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A INGLATERRA É ENGRAÇADA

Para entender qualquer coisa inglesa, pelo menos aquilo que se chamava de inglês até mais ou menos 1990, voce precisa entender que a ilha é engraçada. Sem a consciência de que o inglês é marcado pelo humor, e não necessariamente pela alegria, voce nunca fruirá totalmente da arte ou da vida inglesa. --------------- Quem já cruzou o país sabe, a Inglaterra, a GB, é pequena, fria, úmida, escura, estranhamente pobre. Os bosques são monótonos, as ruínas são decepcionantes, os lagos escuros e as praias medíocres. Ao contrário da França, que sempre parece rica, bem feita, risonha, a Grá Bretanha sempre tem um aspecto de mofo, de neblina, de fim de tarde. Vivendo nessa ilha, isolados da Europa, acossados por vikings e depois franceses, dinamarqueses, espanhois, franceses, nazistas, russos, o britânico desenvolveu o humor. Ou voce bebe até cair ou voce percebe que nada daquilo faz muito sentido, que a terra é hostil e a vida dificil e então começa a rir da piada. ------------- Eu falo não apenas do óbvio, os melhores humoristas são de lá, de Chaplin e Stan Laurel à Monty Python e Steve Coogan, Rick Gervais e Jason Statham ( sim, ele é um humorista 100% do tempo ), mas cito Lewis Carroll, Dickens, Joyce, Woodehouse, Swift, e até mesmo Shakespeare. Voce jamais entenderá a arte da Inglaterra e Irlanda se não tiver em mente que Beckett escreve do pub, sempre do pub, um bando de homens rindo e falando blasfêmias. Beatles é sempre irônico, assim como Mick e Keith são, desde 1962, uma piada. Não leve totalmente a sério Oasis, Smiths, Bowie, os saltos de Townshend, Blur ou Primal Scream. Tudo aquilo é folia, é gozação, é brincadeira de moleques no pub. Mesmo aqueles que se percebem como muito sérios, penso em D.H.Lawrence, Wells ou Bertrand Russell, têm seu lado de " Ora eu não falava tão a sério". Ao lado de uma frase trágica de Keats ou Shelley vive sempre a ironia do bebedor de cerveja preta. Robert Burns e Oscar Wilde são a alma das ilhas. -------------- E no entanto eles são tristes... Pois esse tipo de humor nasce sempre da tristeza, é uma fuga, e nisso se parece muito com o humor judeu. Italianos e americanos, outras duas nações do humor, riem de verdade, eles realmente se descontraem, mas o britânico, repare, ele ri sem perder o pudor. Daí sua genialidade. O absurdo levado como fato real. Quando Chesterton nos faz rir, e ele faz, sabemos que a vida pede por sentido, que a vida é limitada, que somos ilhas a procura de um continente. Já quando Steve Martin nos faz rir, sentimos que somos garotos de high school rindo de alegria pura. O americano ri porque sente-se vivo, o inglês ri para sentir-se vivo. ---------- Não estou falando de humor inteligente. Nada há de inteligente no humor do Monty Python e quem fala de humor inteligente nada sabe de humor e muito menos de inteligência. Humor é ser engraçado, só isso, e fazer rir é sempre um ato inteligente, seja Rodney Dangerfield seja Buster Keaton. O humor inglês ou judaico não é mais inteligente que o humor italiano ou americano, é apenas mais absurdo. E, ao contrário dos USA, na GB o humor faz parte do caráter nacional. ------------------ Posto alguns momentos de Peter Sellers. Ele revela o segredo. Aproveite.

Peter Sellers - 'A Hard Day's Night' bloopers !

Peter Sellers She Loves You Cockney Version.wmv

Peter Sellers covers The Beatles "She Loves You". Irish version.

Clare Quilty - Dance

POR QUÊ LOLITA, O FILME, É TÃO RUIM?

Assisto Lolita mais uma vez. Detesto. É um filme muito, muito ruim. Mas não basta dizer isso, é preciso apontar os erros. Por que eu amo o livro e odeio o filme? -------------- Livros maravilhosos que se tornaram filmes péssimos são muitos. Anna Karenina não tem nenhum versão que preste. Idem para Madame Bovary. E mesmo Poe, tão filmado, nunca foi filmado direito. Lolita, em livro, é uma maravilhosa sátira, nada erótica, sobre a tolice de um europeu diante da América. Lolita é os USA: bela, infantil, maldosa e inocente, inconsciente, egoísta, saudável, voraz, indecifrável. Humbert é o europeu: pretensioso, velho, vaidoso, racional, elegante e ao mesmo tempo tolo, vulnerável, assassino. Nada disso há no filme. Nada. Os erros são percebidos já nos créditos iniciais. O roteiro é de Vladimir Nabokov. Ora, era óbvio que ao transpor seu romance para as telas, Nabokov, gênio que é, tentaria fazer algo novo, diferente, outra versão. O que era um romance de estrada se torna um romance familiar. No livro Humbert se impressiona pela quantidade de moteis, estradas, postos de gasolina da América. Nada disso aqui. Pior, Lolita quase desaparece, basicamente é uma comédia ridícula, nas telas, entre a mãe e o escritor. ---------------------- Oswald Morris fez a fotografia. Ele é um dos maiores da história, mas o filme é em preto e branco. Erro fatal!!!! Lolita pede rosas, azuis, roxos, vermelhos berrantes, laranjas. A América é colorida em technicolor, isso impressiona e enlouquece Humbert, um inglês em preto e branco com fog. O filme é todo fog, sisudo, alemão. Lolita perde a validade e o charme. --------------- Nem vou comentar o que todo mundo sabe: Lolita tem 12 anos e um metro e trinta de altura. É uma boneca americana. Infantil e má. Nas duas versões para a tela ela tem 16 e poderia passar por ter 18. Seria um crime colocar uma menina no papel? Então que não se filme. -------------------- Humbert, no romance, é um belo homem que faz as mulheres sentirem desejo. Ele é solteiro por escolha, tem propostas sexuais e escolhe Lolita. Melhor, cai sob seu feitiço. Nobokov fala da paixão que a Europa sente pela América, o continente criança. Aqui Humbert é feito por James Mason, ator nada feio, mas sem sex appeal. Entenda, Mason é um grande ator, mas jamais poderia ser Humbert! Poderia ser Richard Burton, Olivier, se feito dois anos mais tarde Peter O'Toole ( esse seria perfeito ), mas nunca Mason. Lawrence da Arábia, O'Toole, fazendo Humbert melhoraria o filme em 100%. ---------------- Comentar o erro na escolha de Sue Lyon é tolice. Ela tem a idade e o tipo errado. Mas qual a culpa dela? Na verdade, no cinema, Lolita quase some da história. A mãe aparece demais e as cenas entre ela e Humbert são de uma chatice insuportável. Shelley Winters é perfeita, mas o que lhe deram para fazer pesa demais. Kubrick estica as cenas, parece se divertir com aquilo. Nós não. --------------- Por fim há Quilty, o escritor de sucesso que é o amante de Lolita. É feito por Peter Sellers. De um modo tão perfeito que Kubrick o chamaria no ano seguinte e lhe daria 3 papeis em Dr Fantástico. Vendo o filme eu tive vontade de ver a história de Lolita e Quilty e esquecer Humbert e a mãe. Os primeiros minutos, Quilty à mesa de ping pong com Humbert pronto para o matar, são os únicos minutos divertidos do filme. " Vamos jogar ping pong romano? Ping Roma....agora voce diz Pong Roma...." Sellers tenta salvar o filme. Não pode. ------------------- A versão de Adrian Lyne é menos ruim.

"Mein Führer...! I can walk!!"

