Reis dos Patos é a melhor coisa da TV hoje. É isso mesmo! TV pra mim não é arte. Ao contrário dos patetas, que são incapazes de ler um livro e pensam compensar sua idiotia via TV, procuro na TV diversão, excitação e entretenimento. Amo bobagens bem feitas. Os Patos é uma familia de caipiras ( como eu ) dos cafundós dos EUA que caçam, fazem merda e dão depoimentos hilários. Eles são ultra-conservadores. Caçam bichos. E são irresistíveis. Tem um episódio em que a espada samurai de um deles é quebrada que é ducaraca! "Também essa espada era uma porcaria!" Frase de gênio! Veja a versão dublada. É muito legal.
   Lembro que em 1976, ano em que comecei a ler jornal, em dois meses os críticos de cinema se deliciaram. Falaram, bem e mal, de TAXI DRIVER, UM DIA DE CÃO, NETWORK, ROCKY, NASHVILLE, A ÚLTIMA NOITE DE BORIS GRUSHENKO, 1900 e BARRY LYNDON.
   Temas para escrever. Espaço na imprensa.
   Sinto falta de Ibrahim Sued: De Leve!!!!!
  

TV

   Ok eu confesso! Adoro o canal Fox-Life. Veja bem, eu não tenho saco pra ver ficção na Tv. Se quero ver drama ou comédia pego um dos meus dvds e assisto. Às vezes tem algum documentário legal na Cultura ou no NatGeo. Mas em geral a coisa é terrível ( já falo do Fox... ).
   Assisto Tv entre 22 e duas da manhã. Fico zappeando, tento topar com algo que me faça parar. O que? Não suporto novelas, evito telejornais. Clips me entediam atualmente. Corro sobre os desenhos ( alguns parecem legais, mas parei na época do Pinky e Cérebro ). Sportv só vale em tempo de futebol. NBA e American Football eu adoro, às vezes vejo na ESPN. Os canais Globo são de matar!!! Nada pode ser pior que o Manhattan Connection sem Francis e Nelson Motta. Ficaram os piores. E tem uns jovens magrinhos que falam com sotaque! Afff... Fora isso, tem um monte de programas espertíssimos sobre moda e sobre moda e sobre moda. Fora aqueles sobre viagens em que o ego do cara aparece mais que o lugar onde se vai. Socorro! Sergio Mallandro é legal, mas passa tão pouco...Quero mais ié ié!!!Há!
   Sony, TNT e etc pra mim não existem. Estão fora do meu mundo. Quando passo noto sempre o mesmo: big closes em rostos de plástico. Cenários escurinhos e aquele ambiente de confessionário-antro-de-pecados-e-dores. Eita povinho masoquista!!!
   É engraçado ver os canais internacionais. Em dez minutos voce aprende muito sobre o país. Gosto de ver a NHK e relaxar. Os japoneses continuam os mesmos, falam baixinho e sempre exclamam um "Oh" e um  "Ah" entre as frases. Sempre tem matéria sobre cerejeiras, sobre peixe e sobre o Monte Fuji. Que país!!!
Na RAI em dez minutos voce vai se deparar com uma mulher de peitos grandes e um gordinho com a barba por fazer. O tempo todo tem algum programa de auditório onde se grita e se ri alto. Juro que na Tv da Alemanha sempre está tendo alguma coisa sobre ciência. Seja agricultura, quimica, fisica ou arqueologia, sempre o saber está envolvido. Téeedio alemão. Risos nunca vi. A Tv da França é um kaos. Falam, falam e falam. E depois metem um clip do nada e entra um filme hiper chato. E tem a RTP, a Tv da Terrinha. É a cara de Portugal. Tudo tão pequeno, tão simplesinho. E sempre com alguma cançãozita tristinha, alguma mãezinha a falar...
   Tento Ronnie Von, mas o "grand chef de cuisine" Zé das Silvas já se foi. Então vou pro Fox Life e lá fico.
   TV é folia, Tv é escapismo, é eletrodoméstico de relax. A Fox é ótima!
   Vejo um programa em que oito caras têm de decorar cada um seu cômodo. Alguns fazem coisas pavorosas. Em outro programa, Antonio decora casas em estilo RocknRoll. Muito divertido! Tem ainda o Million Dollar, em que decoradores fazem transformações em casas decadentes. Show de bola! E juro que não estou sendo irônico. A edição é tão rápida e os caras tão carismáticos que a coisa funciona.
    Tem um programa em que são mostrados os melhores quiosques de rua da América. Tem um outro em que dois chefs disputam um prêmio. Programas em que gente compra casa, acompanhamos o corretor. E tem os clássicos da Fox, os dois programas que primeiro descobri, isso dois anos atrás: Man vs Food e Kitchens Nightmare. Gordon Ramsey tenta salvar restaurantes quase falidos e Adam Richman prova pratos gigantes em cidades dos USA. Ele chega a comer quatro quilos de bifes em meia hora. Com bom-humor sempre. São programas que me divertem, e que nada têm de pretensioso ou de estúpido. São o que são, o lado leve da vida. Sem apelações e sem sacanagens.
    PS: Não pense que sou um xiita. Já fui fã de Seinfeld e de Frasier, de Mad About You e de Will and Grace. E acabo de ver Três, sim, Três box de Columbo. E mais um de Kojak. Ou seja, eu tenho uma antiga e forte ligação com tv. E sem culpa. Vejo às vezes A Praça é Nossa e Chaves. Mas a Tv tem estado chatinha, presa, ordinária. Hora de virar o disco, de mudar o penteado, de refazer. A Tv parou em 1993, congelamos nas novidades da HBO e nas séries da Sony/Warner. Na TV Aberta, paramos na época do escracho e das séries respeitáveis da Globo. Saturou. Ninguém merece mais MTV, mais Casseta e Planeta. E nem vou citar os execráveis Pânico e Lu Gimenez. Argh! A coisa tá tão ruim, que Domingo a Noite, sempre execrável,  tem Silvio Santos como o menos pior. A Tv fechada não tá muito pior que isso. A Fox me salva!

