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ODEIO-TE MEU AMOR! ( UNFAITHFULLY YOURS ), UM FILME DE PRESTON STURGES PARA AQUELES QUE SABEM OUVIR

Feito em 1948, ano que é um dos melhores do cinema, este filme, já da fase azarada de Sturges, é uma das diversões mais civilizadas que uma pessoa pode ter. O ator principal é Rex Harrison, e voce sabe, quando Rex abre a boca tudo se torna mais chique. Ouvir a voz de Harrison é um dos maiores prazeres da tela e aqui, além de falar bem como sempre, ele mostra também seu dom de grande ator dramático, pois apesar de esta ser uma comédia, há cenas de ressonância muito, muito séria. Observe a cena no banheiro, quando ele afia a navalha pensando em matar a esposa. Veja a maldade aterradora exibida em sua face. É momento de um grande ator, e Rex é, ao lado de Alec Guiness, um dos grandes atores que transitam do mal à bondade, da leveza ao peso com absoluta facilidade. E, como se não bastasse, poucos filmes têm cenários tão bonitos, tão bem decorados. Não bastasse ser divertido, o filme é uma aula de finesse. Amamos observar Rex se vestir, fumar, viver em meio àquele conforto extremamente civilizado. -------------------- Preston Sturges tinha um carinho especial por este seu roteiro e em 1948 finalmente o filmou. O filme foi seu primeiro fracasso, ele vinha de 7 sucessos seguidos em apenas 4 anos. Crítica e público não aceitaram a frieza do enredo, o modo como mais da metade do filme é uma fantasia do maestro interpretado por Rex. O enredo é inteligente, como era inteligente tudo que Sturges escrevia. Rex Harrison é um grande maestro. Vaidoso, ele é casado com uma mulher que o adora, Linda Darnell. Mas seu cunhado, Rudy Valee, pessoa chata, que ele odeia, contratou um detetive, que ao vigiar a esposa do maestro, descobre uma possível infidelidade. No começo o maestro despreza a descoberta, mas o ciúme está plantado nele e então, enquanto rege sobre o palco, ele imagina 3 reações diante da esposa: o assassinato, o perdão e o suicídio. Vemos tudo isso acontecer dentro de sua mente e depois, na vida real, ao optar pelo assassinato, testemunhamos a extrema falta de jeito do maestro. O que posso dizer? É um filme fascinante. ---------------------- Preston Sturges, fenômeno de sucesso e de arte, perdeu tudo em apenas 5 anos. De gênio e dono do próprio destino, à desempregado e pária de Hollywood. Ficou por isso esquecido da história do cinema por 30 anos e retornou à moda, triunfante, nos anos 90. Seu cinema é malicioso, amoral e criativo. Ele era uma alma livre. Dirigia, escrevia, produzia. Todos os seus filme falam de mentirosos, de enganos, de quase gênios ingênuos e de larápios pervertidos. Tudo é possível e tudo acontece do modo como nunca esperávamos. Ele sempre nos surpreende. Cada cena é exata, e ela sempre parece rumar para um ponto e então desviar para outro. Não há diretor algum parecido com ele. Mas há dúzias de diretores que o amam. Ver seus filmes é um prazer e em tempos que odeiam o prazer, é um ato de rebeldia. Aprecie sem moderação.

MY FAIR LADY. A TRILHA SONORA EM CD. PORQUE A LÍNGUA IMPORTA.

Muita gente diz ser impossível escolher seu disco, livro ou filme favorito. Não acho. Em cinema, tenho uns cinco ou seis filmes que trocam de posição entre meus favoritos. Mas são sempre esses cinco ou seis. MY FAIR LADY está sempre entre os seis e às vezes é o primeiro. É o filme mais feliz que já vi. Depois que comprei o dvd, em 2004, o assisti pelo menos uma vez por ano, geralmente perto do Natal. Foi assim em 2004, 05, 06...até 2017. Eu sempre assitia MY FAIR LADY para entrar no clima de fim de ano, para ser feliz. Não o assisto desde então, 2017, ano em que meu irmão morreu. O fato de não conseguir o rever diz muito sobre o que essa morte significou. Não estou luto, não vivo deprimido, me sinto razoavelmente feliz muitas vezes, mas o mundo de MY FAIR LADY é tão bonito, tão isento de violência, tão CIVILIZADO, que a dor amarga que senti não pode ser misturada à essa obra prima do cinema ( Talvez isso explique porque a atual geração não aceita filmes como este. Eles reprimem a beleza desde que nascem ). ------------- A primeira vez que assisti o filme foi bem antes de ter o dvd. Começo dos anos 90, na TV. E como acontece com todo filme que entra no clube dos favoritos, foi paixão à primeira vista. O filme tem tudo o que mais prezo na vida. Ele cria um mundo tão perfeito, tão "como o mundo deveria ser", tão civilizado, leve, elegante, engraçado, romântico, que voce se deixa ir longe, voce voa. Hoje ouço o cd com sua trilha sonora. A música é de Frederick Loewe, nome central na Broadway e no East End, e as letras são de Alan Jay Lerner, simplesmente o melhor letrista popular dos últimos 70 anos. As melodias são sublimes, mas as letras são uma obra prima de construção. Se voce entende inglês ficará extasiado com suas rimas e a quantidade de vocábulos usados. É trilha culta. É chique. É adulta, very adulta. --------------- No filme meu momento favorito é a famosa Rain in Spain, mas em disco nada supera Rex Harrison em I'm Ordinary Man. Paulo Francis assistiu MY FAIR LADY no palco, em Londres, 1958. Deus meu! Que mundo melhor era esse! Francis escrevia na Folha e tinha uma página inteira para falar que Rex Harrison inventara o modo "falado" de cantar ao fazer o papel de Professor Higgins nesta peça. Em Ordinary Man, Rex Harrison declama com música seu amor à vida de homem solteiro, longe das mulheres. A canção tem uma sessão gentil, suave, onde ele descreve sua rotina solitária, deliciosa, e em ritmo agitado ele conta como são as mulheres. É uma festa de se ouvir. --------------- Bernard Shaw escreveu a peça original, Pigmaleão, e o filme baseado na peça, MY FAIR LADY, é bem melhor que a obra de Shaw. Shaw foi solteiro toda a vida. Bem humorado, ele foi figura central na cultura inglesa entre 1890-1950. Hoje está meio esquecido ( Francis o venerava ). Talvez seja sua misoginia que o prejudique. ( Shaw era socialista, seu ostracismo não se deve a política ). O filme, como a peça, trata do amor à língua. Higgins prega a preservação da linguagem culta, refinada, correta. Fica claro que aquele que domina a língua domina o mundo. A decadência, o empobrecimento da língua traz e reflete o fim de uma cultura. Esse é um tema muito atual. A "guerra" mundial hoje é pelo controle da língua, da fala, da comunicação. ------------------------- Com regência de Andre Previn, poder escutar a dicção de Rex, a língua inglesa falada em modo correto, que não é aquele empolado da BBC, ver os modos gentis e viris desse grande ator, é um prazer inesquecível. Este é um cd a ser guardado no coração.

REX HARRISON/ MIKE LEIGH/ RUPERT EVERETT/ GRETA GARBO/ GUINESS

A CASA DA COLINA de Will Malone com Geoffrey Rush e Famke Janssen.
Grupo de pessoas ficam uma noite numa casa assombrada para ganhar um prêmio. William Castle fez esse filme em 1960. Já era ruim. Hoje é pior. Pra que refazer tanto filme? zero.
O VALENTE TREME TREME, de Norman Z. McLeod com Bob Hope e Jane Russell.
Um dentista medroso se casa com Calamity Jane e assim se envolve em missão junto aos índios. Hope é ótimo, mas é Jane quem domina o filme. Frank Tashlin escreveu o roteiro e detestou o resultado. Foi um big sucesso, visto hoje é apenas OK. Nota cinco.

