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Pablo Picasso HD Interview with The Father of Modern Art



leia e escreva já!

PRA PABLO

   "Tudo aquilo que conseguimos imaginar é real".
   Pablo é o antídoto para Schoppenhauer, para o pessimismo. Ele é vital.
   Pablo é solar. Ele vivia ao sol, torso nú, criando. Pegava pedra e fazia bicho. Pegava lixo e criava sonho. Mas tudo em Pablo é real. Nada nele parece etéreo. A criação mais absurda é de verdade. Tem peso. Pablo ama o peso, a solidez, a dureza do toque.
   Seu sexo é aquele do fauno. Meio deus e meio besta. Deitado ao sol, pelado, ele exala desejo. Ama a carne. O cheiro. É um touro.
   Nenhum artista é mais carnal que Pablo. E nenhum outro mergulhou mais fundo no onírico explícito. Ele viu que o sonho está no aparente. Aquilo que vemos é surreal. Ele pescava absurdos no comum.
   Pablo era também cruel, duro, egoísta, vaidoso, isolado e sedento de elogios. Vingativo. Ele era ruim. Maldoso como todo criador é. Criar é um ato de vingança contra o comum, o ordinário, o tédio, o banal. O objetivo pode ser bom, mas a energia é aquela do mal.
  Ninguém viveu tanto como Pablo.

DUCHAMP- CALVIN TOMKINS....O ARTISTA NÃO É DONO DAQUILO QUE FAZ.

