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SENTENÇA DE MORTE - DUCCIO TESSARI E ALAIN DELON

Enquanto um carro anda pelas ruas, de noite, ouvimos uma canção. Ornella Vanoni canta a versão italiana de Sentado a Beira do Caminho, de Roberto Carlos e Erasmo. Quando nos extras os críticos analisam este filme, essa canção é citada, a canção brasileira de Roberto "Carlôs". Essa belíssima canção dá o tom a um filme policial, que teria tudo para ser apenas mais um filme sobre vingança, mas que graças a presença de Delon, se transforma em uma obra magnífica sobre a melancolia de viver. ---------------- Ele é um matador profissional. Casado, com um filho. Ele quer largar a profissão, os mafiosos não deixam e dinamitam seu carro. A mulher e filho morrem por engano, ele resolve matar cada um dos chefes do crime. --------------- Voce já viu filmes assim. E eles eram muito ruins, às vezes bons. Este é fantástico. Por que? Porque a câmera ama Delon e o segue pelo filme inteiro. E o ator, na época, 1973, o mais famoso ator do planeta, última vez que um europeu teve esse status, consegue, de modo misterioso, pois o carisma é um enigma, fazer de cada cena algo muito maior do que ela é. --------------- Veja a cena da explosão de sua família. Delon está na janela, vendo mãe e filho indo á escola. Os dois entram no carro e ele explode. Um ator, hoje, teria dois modos de interpretar: 1- daria um berro e com lágriams nos olhos se atiraria pela janela tentando salvar os entes amados em meio às chamas. 2- Expressão de louca incredulidade e um rosto onde se vê imenso sofrimento. ----------- O que faz Delon? Ele olha e não emite um som ou produz uma expressão facial. Ele olha e no olhar está todo o segredo desse ator. Nós não sabemos o que aquele olhar diz, o que exatamente ele sente, mas "NOS INTERESSAMOS EM SABER, E ASSIM, SOMOS CAPTURADOS POR ELE". Cativos, iremos atrás dele o filme inteiro. ----------------- Outro exemplo? No que Delon se transforma após a tragédia? De novo cito duas opções; 1- Um furioso e maníaco animal assassino. 2- Um ser destruído, barba por fazer, bêbado, se arrastando em sua vingança sem esperança. Ok? O que faz Delon? Mais uma vez, nada. E tudo. O homem pós tragèdia é o mesmo em aparência e em modos, com uma única diferença: ele está só, há um vazio ao seu redor, e como sabemos disso? Pelo olhar do ator. Não, não há como eu explicar. Veja e perceba. --------------- Um dos críticos diz que viu Delon em um festival de Cinema antes de ele ser famoso, em 1956. Esse crítico morava perto, era adolescente ainda, e estava numa movimentada rua em Cannes, cheia de bares e shows. Pois bem. Ele se lembra de Delon descer a rua e súbito todas as mesas se calarem e o olharem. Entenda, não era uma estrela passando, ele era um nada então. Era o tal do carisma, da beleza irresistível, do mistério. Todos esperaram sua passagem para continuar a "agir". Esse o dom da estrela: cessar o tempo. E estrelas são raras. Ele é um dos poucos. ------------------ Entre 1965 e 1975 não houve estrela maior. Com excessão dos EUA, país que nunca aceita um ator estrangeiro, Delon foi o maior na China, Japão, Europa e sim, no Brasil, onde recordo que ele era mais famoso que Brando, Newman ou Redford. Seu nome passou aqui a ser sinônimo de homem bonito. "Esse cara parece um Alain Delon", ou então " Eu não sou um Alain Delon mas dou pro gasto". Como Steve McQueen, Warren Beaty e depois Clint Eastwood, ele era ator de falar pouco, mas seus olhos diziam mais que as mãos de McQueen ou o sorriso de Warren. ( Todo ator quieto fala com algo do corpo. Gary Cooper falava com o andar e Clint fala com certos sons que emite, gemidos, urros, bufadas ). ------------- Em 1972 Alain Delon havia feito com Zurlini A ULTIMA NOITE DE TRANQUILIDADE, um dos mais melancólicos dos filmes e uma das mais belas atuações de qualquer ator. Este policial tem o mesmo espírito. Magnético, triste e belo.