UM GÊNIO CHAMADO PETER SELLERS

Nenhum filme de Stanley Kubrick irá te conquistar na primeira assistida. Todos precisarão de uma segunda visita e alguns uma terceira. Barry Lyndon eu odiei quando visto na primeira vez e gostei muito na segunda. DR FANTÁSTICO eu achei chatíssimo e mesmo na segunda vez senti tédio. Ontem, não sei porque, vi mais uma vez. E só então entrei na loucura do filme. Teoricamente é uma comédia, mas todos sabemos que não existem comédias feitas com fotografia escura. Um dos segredos técnicos da comédia é a de que elas devem ter um visual claro. Então digamos ser uma comédia mal humorada. Se é que isso existe. Kubrick parece sempre um professor alemão dando aula de alguma ciência exata. Li isso em algum lugar e nunca esqueci. Todos os filmes de Kubrick são frios. Ele parece não ter a menor simpatia humana. Dificilmente voce lembra de alguma cena risonha, calorosa, realmente humana em algum filme seu. Não há amor. Não há mulheres reais. Kubrick parece uma máquina de fazer filmes. Provável que isso ocorra por seu controle maníaco. Filmes hiper planejados. Aquilo que sobra em Kurosawa e Fellini é ausente nele: calor. Desse modo, todo filme de Kubrick sempre parece amputado. A dimensão humana está ausente. São teses sendo filmadas. Aulas de um mestre alemão. ----------------- Dr Fantástico tinha tudo então para ser um desastre, porque de todos os seus filmes é o mais "aula de herr doktor". Mas não. Ontem, finalmente, eu adorei o filme. E isso se deve ao fato de que é este, talvez, o filme com as mais maravilhosas atuações já eternizadas. Todos os atores estão em seu máximo. Vamos a eles. ------------- George C. Scott faz o general que vai à reunião no Pentágono. Seu papel lhe garante o Oscar que viria oito anos mais tarde, com Patton. Observe o que esse ator extraordinário faz na cena em que ele conta ao presidente o desastre ocorrido. Note como seu rosto consegue exibir, ao mesmo tempo, medo da bronca, prazer pela guerra, orgulho ferido, vaidade masculina e prazer guerreiro. Mordendo seu charuto, criando caretas de cartoon, rugindo e gemendo, Scott nos arrasa. Sentimos um prazer sensual em obervar sua face imensa. Mas há mais! Slim Pickens e o sotaque texano, o profissional correto que observa passo a passo suas instruções no manual de detonação. A determinação em cumprir uma ordem. Sterling Hayden, como o general que enlouqueceu, uma atuação maníaca, ingrata, a voz magnífica a falar delírios paranoicos. E Peter Sellers...três papeis que mesmo em meio a atores inspirados, nos hipnotizam. -------------------- O general inglês, modesto, hesitante, o presidente dos EUA, que tem a maravilhosa cena em que conta ao telefone para o colega russo a hecatombe que irá ocorrer: " também estou triste Dimitri...não Dimitri, também sinto muito...okay Dimiri, voce sente mais que eu, mas eu também sinto...", e por fim o cientista alemão, em cadeira de rodas, braço mecânico que se rebela contra ele mesmo, um homem em convulsão tentando domar seu lado nazista. Peter Sellers era um gênio. Um dos muito, muito raros atores que podiam usar esse rótulo. E no entanto ele era um vazio... ---------------- Peter Sellers poderia ter vivido e filmado até este século, mas morreu em 1980, com apenas 50 anos. Teria a mesma idade de Clint Eastwood. Surgiu no rádio inglês, o Goon Show, um programa que fez história, um Monty Python dos anos 50. Começa no cinema ao lado de seu mentor, Alec Guiness, nas comédias da Ealing, filmes que hoje são lendários. Se torna uma estrela em 1962, fazendo Clouseu, em A Pantera Cor de Rosa. Entre 1962-1967 faz todos seus grandes papeis. A partir de 1968 começa sua queda, escolhas erradas, péssimos filmes. Em 1979 tem seu último grande desempenho: Being There, filme de Hal Ashby, onde faz um jardineiro que nunca saiu de casa, um idiota que repete slogans que viu na TV. Alçado a condição de guru, se torna presidente dos EUA. Sim, é Joe Biden em 1979. Indicado ao Oscar, perdeu para Jon Voight em Amargo Regresso. Terrivelmente injusto. ---------------------- Desde 1963 Peter Sellers sofria do coração. Teve quatro enfartes seguidos em 64 e quase morreu várias vezes. Era meticuloso, triste, deprimido, e se casava sempre com a mulher errada. Em cada divórcio, um enfarte. Em entrevistas, Sellers dizia não ter nada dentro de si. Que sua personalidade era um vazio. Sellers dizia viver apenas quando interpretava. Sem um papel ele era como uma coisa morta. Muito triste não? --------------------- Ele me deu alguns dos momentos mais prazerosos do cinema. Não houvesse tanto preconceito contra a comédia, teria três Oscars. PS: Como a vida é mesmo um mistério, vejo agora, no Facebook, uma foto da festa de aniversário de Peter Sellers. Em 1967 ele comemorou em grande estilo. Estava casado com Britt Ekland, uma atriz sueca, e ela fez a festa. Na foto vemos os Beatles, Mick Jagger e Peter O'Toole conversando, enquanto Jeff Beck brinca com uma guitarra ao lado de um nobre inglês. Toda a swinging London foi. Dizem que Sellers ficou a festa inteira ao canto, incapaz de se divertir. Britt Ekland terminaria o casamento no ano seguinte e no divórcio arruinaria Sellers, o que o obrigaria a aceitar qualquer papel. Nos anos 70 Britt faria o mesmo com Rod Stewart. ---------------------- Sim. Peter Sellers foi um gênio. E como todo gênio não sabia viver.

I WANNA HOLD YOUR HAND, O COMEÇO DO FILME SEM HISTÓRIA

Deixo claro desde já, gosto deste filme. O título acima não significa que não goste. É apenas uma constatação. Posto isso, vamos à história. ------------------ I WanNA To Hold Your Hand é o primeiro sucesso de Robert Zemeckis, é de 1978, e é produzido por Spielberg. É portanto o começo da tomada de poder dos amigos de Spielberg no cinema POP. A sacada do roteiro, Bob Gale, outro da turma, é genial: Estamos no começo de 1964, em NY, mais especificamente no dia em que os Beatles iam tocar no programa de Ed Sullivan e mudariam o mundo para sempre. O filme foca em quatro meninas e seus amigos, elas fâs do ingleses, eles relutantes ou hostis. Temos a histérica, a romântica que vai se casar, a fotógrafa que quer fotos boas e uma seguidora do folk, que odeia os conformistas e alienados Beatles, mas que mudará de ideia oa final do filme. ----------- Eu disse que é o começo do filme sem história. Explico agora: Até então eu só me lembro de um único filme desse tipo: UM CONVIDADO BEM TRAPALHÃO ( THE PARTY ), o filme de Blake Edwards, ótimo, com um Peter Sellers diabolicamente genial. Em seu lançamento, 1967, foi um fracasso absoluto. Público e crítica não aceitavam um filme SEM HISTÓRIA. ----------- Mas o que é isso de FILME SEM HISTÓRIA? Lembram de ESQUECERAM DE MIM? O RATINHO ENCRENQUEIRO? DURO DE MATAR? É isso. Uma única situação, uma única trama, que se desenvolve sem história paralela alguma, sem variações, sem desvios, um tipo de situação que daria um curto mas que se estica em hora e meia. O que este filme conta ou narra? Jovens que querem ver os Beatles. Onde se passa? No hotel dos Beatles. O que os personagens fazem? Tentam ver os Beatles. E SÓ QUEREM VER OS BEATLES. Esse o motivo do filme sem história: um único desejo move todo o filme. Centenas ou milhares de filmes desde então podem ser encaixados nesse estilo. Inclusive, lembro agora, TUBARÃO ( JAWS ), um filme que não tem hsitória alguma, é apenas uma ação esticada ao máximo. -------------- Este filme é bom porque é maravilhosamente bem dirigido. Para esse tipo de filme ser aceito é preciso ritmo, leveza, bom humor, e tudo isso há aqui. Além disso vemos, pelo outro lado, o lado dos fãs, o que era a Beatlemania, e tomamos consciência de como, ao lado de Elvis ou de Jerry Lee, os ingleses pareciam efeminados, dandys, nada rock n roll. ------------ E por fim há o fator Nancy Allen, único nome no elenco que fez uma carreira. Ela tem uma das cenas mais sexys e pornôs que já vi no cinema americano ao fazer sexo oral com o contra baixo de Paul MacCartney. Veja para crer. E depois gozando e se molhando ao ver os caras tocando. Só por isso o filme já vale. ---------------- PS: não é ficção. Várias meninas tinham seu primeiro orgasmo nos shows da banda. Alguém no filme diz que aqueles jovens amavam os Beatles e ao amar o grupo SE AMAVAM. Os gritos das fãs eram uma afirmação de amor a si mesmo. -------------- Sem história, mas com repercussão.