   Como posso escrever um texto sobre um artista que desgostava de textos! Além do mais, um homem que não fazia discursos e que lutou a vida toda para ser anônimo! É muito duro escrever sobre ele sem o trair. Como transmitir a quem não leu o livro, brilhante, aquilo que Duchamp foi. É.
  Talvez eu deva começar falando de Picasso. Picasso foi o gênio. Picasso era a personalidade gigante. O Homão. O arrogante. O super macho. O artista que tem a potência.
  Talvez eu deva falar de Matisse. O trabalhador genial. O artista que labuta e produz sem parar. Eu também posso falar do sofrido van Gogh, do anti-social Gauguin, do sábio Chagall. Pois bem, Duchamp rompe com todos eles. TODOS eles.
  Porque Duchamp não tolera egos imensos. Não suporta trabalho sem fim. Ele não gosta de esforço. Ele nunca sofre. Não rompe com a sociedade. E jamais tenta ser sábio. Ele não dá conselhos. Jamais tentou criar escola, filosofia ou moda. Não fugiu do mundo e não seguiu ninguém.
  Então agora podemos começar a dizer o que ele foi. Quieto. Frio. Distante. Em paz. Calmo. Preguiçoso. Sem ambição. Solitário. Cheio de casos de amor. facilidade para fazer amigos, simpático. Otimista. Calado. Bonito. Modesto. Feliz.
  Vamos adiante. Ao contrário de Picasso, ele diz que o artista não faz nada. Tudo o que ele faz é feito inconscientemente. O artista tem uma intenção, mas durante o processo acontece o acaso, e é esse acaso que dá vida à obra. Arte é a união do artista, de quem vê a obra e do ato sem intenção. Nenhum artista é senhor de sua arte.
  Palavras não explicam a arte. Como também não explicam sentimentos. E a arte é como um sentimento. Todos os têm. Cada um a seu modo. Tudo o que o homem faz é arte. No contato com o povo é que essa arte se torna completa. Sua capacidade de dialogar com as pessoas faz dela uma obra para durar ou não. O artista é apenas um instrumento da arte.
  O trabalho do artista não é criar, é pegar as coisas e ver o que elas querem ser. Os materiais escolhem com o artista. O artista, calmamente, tenta ouvir o que a vida e as coisas dizem.
  Quando nada de novo há para ser dito se deve calar. A arte manda. O artista espera.
  O sofrimento não faz de um artista melhor ou pior. O sofrimento, a vida do artista, nada tem a ver com sua arte. Ele produz apesar da dor, e não com a dor. Herói-artista. Isso não existe.
  A arte falhou. Ela tentou criar um mundo. Esse mundo é da ciência. Ela venceu. Não há arte que possa rivalizar com uma viagem ao espaço.
  Esse é Duchamp. Mas ele é mais que isso. E menos.
  Nasceu numa família de classe média. Se dava com os irmãos e com o pai. Os irmãos, os dois, viraram artistas. Famosos. A mãe era muda. Dura e distante. O pai era caloroso. Dono do cartório da cidade.
  Nada há de dramático na vida de Duchamp. Estudou em Paris. Pintava. Amigo de Picabia. De Roché ( o autor de Jules e Jim ). Namorava. Duchamp nunca perseguiu mulheres, elas o encontravam. Nunca quis a fama, ela veio. Saiu de Paris porque odiava os egos, as fofocas, o mundinho...e foi o primeiro europeu modernista a ir para New York. Ele intuiu que o futuro estava lá. Amou a cidade e ao fim da vida virou americano. Duchamp trouxe sozinho o modernismo para a América. Em 1912. Se tornou famoso primeiro em NY, e muito depois na Europa. Deu a faísca que acendeu a arte de Pollock ( que com sua pose de herói sofrido, logo esqueceu Duchamp ). Seus herdeiros são os Pop Art, o minimalismo, a arte americana feita a partir de 1960. Uma arte sem discurso, sem a figura do gênio sofrido, sem heróis.
  John Cage, Motherwell, Merce Cunningham...a arte do acaso. O Zen.
  Duchamp nunca falou sobre o zen. Mas ele era Zen. Sem o saber. Amante do silêncio, do estar só. Viajava sem bagagem. Vivia só com o necessário. Pouca ambição. Sabia usar o tempo. Tinha paciência. E jogava xadrez. Muito e bem. Venceu campeonatos.
  O que era a arte para Duchamp afinal... ele nunca fala de religião. Diz que a arte é uma fé. E que a vida é uma fé. Quando você diz que sabe alguma coisa você tem fé em saber aquilo. Quando você faz você tem fé em que vai fazer. Tudo é uma fé.
  Isso é o mais perto que ele chegou de falar de sua filosofia. Viver é ter fé. Deus ou o ateísmo não lhe interessam. São discursos e discursos são falsos. Dizer que Deus existe ou que não existe é ficar rodando em círculos de palavras. Não importa.
  Duchamp era magro. Entretia a todos e não havia quem não gostasse dele. Poderia ter ficado milionário se aceitasse o jogo do espetáculo. Mas escolheu, e isso ele disse, ser dono de seu tempo. Dizia que o tempo era o maior investimento que um homem podia fazer.
  Bem...nunca li sobre um artista que me parecesse tão simpático. Isento de pretensão, cheio de bom humor. Suas obras eram ironias, piadas, trocadilhos, surpresas. Ele deu voz a milhares de charlatões. Mas não teve culpa. Se vários pequenos Duchamp foram uma farsa, ele nunca foi. Produziu muito pouco porque foi honesto consigo mesmo. E quando nada tinha a dizer ia jogar xadrez, ficava anos sem fazer nada, como ele dizia: Respirava.
  O autor do livro, Calvin Tomkins, é o mesmo de VIVER BEM É A MELHOR VINGANÇA. O delicioso livro sobre os Murphy nos anos 20. Este é tão delicioso quanto.
  Man Ray foi outro grande amigo de Duchamp. E entre seus amores, um dos maiores foi a esposa de um embaixador do Brasil: Maria Martins. Duchamp viveu um caso forte com ela, que era escultora, festeira e muito chique. Ela daria uma ótima biografia!
  Aos 62 anos Duchamp se casou oficialmente pela primeira vez. E foi feliz. Morreu em 1968, velho e famoso.
  Acho que ele mudou, agora, minha forma de ver todas as artes.
  Enfim...

BOÊMIOS.... DAN FRANCK. AQUILO QUE SOMOS HOJE. SÓ QUE NA IMITAÇÃO DA IMITAÇÃO DA IMITAÇÃO DA IMITAÇÃO...