DE TANTO AMOR 1971 - ROBERTO CARLOS

AQUELE DISCO DO ROBERTO...

Roberto Carlos, o disco de 1971. Eleito pelo povo que lia a Rolling Stone, uma dos 5 grandes discos. Ouço-o após mais de 40 anos sem o escutar inteiro. Tanto tempo longe, preconceito meu? O de 1967 ouço de vez em quando, sem problemas, é um dos discos da minha vida. Vamos ouvir este aqui. Primeira coisa que salta aos ouvidos: músicos excelentes. Principalmente o baixo. E a voz, claro. Roberto é um grande, grande cantor. Ele consegue mudar o tom de uma frase no meio da emissão, sem tomar fôlego. Entre 67-73 ele era O CARA. Depois resolveu substituir a canção POP brasileira por um tipo de versão tupi de Julio Iglesias. RC teimou em correr na raia de Julio e de Manolo Otero, Sergio Endrigo e que tais. Perdeu seu estilo. A orquestra sem sabor comeu tudo. Não é o caso aqui. Detalhes, uma obra prima irretocável, abre o LP. Magia: a letra fala de dor, de vingança, mas a melodia é leve, suave, bonita. Uma canção que mesmo tão consumida ainda revela frescor. Original ao extremo. Depois a banda toma rumo e voa em Dois e Dois, uma intepretação soul music ao nivel do Tim Maia. Um hiper hit em 1971. A Namorada é lembrança da jovem guarda, que então ele já meio que negava. RC fazia 30 anos e não temia ser mais velho. Voce Não Sabe O Que Vai Perder é a canção das rádios mais populares. RC nunca foi cafona, mais seus concorrentes eram. Esta canção, velha, a cara da rádio Tupi de 1971, lembra Paulo Sérgio, Marcos Roberto, Wanderley Cardoso, as vozes que ficavam a milhas de RC mas que sonhavam em atingir sua finesse. Traumas é onde ele fala do acidente de quando foi criança. Deprê assumido e sem frescura. Todos Estão Surdos tem uma das melhores linhas de baixo da história. Paulo César do Renato e seus Blue Caps sabia tudo. Uma obra prima de swing, black music de primeira. Depois tem Debaixo dos Caracois, canção que eu ouvia durante todo ano de 71 ao acordar. Minha ouvia no quarto. Não há como eu não lembrar. Mas, abstraindo a nostalgia, ela é linda. A voz de RC é doce. Se Eu Partir, de Tanto Amor, são Okays, mas a coisa pega fogo em De Tanto Amor. É dificil lembrar canção de dor de cotovelo mais bonita que esta. A melodia, logo no início, atinge o coração em cheio. RC canta como um anjo. É uma letra que expressa o amor cortês em sua clave frustrada. Eis a alma de RC aqui. UM rei triste. Amada Amante foi um single que minha mãe comprou na época. Ela ouvia dez, onze vezes seguidas. Eu ouvia junto. RC foi na época o canto mais vendido do Brasil. Então, se voce quer comparar sua qualidade artísitica, compare com Ivete, Teló ou Anitta. Mas além de ser o maior vendedor, ele era a melhor voz. Então o compare com....Leonardo? Como aconteceu com Beatles, RC uniu em si três tipos de artista: o maior vendedor, o melhor cantor e o símbolo de uma época. Nunca mais tudo se uniu em um cara só. Nem aqui e nem lá fora no mundo pós Beatles. Crescer tendo esse tipo de canção como onipresente em radio e TV fez de minha geração incuráveis romanticos. Não reclamamos disso não. RC é imortal.

Roberto Carlos - Olha



leia e escreva já!

