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JACK WHITE, DUANE, INGLATERRA, XIMENES E CANNES

   Roy Rogers toca em SP. Slide guitar. Slide guitar é o som de Paris-Texas. Ry Cooder. Slide é som de homem. Apesar de Bonnie Raitt. É estrada e botas e carro velho com fedor de óleo. Se eu pudesse eu tocava slide mas eu sou uma múmia para todo instrumento musical. Sou incapaz de tirar um acorde em piano, violão ou pistão. Mas até que batuco bem. John Lee Hooker e Elmore James são slide. Mas o maior solo de slide que já ouvi é o de Duane Allman em Layla and Other Assorted Love Songs. Ele acontece na faixa Key To The Highway. Raios e trovões em vinil.
   E por falar em guitarra....Uma das coisas mais ridiculas dos anos 80 foram as guitarras. Elas se transformaram em piadas sem graça. De um lado viviam os clones de Eddie Van Halen, com seus solos sem sentido e sem sentimento algum. Uma disputa chata pra ver quem tocava mais rápido. E de outro lado um povinho fofo que amava guitarras "soft". Cheguei a ler, eu juro, que Johnny Marr era o maior guitarrista da história do rock. Arre!!!! Slash lembrou ao mundo que guitarra era Joe Perry e Marc Bolan. Riff e ritmo. E Jack White nos recorda que a guitarra é o rock. Jimi Page revive em seu modo de abordar o instrumento, mas ele vai mais fundo e nos devolve Robert Johnson. Seu disco solo é do balacobaco.
   Modigliani....eu já gostei. Ele é romantico e pega os adolescentes sedentos. As mulheres nuas que ele pintou prometem muito e sua vida foi um poema de dor e de ilusão. Mas hoje ele não me comove. E o MASP montou uma expo miserável... Prefiro esperar Caravaggio.
   Todas as publicações falam ( bem ) de Downtown Abbey. A série inglesa cult que foi escrita por Julian Fellowes. Ele escreveu um Altman legal, aquele do casarão inglês cheio de empregados. Como dizia Paulo Francis, amaericano adora ver a alta classe inglesa em ação. Por isso dão sempre um Oscar para ator britãnico ( menos Peter O'Toole...que pena! ). Eles amam o sotaque da BBC e ficam se sentindo mais classudos ao admirar aqueles casarões cheios de cortinas, veludos e chá com sanduiches de pepino. É um mundo que foi destruído na primeira guerra, mundo sólido onde o pobre era muito pobre e o rico sabia que morreria rico. Casas com trinta empregados e terras sem cobrança de impostos. Brideshead Revisited é citada como série que influenciou Downtown... Já quero ver. Brideshead é o máximo.
   O festival de Cannes ainda importa? Em 1976 deu Taxi Driver e em 1971 O Mensageiro. Alguém lembra quem venceu ano passado?
   Mariana Ximenes escreveu um belo texto sobre Douglas Sirk no Estadão. Mariana é o máximo!
   A revista da livraria Cultura tem belo texto sobre Bergman. Domingos de Oliveira fala do diretor sueco e Sergio Rizzo também. Leia que vale a pena.
   Pra terminar, os dez filmes que Ruy Castro mais assistiu nos últimos dois anos:
   Caligari de Wiene ( o filme que mais me deu medo na vida inteira ), Ladrão de Alcova de Lubistch, Ladrão de Bagdá de Powell, Contrastes Humanos de Sturges, Entre a Loura e a Morena de Bekerley, Milagre em Milão de De Sica, Monstro da Lagoa Negra de Arnold, Bob le Flambeur de Melville, Mabuse de Lang e Se Meu Apto Falasse de Wilder.