GUN CRAZY de Joseph H. Lewis, com Peggy Cummins e John Dahl.
Rapaz que sempre foi boa pessoa, mas amante de armas, vira bandido ao conhecer uma garota de circo ambiciosa. O filme é um dos grandes cults da história. Muito adiante de seu tempo, quando lançado fracassou, mas era visto pelo pessoal do cinema com admiração. Tem duas cenas antológicas: o assalto visto de dentro do carro, com diálogos improvisados, e o final, no pântano. Um filme que lembra Godard. Ainda moderno. Nota 9.
THE LAST HOLIDAY de Henry Casa com Alec Guiness
Encantador. Um humano filme inglês sobre um homem simples que tem uma doença rara. Sabendo que vai morrer, gasta suas economias em hotel de luxo. Vários personagens bem desenvolvidos, bem humano sem ser meloso. E Guiness numa atuação mágica. Nota 7.
FARSA DIABÓLICA, de Bryan Forbes com Kim Stanley e Richard Attenborough.
Na época causou impressão. Forbes parecia um novo mestre. Mas em dez anos ele cairia na rotina. Mas este é um grande pequeno filme. Ele nos faz entrar na mente de uma mulher muito perturbada. Ela é uma vidente, o marido é um capacho. Sequestram uma menina. O casal é magnifico! O filme, lento e desagradável, feio de se olhar, é inesquecível. Nota 8.
TOPSY TURVY de Mike Leigh com Jim Broadbent, Allan Corduner, Timothy Spall.
Brilhante! Delicioso! Poucos filmes conseguiram retratar de forma tão perfeita a Londres vitoriana. Gilbert e Sullivan foram Lennon e MacCartney de 1880. Um era fechado e ponderado, o outro ambicioso e farrista. Os atores são tocantes. O filme, dirigido com amor, é quase perfeito. Delicioso. Nota Dez!
O MARIDO IDEAL de Oliver Parker com Rupert Everett, Julianne Moore, Cate Blanchett, Minnie Driver e Jeremy Northam.
Oscar Wilde no cinema é sempre um show. E Rupert nasceu para recitar as frases do irlandês. Mas...Julianne estraga as cenas. O rosto choroso dessa atriz melancólica não combina com o wit de Wilde. De todo modo, é OK. Nota 6.
WITHOUT RESERVATIONS de Mervyn LeRoy com Claudette Colbert e John Wayne.
Uma autora de de best seller cruza os EUA com dois soldados. Ela cai de amores por um deles. Hollywood hiper profissional. Eis o filme bem feito padrão de então. Nada tolo, fantasioso e com atores excelentes. Colbert está very hot, Wayne super boa gente. Bela diversão. Nota 7.
SUSAN LENOX, de Robert Z. Leonard, com Greta Garbo e Clark Gable.
Garbo nunca esteve tão frágil. Ela nos apaixona neste melodrama onde uma garota pobre e abusada em casa foge. Ela se envolve com vários homens, mas Gable é o cara. Os primeiros trinta minutos têm altura de obra prima. Expressionistas e belos. Depois cai um pouco, mas é um filme forte. Gable bem jovem, nota 7.
TODOS OS IRMÃOS ERAM VALENTES de Richard Thorpe com Robert Taylor e Stewart Granger.
Uma aventura perfeita. Tem rivalidade entre irmãos, caça à baleia, motim, romance, ilhas, reviravoltas. É diversão que nunca cessa. Excelente! Nota 9.
ODEIO-TE MEU AMOR de Preston Sturges com Rex Harrison e Linda Darnell.
Foi o primeiro fracadsofracasso de Sturges, hoje está reabilitado. Rex dá um show como o maestro que desconfia da esposa mais jovem. Escutar Rex atuar é um dos grandes prazeres do cinema. O filme é criativo e eu o adoro. Humor negro. Nota Dez.

HOBBIT/REX HARRISON/ AL PACINO/ RAY/ SODERBERGH/ DORIS DAY

JUMBO de Charles Walters com Doris Day, Jimmy Durante, Martha Raye.
A vida no circo, onde Doris é a filha do dono, que por sua vez gasta tudo em jogo. O filme é simples, alegre, e entretém. O trio central brilha com sua simpatia. Nota 6.
O ENXAME de Irwin Allen com Michael Caine, Henry Fonda, Richard Widmark.
Abelhas africanas botam pra quebrar no Texas. Caine é um cientista. O filme tem uma direção inábil. Tão trash que fica até funny.
O ÚLTIMO ATO de Barry Levinson com Al Pacino
Birdman? Ator em crise tem ataque no palco. Fica preso do lado de fora, vai morar isolado, se envolve com gente doida... O filme é o mais árido da boa carreira de Levinson, e Pacino está interessado. Confuso, não é um bom filme, mas é interessante. Nota 4.
ADEUS À LINGUAGEM de Godard
Incompreensível. Cenas de um casal, muita nudez, frases inteligentes, imagens trêmulas, confusão. Godard aina é difícil, rebelde, ácido. Atira contra tudo e parece concluir que a linguagem se desfez, não faz mais sentido.
O HOBBIT, TODOS OS TRÊS. de Peter Jackson com Martin Freeman, Ian McKellen
Jackson tem coragem! Após os anéis ele arrisca os dedos. Volta à Tolkien e usa um livro muito mais pobre do autor. E o estica em quase nove horas de cinema. A parte um é boa, a segunda é ruim e a terceira é a melhor. Um erro está no elenco. Freeman é um hobbit ótimo, mas o líder dos anões é fraco. De todo modo, há uma beleza estética que não cansa. O maravilhamento dos anéis se perdeu, mas é boa diversão. Nota 6, 3 e 6.
FULL FRONTAL de Soderbergh com Julia Roberts, David Duchovny,Catherine Keener
Soderbergh e seu medíocre lado artístico. Ele brilha quando pop, mas, inseguro, acha que precisa provar ser arteiro, e faz suas besteiras metidas à Cassavetes ou Godard. Aqui é um filme dentro de um filme. Só what?
THE CHESS PLAYERS de Satyajit Ray
No século dezenove enquanto a Inglaterra se apossa da Índia, dois nobres se distraem jogando xadrez. O filme é chato e é forte. Ficamos entediados, mas depois que ele acaba não nos larga. Lembramos dele com admiração. Isso é arte. Nota 7.
ASFALTO de Joe May
Filme mudo alemão de um dos mais poderosos nomes da época. Um tenente de policia é seduzido por uma mulher fatal. O filme tem um belo clima sensual. Pode ser um bom começo para aqueles que desejam adentrar o mundo do cinema dos anos vinte. Nota 6.
ANNA E O REI DO SIÃO de John Cromwell com Irene Dunne e Rex Harrison.
Primeira versão da historia da professora que vai à Tailândia ensinar rei a ser moderno. Lindo, dramático, serio e muito bem interpretado. Rex consegue ser duro, frio, e frágil ao mesmo tempo. Envelheceu nada esta produção Fox. Nota 8.