MEU PRIMEIRO DISCO

   Fazia um calor africano. As cigarras cantavam alto e o capim seco estava imóvel. Fui pra casa almoçar, era uma da tarde e eu tinha 7 anos de idade. Em casa havia um certo rebuliço. Meu tio João tinha acabado de sair e deixara para nós uma coisa chamada LP. Na minha cabeça cheia de pipas e de lagoas, eu imaginei um violão. Estranho isso, mas foi o que pensei, e assim fiquei decepcionado quando vi que era um disco. Enquanto minha mãe terminava o almoço eu e meu irmão ficamos na sala ouvindo o tal disco. E isso se repetiria por semanas e semanas. Minha mãe descobrira que uma forma ótima de fazer com que eu e meu irmão sossegássemos era deixar o LP rolar.
  Gosto de pensar e falar que minha mente musical foi impregnada na infância com canções como Help, Lady Jane, These Boots Are Made for Walking, A Whiter Shade of Pale, I'm a Believer e To Sir With Love. Mas devo dizer que meu primeiro disco, totalmente decorado aos 7 anos, foi Em Ritmo de Aventura. Eu cantava as letras junto com o disco. Aprendi, mesmo às vezes não entendendo direito do que ele falava. A guitarra arranhada, a flauta doce, o órgão agudo, e principalmente o excelente contrabaixo rítmico se enfurnaram na minha cabeça. " O Cara que Tinha a Minha Cara" era minha favorita. 'Quando voce se separou de Mim" é a melhor. E ao escutar ele outra vez, hoje, mais de 40 anos depois, posso destacar sua ingênua beleza. E sua breguice encantadora.
  O disco foi feito para um país que ainda guardava nas botas a terra do mundo rural. A cidade era uma novidade, como era o carro, a TV, o rock e a língua inglesa. Era o fim do mundo do rádio, do francês e da lotação. As letras nesse contexto, são "singelas". Encanta hoje o modo galante, delicado como a mulher é tratada nas letras. Ela é uma princesa, ele é um príncipe. As rimas são pobres, os temas são todos sobre o amor, o cantor sofre muito, a menina é indiferente, ele espera, ela partiu. Mas isso tudo é dito com delicadeza, uma chuva de suavidade fofa, um zero de cinismo. Ele acredita no amor, realmente acredita. Mais que tudo: ele crê NELA.
  A mulher comanda o sentimento. O homem obedece.
  Musicalmente há muito daquilo que nos anos 70 viraria "o Brega". Amado Batista, Waldick Soriano, Altemar Dutra, todos usaram a guitarra rítmica e o órgão agudo que abunda aqui. Mas neste disco, de 1967, há algo que no brega não há, um contrabaixo dançante e arranjos de metais e de cordas que são econômicos, exatos, pensados. Sim, é um disco brega como brega é Tom Jones ou Neil Diamond; a realeza do brega, aquilo que o brega tenta ser e nunca pode ser por ser mera diluição. E digamos a verdade, não há uma frase neste disco que eu não tenha vivido com paixão. Nossas emoções quando purificadas são todas bregas. Amo e não sou amado. Quero e não posso ter.
  "Olha" é filha direta de As Tears Goes By dos Stones. Lá está o cravo, os violinos, a doçura de inverno e o nobre servindo sua dama. É ainda linda. Assim como linda é a pulsação de "Quando voce se Separou de Mim". O disco se ouve com prazer. Absurdo pensar nos top 10 discos do Brasil e não colocar um RC.
  E tem a voz. RC jogou fora seu dom quando quis ser Julio Iglesias. Ou ousou pensar ser o Sinatra do Brasil. Grande orquestra, grandes canções, era isso que ele queria. Não deu certo. Em 1967 sua voz convence, ela é clara, sincera, perfeita, exata. O controle é absoluto. Ele nunca exagera, nunca fica frio, nunca explode. É a voz do amor "made in Brasil", um pouco acanhado, muito adocicado, cheio de promessas, encantador. E cristalino.
  É um bonito disco.