O Que É Que Há Gatinha?



leia e escreva já!

PRESTON STURGES/ GEORGE CLOONEY/ WOODY ALLEN/ PETER O`TOOLE/ RENÉ CLAIR/ ELIO PETRI

   ATÉ QUE A SORTE NOS SEPARE de Roberto Santucci com Leandro Hassun e Danielle Winits
A volta da chanchada é uma boa notícia. Mas, ao contrário das comédias de Oscarito e do impagável Zé Trindade, agora a chanchada procura um público mais classe média. Assim, tudo aqui é clean, tem um jeitão Miami de ser e de parecer. Acho saudável. O cinema do Brasil desde 1960 tem esse pudor bobo de ser pop. Ora, todo cinema precisa ser pop! E quer saber? Hassun é um bom comediante. Jerry Lewis made in Brasil. O roteiro é bem bobinho, a trilha sonora luta para ser Disney, mas funciona para os casais de shopping center, tipo domingo a noite pós compras. Eu não me irritei. Nota 5.
   O ASSASSINO de Elio Petri com Marcello Mastroianni, Micheline Presle e Salvo Randone
A Folha de SP lança mais uma coleção de DVDs. E como sempre nos frustra com um monte de filmes que todo mundo tem. Mas às vezes surge algo de diferente. Como este ótimo policial noir, primeiro filme de Petri, diretor morto muito cedo, e que em sua curta carreira ganharia até Oscar, com o excelente Investigação Sobre Um Cidadão. Neste filme, do tempo em que o cinema italiano era o melhor do mundo, Mastroianni, como sempre espetacularmente sutil, faz um antiquário boa vida que é preso acusado do assassinato de sua namorada mais velha e rica. O clima do filme é existencialista, jazz na trilha sonora, fotografia de Carlo di Palma ( que depois faria os melhores filmes de Woody Allen ) e um roteiro surpreendente. É um filme que mescla Antonioni com John Huston! Mastroianni diz nos extras que ficou feliz ao ver um poster deste filme no escritório de Scorsese! É uma diversão classe A. A venda nas bancas por apenas 17 paus. Nota 8.
   LONGE DESTE INSENSATO MUNDO ( FAR AWAY FROM THE MADDING CROWD ) de John Schlesinger com Julie Christie, Terence Stamp, Peter Finch e Alan Bates
Uma mulher e três homens. Um é puro sentimento. Outro é sexo misterioso. E um terceiro é cerebral. O filme é lindo de se ver e lindo de se estar. Grande produção de 1967, não foi o sucesso esperado. A trilha sonora impressionista de Richard Rodney Bennet é magnífica! Nota DEZ.
   MULHER DE VERDADE ( THE PALM BEACH STORY ) de Preston Sturges com Claudette Colbert e Joel McCrea
Uma dieta de uma semana de filmes como este conseguiria me fazer voltar a me apaixonar pelo cinema. Feito no auge da fulgurante carreira de Sturges, conta a história, sem nenhum sentido, de uma esposa que se separa do marido para conseguir com algum home rico, bastante dinheiro para dar ao ex-marido. O sonho do marido é construir um aeroporto nos ares, feito de cordas de elástico. Faz sentido? Tem ainda um velho texano que distribui dinheiro, um bando de caçadores que caçam dentro de um trem, um casal de irmãos ricos que jogam dinheiro fora. Tudo no veloz ritmo de Preston Sturges. Uma das grandes maravilhas dos DVDs foi fazer com que Sturges fosse ressuscitado. A comédia com ele é sempre grossa, tosca, boba até, mas tudo é tão bem pensado, o roteiro é sempre tão rocambolesco que a gente acaba se rendendo e se apaixonando pelo filme. Nota 9.
   SEM ESCALAS de Jaume Collet-Serra com Liam Neeson e Julianne Moore
Tem uma bomba num avião. E um policial neurótico tem de descobrir quem é o terrorista enquanto o vôo acontece. Puxa! Este filme, nada ruim, tem todos os clichés. Mas a gente até assiste na boa, sem grandes problemas. O que irrita é a falta de humor, de leveza dos filmes de ação de hoje. Parece que há um desejo tolo de se parecer sério. Aff...nada aqui faz sentido! Pra que a seriedade? Nota 5.
   CAÇADORES DE OBRAS PRIMAS de George Clooney com George Clooney, Matt Damon, Bill Murray e Jean Dujardim
Um absoluto fiasco! Chato, vazio, desinteressante e modorrento. Tentaram fazer um filme esperto, classudo, como aquelas velhas aventuras de guerra, produzidas entre 1960/1967, filme maravilhosos, geralmente com Burt Lancaster, Lee Marvin ou James Garner. Esqueceram do principal: o roteiro. Esses clássicos tinham roteiros brilhantes, criavam frases cheias de significado, desenvolviam personagens interessantes, misturavam suspense, humor e drama. Aqui o que temos? O nada. O vácuo. Lixo. Nota ZERO.
   CASEI-ME COM UMA FEITICEIRA de René Clair com Frederic March e Veronica Lake 
Quando os nazis invadiram a França, lá se foram Renoir e Clair para Hollywood. Clair se deu melhor. Fez nos EUA excelentes filmes. Este é um dos melhores. Uma comédia mágica sobre um mortal que se casa com uma bruxa. Na verdade ela quer se vingar. Um antepassado do mortal a colocou numa fogueira nos idos de Salem. Neste filme vemos o toque de mestre de Clair, um dos mais poéticos dos diretores. Coisas voam, pessoas perdem a memória, o tempo vai e volta, tudo pode acontecer. Clair via o cinema como brinquedo, ferramenta de sonhos. O filme é um banquete de ilusões. Belo. Nota DEZ!
   O QUE É QUE HÁ GATINHA? de Clive Donner com Peter O`Toole, Peter Sellers, Woody Allen, Romy Schneider e Paula Prentiss
O roteiro é de Woody Allen. A trilha sonora, alegre e criativa, de Burt Bacharach. E a história tem as bossas e o groovy de 1965. Peter é um homem que está cansado de namorar tantas mulheres com tanta facilidade. Quer se dedicar só a uma. Sellers é seu analista, um sedutor fracassado. Woody Allen faz um jovem nerd que sonha em ser como Peter O`Toole. Romy é a boazinha namorada de O`Toole. Incrível como o mundo mudou! Peter O`Toole foi um sex-symbol sem músculos, sem corte de cabelo bacana e todo baseado em sua delicada figura andrógina e culta. Eu adoro Peter, adoro! O filme, dizem, foi uma festa de sexo e whisky, atores sem comando pouco se lixando para o pobre diretor. Very sixties. Não é um bom filme. É antes um retrato antropológico de um mundo que jamais existirá novamente. Visto assim, com olhar bobinho, o filme se faz uma bobice doce e chic. O roteiro de Woody fala daquilo que até hoje ele reescreve: sexo, sexo e sexo. Nota 6.
   OS AMORES DE HENRIQUE VIII de Alexander Korda com Charles Laughton, Robert Donat, Merle Oberon, Elsa Lanchester
Clássico inglês que deu um Oscar a Laughton. Há quem considere até hoje Charles Laughton o maior ator-gênio do cinema. Aqui ele brilha. Faz Henrique como uma vítima. Ele ama as mulheres, é seduzido por elas, e manda matar algumas....tudo como um brinquedo inocente. O filme, bonito, vai do intenso drama ( sua pior parte ), à comédia frívola, é seu melhor. Um raro é bom filme com a equipe hiper-profissional de Korda. Vale muito ver. Nota 7.