A MULHER DO PADEIRO/ BIRDMAN/ BILL MURRAY/ VIVEN LEIGH/ JACQUES BECKER/ CADDYSHACK /LUCY

   UM SANTO VIZINHO (ST. VINCENT ) de Theodore Meel com Bill Murray, Naomi Watts, Melissa McCarthy e Chris O`Dowd
Bem...Bill Murray concorreu ao Globo de Ouro e perdeu. Mas esta é sua melhor atuação em anos. Mesmo que ele faça mais uma vez o cara ranzinza e doidão de sempre. Ele é um cara que mora sozinho. Uma vizinha se muda para a casa ao lado. Ele acaba virando babá do filho dela. Claro que ele e o moleque vão se tornar amigos. E claro que ele tem uma vida secreta. Apesar de ser óbvio o filme até convence. O elenco é muito bom e há uma cena com verdadeira emoção ao final. Muito mais surpreendente é o fato deste filme americano mostrar católicos que não parecem doentes ou piada pronta. É um drama. Sério. Vale a pena ver. Nota 6.
   BIRDMAN de Alejandro Iñarritu com Michael Keaton, Naomi Watts, Edward Norton
Forte e febril, já li algumas pessoas o chamando de fake. Bobagem! É o velho preconceito contra filmes com várias indicações ao Oscar? Talvez seja pior que isso, temo que não tenham captado a profunda ironia do roteiro. Temo que tenham levado tudo a sério. Uma dica: todas as cenas dramáticas são piadas, todas as cenas com o Birdman é que devem ser levadas a sério. Personagens como o ator metido, a filha junkie ou a crítica não devem ser encarados como exagerados ou mal escritos, eles são patéticos de modo proposital, e assim criticam certo tipo de filme de arte muito em moda atualmente: o filme que traz um banner em todas as cena bradando: arte! Keaton está brilhante! A trilha sonora é perfeita, assim como a fotografia. Um grande filme. Nota 9.
   ( O que? Voce dá 9 para um grande filme? Sim. Ele é grande, forte, mas tem falhas, muitas. Dez é para filmes que podem não ser tão fortes, mas que são isentos de falhas. Filmes perfeitos. )
   SNATCH de Guy Ritchie com Jason Statham, Brad Pitt, Dennis Farina, Vinnie Jones
Guy Ritchie....Danny Boyle....Acho que Guy é melhor. Well....houve um tempo, muito divertido, em que a moda eram os filmes ""espertos"". Pulp Fiction vem a cabeça, mas antes dele houve O Nome do Jogo de Barry Sonnenfeld, houve Stephen Frears com The Hit. E de repente era moda fazer filmes com violência gráfica, diálogos nonsense e personagens elegantemente perversos. Deu certo. Eu adorava! Mas bastou dois ou três fracassos ( A Mexicana, O Nome do Jogo II e Jackie Brown ) para que a coisa se fosse. Uma pena. Revendo Snatch hoje, em 2015, já 15 anos passados, eu estranhei o começo, a trilha techno pareceu envelhecida, mas logo me envolvo e começo a me divertir. Muito. Snatch sobrevive. É uma sopa louca de sangue, risos e ritmo. O segredo para esse tipo de filme é um só: personagens que a gente goste. Se o roteiro consegue isso pronto, o filme vence. Aqui temos pelo menos 7 personagens excelentes. Eu os contei. O filme é muito bom. Nota 7.
   LUCY de Luc Besson com Scarlet Johansson e Morgan Freeman
O filme em si é um Bresson de segunda. Luc já fez coisa melhor. Fala de uma garota que é sequestrada por coreanos. Implantam droga, uma nova super droga, nela. Depois de várias cenas gratuitas de sangue e sofrimento, a droga se espalha no corpo dela. Isso faz com que o cérebro se expanda, ela, aos poucos chega aos 100% de uso cerebral. É isso. Freeman faz um professor que irá tentar a ajudar. Pois bem, o filme tem paralelamente a sua vulgaridade violenta,  considerações filosóficas sobre os assuntos que mais me interessam de uns quatro anos para cá. Tempo, matemática, evolução. Óbvio que se alguém tivesse 20% de seu cérebro ativado teria como primeira ação o não mais entendimento com os outros humanos. Ele seria uma outra espécie e nossos conceitos de tempo e linguagem lhe seriam alienigenas. Mas mesmo assim este filme não teme o possível ridiculo e vai fundo. Ele inspira longas conversas. Não darei nota.
   AS CALÇADAS DE LONDRES de Tim Whelan com Charles Laughton, Vivien Leigh e Rex Harrison
Feito nos anos 30, suas primeiras cenas são maravilhosas. Nas ruas de Londres, em frente aos teatros, artistas de rua se apresentam e passam o chapéu. Laughton é um declamador de rua, Vivien uma malandra da sarjeta, e todas as cenas nas ruas são de uma originalidade e de um sabor boêmio soberbos. Vivien está lindíssima, fazendo uma garota ardida ela se prepara para ser a Scarlet de ...E O Vento Levou, dois anos mais tarde. Laughton dá seu show habitual. O filme é delicioso, em que pese um quase excesso de melô na parte final. Nota 7.
   JAMAIS TE ESQUECEREI de Roy Baker com Tyrone Power, Ann Blyth e Michael Rennie
Escolhendo DVDs para comprar topo com este filme do qual nunca ouvi falar. Mas o tema me intriga e o compro. Um cientista atômico é obcecado pelo século XVIII. Atingido por um raio volta no tempo. Em 1785 se decepciona. Em vez de achar a era da razão, encontra um tempo de sujeira, violência, exploração e muito preconceito. Tenta apressar o progresso e é dado como louco. Nesse meio tempo se apaixona por uma mulher da época. O filme tem um tema interessante: só aceitamos aquilo para o que estamos preparados a aceitar. Um fósforo ou um barco à vapor antes de seu tempo são inaceitáveis. O filme é de 1951, e portanto sua explicação dessa viagem no tempo é a mais racional possível. Fosse um filme de 2015 a explicação seria bem mais new age. Um filme obscuro, esquecido, apesar da presença de Tyrone no auge de sua fama superstar. Tem clima, entretém. Nota 6.
   OS AMANTES DE MONTPARNASSE de Jacques Becker com Gerard Philipe e Lili Palmer
O filme conta a bio de Modigliani, um dos mais originais pintores do começo do século XX. Bio inteligente, ela não tenta contar tudo da vida do artista, na verdade o que ela descreve são os últimos anos da vida de Modi. O filme, do grande Becker, com bela fotografia de Christian Matras, não tem muito o que dizer. Isso porque a vida de Modi se resumiu em álcool e pobreza radical. O filme deprime, nada há de belo na vida de um autodestrutivo. É um dos últimos filmes de Philipe, ele morreria jovem no fim dos anos 50. Há quem o considere até hoje o grande ator do cinema francês de sempre. Era excelente ator e muito bonito. Ele faz um Modi seco, egoísta, acabado. Um filme dificil. Nota 6.
   A MULHER DO PADEIRO de Marcel Pagnol com Raimu e Charpin
Pagnol foi um grande escritor e um grande divulgador da cultura da Provence. E que ocasionalmente fazia filmes.  Feito em 1938, este surpreende por várias coisas. Pelo extremo realismo, pela precariedade da produção e pela excelência de seus atores. Pauline Kael considerava a atuação de Raimu neste filme uma das cinco melhores de todos os tempos em qualquer lingua. A história: um novo padeiro chega à uma vila na Provence. O pão que ele faz é excelente. Gordo e velho, ele é casado com uma bela jovem. Ela foge com um pedreiro. O padeiro não aceita a fuga e fica se auto-enganando, acha que ela foi visitar a mãe, está voltando etc. Quando cai em si, vira um bêbado e deixa de fazer pão. A vila toda se une para trazer a esposa de volta. A obrigam a voltar. É isso. O filme vai do mais patético ao sublime. O padeiro, absolutamente idiota sem ser caricato, um trouxa sem nunca parecer artificial, é magnífico. Raimu não parece atuar, parece ser o cornudo. A vila zomba dele, mas ao mesmo tempo têm carinho pelo bobo. E todos os atores parecem brilhar. Mas não se engane, não é um filme fácil. As cenas são longas, se fala muito e os ambientes são muito pobres. Enquanto via o filme me peguei entediado algumas vezes, mas que estranho, hoje recordo o filme, dez dias depois, com muita admiração e simpatia. Um filme diferente de tudo que voce tenha visto.  O sotaque da verdadeira Provence todo aqui. Nota 7.
   CLUBE DOS PILANTRAS ( CADDYSHACK ) de Harold Ramis com Chevy Chase, Bill Murray, Rodney Dangerfield e Ted Knight
Ri muito! O filme é de 1980, e não sendo por menos, mostra como eram os teens de então. Kinght faz de forma brilhante o dono do campo de golfe, Rodney é um milionário brega e que sabe viver, Murray um doidão que é o zelador do campo e Chevy é um hilário golfista zen. Todos estão maravilhosos! Cenas como a da piscina, a chuva no campo ou o final com o torneio são de antologia. E que humorista brilhante era esse Rodney!!!! Eis a grande geração do humor americano, que tinha ainda nesse tempo Steve Martin, Dan Akroyd, Andy Kauffman, Robin Willians e Martin Short. Ah e um tal de Eddie Murphy! Nada mal. O filme é muito bom! Nota 8.
   ZONA DE PERIGO de Rowdy Herrington com Bruce Willis, Sarah Jessica Parker e Dennis Farina
Um dos pontos mais baixos da carreira de Bruce. O roteiro tem vários furos, o assassino é fraquíssimo e o suspense banal. Para piorar tudo tem uma trilha sonora mediocre. Bruce parece desinteressado. Nota 3.
  