OS MELHORES MOMENTOS DA HISTÓRIA DA TV INGLESA. ELEIÇÃO DO BRITISH INSTITUTE.

   O site do British Institute publicou uma relação com os 200 melhores momentos da história da tv inglesa. Valem séries, filmes para tv, programas musicais, de entrevistas, femininos, noticiários e infantis. Nos EUA, na última eleição que vi, venceu ALL IN THE FAMILY, a série politicamente incorreta em que Carroll O'Connor faz um pai de familia direitista em plena era da contracultura. Na Inglaterra deu FAWLTY TOWERS em primeiro lugar. Essa série de humor passou no Multishow em 1998, e vi cerca de cinco episódios. John Cleese, recém saído do Monty Python, estrela e idealiza a série. Fala de um hotel modesto e seus problemas, Foi ao ar em 1975 e voltou em 1979. Foram apenas vinte episódios ( apesar do sucesso, Cleese não queria esgotar a fórmula ). Ela é hiper-inglesa e fez muita gente entender o que é o tal humor britânico. Eles, os ingleses, amam os Python ( como vimos no fim das olimpíadas ).
   O segundo lugar pertence a CATHY COME HOME, filme feito para a tv. É a primeira direção de Ken Loach e teve em 1966 uma audiência de 12 milhões, ou seja, um quarto da população inglesa da época. Fala do problema dos sem-teto. Acompanhamos a saga dessa garota sem lugar, tudo no estilo documental de Loach. Postei o filme inteiro abaixo. O final é de morrer de tão belo e triste.
   Em terceiro, DOCTOR WHO, a série eterna. Seu melhor momento vai de 1963 até 1989. Não postei nada sobre esta série porque todos a conhecem.
   Em quarto aquele que é considerado o melhor desempenho da história da tv em qualquer país; John Hurt fazendo a vida de Quentin Crisp em THE NAKED CIVIL SERVANT, levado ao ar em 1975. Crisp foi o maior militante gay da história inglesa.
   Em quinto aquele que eu pensei que seria o number one: THE MONTY PYTHON FLYING CIRCUS...genialidade pura na tv. A completa renovação do humor.
   BRIDESHEAD ficou em décimo lugar. Excelente!
   Penso...e no Brasil? O que foi feito por aqui que mereceria o primeiro lugar? Alguma novela? ROQUE SANTEIRO? GABRIELA?  A melhor novela que vi foi SARAMANDAIA, um exercicio surreal de Dias Gomes, onde gente explodia, virava vampiro e vomitava formigas. Mas há ainda VILA SÉSAMO, que mereceria o primeiro lugar. Ou TV PIRATA. Quem sabe?