GIUSEPPE TORNATORE/ PETER SELLERS/ JOHNNY DEPP/ NEY MATOGROSSO/ SEAN CONNERY

  LUZ NAS TREVAS de Helena Ignez com Ney Matogrosso, Djiin Sganzerla, Paulo Goulart e vasto etc.
Nada aqui tem a ver com a realidade. E tudo é verdade. Eis o cinema! Mal feito, às vezes irritante por sua ambição e suas falas literárias. E ao mesmo tempo fascinante por seu jeito de labirinto onde todos são faunos. Na verdade: O Bandido da Luz Vermelha é o melhor filme brasileiro da história. Este, feito pela musa de Sganzerla, é sua continuação. O mundo mudou, hoje ele é mais violento, mais sem sentido, e mais crente no oculto ( estranho né? ). Em 68 o niilismo era maior e ao mesmo tempo a alegria maior. Fascinante! Ney dá um show! Carisma e o final é duca! O filme é invenção all the time. Mistura tudo. Brasil. Tem candomblé e rocknroll. Tem sexo e patifaria. Sangue com merda. E tudo parece fake, carnaval. Taba. As falas são de doer de tão ruins. Mas as imagens são magníficas. Uma das melhores falas da história: "Sempre sonhei em ter uma padaria em Cuiabá!" Hahahahahahah! Brasileiro é auto-negação. Contradição e jamais assumir nada. Ney é um diabo do ódio. O novo bandido é como são os bandidos de hoje: Nem nome tem... Lembro que quando criança eu acreditava no Bandido da Luz Vermelha. Meus primos diziam que já o tinham visto. Ele matava policiais no Caxingui. Eu botei fé. Ney canta na laje no fim do filme. Viva o Brasil! O cara é o retrato do que sobreviveu. Está com 70 anos! Mais jovem que eu e que tú. Nota Nada. Vou rever. Tem 3 histórias paralelas. Recuerdos, Ney na cadeia-inferno e o tal novo bandidode hoje. Minha alma cativa. Isso é cinema do Brasil. Disse.
   O SOM AO REDOR de Kléber Mendonça Filho
Na verdade é um documentário sociológico sobre um certo povo de uns certos quarteirões. Tudo aqui é real e nada parece verdade. Nunca vi atores tão ruins! Invenção nota zero. O filme é óbvio. Se voce quer ter uma aula de sociologia é aqui. Se voce quer um bom filme, sai correndo. Algumas cenas chocam. Pelo amadorismo. Acho que na faculdade a gente fez coisa mais bem feita hem Léo? Voce sabe, eu exijo um mínimo de competência. E o problema é: Assim como voce não se importa com um bando de dançarinos fazendo um show, o que me interessa nesse povo besta falando texto mal dito e mal ensaiado? Ver isto é tão fora da minha atenção quanto imagino ser Os Miseráveis para voce. Eu simplesmente não consegui me ligar. É muito blá blá blá. Valeu!
   BRANCA DE NEVE de Pablo Verger
Uma saída para o cinema: Vamos voltar a sentir e sem vergonha de ser bonito. O filme é todo superlativo. Imagem, trilha sonora e atores. Diverte e dá uma impressão de melancolia que não passa. Não consigo deixar de pensar nele. Cadê esse príncipe? Acorde menina! Se meus amigos o tivessem visto daria pano pra muita manga. É o melhor filme deste século de filmes banais. Está longe do espetáculo vazio ou do filminho de arte chocante e óbvio. É poesia e se comunica com todo mundo. Lindo. Nota DEZ.
   O FAROL DO FIM DO MUNDO de Kevin Billington com Kirk Douglas e Yul Brynner
Que filme bobo! Kirk, que é a única coisa boa aqui, vive em farol. Um bando de piratas invade a ilha e o filme mostra sua luta contra eles. Tudo dá errado neste filme. A ação parece falsa, a violência é exagerada, os outros atores são lamentáveis. Yul Brynner posa de "Sua alteza real Pirata". Nota 2.
   A MELHOR OFERTA de Giuseppe Tornatore com Geoffrey Rush, Donald Sutherland e Sylvia Hoeks
O diretor de Cinema Paradiso e de Malena faz seu "Hitchcock". O filme, que venceu vários prêmios italianos em 2013 e acho que ainda não passou por aqui, tem algo de Vertigo na obssessão de um homem solitário e neurótico por uma mulher misteriosa. A história se passa no mundo dos leilões de arte e é um filme bom de se olhar. Até agora não sei se o achei bom ou ruim. Há algo de muito tolo em seu roteiro. Eu simplesmente adivinhei tudo desde o começo. Mas há uma bela atuação de Rush, mais uma, e uma participação divertida do grande Sutherland. A menina é linda. E péssima atriz. Até a metade a gente torce, desejamos ver a menina, mas daí a "hitchcockerie" entra em parafuso e a coisa desanda. Nota 5.
   AS ILHAS DA CORRENTE de Franklyn J. Schaffner com George C. Scott e Claire Bloom
Se voce ama o livro de Heminguay, como eu, vai até gostar deste filme. Mas se voce não o leu, ou leu e não gostou, fuja disto. O filme é flácido, lento, sem motivo. Fala de um escultor que vive numa ilha. Recebe a visita dos 3 filhos, pescam e depois vem a ex-esposa o visitar. Ao final, uma tentativa de salvamento a fugitivos nazistas. Schaffner e Scott haviam ganho Oscars em 1970 com Patton, uma das poucas biografias do cinema que conseguem revelar o homem por detrás do óbvio. Uma obra-prima com roteiro do jovem Coppolla. Mas depois disso Schaffner só errou ( apesar do bom Papillon ). O que temos aqui é a linda fotografia de Fred Koenemkamp, o mar azul e a ilha cheia de vento e areia, e uma absoluta falta de emoção. É um filme ruim de que gosto por motivos puramente pessoais. Nota 3.
   EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA de Marc Forster com Johnny Depp, Kate Winslet, Julie Christie, Dustin Hoffman e Freddie Highmore
Não sei se fica claro no filme. Quando James Barrie escreveu Peter Pan ele já era um autor de sucesso. Posto isso...Que lindo filme! Lindo não por seu visual, que é menos do que poderia ter sido, mas pela beleza de suas emoções. Depp nasceu para esse tipo de papel, o frágil sonhador. Sabemos que Barrie era mais viril que Depp, mas e daí? Como artista que é, ele cria o homem que Barrie deveria ter sido. Aqui faço uma defesa de Johnny Depp. Ao contrário de Day-Lewis que só vai na certeza, Depp erra muito, porque se arrisca sem parar. É um maravilhoso ator lúdico, um ator que parece nunca levar a sério a profissão e tenho a certeza de que ele aprendeu isso com seu amigo Marlon Brando. Brincar. Em tempo de melhores roteiros Depp teria mais chances de acerto. O tipo de filme que ele procura, a diversão-excêntrica, não tem bons roteiristas atualmente. Kate não tem muito o que fazer aqui. Julie Christie, a venerável Julie de Doutor Jivago, faz uma mãe odiosa, enquanto Dustin se mostra o rei da simpatia. É dos poucos filmes que consegue mostrar o mecanismo da criação. Forster é um diretor ao velho estilo Hawks, filma de acordo com o roteiro. Um profissional. Deveriam existir mais como ele. Nota 9.
   O RATO QUE RUGE de Jack Arnold com Peter Sellers e Jean Seberg
Filme que era hiper reprisado na velha Sessão da Tarde. Comédia sobre o menor reino do mundo, Grã-Fenwick, que declara guerra aos EUA. A intenção é perder e assim ser reconstruído pelos americanos, repetindo o que foi feito no Japão e na Alemanha. Mas tudo dá errado. Eles vencem sem querer. Sellers faz três papéis: A rainha distraída, o primeiro ministro ganancioso e o herói atrapalhado. Peter Sellers é um dos poucos atores que merece ser chamado de gênio. Jean Seberg iria para a França após este filme. Filmar com Godard um tal de Acossado. Aqui ela está ainda mais bonita. Uma boa comédia. Nota 7.
   O GOLPE DE JOHN ANDERSON de Sidney Lumet com Sean Connery, Dyan Cannon, Martin Balsam e Christopher Walken
Este filme deveria ser refilmado. Pelo que sei, é o primeiro a exibir um mundo todo vigiado por câmeras e gravadores. Claro que são aparelhos ainda primtivos, o filme é de 1971, mas Lumet já percebe o incômodo na profusão de câmeras em elevadores, lojas, entradas de prédios. Sean Connery está sensacional como o ex-presidiário que trama um assalto a edifício. Entre os comparsas vemos o jovem Christopher Walken, é sua estréia no cinema. Muito carisma e o rosto de um jovem hippie muito maluco. O filme é dos anos 70, portanto espere muito realismo, nenhum glamour e um final pessimista. Lumet já exibe sua maestria em cortes e clima, o filme combina bem com Serpico, Um Dia de Cão e Network ( que carreira teve esse Lumet!!! ). Sean rouba o filme. O sexy James Bond prova mais uma vez aqui que ninguém nunca fez machões como ele sabia fazer. A trilha sonora, datada, tem jazz misturado a toques de sintetizador, autor: Quincy Jones. Boa diversão! Nota 7.
  