SOBRE BIOGRAFIAS CENSURADAS, BEAGLES E BLOCS PRETOS

   Deve ser dificil ter 70 anos.Principalmente quando voce foi símbolo da juventude. Mais dificil ainda deve ser passar mais de 50 anos tomando whisky e jogando bola no sol. Cercado de puxa-sacos. A cabeça do Chico deve estar uma zona. Todo mundo sabe que gosto de Gil e que alguns discos do Caetano acho muito jóia rara. Mas a cabeça deles, por culpa de outros produtos, tipo azeite de dendê, também está pra lá de Marrakesh. E então eles, numa típica confusão que mistura preguiça, medo e amizade, resolvem ouvir o que Roberto Carlos tem a dizer...Qualquer um sabe que Roberto bota Elvis Presley e Michael Jackson no chinelo. Vive em Zanzibar faz tempo. Fique claro, eu adoro Roberto Carlos. Adoro sua voz e algumas múiscas que ele fez lá por 1970 são obras-primas do pop alto nível. Mas ele é um zumbi hoje. E vive num mundo de puxa-sacos e esotéricos freaks também. Eles querem censurar suas biografias? Não sejam tão duros com eles! Ignorem os vovôs. A verdadeira vilã se chama Paula...
   Quanto aos beagles...Isso é a marcha da história baby. Não venham me chamar de racista pelo que vou falar. Uso o exemplo dos escravos e esses escravos podem ser brancos e amarelos também. Todos temos antepassados escravos, escravos dos gregos, dos celtas, dos romanos, dos chineses...O que digo é que daqui a cem anos nossos descendentes acharão tão revoltante o modo como tratamos os bichos como achamos a escravidão hoje. É o caminho natural. Irão olhar nossos matadouros com horror e pensarão "Como a gente de 2013 podia aceitar isso?" O cômico, e esperado, é que assim como os escravocatas usavam o motivo econômico como fato que devia manter a escravidão, falavam que libertar os negros deixaria o país falido, os anti-beagles falam que prescindir de bichos atrasaria a ciência. Ora! Pura preguiça! O Brasil, como foi no caso da escravidão, está ainda um século atrasado. Os animais terão direitos reconhecidos. Esse é o futuro, nossos netos irão ver e nos criticarão por nossa demora.
   Quanto aos black-blocs, eles são a torcida organizada das ruas. Sujam a moral onde botam as patas.
   E é só.