HITCHCOCK/ POWELL/ CAROL REED/ JACK CARDIFF/

   GESTAPO de Carol Reed com Margaret Lockwood, Rex Harrison e Paul Henreid
Ando revendo filmes ingleses. Carol Reed forma, ao lado de Powell, Lean e Hitchcock, o quarteto soberbo do cinema clássico da ilha. Cada um com seu estilo definido, eles são mestres consumados e sábios em sua forma de narrar e de seduzir. Reed é o mais realista. Aqui ele narra um jogo de gato e rato entre dois inimigos, um nazista e um inglês, ambos em busca de um cientista. Rex já tem aqui desenvolvida sua forma de atuação, leve, sorridente e elegante. O filme é pura diversão e demonstra magnificamente o modo como os ingleses se percebiam a si-mesmos. Nota 7.
   E UM DE NOSSOS AVIÕES NÃO REGRESSOU de Michael Powell
Revejo os filmes menos famosos de Powell. O modo como ele e Pressburger viam a guerra tem muito a nos ensinar. Ele nunca deixa de ser patriota, afinal, este filme foi feito durante a guerra, mas o modo como ele vê os alemães é não só humano como também corajoso. Eles são gente também, diferentes dos ingleses, lutam pelo lado errado, mas não são monstros, têm alma. Aqui é narrada a missão de um grupo de aviadores que ao voltar de um bombardeio em Stuttgart são alvejados e caem na Holanda. A população holandesa os ajudará a voltar a sua terra. É um belo filme e tem retrato carinhoso do homem comum, não dos heróis. Nota 7.
   PARALELO 49 de Michael Powell com Laurence Olivier, Leslie Howard e Eric Portman
Um grupo de marujos alemães é atacado nas costas do Canadá. Seu submarino afunda e eles devem em terra conseguir voltar a Alemanha. Este é o filme que deu fama a Powell. Sucesso nos EUA, é uma linda aventura filmada no Canadá. Os alemães são individualizados, sim, há um vilão, mas também há um alemão bom. Ver este filme durante a guerra deve ter sido muito estimulante. Nota 7.
   A BATALHA DO RIO DA PRATA de Michael Powell com Peter Finch e Anthony Quayle
Aqui já estamos na fase dificil da carreira de Powell. Feito nos anos 50, o filme fala de um navio alemão famoso por afundar navios mercantes aliados nas águas do Atlântico Sul. O que se narra é sua caçada e sua agonia. Powell mostra o capitão do navio alemão como um homem honrado, quase um herói trágico. O estilo de Powell está todo aqui, ele exibe com calma e cuidado a civilidade dos homens, a camaradagem e o respeito entre os iguais. O filme emociona, mas em seu inicio pode irritar, não estamos acostumados a tanta educação! Revisto, este filme cresceu muito em meu conceito e hoje é dos meus filmes de Powell mais queridos. Estranha a sina desse diretor, a de ser querido só em revisões...todos os seus filmes me decepcionaram na primeira vista ( inclusive Red Shoes ) e se tornaram gigantes na segunda olhada. Nota 9.
   FESTIM DIABÓLICO de Alfred Hitchcock com James Stewart, John Dall e Farley Granger
Que delicia!!! É o famoso filme de Hitch sem cortes. Eu o adoro, mas Hitch não gostava dele. Um casal gay mata um amigo só pelo prazer de cometer uma obra de arte. Convidam os pais da vitima para jantar, e o corpo está dentro de um baú que é usado como mesa de jantar. Dá pra ser mais macabro? O pai come carne sobre o corpo do filho. O humor de Hitch raras vezes foi tão afiado. James Stewart entra em cena como o professor dos assassinos. E nós nos alegramos ao rever esses ator-amigo. O filme é absolutamente perfeito. Nota DEZ.
   CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO de Alfred Hitchcock com Joel McCrea, Larraine Day e George Sanders
O excesso de ação atrapalha a narrativa desta aventura de Hitch. Joel é um repórter americano que vai a Holanda cobrir a guerra. Se envolve em jogo de espionagem. Sanders é excelente, mas Joel e Day são muito peso leve, estão no filme errado. Nota 6.
   OS PÁSSAROS de Alfred Hitchcock com Rod Taylor, Tippi Hedren e Jessica Tandy
Uma mulher destrói a harmonia masculina de uma comunidade. Sim, esse é o sentido do filme. Desde a cena na loja de pássaros, até o final inesquecível, todo lugar em que ela pisa surge uma ameaça. Pássaros se juntam e passam a atacar. É um dos filmes aparentemente mais simples de Hitch e o mais absurdo ( em superficie ). Mas seus medos estão todos aqui.  O maior de todos seu pavor das mulheres. Falar de suas cenas é chover no molhado, o filme é muito conhecido. As melhores são aquela que mostra os pássaro se reunindo atrás de Tippi, e o final, eles andando em meio as pássaros que se aquietam, talvez porque ela foi vencida... Vi esta obra-prima pela primeira vez em 1973, na velha TV Tupi. Eu era criança e confesso que tremi todo o tempo. Era uma época bacana pra se assistir filmes de suspense, basta dizer que o silêncio na rua ainda existia e a iluminação lá fora era precária. Nota DEZ.
   FILHOS E AMANTES de Jack Cardiff com Dean Stockwell, Wendy Hiller e Trevor Howard
O mundo de D.H.Lawrence levado ao cinema. Numa comunidade pobre da Inglaterra, vemos uma familia de mineiros. Uma familia infeliz, onde o pai violento tem rancor pelo filho que o renega e a mãe, hiper protetora, mima esse filho que quer ser pintor. A vida desse filho é destruída pelo meio em que vive. Parece bom, mas não é. O primeiro erro é Stockwell. O outro é a falta de criatividade de Cardiff. Ele foi o grande diretor de fotografia de Red Shoes, mas como diretor nunca funcionou.  O filme é chato. Nota 3.

DEPARDIEU/ JAMES CAGNEY/ BATMAN/ EMMANUELLE BÉART/ RIDLEY SCOTT/ CAROL REED

   CORAÇÕES LOUCOS de Bertrand Blier com Gerard Depardieu, Patrick Dewaere, Miou-Miou e Isabelle Huppert
Um original. Dois amigos que vivem de roubos fazem tudo o que o desejo lhes manda fazer. E tudo sempre dá errado, claro. Mas eles não desistem. São burros, grossos, violentos, e pensam que toda mulher quer e deve ser usada. No inicio admiramos o filme e odiamos os personagens; depois começamos a sentir uma ternura indesejável por eles. O filme ruma ao sublime, sublime que nasce nas cenas da carona final. Eles quase se humanizam de tanto apanhar. Feito hoje seria transformado em filme solene e psiquiátrico, felizmente foi feito na hora certa ( 1974 ). Seus atores viraram estrelas, eram todos desconhecidos então. Um filme de extremos, voce vai adorar ou abominar e sua reação dirá muito sobre voce mesmo. Nota 9.
   GESTAPO de Carol Reed com Rex Harrison e Margaret Lockwood
Carol Reed é um dos grandes nomes da história do cinema inglês. Aqui, em plena segunda guerra, ele faz um filme em que um cientista tcheco é disputado por espiões ingleses e nazistas. O enredo é totalmente inverossimil, mas tem belas cenas em trem, suspense e clima. Adoro esses filmes noturnos, escuros, cheios de sombras e névoa. Mas a fraqueza do roteiro o compromete. Nota 6.
   JEAN DE FLORETTE de Claude Berri com Yves Montand, Gerard Depardieu e Daniel Auteill
Um imenso sucesso popular e de critica na França de 1987. Baseado no livro de Pagnol, passado na Provence, fala de dois viizinhos lavradores. Um, que vive na terra desde sempre, é falso, ignorante, manipulador, o outro, que acaba de chegar da cidade, tenta aplicar a ciência ao campo. É um homem alegre, honesto, otimista. Está feita a disputa, disputa pela água e pela sobrevivência na terra dura da Provence. Bem...Peter Mayle escreveu montes de livros sobre o lugar, para ele um tipo de paraíso cheio de franceses bons e engraçados. Pois este filme mostra a verdade, é um lugar dificil, áspero, de gente desconfiada e fofoqueira. Devo dizer que é um dos filmes que mais me enervou, fiquei completamente enojado com a maldade que ele exibe. Será genético, já que sei que meus antepassados viveram exatamente como eles? Poucos filmes exibem a maldade humana de modo tão cruel. Uma maldade pequena, mesquinha, burra, estúpida. O filme, que é simples até a medula, me foi insuportável. Sem Nota.
   A VINGANÇA DE MANON de Claude Berri com Daniel Auteill, Yves Montand e Emmanuelle Béart
Continuação de Jean de Florette filmada ao mesmo tempo que o filme acima. A filha de Jean cresceu, o bronco que é seu vizinho se apaixona por ela, ela se vinga. Preciso destacar a atuação de Auteill. Ele faz um tipo de homem-bicho, homem-pedra, limitado, sovina, rude e sem palavras, que cai de amores por Manon e sofre terrivelmente por isso. Uma atuação tão perfeita que chega a assombrar. Béart se fez estrela aqui e tem uma beleza natural, pura, esfuziante. Para muitos é a mais bela das atrizes atuais. E por fim, uma nota sobre o mito Montand. É um de seus últimos filmes e ele faz algo de muito raro. Pois passamos todos os dois filmes o detestando e ao final, quando ele sucumbe à dor, o perdoamos e desejamos que seu sofrimento pare. O rosto melancólico, crispado de culpa...lindo. Os dois filmes juntos são uma bela obra sobre um mundo seco e mesquinho. Longe da perfeição, mas bastante fortes.
   A CANÇÃO DA VITÓRIA de Michael Curtiz com James Cagney e Walter Huston
Bio sobre George M. Cohan, uma estrela dos palcos americanos entre 1890 e 1920. Os americanos adoram este filme, que é muito bem feito, mas fora da América ele tem dois problemas sérios. Primeiro o fato de que Cohan não é uma figura mundial, e segundo o hiper patriotismo do filme. Mesmo que voce não seja anti-americano, incomoda seu excesso de bandeiras e frase sobre a glória da América. Cagney está hiper atlético, dançando em seu modo irlandês, longe dos filmes de gangster. Nota 4.
   BATMAN O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE de Nolan com Bale e etc
Caraca! Lançado em centenas de salas, isto não é um filme, é uma operação de marketing. Nolan faz de tudo para se dar bem. Em meio a crise na cidade de Gotham ele tenta agradar a todas as tribos, e desse modo não agrada ninguém. Acena para liberais e republicanos, defende a ordem e o kaos, nada defende, então a verdade é que acena para os recordes de bilheteria. Problema nenhum se o filme fosse um tipo de Star Wars assumido. Mas, como bom Jeca, pinta tudo com um leve verniz de "arte". Pra que esse verniz só ele sabe. Arte de Jeca, que nunca é criatividade, mas sim escuridão e "dor". Jecas acham arte uma coisa tão esquisita, tão "superior", que sempre tendem a pensar que ela seja tristeza e desencanto. Esquecem que arte é vitalidade, coisa que todos os Batmans, desde Tim Burton, nunca tiveram. Se eu o analisar apenas como uma aventura pop ( o que não quer ser ), a coisa fica pior. Aventura tem de ser divertida, leve, ágil e fazer com que os minutos passem voando. Isto é pesado, solene, complicado, chato, arrastado. Saudade de meus gibis. Nota 1.
   PROMETHEUS  de Ridley Scott
Aff.... confesso que dormi. Acho que já deu pra Scott. Seus filmes, hiper empetecados, me lembram sempre o pior do cinema publicitário. O roteiro, pseudo profundo, é risivel. Alguém leva essa gororoba a sério??? Kubrick um dia fez uma obra de arte abstrata chamada 2001, e até hoje pagamos o pato. ZERO!!!