  
  

COLE PORTER/ BETTE DAVIS/ TRUFFAUT/ HUSTON/STANWYCK/ PETER SELLERS

   KISS ME KATE! de George Sidney com Howard Keel, Kathryn Grayson, Ann Miller
A música é de Cole Porter e este foi o show da Broadway que quebrou recordes de público e revitalizou a carreira do gênio musical.  Porter vinha de anos negros. O enredo é simples: um casal de atores que se detesta, monta uma versão musical de A Megera Domada, de Shakespeare. Musicais em seus melhores momentos são assim, mistura de alta cultura com pop sublime. As canções são fantásticas, Porter se supera em humor, e os atores têm todo o carisma necessário, a gente adora vê-los em cena. Foi neste filme que o gênio de Bob Fosse começou a aparecer. Bob faz um dos amigos de Petruchio, e pode coreografar suas danças solo. Vemos o nascimento de seu estilo Jazzy, o modo de usar as mãos e aquele estilo de jogar a cabeça para baixo que é sua trademark. O filme é absolutamente delicioso: chique, artificial, tolo, fantasioso, um imenso prazer. Nota DEZ.
   A BATALHA DOS SEXOS de Charles Crichton com Peter Sellers
Sellers antes de virar star-mundial. Aqui faz um quieto e recatado velhote. Ele trabalha numa muito conservadora empresa e irá sabotar uma americana que tenta implantar o modo americano de produzir. O filme não é engraçado, mas é interessante. Sellers era um gênio. Crichton faria décadas mais tarde o delicioso Peixe Chamado Wanda. Belas cenas da Londres de 1958. Nota 6.
   LOOPER de Rian Johnson com Bruce Willis, Joseph Gordon-Levitt e Emily Blunt
Lixo. Tenho preguiça de explicar o enredo, pobre, sobre viagem no tempo. O diretor é metido a artista, complica sua asnice tentando parecer complexo. É apenas uma besta que fala dificil. O filme, onde Willis não usa seu melhor que é o humor ( um dos sintomas da burrice é o mal-humor ), aborrece. Nota Zerinho.
   NASCIDA PARA O MAL de John Huston com Bette Davis e Olivia de Havilland
Após se revelar com O Falcão Maltês, Huston pegou este roteiro e fez seu segundo filme. E deu com a cara no poste. É um tema para William Wyler e nunca para Huston. Fala de uma egoísta, mimada e amoral, que rouba o noivo da irmã. Esse noivo morre após o casamento e então ela volta pra casa, ainda má. O filme, fosse feito por Wyler, seria correto e elegante, Huston exagera e quase cai no pastiche. Mas é bom de se ver. Os atores se divertem, a gente sente isso, e tudo é tão irreal que se torna um tipo de cartoon. O movimento nunca para.  Bette Davis nos dá raiva. É uma diva, a maior do cinema. Ela goza de prazer ao interpretar a maldade. Nós gozamos com ela. Nota 7.
   STELLA DALLAS de King Vidor com Barbara Stanwyck
Um grande sucesso e uma das cinco grandes atrizes americanas. É um super dramalhão. Stella é uma ambiciosa e nada maldosa periguete. Sim, fosse hoje ela seria uma periguete. Ela se casa com um milionário culto e fino e, é claro, eles se separam. Mas ela teve uma filha com ele e é aí que a coisa esquenta. Não, ele não tenta tirar a filha dela, os dois são amigos. O drama nasce porque a filha, que adora a mãe, frequenta o meio do pai e acaba por se retrair ao sentir vergonha da mãe caipira e exagerada-brega. O que vem depois fazia as platérias de 1942 uivarem de tanto chorar. Visto hoje ele soa noveleiro. Mas Stanwyck é tão maravilhosa!!!! O filme, escorreito e profissional, nos pega. Nota 7.
   SOLDADO UNIVERSAL de John Hyams com Jean-Claude Van Damme, Scott Adkins e Dolph Lundgren
Disseram que é a ressureição de Van Damme. Que é um bom filme de ação. Puff...é nojento! Sádico, ele explora a violência em closes de maldade. O filme é uma coisa macabra, ridicula, maldosa, que explora o pior dos piores. Se voce quer saber o que seria um pesadelo imaginado por um espertalhão....ZERO
   NOW, VOYAGER de Irving Rapper com Bette Davis e Paul Henreid
Ela é uma filha feia explorada pela mãe. Então um psiquiatra, Claude Rains, a ajuda, e num cruzeiro ela descobre o amor. Vira outra pessoa, quase segura, e enfrenta a mãe. Problema, o homem que ela ama é casado. Drama clássico que tem uma das frases mais famosas do cinema: "Para que pedir a Lua se temos as estrelas". Bette  dá um show. Parece ser duas pessoas completamente diferentes. A reprimida feia e gelada e depois a nova mulher, falante e quente. Bette muda voz, passos, mãos, olhar, tudo. Um show. Nota 7.
   LES MISTONS E AMOR AOS 20 ANOS de Truffaut com Léaud e Bernadette Lafond
O rosto de Jean Pierre Léaud...nunca foi bom ator, mas seu rosto é um símbolo de poesia. São dois curtas. No primeiro, um bando de garotos persegue um casal nas ruas. É o primeiro trabalho de Truffaut e já vemos eu estilo. Cortes rápidos, leveza, improviso. E crianças mais mulher. Lafond era linda! O outro curta, feito já na fama de Truffaut, é um episódio de Amor aos 20 Amos. Mostra Antoine Doinel apaixonado por uma vizinha. Ela não o ama. O episódio é melancólico. Nota 6.
    