DE ROBERTO CARLOS A YEATS; DE BEATLES A PROUST

   Aquelas canções que são como velhos amigos, conhecem sua história e reencontrá-las é como olhar para sua casa ( a casa de verdade, não esse acampamento de trabalho a que hoje chamamos de casa ). Sons que vão direto pra alma e que por mais que as escutemos, e escutamos muito, parecem sempre com uma nova descoberta. Essas músicas se renovam, como o amor é uma renovação diária.
   São as canções que meus amigos deveriam cantar no dia em que eles jogarem minhas cinzas na Serra do Mar ( e isso nada tem de triste pois farei poesia mesmo após ir embora daqui ).
   No nascimento desta jornada recordo de minha mãe ouvindo rádio pela casa cheia de sol e de meu pai escutando discos nas manhãs de domingo. O que eles ouviam? If, da banda melosa Bread é possívelmente a coisa sobre o amor mais antiga em minha alma. Mas não é uma boa canção. Só uma criança de 5 anos poderia gostar de tal coisa. Mas também posso recordar de Roberto Carlos e essa lembrança é muito mais agradável. "Quando/ voce se separou/ de mim/ Quase/ que a minha vida teve/ um fim"; ou então: "As folhas caem/ Nascem outras no lugar"; nessas faixas nascia em mim um tipo de sentimento que iria desaguar em Yeats e em Proust.
   Beatles....Ah os Beatles...Cantei Help aos 6 anos, mas o que me deixava tonto era In My Life. Belo tempo em que In My Life tocava na Tupi AM. Bem mais tarde, aos 17 anos, eu descobriria que For No One era ainda melhor, e mais que isso, que For No One pode ser a melhor das melhores ( Neste texto, incorreto como o amor, muita coisa será the best of the best ). Mas em 1970, a voz de Paul já marcava presença em mim, mas era via Another Day, uma canção que me recorda a cama de meu quarto.
   O amor em canções. Daydream Believer na voz de David Jones, dos Monkees, e também Look Out, um amor muito feliz. Eu adorava ainda Rocknroll Lullaby com B.J.Thomas e Killing me Softly com Roberta Flack. E súbito tudo mudou quando um piano me fez comprar meu primeiro disco.
   Elton John cantando Your Song mudou minha vida. E ainda hoje vejo Elton como um dos reis da canção de amor. Se voce está in love e deseja ouvir alguém cantar só pra voce, Elton é o cara. Ele tem tantas grandes canções de amor que é impossível citar as melhores. São melodias simples, que grudam, mas ao mesmo tempo vão ao fundo da coisa e são cristalinas. Elton foi hiper-pop, mas jamais deixou de parecer sincero. E uma frase como : " A vida é maravilhosa porque voce faz parte do mundo", será sempre a tradução exata do que seja a alegria do amor. Ele é um longo capítulo em meu coração.
   Muito perto de Elton vem uma voz que em sua juventude foi mágica. Capaz de emocionar com apenas um "Oh!", Rod Stewart cantou Still Love You em 1976 e acabou com meu coração. Se Elton parecia sempre sincero, Rod Stewart conseguia personalizar nossa epopéia interna. Esqueça o Rod playboy que surgiu após 1977, ele foi antes disso o jovem faminto, o cara da estrada suja, o celebrador do amor eterno,e esse cara é do cacete! Sua regravação de The First Cut is The Deepest de Cat Stevens, fez com que eu me apaixonasse várias vezes. Já adulto descobri seus primeiros discos. Os 3 primeiros discos solo de sua carreira são crônicas sobre o amor simples, o amor de gente comum, o amor de jovens ingênuos e cheios de fé. São dos poucos discos do rock que nos fazem ter esperança. Isso não é pouca coisa. Rod é o menestrel do amor.
    Voltando a minha casa de criança ia esquecendo de dizer que hoje, aos 50 anos, quando leio poesia romântica, ou quando vejo imagens de jovens dandys morrendo de amor e de tuberculose, logo recordo de 3 canções de amor que entraram em meu DNA. Eu as ouvia naquele rádio antigo, em mono e AM, aos 5 anos...ou antes. Eram os hits de então: As Tears Go By, Lady Jane e She's a Rainbow. As 3 nada têm a ver, na verdade, com aquilo que os Stones eram. Ou talvez simbolizem o lado sombrio da banda, aquilo que eles escondem ou perderam. Mas a voz infantil de Mick em Tears, o arranjo de cravo de Lady Jane e o refrão de Rainbow são das mais poderosas sombras amorosas da minha mente.
   Pena que a banda tenha jogado fora esse tipo de romantismo flamboyant.
   Aqui então estão expostos os nomes e as canções de meu começo.  Acho que foi um bom inicio. E como em todo amor antigo, elas mexem comigo de uma forma muito visceral. Não admito que falem mal delas. As amo forever. Porque, meus amigos, amor quando é de verdade, é sempre para sempre.
   E a vida é maravilhosa porque essas canções estão nela.