Um andava com uma camisa feita de papel. Outro fez uma gravata de madeira. Todos tinham visual ultrajante. Todos passavam frio e muita fome. Mas não desistiam. Este livro fala deles. Cada capitulo, de duas paginas, fala um causo. Uma piada, um drama. Nisso lembra o livro do Ruy sobre Ipanema. Mas este é francês. Muito Paris.
Vai de 1900 até 1930. Começa com Picasso. O cubismo. E Apollinaire, o poeta. Em Montmartre. Primeiro choque: em estilo, palavras, as pessoas hoje, cem anos depois, imitam todos eles sem saber. Mesmo quem nunca ouviu falar de Max Jacob ou de Modigliani. Cocaína, absinto, ópio, arte. Se morria pela arte. Este livro explica Patti Smith e Mapplethorpe. Boêmios.
Triste é a parte final. Após cubismo, fauvismo e o dadá, vem o surrealismo, e esse movimento estraga tudo. Mete política e poder no meio. Porquê antes todos eram anarquistas. E estrangeiros. Os inimigos dizem isso, que todos são estrangeiros, que eles destroem a verdadeira França. E há a guerra de 14, que mata tantos...
Foujita, um japonês que se vestia de mulher e seduzia as damas burguesas. Man Ray, o fotógrafo americano que amou Kiki, a menina de rua que virou musa da época.
Jarry, o autor do Ubu, que andava armado e dava tiros em bares, na rua.
Tzara, líder do dadaísmo, onde nada fazia sentido e tudo era piada. As festas dadas, as mentiras como forma de arte.
É tanta gente. Brigas em bares, delegacias, peças que viram lutas, vaias, socos, fogo e tiros.
E as mulheres. Modelos, putas, dançarinas. Uma esfuziante fé na vida, mesmo sem comida, com piolhos, doença e criação. A vida como obra de arte.
Lá tudo isso ainda era de verdade. Porquê eram os primeiros. Não imitavam ninguém. Não queriam ser como boêmios. Eles eram Os boêmios. Faziam o que queriam da forma que podiam.
Picasso ficou rico. Foujita, Derain, Van Dongen, Matisse, Braque...todos ricos. Mas ainda duros. Como dizia Picasso: o ideal é ser pobre tendo dinheiro.
Livro inspirador! 

VIVER BEM É A MELHOR VINGANÇA- CALVIN TOMKINS

   A filosofia de Gerald Murphy era: As coisas da imaginação são o que importa na vida. A vida real, o que nos acontece nunca importa. São acidentes, são apenas dolorosos espinhos a atrapalhar a imaginação.
   Não discordo em nada. Só que no mundo que construimos o real cada vez mais atrapalha a imaginação. Para viver essa vida criativa é preciso ser artista, louco ou, como no caso de Murphy, muito, muito rico.
   É um livro que pode ser lido em duas horas. Fala de alguns verões na vida do casal Gerald e Sara Murphy. Não é uma bio, pois só se conta um certo momento da vida deles, mais ou menos entre 1922- 1932. Os dois, americanos, saem dos EUA e vão viver em Paris. Depois na Riviera. Não por serem artistas, mas por desejarem viver como se fossem. Sara é uma chique excêntrica. Se veste diferente. Gerald pinta. Veleja. E os dois fazem festas. E amigos. São simpáticos, felizes, livres e saudáveis. Os amigos? Cole Porter, Heminguay, John dos Passos, Picasso, Léger, Stravinsky e principalmente o casal Fitzgerald. A imagem de Scott Fitzgerald não é das melhores. Sempre querendo chamar a atenção, cego para tudo que não fosse seu ego, bastante desagradável com suas brincadeiras tolas de estudante secundário. Zelda não fica longe disso, uma lunática. Gerald Murphy preferia muito mais, como autor, a Heminguay, apesar de não ser seu íntimo.
  Entre villas, praias e champagne, Gerald pintou sete telas que antecipam a Pop Art, participou de momentos chave da época. Seu mote era a modernidade, o jovem, o ousado. Delicia de livrinho.
  PS: Gerald Murphy foi o cara que lançou a moda da blusa de marinheiro. Aquela blusa listrada, com mangas 3/4 que eu adoro! E que Picasso popularizou.