MANKIEWICZ/ REX HARRISON/ BRUCE WILLIS/ BING CROSBY/ HUSTON/ SINATRA/ OKLAHOMA!

   CHARADA EM VENEZA de Joseph L. Mankiewicz com Rex Harrison, Susan Hayward e Cliff Robertson
Um velho milionário em Veneza se finge de doente terminal para avaliar a reação de suas três ex-mulheres. Mankiewicz, o grande diretor de A Malvada, famoso por seus roteiros exemplares, não consegue criar aqui o interesse para manter o filme de pé. Sua intenção é a de fazer uma sofisticada comédia levemente cínica. Cínica ela é. De qualquer modo, Rex Harrison é sempre um mestre nesse tipo de personagem. Vê-lo atuar salva o filme do meramente ruim. Nota 5.
   CATCH.44 de Aaron Harvey com Bruce Willis, Forest Whitaker e Malin Akerman
É um compêndio de cenas roubadas de filmes de Tarantino e Rodriguez. Será que esse Aaron é um pseudônimo de um dos dois? Este filme não tem história, são apenas cenas de diálogos pseudo-espertos e tiros sanguinolentos. Forest faz seu tipo "sou um pobre diabo" e Bruce Willis faz Bruce Willis. Mas... que diabos, é divertido! E dura apenas oitenta minutos. Nada de tentativa de fazer arte, nada de tristezinhos sensíveis, nada de denúncias para festivais. É apenas um filme adolescente-macho, cheio de rocknroll ( tem Bowie cantando Queen Bitch ). E eu adoro Bruce Willis!!!! Nota sei lá....cinco tá bom.
   O BOM PASTOR de Leo McCarey com Bing Crosby e Barry Fitzgerald
É um dos filmes mais detestados pelos críticos moderninhos. Isso acontece por ele ter, no Oscar de 1944, "roubado" os prêmios de PACTO DE SANGUE, a obra-prima de Billy Wilder. Que culpa este filme tem? É um bom filme otimista e tolo. Bing, muito bem, faz um padre moderno e sempre de bom humor, que é enviado a paróquia decadente para a salvar. Fitzgerald, ator irlandês que chegou a trabalhar no Abbey Theatre, é o velho padre veterano e antiquado. Acontece um milagre no filme: ele não é meloso e nem chato. Tem uma leveza, uma falta de pretensão maravilhosa. Mérito de Leo MacCarey, diretor formado em filmes de Harold Lloyd, e diretor dos irmãos Marx em Duck Soup. Bing Crosby canta Swimming on a Star...é divino!!! A perfeita canção pop. Delicioso passatempo. Nota 8.
   A BÍBLIA, NO INÍCIO de John Huston com George C.Scott, Ava Gardner, Peter O'Toole...
Um dos grandes desastres de Huston. Mas este não é um soberbo desastre, é apenas um filme muito ruim. O antigo testamento é infilmável. Ele é poesia, feito de imagens simbólicas e prosa intrincada, nada menos filmável. Mas Huston amava textos não-filmáveis. Aqui quebrou a cara. O filme é chato, longo, tolo, infantil e feio de se ver. Um caos. Nota Zero.
   JACK, O MATADOR DE GIGANTES de Nathan Juran
Na época em que este filme foi feito ( 1962 ), Ray Harryhausen era o rei dos efeitos especiais ( Ray é o ídolo de Tim Burton ). George Pal vinha logo em seguida. Pois bem, este filme tem efeitos que Não são de Ray ou de George. Portanto são efeitos muito ruins. Não possuem a perfeição de Ray e nem a poesia de George. Isso derruba esta aventura cheia de bruxos, monstros e que tais. Tudo tem jeito de carnaval e nunca de magia. Nota 2.
   ROBIN HOOD DE CHICAGO de Gordon Douglas com Frank Sinatra, Peter Falk, Dean Martin
Chicago dos anos 30. Falk e Sinatra estão em gangues rivais. Sinatra acaba por se tornar um tipo de Robin Hood da máfia. E o roteiro é só isso. Não fossem duas coisas geniais: Peter Falk faz um mafioso "italiano" hilário!!! Tudo que De Niro faria depois está aqui. A voz enrolada e as palavras saindo como cascata, os trejeitos das mãos, o modo debochado de sorrir, é uma criação maravilhosa de um grande ator. E há Bing Crosby, que faz um almofadinha nerd, que acaba por se unir ao grupo. A cena em que Sinatra e Dean ensinam a Bing como se vestir para sair é ótima. O filme, fora isso, é bastante assistível. E ainda vemos os Rat Packs fazerem seus tipos espertinhos de sempre. Nota 6.
   OKLAHOMA! de Fred Zinnemann com Gordon McRae, Shirley Jones e Gloria Grahame
Agnes de Mille fez as coreografias e isso é muito bom. As cenas de dança, infelizmente poucas, são fascinantes. Este filme mostra o porque dos musicais começarem a ruir em cinema. Deixou-se de criar musicais para cinema, e apostando no certo, se começou a transpor para a tela sucessos da Broadway. O que funciona no palco pode ser um fiasco na tela. Este filme, imenso, caríssimo, não foi um fiasco, mas foi pensado como um clássico, e nem sequer é um bom filme. Como cinema, as cenas melhores são aquelas com Gloria Grahame, que faz uma moça incapaz de dizer não a um moço. Gloria foi uma atriz original, meia feinha e muito sexy. Sua vida pessoal foi mais interessante ainda... Zinnemann que é um grande diretor, não sabe fazer um musical. Percebemos seu desconforto, ele não corta quando devia, não estica o que merece ser apreciado. Tudo isso faz deste filme uma coisa esquizo, sem rumo, artificial. Nota 4.
   MILAGRE NA RUA 34 de George Seaton com Maureen O'Hara, Edmund Gwenn e Natalie Wood
É a história do velhinho que pensa ser Papai Noel. Ele passa a trabalhar na Macy's, onde conhece mãe solteira que tem um filha sem ilusões sobre a vida. Este filme, simples e bonito, ganhou um Oscar de roteiro. Mereceu. Embora pareça apenas um filme bacaninha de natal, ele é na verdade um muito sério debate sobre o que é real e o que parece ser a verdade. Seaton, que escreveu a história, dirige tudo como um quase documentário, cenas cruas, sem muita produção. Para quem quiser ver um filme de natal sem nada de piegas ou de bobo, este é o filme. Encantador. PS: Natalie Wood, ainda criança, dá um show como a menina "realista". Gwenn faz um Santa Claus próximo do perfeito. Nota 8.