MASTROIANNI/ SEAN PENN/ MARILYN/ GERMI/ RENOIR/ JACQUES TATI

   QUINTETO IRREVERENTE de Mario Monicelli com Ugo Tognazzi, Philippe Noiret, Gastone Moschin
Delicioso! É a continuação de Amici Mei, sucesso feito sete anos antes. Os velhos amigos continuam aprontando suas pegadinhas de adolescentes eternos. Monicelli tinha o segredo da comédia. O filme é feliz. Se voce tem amigos antigos irá se identificar com algumas situações. Maravilhoso tempo de comédias adultas. Comédias que falam de coisas sérias sem jamais parecerem forçadas. Tognazzi dá um de seus shows habituais. É um filme que mostra a alma masculina de forma bem verdadeira. Nota 7.
   A VALSA DOS TOUREIROS de John Guillermin com Peter Sellers
Um dos vários desastres que Sellers estrelou. Tudo dá errado inclusive ele. Zero. PS Eu adoro Sellers.
   O SACI de Rodolfo Nanni
Uma raridade ( que com o dvd deixou de o ser ). É o primeiro filme infantil feito no Brasil. Conta o episódio do Saci no Sitio do Pica Pau Amarelo. Simples, bem feito, tem um gosto de nostalgia, de pé no chão. Ele captura maravilhosamente a infância como ela é. Ou era? Nanni virou professor de cinema na FAAP. Há uma boa entrevista com ele feita em 2006. Nota 6.
   O PRÍNCIPE ENCANTADO de Laurence Olivier com Marilyn Monroe e Laurence Olivier
Este é o filme cujos bastidores foram dramatizados em 2011 no filme que deu indicação ao Oscar para Michelle Williams. Aqui vemos Monroe como uma corista que é convidada por duque do leste europeu para jantar na embaixada. Os dois não combinam, se agridem, e quase se apaixonam ao final. Esse fim não é doce demais, chega a ser azedo. Olivier tem seu filme roubado por Marilyn que está muito inspirada. Ela entra em cena e o filme é só ela. Olivier se exercita em um de seus prazeres: inventar sotaques. Peça de Rattigan que aqui se deixa ver com prazer. Para quem gosta de Marilyn ou de coisas very british é obrigatório. Nota 6.
   DOIS VIGARISTAS EM NOVA YORK de Mark Rydell com James Caan, Diane Keaton, Elliot Gould e Michael Caine.
Poderia ser ótimo, mas tudo falha. Porque? Os personagens são mal escritos. Caan e Gould, no auge da fama, são dois malandros atrapalhados que tentam dar um golpe em Caine, o maior malandro da América. Keaton faz seu tipo habitual, uma feminista histérica. Caine está bem, faz um super star do roubo. Quando o excelente Golpe de Mestre ganhou um monte de Oscars e dinheiro em 1973, uma fila de produtores se formou. Todos queriam fazer o seu Golpe de Mestre. Este é um deles. Nota 1.
   DIVÓRCIO À ITALIANA de Pietro Germi com Marcello Mastroianni, Daniela Rocca e Stefania Sandrelli
Como é bom ver Marcello!!! Aqui ele é um siciliano, nobre decadente, que é casado com repulsiva esposa melosa. Ele se apaixona por sua jovem prima e vizinha. O filme, dirigido pelo expert Germi, é cheio de cortes abruptos, frases ferinas e varia entre o humor amargo e cenas patéticas. Marcello tem uma de suas grandes atuações. Seu tipo, de bigodinho fino, cabelo empastado, ansioso de desejo, atrapalhado, é inesquecível. Uma obra-prima de criação e de estilo de interpretar. Mas o filme é muito mais. Temos a trilha sonora de Rustichelli e um roteiro brilhante que foi indicado ao Oscar ( e na época era muito raro indicarem qualquer coisa não anglo-americana ). Nota 9.
   A REGRA DO JOGO de Jean Renoir com Gaston Modot e Marcel Dalio
O revejo para celebrar a lista da Sound and Sight em que ele é o quarto melhor filme. Tenho uma relação complicada com este filme. Quando o vi pela primeira vez não gostei. Na segunda vez eu gostei um pouco. Agora foi a terceira. E finalmente entendo onde está seu gigantismo. Vemos um aviador que quebra um recorde mundial. Logo o tema muda, é a relação de um casal muito rico que se trai amoralmente. Então vamos ao campo e o tema se torna uma caça aos coelhos. Mas surge um malandro e agora o foco é nos amores desse malandro com uma empregada casada. Vem então o tema da vingança e nessa altura já não sabemos do que trata o filme e esquecemos do tal piloto de avião. E é isso: o filme é o primeiro a não ter personagem central, tema ou enredo. Não tem hierarquia, não tem foco, nem moralidade. É absolutamente livre. Influência gigantesca sobre o cinema feito após 1960 ( que é quando ele é descoberto. Em seu tempo ninguém deu bola pra ele ). Sempre que voce assistir um filme com dúzias de personagens com histórias entrelaçadas e sem qualquer sentido de objetivo central, saiba, o diretor tem este filme como cartilha. Nota 9.
   AS FÉRIAS DE MONSIEUR HULOT de Jacques Tati
Falar o que? Nada acontece neste filme, mas e daí? Queremos que esse nada jamais termine. O que amamos é ver Hulot, ver aquela praia e conviver com aqueles personagens. Este filme, ainda hoje hiper original, é um dos mais prazerosos filmes já feitos. Tudo aqui é felicidade. Hulot vai passar férias na praia, e nós vamos com ele. É um dos mais amados filmes do cinema. Eu realmente o irei rever por toda a vida.. Nota MIL.
   AQUI É O MEU LUGAR de Paolo Sorrentino com Sean Penn, Frances McDormand e David Byrne
Sobre um astro dark do rock dos anos 80 perdido no mundo de hoje. Penn está ótimo. Ele faz uma mistura de Ozzy com Robert Smith e algo de Edward Mãos de Tesoura velho. Mas o filme é um lixo insuportável. A trilha sonora, fraca, é de David Byrne e ele aparece como ele-mesmo, um tipo de grã-mestre da arte...Como se pode fazer um filme tão boçal, morto, flácido, tolo, sem porque? Como pode algum crítico o elogiar? Arghhhhh!!!!!
  