CONVERSAS COM PICASSO- BRASSAI

   Entre os anos de 1939/1944, Brassai, fotógrafo e escritor de origem húngara, travou amizade e conviveu com Pablo Picasso na Paris da segunda-guerra. E travar contato com Pablo era viver com as dezenas de pessoas que gravitavam a seu redor. Celebridade desde os anos 10, as casas onde Picasso vivia eram invadidas diariamente por amigos, mas principalmente por turistas, compradores de arte e jovens artistas em busca de direção. O livro, descrição do cotidiano do gênio espanhol, consegue fazer algo muito raro em livros desse tipo: faz com que nos sintamos em companhia de Picasso. E estar com ele é acima de tudo um prazer, uma inspiração.
   Henri Matisse está no livro. Matisse, verdadeiro negativo de Picasso e seu único rival de fato e de direito.
Mas vemos por lá também Sartre e Simone, Camus, Miró. Jean Cocteau com sua elegãncia fulgurante e Jean Marais. Ficamos sabendo de fofocas dos surrealistas, de Breton e Dali, de Jacques Prevert. Conversas com todos eles e ainda com Henry Miller, Man Ray e Malraux. Mas é Pablo quem mais nos fascina.
   Picasso não gosta de artistas que posam como "artistas". Ele gosta de quem faz coisas. Ama toureiros, poetas, garçons, cães, gatos, cabras, e principalmente mulheres. Sentimos nele seu segredo revelado, Picasso ama a vida com paixão amorosa e com rancor furioso. Ele é vivo, muito vivo. Jamais está só, embora tente. Há sempre gente anunciando visita, americanos ricos, jornalistas, autores. Picasso, em mundo que ainda tinha vivos Heminguay, Mann, Huxley e Eliot; Stravinsky, Chagall, Hesse e Faulkner, é o artista central do planeta, o gênio entre gigantes. Mas ele não faz pose. Se veste sempre mal ( ternos amassados, bonés sujos, e principalmente shorts sem camisa, o torso nú ), suas casas ( imensos apartamentos e palácios no campo e praia ) são vazios. Poucos móveis, muito espaço. Salas cheias de pó, de caixas de fósforo, de maços de cigarros, de telas e tintas, de esculturas e tralhas pegas na rua. Picasso vasculha o lixo, atrás de coisas interessantes: uma velha caixa de madeira, um caco de espelho, um brinquedo quebrado. Ele dá vida à esses objetos, faz de um pedaço de papelão, uma muralha chinesa; de uma garrafa, um ser de mitologia. Picasso cria sem parar, usa as mãos, esculpe, gruda coisas, pinta, e olha tudo com seus imensos olhos de louco. Nada joga fora, nada lhe é indiferente. Vê em cada coisa uma possibilidade de criação. E faz.
  Sua esposa vive em casa vizinha, casa bem decorada, luxuosa, rica. Pablo mora no caos, bagunça que lhe inspira, caos onde ele dá vida. O livro, cheio de fotos, é delicioso, instigante e dá desejo. De criar, de fazer, de olhar.
  Quem já viveu em casa grande sabe o que irei falar.
  É preciso espaço para ser solto. Paredes onde eu esparramava tinta e portas que eu quebrava ( com arte ). Para criar é preciso sujeira, pó, caos, é necessário poder mudar tudo toda hora, revirar, buscar um carburador e o pintar de dourado, quebrar um relógio de parede e fazer dele um robot, usar um velho rádio como palácio de indios apaches. Dormir no chão e sonhar com a chuva caindo dentro. Nunca fui artista, nunca tive talento algum, mas eu me inspirava então, naquela enorme casa de caos ( e de cães ) e me soltava com tintas, com martelos, com o corpo.
  Este livro me lembrou essa fase de minha vida. E ainda volto a viver lá !!!! Volto sim !