WHITE, WHITE, JABOR, DR.REY, FRASIER, QUEEN E VITÓRIA

Arnaldo Jabor escreveu ontem sobre a experiência de se assistir um filme de ação hoje. Ele fala do ruído, do movimento sem parar, da aversão ao pensamento. As duas horas que satisfazem plenamente, mas que deixam um vazio após a experiência. Quando o filme acaba, nada fica com você. Faltou Jabor falar que o efeito desse cinema sobre a mente é idêntico ao efeito da droga. Euforia, adrenalina e depois o silêncio vazio. Vem então a dependência e a aversão a lentidão e ao tempo-morto. O cinema não é mais relevante. Ele é um tipo de passatempo oco, que ainda impressiona algumas pessoas que não conseguem ler, e usam o cinema "de arte" como grife de cultura. O cinema dito "de arte" é ainda mais vazio que o cinema de ação. Vende tédio como sofisticação, ideias velhas como coragem e absoluto narcisismo impotente como estilo. É também uma droga que deprime, acalma, pacifica. Blá!
Um milagre aconteceu! Jack White conseguiu alguns anos atrás criar um riff que se tornou tão popular como Smoke on The Water ou Satisfaction. O riff do White Stripes é cantado em todos os jogos da Euro. Um riff de rock se fazer hino é coisa que não ocorria desde 1980, quando Back in Black virou tema de jornal. Isso faz com que eu lembre de 1977, quando em meu curso de inglês tivemos aula sobre um single recém saído. Ele tinha de um lado We're The Champions e do lado b, We Will Rock You... Quem diria que naquele vinilzinho vivia a trilha sonora de todo o esporte das décadas seguintes?
Dirigir de manhã cedo escutando Barry White....em seu tempo ele era uma vergonha, hoje é chic. Eu sempre achei ele o máximo!
Mostra de filmes de Satiyajit Ray. Por um real. A Canção da Estrada é um dos mais originais e belos filmes já feitos. Obrigatório para quem nunca viu, Ray é um nobre fazendo cinema. Um quase deus olhando a miséria da vida. E se pondo em meio a seu povo. E tem uma trilha sonora de chorar de alegria. Filmes como esse fizeram do cinema uma arte central. O tacho que se raspa hoje é o tacho feito por Ray e muitos outros.
Um amigo elogia a série vitoriana da TV. Engraçado como as novas gerações só aceitam novidades vindas em pacote televisivo. Orgulho e Preconceito é a era vitoriana em seu aspecto mais bonito. Mas ninguém viu. Já a tal série.... Meu amigo sacou que aquela época é um calmante para nossos tempos. Sim. Etiqueta, valorização do "melhor" e segurança social aparente. Eu creio que o fascínio pela época de Vitória e de Eduardo vem das porcelanas e dos guarda-chuvas. Aqueles ambientes de janelas embaçadas, sofás de veludo e lareiras imponentes dão um sensação de conforto e de consolo irrecuperáveis. O Discurso do Rei exibe a fratura que matou e enterrou esse mundo. My Fair Lady é o melhor retrato desse tempo em filme. Eu amo os livros escritos nesse tempo. E.M.Foster, Conrad, Wharton, Henry James, Woodehouse....
O Saturday Night Live se revela absoluto fiasco. Pena.... Erro de cálculo. Botar um programa de humor em concorrência com bundas, sensacionalismos e a hipnose de Silvio Santos é missão inglória.  Domingo a noite é horário de vlae tudo pela audiência. Mundo cão x Mundo idiota.
Dr.Rey é o ponto mais baixo que podemos chegar?
Reassisto Frasier. O segredo de uma série de TV, aliás, o segredo da TV, é a amizade. Gente na sala, na tela de TV, se torna um tipo de amigo consolador. Se o cara na TV consegue criar esse vínculo, vem o sucesso. No cinema ninguém precisa criar amizade pelos tipos na tela para os aceitar. Na TV não é assim. A gente os recebe em casa. O Dr. Frasier é o amigo que eu queria ter. Penso que quem ama House ou amou Friends sentiu o mesmo. É por isso que a TV nunca poderá ser completamente arte. A ofensa e a provocação antipática são impossíveis na TV. Por mais crua e sanguinolenta, sempre haverá um cara bacana e uma mocinha bonita no meio da coisa. Um amigo pra se ver em casa.