ALTMAN/ MARTIN RITT/ REX/ CHABROL/ DENZEL/ JOHN WOO/ THE FIGHTER

A FORTUNA DE COOKIE de Robert Altman com Julianne Moore, Glenn Close e Liv Tyler
Quem leu o livro de Biskin sabe que após o sucesso, Altman se dedicou a sempre ser surpreendente. E também a destruir suas chances de ser pop. Mash é uma obra-prima de anarquia, liberdade e humor; mas Altman nunca mais conseguiu chegar perto desse cume. McCabe e Mrs Miller é um maravilhoso western melancólico e junkie, Short Cuts é um dos melhores filmes dos anos 90 ( se não for o filme da década ), mas no geral, a carreira desse diretor de marca e toque tão original foi uma sucessão de filmes que quase chegaram lá. Neste filme, fora o ótimo elenco ( todos os filmes de Altman têm ótimos elencos ) sómente o clima de "deep south" pode manter o interesse do público. O filme é flácido. Nota 3.
PARIS BLUES de Martin Ritt com Paul Newman, Sidney Poitier e Joanne Woodward
Entre 1955/1963 vários filmes foram feitos sobre jazz. O estranho é que os filmes que melhor mostram o que era o jazz, são aqueles que não eram especificamente sobre o jazz, mas sim os que tinham o espírito, a alma da música negra. Filmes sobre assaltos, sobre a publicidade ou sobre tribunais. Este é sobre dois músicos de jazz morando em Paris. Eles se apaixonam por duas turistas americanas que tentam fazer com que ambos voltem para os EUA. Mas isso seria abrir mão de uma carreira. O filme é estranho. Tem 3 atores excelentes, mas nenhum deles brilha, porque seus personagens são muito superficiais. Mas em compensação, tem Paris no auge de sua beleza suja e boêmia. Olhar para aquela cidade cinza, feita de bares, becos e bancas de rua é um imenso prazer. A trilha sonora é de Duke Ellington e há uma cena de improviso com Louis Armstrong que consegue ir à raiz do que significa jazz. Nada mal, mas podia ser muito melhor. Martin Ritt foi um muito importante ( e pop ) diretor dos anos 50/60/70/80, um tipo de Sidney Pollack com consciencia social. Nota 6.
O ROLLS ROYCE AMARELO de Anthony Asquitt om Rex Harrison, Jeanne Moreau, Shirley MacLaine, Alain Delon, George C. Scott, Ingrid Bergman, Omar Shariff
Asquit, diretor inglês rei da finesse, dirige este caro projeto que acompanha a "vida" de Rolls amarelo. São 3 histórias: na primeira ( a melhor ) vemos um tipo de nobre inglês, que ao presentear a esposa com o carro, descobre que ela lhe é infiel. Harrison dá um show de sutileza como esse marido ferido. O momento em que ele diz ( à Jeanne Moreau ), "de agora em diante odiarei cada minuto da minha vida", é momento de alta arte. O segundo episódio, sobre gangster e prostituta em viagem a Itália, é bem mais fraco. No terceiro, vemos o Rolls já velho na segunda guerra. O valor do filme está em sua bela técnica e no excelente primeiro episódio. Nota 5.
THE CRIMINAL de Joseph Losey com Stanley Baker
Que ótimo diretor Losey foi. Americano, perseguido pelo MacCarthismo, reergueu sua carreira na Inglaterra. Seus filmes são sempre duras críticas a sociedade. Aqui, em mundo de gatunos vagabundos, acompanhamos Baker como um presidiário. Na prisão ele é rei. Ao sair, tenta um golpe, mas tudo acaba saindo de seu controle. O filme é sexy, seco, nada "simpático". Stanley Baker faz tudo aquilo que Clive Owen tenta; eis um ator que eu não conhecia e que me agradou bastante. Trilha sonora genial, fotografia de Oswald Morris, elenco inteiramente afiado. Um belo filme sobre o lado podre da Inglaterra da época. Nota 7.
AS CORÇAS de Claude Chabrol com Stephane Audran, Jacqueline Sassard e Jean-Louis Trintignant
Uma entediada "burguesa" seduz moça na rua. Leva-a para viver em sua casa do campo, onde vive um casal gay. Mas surge um amigo que desfaz essa falsa paz. Nouvelle Vague de 1968, ou seja, de sua segunda fase, muito mais radical e muito menos interessante. O filme é seco demais, árido, sem emoção. Essa falta de emoção é proposital, mas o que ganhamos em troca ? O filme acaba sendo apenas uma tese sociológica sem clima ou charme. Nota 3.
INCONTROLÁVEL de Tony Scott com Denzel Washington e Chris Pine
Quem foi o mala que inventou esse estilo de filmagem ? Essa coisa de não nos dar a menor chance de pensar, ou pior, de escolher o que olhar em cada take. Veja como é : se o cara fala e acende um cigarro, a câmera dá close no cara falando, desce ao cigarro e volta ao rosto. O que é isso ? É muito fácil interpretar assim, é muito fácil filmar assim; voce não precisa interagir com outro ator, voce não precisa compor a cena, arrumar um grupo de atores. É tudo feito um a um, pedaço por pedaço. Miséria estética absoluta. Closes, closes e mais closes. Quem inventou isso ? Tony Scott, por volta de 1985 com Top Gun, um filme sobre aviões que passava todo o tempo dando closes no rosto e no braço de Tom Cruise. Aqui vemos um trem descontrolado. E é só. Denzel, ator maravilhoso, nada tem a fazer, passa o filme todo sentado. Uma geração inteira está sendo deseducada. Além de não terem mais a paciência de assistir algo que não as esbofeteie todo o tempo, estão perdendo o dom de olhar. Nota 2.
ALVO DUPLO de John Woo com Chow Yun Fat e Leslie Cheung
Dois irmãos: um é policial, outro é bandido. O bandido tenta se redimir. Woo inventou o moderno tiroteio. Ele é o cara que criou essa coisa de várias pistolas se apontando ao mesmo tempo ( não foi Quentin ) e também a famosa cena da explosão às costas do herói que anda indiferente. Aqui há uma sinfonia de sangue, pulos, tiros, dor e carne estilhaçada. E ritmo. Apesar da péssima trilha sonora ( esse é o grande defeito dos filmes de Hong Kong ) é um absorvente filme policial. Quem me lê sabe: voces estão testemunhando um cara descobrir toda a riquesa de um continente de cinema. Nota 6.
THE FIGHTER de David O. Russel com Mark Wahlberg, Christian Bale, Melissa Leo e Amy Adams
Não é um filme sobre box. É sobre familia. Mas é daí ? Quero dizer, o que está acontecendo? Este filme é ok, mas é um filme de tv. ( Ou o que era antigamente um tipico filme de tv). As imagens são banais, a história muito "humana" e muito simples, e os atores fazem apenas seu feijão-com-arroz de sempre. ( E mesmo Bale, que voltou a Robertdeniromente tentar impressionar com sua transformação física, está apenas ok. Às vezes ele parece um cara interpretando e não um personagem ). Este filme, que é um Rocky I bem piorado ( Rocky I emociona ), não é ruim, não mesmo. Mas concorre a vários prêmios no Oscar. Bem... acho que essa coisa de Oscar já era. Ou o cinema já se foi... as lutas são especialmente mal filmadas. Este filme me deu uma vontade imensa de rever Mean Streets ( quem já teve a honra de ver essa obra-prima de Scorsese sabe do que falo. As cenas de Mark com Bale tentam se parecer com aquelas de Keitel com De Niro e jamais chegam perto ). Quem quer ver um grande filme de box, veja The Set Up de Robert Wise, e quem quiser ver um grande filme... fuja. Mas ele não é ruim, é mediocre. Nota 4.