PETER SELLERS/ COELHOS/ ANA MARIA BAHIANA/ ASTAIRE/ MILESTONE/ JOHN GARFIELD

   ROMANCE INACABADO de Stuart Heisler com Bing Crosby e Fred Astaire
Astaire, em seu tempo de vacas magras, serve de escada para o sempre bonachão Crosby. O filme tem um score com um monte de canções de Irving Berlin, ou seja, apesar de ser produção de rotina, tem momentos de alto nível. Fred Astaire canta Puttin' on The Ritz...precisa de mais o que? São alguns minutos de técnica, alegria, classe e leveza. Como é bom poder ver esse gênio na tela! Nota 7.
   EXPERIMENT IN TERROR de Blake Edwards com Lee Remick e Glenn Ford
Acabou de sair em dvd. A música, climática, classuda, bem conhecida, é de Henry Mancini. O filme tem a fama de ser um dos favoritos de David Lynch. Tem o clima doente de seus filmes. A história fala de um maníaco asmático, que persegue e aterroriza pacata mocinha. Edwards estava aqui em seu apogeu. Acabara de fazer uma das melhores comédias do cinema e iria dominar a década com seu humor ácido. Aqui, nada de humor. É suspense esquisito, pouco hitchcockiano. Nota 6.
   2 COELHOS
Filme trailer. Me peguei esperando que ele finalmente começasse. Não começa. O diretor é daquela escola que pensa assim:"Se os trailers são tão bons, porque não fazer um filme que seja um trailer de hora e meia?" Nos anos 70 reclamavam que os filmes começavam a se parecer com TV, muito close e muito corte, nos anos 80 reclamavam que eles se pareciam com comerciais de TV, imagem fake e personagens rasos, nos 90 era o clip, muito efeito e excesso de cortes, pois veio depois o filme trailer, simples flashs de pedaços de ação com letreiros e apresentação de personagens que nunca termina. O futuro será o filme facebook, perfis de personagens e ações irrelevantes... Nota 1. pela boa produção.
   O PRISIONEIRO DE ZENDA de Richard Quine com Peter Sellers
O ponto baixo desse gênio chamado Sellers. Trata da velha trama da troca de um rei à perigo por um sósia simplório. Sellers dá um show como os dois. Um snob e afrescalhado principe da Europa central e um inglês pobre, pacato e de sotaque cockney. Há um filme de Tv com Geoffrey Rush que mostra quem foi Peter Sellers. Um homem sem personalidade, que só existia em seus papéis. Sellers foi meu primeiro ator-ídolo. Morreu do coração em 1979, com 50 anos apenas. A jovem geração perdeu a chance de conhecer esse ator incomparável. Poderia estar vivo ainda...uma pena. O outro filme que fez nesse mesmo ano ( 1978 ) com Hal Ashby, Being There, é talvez, o mais influente filme a servir de modelo a nosso tempo. André Forastieri disse isso, o cinema fofo e moderno de Wes Anderson, Juno e que tais é 100% Hal Ashby. Mas este tal de Zenda leva Nota 5.
   OS BRAVOS MORREM DE PÉ de Lewis Milestone com Gregory Peck
No inicio de sua carreira, Milestone fez o melhor filme de guerra do cinema ( Nada de Novo no Front ). No final dessa inconstante trajetória ele fez este outro histórico filme de guerra. Aqui, Peck é o comandante de um pelotão que deve tomar posse de uma montanha na Coreia. Eles a tomam, mas a que preço? O filme mostra o absurdo da situação: a batalha é inutil, os superiores mentem aos soldados, a ajuda nunca vem, o terror domina a todos. Nada há de heróico, eles apenas tentam sobreviver. O filme é forte, soberbo, tem cenários inesquecíveis. Peck transmite sua autoridade de homem íntegro. Consegue parecer assustado e sob pressão sem perder a altura. Funciona. O filme é quase uma obra-prima. Nota 8.
   SUGATA SANSHIRO de Akira Kurosawa
É o primeiro filme do mestre. Fala de um jovem que tenta ser um mestre do judô. O tema de Kurosawa já se expõe: vontade sob dor, teimosia que leva a vitória, prêmio que nunca compensa o sofrimento. Mas a vida se justifica nessa luta. Ela, a vida, vence, e nós somos parte dela e nunca seus senhores. A imagem do filme está estragada, muito escura. Se o achar em alguma loja, fuja. Não posso dar nota.
   O EGÍPCIO de Michael Curtiz com Edmund Purdom, Jean Simmons, Victor Mature e Gene Tierney
Fim da carreira de Curtiz. Fim digno em produção "épica" sobre um egípcio que se torna médico e se envolve com mulher fatal. O elenco é problemático. Purdom não vingou, Mature foi o simbolo do canastrão, Gene Tierney, que foi a mais bela das atrizes, já está irreconhecível. Teria logo uma doença nervosa que a isolaria da vida. E Jean Simmons, que faz o papel da mocinha boazinha que ajuda o herói, tinha sua carreira prejudicada por Zanuck, o poderoso produtor, por não ceder a suas cantadas. Jean era inglesa e foi a mais bela das Ofélias no Hamlet de Olivier. Este filme é enorme, pesado, melodramático, sem noção, tolíssimo e apesar disso tudo, deixa-se ver com facilidade. Nota 5.
   VINGANÇA DO DESTINO de Jean Negulesco com John Garfield e Micheline Presle
Garfield é um jockey americano. Ele vende corridas, faz "marmeladas". Foge para a França, mas o destino o persegue na forma de um mafioso que ele traiu. O filme tinha tudo para ser bom. Um ator excelente ( Garfield, foragido de MacCarthy, logo morreria na amargura. Seu tipo feio, sujo, antipático fez dele o primeiro ator a parecer "gente de verdade" ), um tema ousado e uma Paris pós-segunda guerra ainda existencialista. O filme é cheio de jovens barbudos, clubes de jazz e ruas imundas. Fascinante Paris que desapareceria nos anos 60 com seu boom de crescimento. Mas com tudo isso o filme é chato. Cai em excessos de melô na figura do filho de Garfield, um menino enjoado, choroso e bonzinho demais. O filme é frustrante então. Nota 3.
   1972 de Ana Maria Bahiana e José Emilio Rondeau com Dandara Guerra, Rafael Rocha e Tony Tornado
Foi um fracasso de bilheteria esta produção cara que foi a estréia de Ana na direção. Ana foi critica de rock e o filme tem algo de autobiográfico na figura da mocinha que tenta ser repórter de rock em 1972. Há algo de Quase Famosos aqui, mas o filme, que é bom, nunca emociona. O que mais o prejudica são os dois atores centrais. O mocinho do subúrbio é interpretado de modo completamente amador. Já a repórter é um pouco menos ruim, mas Dandara, que é impressionantemente linda, tem problemas de dicção. O melhor é ver Big Boy sendo homenageado e sentir o amor ao rock que há em todo o roteiro. O filme é sobre rock na época em que gostar de rock ainda era coisa de bandido. Nesse ponto ele acerta na mosca. Era coisa de não- bandidos, jovens ingênuos, idealistas, sonhadores e que se uniam na grande irmandade dos cabeludos. O chato é que esse filme podia ser tão mais..... Nota 6.