SÓ COM AZEITE

   E a gente reclamava do Benito di Paula!!!!
   O tal Show da Virada mostra aquilo que é a música deste tempo. Tá bom cara, eu sei que o underground tem coisa muito melhor! Mas arte é sempre atemporal, o que se torna retrato de seu tempo é aquilo que ouvimos na rua, nas novelas, nos comerciais, no rádio, em todo canto. Os anos 80 tiveram Husker Du, The X e o sublime Lloyd Cole, mas o retrato do tempo é Michael Jackson e Madonna.
   E o que temos em 2012/2013? Um monte de cantores barrigudos que são chamados de lindos, com suas calças justas e seus paletós ( que minha mãe diz se parecerem com pano de chão ), estourando de tão justos. As melodias variam do sempre igual ao sempre ruim. TODOS são bobíssimos. Pior é o que eles tentam falar! O assunto é um só: sexo. Sexo como festa, sexo como gozo, sexo como corno, mas sempre o sexo. Não existe mais nada nesse mundo de bundas gordas e rostos sorridentes.
   Os nomes que vou citar são ruins, mas digo com dor na alma, perto do Ximbinha, são gênios!
   Silvio Brito, Wando, Gilliard, Peninha, Agepê, Guilherme Arantes, Originais do Samba, Benito di Paula...esses os Ximbinhas de 1978.
   Em 1974 eu escutava aos domingos de manhã as 10 Mais da Rádio América AM, mais popular era impossível. Secos e Molhados, Roberto Carlos, Raul Seixas, Tutti Frutti, e os cantores brasileiros que cantavam em inglês: Steve MacLean e Crystian. Desses nomes, alguns são geniais, todos são muito melhores que qualquer das duplas atuais.
   Se eu apelar posso dizer que o Show da Virada de 1970 teria Simonal, Tim Maia e Tony Tornado. Que se passa?
   Mudo de canal e vejo um festival inglês ( não é Glastonbury ). Afff!!!! TODAS as bandas imitam punks de 1978 !!!! TODAS, sem excessão! Chegam até a cuspir, pular e fazer caras e bocas dos Stiff Little Fingers ou de Howard Devotto. Qué isso nego???? A história do rock acabou? Paramos em 1987 e daí pra frente é só imitação? As discotecagens em Manchester '87 foram o fim? Todo o resto, seja Nirvana, Radiohead ou Dandy Warhols, apenas misturas de coisas velhas com sotaquezinhos novos?
   Então vamos jogar fora essa bosta e partir pra outra coisa! Música do Iraque, dos ciganos, do Haiti, tudo menos essa merda de cópias do Sham 69 ou dos Stranglers. Calça skinny com All Star!!! Again!!!!!!
   Repetimos o mesmo faz tanto tempo que se em 67 fosse assim  Mick Jagger se vestiria como Chaplin !!! E cantaria como Al Jolson !!!
   Carla Bardi, AZEITE DE OLIVA. É isso, tudo que voce precisa saber sobre ele. Belas fotos e boas receitas. Vem embalado em lata de azeite. Lindo. E nada caro. Adorei !!!
   É o que falo: Música e Cinema estão um lixo, mas os livros....Que beleza!!!!!!
   Bonne Anné !!!!