BOTAFOGO, SERGIO AUGUSTO/ FLAMENGO, RUY CASTRO, O NASCIMENTO DA PAIXÃO NACIONAL

   Muito mais que bundas, samba ou cerveja, a grande paixão nacional é a bola. Em dois livros, com textos épicos, belas fotos e revelações emocionantes, o flamenguista Ruy Castro e o botafoguense Sergio Augusto ( um dos melhores críticos de cinema deste país, talvez o maior ), escrevem sobre suas paixões. Há uma foto de Didi, no livro sobre o Fogão que chega a ser pura obra de arte. Didi anda pela rua, terno e gravata. A esposa vai a seu lado e atrás dos dois, uma multidão de meninos caminha respeitosa e sorridentemente o "guardando". Didi acabara de dar mais um show no Maracanã lotado e voltava para casa a pé, no meio da torcida. A foto transmite a mesma impressão que nos causa a visão de uma pirâmide do Egito. A admiração pela arte de uma civilização perdida.
 Castro explica o porque do Flamengo ser o mais amado do Brasil. Paulistas rancorosos gostam de falar que o Mengo é o maior ( em torcida ) por causa do Rio ter sido capital e seus jogos correrem Brasil afora. Bem...o Flu veio antes, sempre foi elite e não se popularizou do mesmo modo. Why? O Flamengo nasce como time de remo em fins do século XIX. As meninas do bairro davam trela aos remadores do Botafogo e enciumados, os garotos do Flamengo resolveram fundar seu clube náutico. Nascia o Mengão. Na primeira travessia pelo mar alto eles se perdem e ficam dias à deriva. A população do Rio em suspense. Afinal todos conseguem ser resgatados ( por remadores do Botafogo ). Nascia aí a popularidade do Flamengo. Nacionalmente ela se fez porque logo na década de 10, com o futebol fundado no clube, o time passa a ser o primeiro a excursionar pelo nordeste. Quanto ao futebol, é verdade, o clube é cria do Fluminense. O Flu sempre fora do futebol e existiam jogadores do Flu que remavam pelo Flamengo. Quando os cartolas das Laranjeiras peitaram um jogador rebelde, todo o time do Flu se bandeou para o Flamengo e lá fundaram o futebol dentro do clube de remo. Não vamos esquecer que o esporte mais popular do Brasil entre 1880/1920 era o remo e o segundo era o ciclismo. Com um futuro que lhes traria Leônidas, Zizinho, Domingos da Guia e Zico a popularidade do Flamengo estava assegurada.
   A história do Botafogo é bem diferente. Ela começa com o muito aristocrático Botafogo de regatas e o "juvenil" Botafogo futebol clube. Na década de 40 os dois se unem e nasce o BFR, Botafogo de futebol e regatas. O clube de futebol é fundado por um bando de adolescentes, sendo o único clube do Brasil fundado por rapazes. É engraçado o tipo de nome que os jogadores da época têm: Olimpio Tavares Gomes, José Augusto Nunes Prado ou Oscar Smith-Clifford. Era a mais fina flor da aristocracia que jogava bola. Fora o Vasco da Gama, o patinho feio que tinha até negros no time. O Botafogo é logo visto como clube para poucos, de gente "diferente", intelectuais, desajustados e nobres decaídos ( os rivais dizem que é um clube para masoquistas ). Pouca gente sabe que é o Botafogo o clube que mais cedeu jogadores para a seleção nacional, dentre a lista imensa Garrincha, Gerson, Amarildo, Heleno, Jairzinho, Paulo César Caju e Nilton Santos. Clube que "faliu" várias vezes e que sempre renasce.
   São dois livros que se lê com sorriso nos lábios e um prazer idêntico ao de se ver um bom jogo. Times que deram alegria a todo uma nação, histórias de fundação que se movem entre a saga e a anedota. Mesmo não sendo flamenguista ( fui "Zico" de 1976 até 1983 ), ou botafogo ( tive uma admiração pelo fogão na mais tenra infância ), são duas leituras obrigatórias para quem gosta do jogo. Mais, para quem gosta de história.

ELA É CARIOCA -RUY CASTRO ( A FILOSOFIA DO PRAZER SEM LUCRO )