MICHAEL POWELL/ LEAN/ HEPBURN/ FRED E GINGER/ CHOW

KUNG FU HUSTLE de Stephen Chow com Stephen Chow
Imenso sucesso na Asia, este filme é o que pode ser chamado de festa de reveillon. Ele é muuuito engraçado e é feito com uma técnica cinemática assombrosa. Chow usa todas as referências possíveis : Tarantino, Keaton, Tati, Scorsese e ainda Fred Astaire ( há bela homenagem a Top Hat ). Sem dúvida é um dos grandes filmes deste milênio. É ver para crer. Nota DEZ!!!!!
OS 5 VENENOS de Chang Cheh
Clássico da Shaw Brothers. Fala de grupo de ex discipulos Shao Lin que procura tomar posse de fortuna. É cada um por si. As lutas são estupendas, os cenários muito criativos e a diversão está garantida. Como já falei, após esse aprendizado de filmes orientais, fica dificil para mim engolir a parte de ação de filmes como Batman, Homem de Ferro e que tais. Nota 7.
O ESPIÃO NEGRO de Michael Powell com Conrad Veidt e Valerie Hobson
Para Scorsese e Coppola, Michael Powell foi um gênio, o maior diretor da Inglaterra. Eu concordo. Todos os seus filmes variam entre o genial e o excelente. Além do que ele fez de tudo : comédia, drama, musical, fantasia, aventura, filme experimental. E culminou com A Idade da Reflexão, o filme mais alegre da história. Este é de seus primeiros filmes e fala de espião nazi que trabalha na Escócia. Suspense hitchcockiano, belo clima de fatalidade, tudo feito com rapidez e simplicidade. Um gênio em seu nascimento. Nota 7.
UMA MULHER DO OUTRO MUNDO de David Lean com Rex Harrison
Mas a maioria acha que David Lean é o maior dos ingleses ( Spielberg e Fincher o colocam nas alturas ). Sem dúvida foi um gigante. Aqui, no começo de sua hiper vitoriosa carreira, ele adapta uma peça de imenso sucesso de Noel Coward....Ah Noel Coward....Nada foi mais pop no final do imperio britânico que Coward ( lá entre 1915/1955 ). Suas peças, suas canções, as frases que ele dizia... Noel era o inglês que todo inglês queria ser. A partir de 1959, quando os Angry Men tomaram a cena, Noel Coward se foi para o limbo. Waaaal....esta peça/filme trata de fantasma de esposa que volta a terra para atrapalhar o casamento de ex-marido. Há ator de comédia fina melhor que Rex Harrison ? O filme é uma efervescente bobagem. Nota 7.
PAT E MIKE de George Cukor com Kate Hepburn, Spencer Tracy e Aldo Ray
Kate e Spencer tiveram um caso extra-conjugal que durou toda a maturidade dos dois. Mas, por ele ser um fervoroso católico irlandês, jamais se divorciou da esposa. A imprensa, que respeitava muito os dois, sabia de tudo mas não divulgava nada ( belos tempos éticos ). O caso só veio à tona quando a esposa de Tracy morreu. Nesse tempo de affair ( que terminou com a morte dele em 1967, foram 35 anos de caso ), os dois fizeram uma série de comédias adultas. O tema era sempre sobre casais de opostos, ela geralmente sendo uma feminista e ele um machão bonachão. Alguns desses filmes se tornaram clássicos absolutos e outros nem tanto. Este, que fala de esportista fenomenal ( Kate ) que se sente insegura quando assistida pelo noivo chato, é dos menos bons. É bacana ver como eram o tênis, o golfe e o basquete na época, mas Cukor está em seus dias de preguiça. ( George Cukor tinha o dom da imagem. Fez alguns dos filmes mais "belos" do cinema. Sabia ser chic, esperto, leve. Mas por ser um grande festeiro e colecionador de arte, as vezes parecia fazer filmes preguiçosos, feitos no piloto automático. Este é desses. ) De qualquer modo, é sempre um prazer ver Kate em ação. Nota 5.
FOLLOW THE FLEET de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ele é um marinheiro em folga. Ela é sua ex-noiva. Ele tenta reconquistá-la. Com as músicas de Irving Berlin fica fácil. O filme é dos menos geniais da dupla: é "apenas" delicioso. Ginger Rogers está belíssima e apimentada como sempre. Fico imaginando a alegria que deveria ser em 1937, ver esse filme e em seguida levar sua menina para jantar e dançar.... Nota 8.
TOP HAT de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton
Cenários art-déco em branco. As paredes são brancas, os móveis são todos em branco, o chão é prata, os objetos de vidro. Van Nest Polglase e Carrol Clark faziam esses sets que eram como o paraíso na tela. O filme fala de homem que conhece garota, se apaixona, a perde e tenta a reconquistar. Astaire consegue o milagre: dizer tudo dançando. Para entender a genialidade dos melhores musicais é preciso entender isso : quando a música começa, a alma dos personagens fala. Ouvimos e vemos o que eles pensam e sentem. E ninguém fez isso melhor que Fred e Ginger. Cada passo e cada olhar transmitindo tudo aquilo que voce já sentiu ou viveu com alguém. Isso é magia pura. Este foi o maior sucesso da dupla e salvou a RKO do vermelho. Um dos maiores clássicos do cinema, homenageado em Wall E, em Kung Fu Hustle, em A Lenda e mais uma infinidade de filmes. Ele é sempre usado como " a coisa mágica que ficou do passado lembrando ao homem que viver vale a pena ". Quem fez mais que isso? Nota impossível.
SWING TIME de George Stevens com Fred Astaire e Ginger Rogers
Os críticos mais "sérios" consideram este o melhor filme da dupla. Eu discordo. Acho o mais esquisito. A parte cômica é a menos ótima, porém, a parte musical é a melhor. Jerome Kern fez uma seleção de canções que variam do sublime ao inesquecível. Bojamgles of Harlem em que Fred se pinta de negro e homenageia seu ídolo ( Bill Robinson, o gênio do taps ) é dos maiores momentos da história das telas. Mas tem mais: a cena na neve ( que lindo set ! ) e a hora em que se canta The Way You Look Tonight, quem já amou irá se comover. Mas a magia insuperável nasce quando Fred e Ginger se despedem "para sempre", e tentando reatar ele canta Never Gonna Dance ( para mim, junto com Falling in Love Again, as duas músicas que melhor retratam o amor ). Nesse momento, junto a escadaria em set vazio, Fred consegue em música e dança, transmitir todo o desespero de alguém que percebe o amor partir. É de uma beleza aterradora ! Bergman precisa de duas horas para fazer o mesmo efeito ! ( E Bergman é um gênio ! ). Quando Ginger afinal cede e começa a dançar com ele, voce percebe então : eis a tal "arte americana", a arte puramente da América, a arte de se dizer muito se usando pouco, a arte de se comunicar a muitos um segredo de poucos. O filme, em que pese suas várias cenas erradas, se afirma como um monumento ao sentimento de amor. Nota DEZ.
SHALL WE DANCE de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Eis o meu favorito ( ou será The Gay Divorcée, que preciso rever ). É o mais tolo de seus filmes, quase um cartoon. E por isso eu o venero. Fred é Petrov, um americano que se finge russo bailarino clássico. Ginger é uma apimentada sapateadora yankee. E vêm os desencontros de sempre: mal entendidos, frases ferinas, muito bom humor e os números que contam exatamente o que eles sentem. A trilha é de George Gershwin... precisa dizer mais ? Todas as canções são clássicos do jazz. Cenários em branco e prata, figurinos chics ao extremo ( os anos 30 são estranhamente a era da depressão e ao mesmo tempo o ponto mais chic do século vinte ). Quando estou chateado e quero me reerguer é fácil : boto este filme pra rodar ! Foi o primeiro da série que assisti ( lá se vão vinte anos ) e foi na época uma revelação. Nota DEZ !!!!!!!!!!!!
CIÚME: SINAL DE AMOR de Charles Walters com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ginger sempre brigou com Fred. Ela queria ser uma atriz séria e achava que Fred lhe roubava o mérito. Quando a dupla acabou, ela conseguiu ser a tal atriz séria e logo ganhou seu Oscar em drama. Dez anos depois da separação, eis que os dois se reencontram aqui. E é um filme estranhamente triste ( o único dos dois ). É claro que é uma comédia, mas há algo de muito melancólico em todas as cenas. Eles fazem um casal que se separa porque ela quer ser atriz séria. Fred não a esquece ( na vida real ele jamais foi apaixonado por ela ) e no fim eles se reencontram ( felizmente tem um final feliz ). Ginger está já madura, ainda leve e linda, mas com algo de sério naquela menina dos anos 30. Fred envelheceu bastante. Continuava insuperável ( faria em cinco anos seu grande clássico: A Roda da Fortuna ), mas não é mais o jovem alegre e tolo da década anterior. E tudo isso dá ao filme algo de muito doído: a consciencia da passagem do tempo. Torna-se o único musical trágico da história. Nota 7.