ULYSSES, BARBARA GANCIA, HAVAIANAS, ROBERTO CARLOS E MONKEES

   Paulo Coelho não gosta de Joyce. Seria surpreendente se ele gostasse. Porque tanto blá blá blá? Paulinho conseguiu o que desejava. Ele vingou aqueles que não conseguem ler Joyce. Que leiam Coelho.
   A Cinemateca produz uma multi-facetada mostra de filmes silenciosos. É sua chance, voce pequeno preconceituoso, de descobrir as delicias do mais cinematográfico dos tipos de filme. Imagem pura, ação sem diálogos, filmes que independem da lingua do país em que foram feitos, o mais pop dos estilos. E com trilha sonora improvisada ao vivo. Vão passar O Gabinete do Dr Caligaris. Tenho péssimas lembranças desse filme. Assisti aos 16 anos, e apesar de ter o dvd, nunca tive coragem de reve-lo. Hiper doentio, me dá um medo horroroso. Ver esse filme de Robert Wienne é como entrar na mente de um louco.
   Os Monkees, amados, vão excursionar. Se viessem ao Brasil eu iria. E teria de levar calmantes, balão de oxigenio e lenços à mão. Sem Davy Jones não será a mesma coisa. Mas lá estarão Peter, Mickey e Michael. E aquele monte de canções estupendas. Monkees é a única banda fake que virou lenda. E seu programa de Tv era anarquia pura. Ácido para crianças.
   Roberto Carlos foi o cantor da primeira canção que cantei na vida. O tempo voa e ele permanece de pé. Assim como MacCartney consegue, sem esforço, ser a alma em música da Inglaterra viva, com tudo de bom e ruim que ela tem ( comodismo, romantismo simplificado, humor, harmonia e hierarquia ), Roberto é o Brasil. Ele é doce demais, suave demais, sentimental demais, saudosista demais e carola demais. E ao mesmo tempo é profundamente verdadeiro, sincero, comovente e consolador. Ele não ousa. Ele executa. Ouvir coisas como Detalhes ou A Beira do Caminho é tomar contato com os arquétipos imorredouros de uma nação. O tempo voa e ele cresce. No deserto da canção romântica deste mundo velho e cínico, Roberto Carlos é bálsamo de esperança.
   Barbara Gancia é sempre ótima. Um texto dela: "Onde estão os Ricos?" Brilhante e hilariante. Ela toca com pé de chumbo e humor de veludo em assunto que muito me interessa. Ou seja: Com essas camisetas simplesinhas, essas bermudas horrorosas e chinelos fedidos, ainda existem ricos? O que define a riquesa? Afinal, hoje todos se vestem como pobres, assistem coisas de pobre e falam como pobres. Existem ricos, ricos de verdade? Onde estão esses endinheirados que se vestem como ricos, se divertem entre ricos e usufruem apenas do que é exclusivo? Barbara fala das imagens do Brasil de 1950, onde, ao contrário de hoje, todos parecem ricos. Ternos de linho e camisas brancas alinhadas. O pobre virou lei geral?
   Dou meu palpite: Ditadura da democracia. Ser rico é uma vergonha. Ser feliz é ser personagem da novela das oito. E rico de novela se comporta e goza a vida como pobre. A única diferença entre classes é que eles assistem Batman em poltronas melhores e usam a mesma bermuda de pobre comprada em loja mais cara. Fora isso, é o mesmo mundo de churrasco, balada e chinelo.
  Pense nisso: Na vida ou voce crê em tudo ou em nada. Isso é coerência. Crer em tudo: Anjos, física nuclear, na história, no marxismo, na psicanálise, em Jung e nas religiões. Porque tudo é uma questão de fé e se voce admite uma, creia, voce admite a validade de qualquer outra construção da mente criativa. Ou descrer de tudo. Religião, história, poesia, Freud e Marx, Kant e Goethe, admitir que tudo é vã construção da razão FANTASIOSA e assim se despir de toda crença e se guiar apenas por SUA EXPERIÊNCIA DE VIDA. Esse é o pensamento do mais importante filósofo vivo. E ele é tão bom que deixa a hipótese em aberto. Creia em tudo ou creia em nada. Mas jamais cometa a bobagem de crer em uma coisa e negar outra, ou negar tudo menos uma única teoria. Voce deve ir fundo. Ser um homem aberto a tudo, ou ser um homem descrente de tudo.
   Pra finalizar: Eu adoro a Inglaterra. E abomino os ingleses vivos.