séries de tv

Começo contando que Seinfeld foi eleita mais uma vez a melhor série da história. O que penso disso? Vamos ao que acho.
Toda arte melhora com o tempo. O David de Michelangelo parece melhor a cada século, as cantatas de Bach têm mais magnitude hoje do que em seu momento e Shakespeare é mais analisado a cada década.
Tv é produto e produto tem data de validade. Consumir antes que seu tempo se vá.
Recordo das várias decepções que experimentei ao rever séries que eu tanto amei. Coisas como Ultraman, que hoje parece tão entediante; Monkees que não são engraçados ( mas as músicas são para sempre ) ou Jeannie é um gênio, Kung Fu, As Panteras; todos insuportáveis.
Mas ao rever A Feiticeira encontro um encanto que na época em que a assistia ( ainda criança ), jamais percebí. Descubro o talento superlativo de Peter Falk fazendo Columbo e de Telly Savalas como Kojak. Essa permanencia de algumas poucas séries faz delas algo quase mágico, raro, muito especial.
Considero Seinfeld o mais criativo texto de toda história da tv. Tudo nele parece inesperado, os enredos sempre se dirigem ao desastre total e seus personagens são absolutamente cativantes; mesmo sendo feios, neuróticos e egoístas. Mas não sei se é a melhor série.
Um Amor de Família era mais engraçada, anárquica, cínica. Alguns momentos eram realmente ousados, cruéis, arriscados. Frasier era agradabilissima, bateu recordes de prêmios e possui o melhor último episódio da história da tv. Mary Tyler Moore não envelheceu nada. Seus personagens são apaixonantes e a abertura é linda. Os dois primeiros anos de Will and Grace são hilários, assim como o primeiro ano de That's 70's Show.
Monk é uma boa série, House tem um bom ator e My Name is Earl é muito bom. John Doe merecia ter durado e Carnivale era bacaninha. Mas duvido que 24 horas ou Lost sejam assistidas em 2020.
Alguém aguenta rever Barrados no Baile ou Dinastia ? Mas Waltons é uma delícia e Agente 86 ainda é passável. Perdidos no Espaço faz dormir, mas Starsky e Hutch são ótimos.
Como saber então o que sobreviverá ? Qual a série que não nos deixará com vergonha de ter gostado tanto e jogado noites no lixo diante da tv ? Ninguém pode saber.
Anos Incríveis...eis uma série com algo de mágico...