MY FAIR LADY - ELEGÂNCIA E PARAÍSO

Primeiro são as flores. Closes de flores em variadas formas e cores. Durante um minuto e meio é tudo o que vemos : flores. Estão jogadas as cartas : o filme trata de estética, a estética da visão e a estética da língua. Mas é também a estética do amor e do cinema em sí. Vêm os créditos do filme : Jack Warner produziu pessoalmente, o que significa muito. Audrey Hepburn significa perfeição. Audrey fez algum filme ruim ? Rex Harrison, que Paulo Francis tanto amava, significa civilidade em grau absoluto. A Warner queria Cary Grant, mas foi o próprio Cary, com sua elegância de sempre, quem disse ser um crime tirar Rex do filme. Rex Harrison era o professor Higgins da Broadway, e ele é Higgins. Temos ainda Stanley Holloway, que significa humor em alto grau e Wilfrid Hyde-White, que é simpatia suprema. Mas há mais. Hermes Pan cuidou da coreografia, e apesar de não haver dança propriamente, todos se movem com graça e leveza. Harry Stradling fotografou, esse mestre dos diretores de fotografia, e há no filme um brilho colorido que remete a conforto e solidez. Mas vem mais : Alan Jay Lerner escreveu o roteiro e fez as letras, adaptando Bernard Shaw. Foi este filme que me ensinou que em musicais as músicas não são "pausas", elas são o centro da obra, são elas que revelam a alma do personagem. Este filme tem as melhores letras, diálogos deliciosos e uma leveza de sonho. As melodias são de Frederick Lowe e os arranjos de André Previn. Todas as músicas desta obra são perfeitas. Todas são inesquecíveis, ele é o musical para quem não gosta de musical. Se após My Fair Lady voce continuar a detestar musiciais, bem... seu caso é perdido. Cecil Beaton cuidou do visual geral. Beaton foi o Oscar Wilde dos fotógrafos, o luxo dos luxos, o nome chave do esteticismo, o dandy supremo. O que mais este filme pode ter ? George Cukor na direção, o que quer dizer gosto e tato. Após tantos diamantes, eis que ele começa.
Um cenário que é Londres, talvez em 1910. Cenário que foi feito de verdade, com suas colunas, pedras e ruas. Vemos roupas elegantes, cartolas, calhambeques, carruagens, jóias, rostos asseados. É a tal era vitoriana. Estamos no mundo da elegancia e dos bons modos. Chove então, e se abrem guarda-chuvas. Observe, nada de importante aconteceu, mas seu senso estético já está desperto. Surge Audrey, suja e com voz deplorável. Ela é uma florista de rua. Com a fala das ruas de Londres. Surgem Higgins e Pickering ( nomes adoráveis ). Um é linguista, o outro é um coronel culto. Higgins diz que a língua é tudo, e o filme é ode de amor à língua inglesa. E vem a primeira canção.
Paulo Francis em belo artigo dizia que Rex Harrison, em Londres, colocou a audiência abaixo na estréia teatral de MY FAIR LADY quando abriu a boca para cantar. Rex era péssimo cantor, então criou um tipo de "fala cantante" que é simplesmente genial. E dificílima de ser imitada. Nesta primeira canção ele fala da língua inglesa. A letra de Lerner é coisa de gênio. Rimas e ritmo, tudo flui, apesar da complexidade das palavras. Estamos capturados : o filme triunfa.
Eliza Doolittle é Audrey. O mundo queria que fosse Julie Andrews, a estrela da versão teatral. A Warner, sem Cary Grant, dessa vez bateu pé : precisamos de uma estrela das telas : Audrey. Pois Audrey está como sempre : adorávelmente adorável. Na rua ela canta sobre a alegria que seria ter uma poltrona macia e um chocolate quente. Nos ajoelhamos. Que música linda ! Ela nos transmite uma beleza que chega a doer, a beleza da esperança. O filme cresce muito. O que já era excelente fica ainda melhor.
Uma cena de poesia suprema é aquela em que amanhece nas ruas de Londres. A cidade de Dickens e de Thackeray nunca foi tão bela. Eis o pai de Eliza, um malandro bêbado chamado Alfred Doolittle. Criação genial de Holloway. Ele canta na rua, unido aos pobres maltrapilhos. Fala de sorte, de futuro. Sorrimos. O filme é de uma alegria encantadora. O mundo de MY FAIR LADY é um tipo de paraíso estético. Entramos então no santuário de Higgins, sua casa.
Um esbanjamento. Observe as janelas. Vidros azuis e amarelos, desenhos em cristal fino. Veja o imenso tapete persa no chão. As maçanetas de cobre polido, as luminárias belgas. Madeiras que cheiram a verniz em todo canto e imensos sofás de couro. O banheiro com seus azulejos pintados um por um, à mão. O padrão do papel de parede. É o ambiente de luxo masculino vitoriano. Ambiente que pede charutos, um Porto, um volume de Conrad. Não queremos sair de lá. Rex e Wilfrid moram alí. São dignos daquilo tudo. Mas a "mulher" surge e a paz se vai.
Antes de Eliza irromper na casa como sujo furacão, Higgins canta. O hino supremo dos solteiros. Jamais ouvi tantos bons argumentos sobre a vida de solteiro. Obra-prima masculina. O filme sobe ainda mais : ele é também sobre a guerra dos sexos. Me surpreendo : letras de canções podem ser tão ricas ? Alan Jay Lerner é um gênio !
Pois bem. Os dois amigos apostam. Higgins fará de Eliza uma Lady. Em seis meses. A levará a festa da embaixada, onde todos serão enganados. Estará provado que voce é o modo como fala. Higgins passa a ensinar Eliza a falar corretamente. Eliza sofre, se submete, e de súbito, no momento mais feliz de um filme cheio de momentos felizes, ela acerta : the rain in Spain... Os três dançam. A música é sublime. Um dos maiores momentos da história da sétima arte : Rex, Audrey e Wilfrid cantando e pulando. A vida pode ser perfeita. Mas o amor complica tudo....
Ela se apaixona. E canta a canção mais conhecida do filme. Impossível saber qual a melhor. Não há uma que não seja perfeita. As letras sempre são fascinantes e a melodia inesquecível. A peça/filme é momento único. Vem então a primeira prova de Eliza : as corridas em Ascott.
Essa cena em Ascott é das coisas mais belas já filmadas. E artificiais. Um desfile afetado de roupas elegantes, mulheres em fantasias divinas onde Audrey/Eliza entra como fada. O diálogo que ela trava com os lords e ladys é comédia perfeita. E o final da cena é soberbo. O filme, que se iniciara lindo continua em seu crescendo. Ele sobe todo o tempo.
Vem então o baile. Nessa cena o filme se arrisca. Não ouvimos nada do que se diz. Ficamos como distantes espectadores. Danças, poses, silêncios, exibicionismos. Eliza triunfa ! O filme se aquieta em planície alta. Cessa seu crescimento. Em duas horas de incessante êxtase ele interrompe-se. MY FAIR LADY. agora, é drama.
O filme fala então de tragédia séria : Eliza adquiriu cultura, mas o que fazer com ela ? Seu passeio pela praça onde trabalhava antes é dramático. Não faz mais parte daquilo, mas faz parte do quê ? Ela é uma Lady, mas não nasceu Lady e não tem dinheiro. Reencontra o pai, que em frenética cena de pub celebra sua despedida de solteiro. O filme continua maravilhoso, mas agora ele é doído. Higgins é incapaz de entender Eliza. Ele é masculinidade pura. Ela é só feminilidade. Não se tocam.
Mas um precisa do outro. Rex Harrison se supera em cena onde ele confessa ter se acostumado com sua presença. Sem ela a casa é vazia. Mas Eliza o repele. Ela foi pisada demais. Rex volta para casa só. E vem o final, que é de uma falta de romantismo chocante, mas que é puro Bernard Shaw. Após três horas de projeção o que queremos é mais. Pena ter acabado...
MY FAIR LADY ganhou oito Oscars em 1964. Cukor, Rex, Warner... todos levaram seus prêmios. Menos Audrey, que nem indicada foi ( injustiça. Ela está sublime. ) Foi imenso sucesso ( o que depõe a favor dos frequentadores de cinema da época. ) Foi o filme que me fez entender musicais. O assisto todo ano desde então, sempre próximo ao Natal. Ele é um presente que me dou. A alegria de rever MY FAIR LADY é a mesma de reencontrar uma festa querida. Brilhos e cores amadas, vozes amigas, canções de sonho. Nenhum filme me é mais "precioso". MY FAIR LADY é como jóia de família, foto de infância, coração de amigo : não tem preço. Ele dignifica o cinema popular, enobrece a profissão de ator, faz de uma sala um salão. É ouro puro.
MY FAIR LADY é soberbo !!!!!