   Prédios de quatro andares, um bairro onde todo mundo se conhecia. Tinha o clube mais exclusivo do Brasil ( o Country. Fundado por ingleses, 480 sócios desde a fundação. Sabia que um dos sócios foi um ex-campeão de Wimbledon? E que esse cara, chamado Bob é o fundador do Bob's ? Essa é a espécie de pioneirismo que digo ser nativa de Ipanema, foi a primeira lanchonete do Brasil. O Bob original a vendeu em 1979 ). A gente lê esse livro e fica sabendo do primeiro bar-do-Rio que existiu, esse tipo de bar que hoje em SP tem um em cada esquina,  aqui chamado de bar pra "gente bonita", gente tipo Ipanema, né? O povo lá era bonito, e bem educado. Ruy lista as escolas do bairro e quem estudou onde e com quem. Vai de diretores de cinema a jogadoras de volêi ( Jacqueline e Isabel, claro, do tempo em que vôlei era esporte de gente educada ). Lógico que é um povo da elite, privilegiados. Mas em Higienópolis também havia muita grana, mais até que em Ipanema, só que em Higienópolis, Pacaembu ou Morumbi se criou o que? Existe uma "Garota da Alameda Franca"?
   O Brasil era isolado, periférico e não tinha a menor vergonha disso. Não queríamos ser como Miami ou igual a Londres. Tudo bem, até tinha uma certa paixão pela França, mas os franceses da época queriam ser como o Brasil, o que igualava tudo. A gente olha pra música brasileira hoje e pensa: O que é isso? Deve ter gente boa, mas eu falo daquilo que toca no rádio, daquilo que vai ser a trilha sonora deste tempo. Tem como alguém dizer que a coisa melhorou? Não sou fã de Bossa-Nova, mas Tom Jobim, talvez o músico mais elegante do século, já dizia que o Brasil nunca mereceu a Bossa-Nova, que pra se entender a BN tem de se ter uma namorada e andar de barco. Eu sempre senti isso. Que Ipanema era um tipo de Brasil ideal, um país platônico, belo, inteligente, limpo e engraçado. Não podia durar.
  Ipanema de verdade dura de 1950 até 1968. E com muito boa vontade dá pra esticar até 1979. Depois é o crime, a especulação imobiliária, a droga pesada, a pura barbárie. O começo em 1950 : Reuniões em casas abertas a noite toda. Amigos que iam às casas de outros amigos, coisa de cem pessoas, e ficavam bebendo, ouvindo música a noite toda. Depois iam para a areia dormir. Nessas reuniões de uma juventude ociosa e ansiosa, nasciam planos de fazer musica, cinema, teatro e Tv, ou carnaval, revistas e viagens. Daí vieram alguns botecos, alguns bares, e depois as primeiras lojas. E o sucesso. Ipanema se torna a praia mais famosa do mundo. O fim em 1979: a tanga de Fernando Gabeira e o Circo Voador. Gabeira, guerrilheiro perigoso, volta do exílio. Uma multidão vai o esperar no aeroporto. Ele surge de pantalonas coloridas, camiseta justa e se dizendo bissexual. No dia seguinte está em Ipanema com uma microsunga de croché lilás. Ao mesmo tempo o Circo Voador era construído pelo pessoal do ASDRÚBAL TROUXE O TROMBONE. A trupe havia crescido tanto desde 1974, que montaram uma tenda nas areias de Ipanema e abriam a coisa das sete da manhã às onze da noite. Shows, peças, capoeira, aulas, tudo que fosse criativo e alegre. Logo foram despejados. A Ipanema de então, 1979, eu já me recordo. O verão de 79 para 80 foi talvez o mais alegre da história do Brasil. Basta pensar nisso: os exilados voltavam, as revistas eram agora sem censura, filmes liberados, um otimismo pleno de que tudo seria bom pra sempre, a onda da saúde e de se "transar o corpo numa boa", surf e skate começando a virar moda, era instituída a "psicanálise tropical" por Eduardo Mascarenhas, sol sem medo de câncer de pele, droga só maconha, Joãozinho Trinta e uma onda de musicas "desencanadas" e programas de TV criativos e sem nenhuma vergonha. Mas o melhor de tudo: o Brasil criava, copiava muito pouco. Foi um verão em que me entupi de Jorge Ben e de Moraes Moreira ( em 1984, meu ano mais snob, morreria de vergonha desse verão ), de praia com Coca-Cola e de Carnaval ( até hoje recordo a Portela daquele ano ). A gente sentia um puta orgulho de ser do Brasil. E ainda dava pra saber que todo domingo tinha Zico, Júnior e Adilio jogando e se eles jogam o prazer tá garantido. Se hoje a palavra chave é SUCESSO, em 1979 ela era PRAZER.
   E ainda agora me dá uma estranheza quando algum amigo me pergunta o porque de eu fazer tal coisa. Jamais me passa pela cabeça que alguma coisa deva ser feita para se ter sucesso. As coisas são feitas por prazer, não é? O sucesso é fazê-las tendo prazer, não? Essa filosofia, tão estranha para os filhos dos anos 80 é básica para os que não negaram 1979. Ruy Castro é de 1969, ele sabe disso. A vida não é para se fazer alguma coisa com um objetivo de ganho. O ganho real é fazer por prazer. Isso era Ipanema.
   É um prazer ler então os perfis desse povo que fez esse momento de brilho. Tom, Danuza Leão, Daniel Más, Arduino Colasanti ( esse é meu ídolo ), Domingos Oliveira, Leila Diniz, Arnaldo Jabor, Eduardo Mascarenhas, João Saldanha, Gerald Thomas, Carlinhos, Elizabeth Gasper, Vinicius, Rubem Braga, Paulo Francis, Cazuza, e mais 300 nomes de artistas, pescadores, bares, boates, lojas, esquinas, gatas, gatos e gaiatos. Uma festa, nossa Paris anos 20, nossa New York anos 50.
   Um tesão de livro, e se voce quer ter prazer, leia com vagar, ao sol, com um chopp do lado, uma musiquinha de fundo, e uma menininha, bonitinha, passando bronzeador. É um livro inútil, sem objetivo, sem nada de ambicioso, meio bobo. Mas e daí? Ele é bonito e é um prazer. Entendeu?