OTTO MARIA CARPEAUX, PAULO FRANCIS, MOZART, NELSON FREIRE, COWARD E BEBÊS

   Alvíssaras! Hallellujas!!!! O maior dos pianistas toca em São Paulo a melhor das músicas! O inigualável Nelson Freire toca o concerto número vinte para piano e orquestra, de Mozart. Na sala São Paulo. Ouvir o concerto 20 de Mozart justifica toda uma vida. O gênio da Austria antecipa o gênio de Bonn. É música absoluta, existencial. Tudo o que se pode expressar de belo e de terrível em arte é dito nesse concerto. Que se inicia com os mais soberbos acordes. Já escrevi sobre esse concerto anos atrás. Digite Mozart aí ao lado e leia. Mas preciso dizer:  ninguém que diga amar a música pode ser levado a sério se não houver vivenciado a honra de escutar esta peça. Se minha vida fosse mais elevada ela seria digna de um acorde desse concerto. Recordo que ao o escutar pela primeira vez, em 1979, pensei: "Deus existe!" Pois essa música nos dá a certeza de que um punhado de neurônios e de proteína não poderia criar tanta emoção. Se Deus não existe, então Mozart criou aqui a Sua melodia. Justifique a sua vida, vá ver e ouvir.
   Sairam dois volumes com textos de Otto Maria Carpeaux. O famoso OMC. Carpeaux civilizou esta taba. Escrevendo em jornal e revista, ele formou o gosto de três gerações. Otto dá a sensação de ter lido tudo, visto tudo e escutado o que vale a pena escutar. Seu "História da Música Ocidental" é tudo aquilo que se deve ler para se iniciar nos segredos da grande música. Nestes volumes ele fala de escritores, filósofos, pintores, amigos, e outras coisas mais. Se voce quer dar um salto de qualidade em sua vida leia os dois. Foi OMC quem, com seus verbetes na velha Barsa, me abriu ouvidos para compositores e olhos para certos autores. O que me leva a pensar o seguinte: as pessoas ainda entram em enciclopédias, mesmo virtuais, para conhecer aquilo que não conhecem? Procurar quem são os maiores autores ou os grandes pintores? Ou precisa um professor, um amigo, ou pior, uma noticia de jornal, para que o garoto ouça o nome de alguém que ele já deveria ter conhecido por iniciativa própria. OMC vai ajudar muito esse garoto. Mas acho que quem irá lê-lo é aquele que já conhece aquilo sobre o que ele fala. Pena.
   Publicaram um volume com colunas de Paulo Francis. Aconselhável para aqueles que entenderam a frase de Scott Fitzgerald que Pondé citou: "Inteligência é a capacidade de ter duas ideias divergentes ao mesmo tempo. E mantê-las." Francis era o máximo da inteligência. Já falei e repito, sem ele eu jamais teria sabido apreciar os atores ingleses ( Rex Harrison, Gielgud, Redgrave e Olivier ), ou autores como Waugh e Huxley. A única coisa que me irritava nele era sua idolatria a Wagner. Fora isso ele era perfeito.
   Escrevi por aí que SP tinha a alegria de ter peça de Noel Coward em cartaz. Esqueça. Transformaram o mais fino dos ingleses em um tipo de "Sai de Baixo" de segunda. Harold Pinter não teve melhor destino. Seu beco sem saída, sua acidez, se transformaram em teatrinho de raivinha. Um saco.
   Mas "Pina" de Wim Wenders ainda está em cartaz. Espero que voce mereça ter esse deslumbramento.
   Leio na Veja que as pessoas viverão até os 100.
   O que me irrita na esquerda é sua cegueira, e o que me irrita na direita é seu otimismo cor de rosa. Vamos viver até os 100? Quem vai pagar a conta? Os jovens irão ter menores salários? Ou as aposentadorias começarão aos 85? God!!! Um mundo cheio de velhos de 90 se comportando como adolescentes!!!! Pior, uma adolescência que irá dos 10 aos 90 !!!!! Bandas de rock com 100 anos de estrada e "Se Beber não Case" parte 38.... Socorro!!!!!
   Meu professor fala que o feto é marcado para toda a vida por tudo aquilo que a mãe lhe fala e pelo som ambiente. Não tenho culpa de ter sido um feto vivendo no paraíso. Cantos de pássaros, galos de noite e Sinatra que meu pai ouvia de manhã. A depressão que sinto às vezes decorre de ter conhecido o paraíso e de hoje ter de me conformar com o apenas "legalzinho". Se hoje nossos bebês estão conhecendo a vida via Funk, carros que buzinam e anúncios barulhentos na TV; eu recebi as boas vindas ao som de conversas na sala, vozes de crianças na rua e Beatles mais Roberto Carlos no rádio de minha mãe.
   Não consigo imaginar paraíso melhor.