RIO

   Quem tem menos de quarenta anos vai achar esquisito, mas o Rio pra mim será sempre lugar de aristocracia. A cidade onde as pessoas são mais educadas, mais interessadas em arte e onde se valoriza mais a educação e a beleza da vida. Eu sei, sei que estou errado, mas essa é a cidade que existiu até 1982, juro que é verdade!
   Mas o mundo muda, as coisas pioram e melhoram e o Rio mudou porque o Brasil mudou. Estou relendo "Ela é Carioca", pra mim é o melhor livro do Ruy Castro, uma enciclopédia, com verbetes e tudo, sobre Ipanema, e só Ipanema. Eu cheguei a conhecer o fim dessa idade de ouro carioca, e ler esse livro me dá uma grande alegria e ao mesmo tempo uma sensação de que aquilo tudo foi um sonho, nada de verdade. Caraca, eu tou ficando velho!
    Todo mundo queria ser carioca nos anos 70, tanto queria que quem não podia odiava o Rio com uma paixão de amante cornudo. Namorar uma carioca era ser invejado por todos os amigos. Passar um fim de semana lá era in e todas as girias elegantes nasciam em Ipanema. Assim como a moda. Da Company à Richards todas as marcas bacanas vinham daquelas areias. E que moda!!!! Muita pele morena, muito cabelo queimado, muito adereço, muita roupa branca e nudez total. Um verão que era pra sempre. Séculos antes de sertanejos, calypsos e axés, música nascia no Rio, seja samba, bossa, romântico e até rock. São Paulo tinha Rita Lee e a Bahia tinha um monte de baianos...que moravam no Rio.
    O que mais sobressai, e Ruy fala disso, é que havia um culto à beleza. Um hedonismo saúde total. Todos queriam ser bonitos, queriam coisas bonitas e belo era a saúde, a pele escura e um jeito de leveza natural. Sem maquiagem, sem retoques, sem remédios. Daí o culto ao Rio, a praia, a nudez sem operações e botox. Indios civilizados. Luxo, calma e muita volúpia.
   A gente acreditou naquilo tudo. Lembro de carnavais em que senti estar no melhor lugar do universo em todos os tempos. Que o Rio era o exemplo do máximo dos máximos. Muita alegria, muita festa, e tudo muito free. Dava pra crer na felicidade, que é muito mais que alegria. E como toda aristocracia, o Rio tinha centenas de duques, condes e rainhas. Gente que parecia nunca trabalhar, cujo único motivo de vida era ser "carioca". A anos-luz da influência protestante do trabalho-como-dignidade-humana, ser um come-dorme era motivo de orgulho. Playboys detonando dinheiro, deslumbradas queimando heranças... e daí? Como esse povo era bonito!!! E como se vestiam bem!!! Era um despojamento chique, uma simplicidade equilibrada que dava dor de cotovelo em paulistas e gaúchos.
   O Rio tinha a praia e não precisava mais nada. Milênios antes dos arrastões. Sol e choppe e carnaval e reveillon ( ainda se falava muito francês ), e ainda o deboche e o domingo no Maracanã. A vida como a arte de se brincar e rir de tudo.
   Mas veio a década de 80 e a coisa quebrou. O medo do sol, o medo da favela, o medo da aids, o medo do desemprego, o medo de ser ridiculo, o medo do medo. O feio então se tornou um bem, o sério se fez confiável e o que era bonito se fez inutil. A aristocracia morreu ou foi relegada a papéis de palhaços. Desandou o Rio, desandou Ipanema, e o Brasil passou a ter sonhos mesquinhos, o maior deles o de ser Miami.
   Este livro, que é mágico, lindo, colorido, eufórico e belo é uma ode de amor a Ipanema, ao Brasil, a tudo.

SAUDADES DO SÉCULO XX - RUY CASTRO ( UM LIVRO QUE VALE POR UM ANTI-DEPRÊ )

  Não me lembro exatamente em que Dezembro li este livro pela primeira vez, ( 1993? 1992? ), mas posso recordar que foi um prazer enorme. Na época Ruy Castro estava no auge de seu humor leve e borbulhante, humor que com os anos ele foi perdendo. Hoje ele é bem menos interessante.
  O livro traça breves perfis ( 20 páginas em média ), de 13 pessoas que para ele definem o século xx. Todas, ele diz, com vidas tão interessantes quanto a arte que produziram.
  De cara ele já explica: toda lista é discutível. O século xx de Ruy começa em 1920 e acaba em 1960. O que veio antes e o que surgiu depois não lhe é relevante. Mais que isso, é para ele um século americano, 11 são nascidos nos EUA, e os outros dois, o inglês Hitchcock e o vienense Billy Wilder, viveram décadas na América. São eles: Billie Holiday, Anita O'Day, Doris Day, Fred Astaire, Mae West, Orson Welles, Billy Wilder, Alfred Hitchcock, Dashiell Hammett, Raymond Chandler, Humphrey Bogart, Glenn Miller e Frank Sinatra.
   A primeira coisa que se percebe nessa lista é a coragem de Ruy. Seria muito mais "pop" fazer uma lista SEM gente como Doris ou Anita, Glenn ou Mae West. Mas Ruy foi sincero, ele não fez uma enciclopédia sobre o século, como ele avisa, esse é O SEU século xx. Portanto não são os mais importantes ( embora Hitch, Sinatra, Bogart e Astaire sejam impensáveis fora de qualquer lista ), são seus ídolos, as pessoas que definem seu século. Mesmo assim ele diz ter sido cruel ter deixado de fora Bing Crosby, Duke Ellington, Groucho Marx, Cole Porter ou John Ford ( dentre outros ).
  Mesmo que voce não goste ou não conheça algum deles ( talvez voce seja filho do século xxi ), os textos são tão bem escritos, tão leves e brilhantes, que lê-los é sempre uma festa. E na verdade eu na época não conhecia Anita O'Day e não tinha interesse em ler algo sobre Glenn Miller. Valeu a pena, são ótimos e Anita se tornou uma cantora querida para mim, graças a Ruy Castro.
  Minha lista de 13 teria Astaire, Bogart, Hitchcock e Sinatra. Mas no lugar de Billie eu colocaria Miles Davis, em vez de Anita, Thelonious Monk. Substituiria Doris Day ( de quem gosto ), por Kate Hepburn e Mae West por Buster Keaton. Orson sairia para dar lugar a John Huston e John Ford tomaria o posto de Billy Wilder. Hammett cederia seu lugar a Evelyn Waugh e Chandler a Cole Porter. Por fim, Glenn Miller sairia para a entrada de Count Basie. Esse seria meu livro. E para quem reclamar de o porque de não nomes mais "sérios", minha resposta é a mesma de Ruy: é meu século. Pra mim o século xx é americano e tem esse jeito jazzy-hollywood, é o que mais vale a pena em tempo tão miserável de gênios e de heróis.
   Mas é claro que Ruy dá uma bela ideia, porque não fazer um SAUDADES DO SÉCULO XX- França, ou Itália ou Brasil ? Seria uma delicia!!!
   Não vou citar as frases engraçadas de Ruy Castro. Leiam o livro, ele é fácil de achar. O que direi é que ele vai te deixar louco pra conhecer todos os caras descritos, e ainda te dar uma bela sensação de conforto, luxo e calma. Aliás, luxo, conforto e calma é uma das características de todos esses campeões do século. Por mais dura que tenha sido a vida de Billie ou de Anita, por mais frustrante que tenha sido o destino de Orson ou de Mae West, o que eles nos deram ficou grifado como artigo de luxo, produto cheio de estilo, de requinte, de volúpia. O século xx de Ruy Castro é século de hotel novaiorquino, de drinque secreto, de gravata e chapéu e de estola de peles.
   Se define num filme de Fred Astaire, na elegância sob-pressão de Bogart, na voz de Sinatra e nas tiradas de Wilder. Como diz Ruy Castro, o resto é rocknroll.