ORSON WELLES/ DEPARDIEU/ WISE/ BURTON/ DE SICA/ PETER SELLERS/ ZULU

ZULU de Cy Endfield com Stanley Baker, Michael Caine, Jack Hawkins e Ulla Jacobson
Um grande clássico do cinema inglês, foi votado recentemente um dos top 40 de toda a história do cine britânico. É diferente de tudo aquilo que voce espera. O excelente roteiro narra a história verídica de um grupo de soldados que em 1875 se defende na Africa de ataque de 4000 zulus. A primeira cena ( excelente ) já revela do que trata o filme: vemos uma longa dança ritual zulu. O filme não toma partido, os zulus não são vistos como "bons selvagens", mas tampouco são vilões. Assim como os soldados ingleses, eles são guerreiros humanos. O desenvolvimento dos personagens é perfeito, todos são bem delineados, nenhum é um herói, mas também não existe o anti-herói, têm falhas e qualidades e todos estão transidos de medo. A ação é muito bem feita, o som percussivo dos zulus vindo em crescendo, a violência explodindo de súbito. E o final é um explendor. Em suma, maravilhoso prazer. É um dos primeiros filmes de Caine, é aqui que ele se torna star ( em 64, ano do filme, ele só perdeu em bilheteria britânica para James Bond e A Hard Days Night ). Caine compõe um tenente afetado, fraco, exitante, mas que acaba por fazer o que dele se espera. Stanley Baker, grande estrela da época, é um oficial que luta para ser duro, tenta ser profissional, mas percebe todo o tempo o absurdo daquela matança. Excelente, tem ainda uma fantástica trilha sonora de John Barry, talvez meu compositor de cinema favorito. Nota 9.
A MARCA DA MALDADE de Orson Welles com Orson Welles, Charlton Heston, Janet Leigh, Marlene Dietrich
Um filme de Tarantino feito em 1958. A primeira cena é antológica: um longo plano sem cortes em que Heston anda por rua da fronteira Mexico/EUA em meio a carros, gente e casas. A câmera sobe, desce, corre e caminha e nenhum corte é feito até acontecer uma explosão. O tipo de esbanjamento de talento que foi inventado por Welles. Se Kane é seu filme mais perfeito é este que dá mais prazer ao ser visto. Fala de crime, do confronto entre um velho policial sem ética ( Welles, em atuação de explendor ) e um policial mexicano honesto ( Heston, muito bem ). Tudo no filme é fatalismo, pessimismo, escuro ( a fotografia é maravilhosa ). E tem algumas linhas de diálogo de cinismo cintilante. É um desses filmes cult-chic que fica bem gostar, mas ele merece toda sua fama. Se voce não penetrou no segredo do genial talento de Welles, este talvez comece a mudar sua opinião. Nota 9.
MAMMUTH de Gustave Kervern e Benoit Delepine com Gerard Depardieu e Isabelle Adjani
Minhas Tardes Com Margueritte é o melhor filme em cartaz. Se voce não o viu por ter ido atrás do hype, sinto muito. Lá Depardieu dá um show e pasmem, é um filme atual que trata de gente comum, sem grandes loucuras e doenças mortais. Mas aqui tudo se desacerta. Ele está ok como um aposentado entediado que parte pelas estradas atrás de papéis que provem onde e quanto tempo trabalhou ( problemas de aposentadoria ). Belo tema que poderia lembrar o Schmidt de Alexander Payne com Nicholson ( Payne é um dos muito bons novos diretores que têm pouco hype por não serem "geniais" ). Mas este Mammuth envereda pelo desejo de ser esquisito, diferente, inesperado, e nessa busca tola por arte, ele se faz previsível e pior, enfadonho. Uma pena.... Nota 2.
CORRA QUE A POLICIA VEM AÍ 2 E 1/2 de David Zucker com Leslie Nielsen e Priscilla Presley
Adoro Nielsen!!!!! Ele surge e já abro um sorriso. É daqueles humoristas que apenas por estarem em cena já fazem graça ( Eddie Murphy foi assim há séculos atrás ). Mas esta segunda aventura do hilário policial está longe da naturalidade da primeira. Aqui voce percebe o riso sendo procurado. Mesmo assim tem algumas cenas de humor antológico. Nota 6.
HELENA DE TROIA de Robert Wise com Rossana Podestá, Jack Sernas e Brigitte Bardot
O filme já começa com um erro: no papel de escrava, a muito jovem BB rouba o filme da insignificante Helena/ Podestá. E todo o resto vai nesse ritmo: o Paris feito por Sernas é patético, a guerra de Troia é constrangedoramente ruim e tudo no filme acaba por se parecer com carnaval na Sapucaí. Mistério: como um diretor tão bom como Wise se meteu nessa embrulhada? Nota Zero.
ALEXANDRE, O GRANDE de Robert Rossen com Richard Burton, Frederic March e Claire Bloom
Excelente. Burton, apesar de sua ridicula peruca, dá dignidade a figura de Alexandre. March, como seu pai, Filipe, está ainda melhor, e o filme é visto como um embate edipiano entre pai e filho. Filipe é todo desejo, virilidade, exuberância; e Alexandre, apesar de suas vitórias, é estranhamente fraco, solitário, travado. Rossen, grande diretor, sabe contar sua história. O filme flui. Não existe aqui aquele excesso de luxo hollywoodiano nos cenários "gregos", tudo é simples, claro e natural. Pode ser visto sem medo, ele se sustém, nada é inverossímel. Nota 8.
O FINO DA VIGARICE de Vittorio de Sica com Peter Sellers, Britt Ekland, Victor Mature, Martin Balsam, Maria Grazia Buccella
Uma comédia onde Peter Sellers faz um gatuno italiano só pode ser coisa boa. E é. Sellers foi um gênio e aqui ele dá uma pequena mostra disso. Faz um italiano típico e não parece forçado ou caricato. Faz rir, pelas situações de humor, não por ridicularizar sua interpretação. O filme trata de um roubo de barras de ouro e de um ladrão, The Fox, que deverá transportar esse ouro para dentro da Itália. Para isso, ele se passa por um famoso diretor de cinema "de arte", e usa a população de vilarejo, ávida por fazer cinema, como cúmplices no crime. Mature é um decadente ator americano canastrão ( ele se auto-parodia. Está ótimo ) e temos ainda todos aqueles hilários atores italianos em pequenos papéis. De Sica deixa Sellers atuar, o modo como ele move suas mãos, os olhares à Mastroianni, são aulas de como imitar sem parodiar. Uma comédia de primeira que tem ainda a bela trilha de Burt Bacharach e a linda Britt Ekland, uma atriz suéca do mal ( casou-se com Sellers e destruiu a carreira dele, e depois casou com Rod Stewart e o transformou num playboy. Os dois foram corneados por Britt ). Ah, o roteiro é de Neil Simon. Nota 7.
COLUMBO ( Box com 3 discos ) com Peter Falk, Leslie Nielsen, Lee Grant, Roddy McDowall...
Columbo é um policial feio e mal vestido, que com tranquilidade vai descobrindo seu criminoso. Quando Wim Wenders fez seu maravilhoso ASAS DO DESEJO ele escolheu Peter Falk/Columbo para ser um anjo. Vendo a série entendemos o porque. Columbo se move no crime, mas ele é sempre uma figura calma, plácida, familiar ( apesar do fedorento charuto ), um anjo que não tem uma só cena de violência. O filme começa sempre com o crime. Vemos quem o cometeu e a engenhosidade da execução. O interesse está em saber como Columbo chegará a solução. Ele então, se aproxima lentamente do crime. Toda a força da série está na composição de Falk e nos diálogos. Columbo vai irritando o criminoso, deixando-o confuso, acuado, temeroso. Columbo é obssessivo, racional, teimoso e fica todo o tempo surgindo onde menos se espera. Uma criação inspirada. Nesta caixa, o primeiro episódio tem direção de Steven Spielberg ( é seu primeiro trabalho ). Não darei nota por não ser cinema ( apesar de as imagens, com menos closes do que se usa hoje, serem quase cinematográficas. Cada episódio dura 80 minutos. )

BONS COSTUMES/ PETER SELLERS/ DAVID LEAN/ SEMPRE AO SEU LADO

BONS COSTUMES de Stephan Elliott com Colin Firth, Kristin Scott Thomas e Jessica Biel
Texto de Noel Coward e música de Cole Porter. Comentei este filme algum tempo atrás e só agora ele entra em cartaz. Como os nomes de Noel e Porter deixam perceber, é o tipo de diversão chic e civilizada que está totalmente fora de moda. Este filme requer bom gosto e leveza de humor. Adorei ! Então eu tenho bom gosto e humor ? Sei lá... o filme é uma delícia fútil. Existe algum filme ruim feito por Colin Firth ? Ele é ótimo. Nota 7.
AEROPORTO de George Seaton com Burt Lancaster, Dean Martin, Jean Seberg e Jacqueline Bisset
Foi contra este tipo de filme que a nova-Hollywood se ergueu por entre carreiras de pó, barbas e filmes de Antonioni. Eles bateram forte neste mastodonte. Seu sucesso os irritava. Alguém tem coragem de agredir Peter Jackson e James Cameron ? Aeroporto é mais velho que novela das seis. Mas prende a atenção, afinal, todos gostamos de desastres e de ver gente ter medo. Nota 5.
NOITE SEM FIM de Sidney Gilliat com Hayley Mills, Hywell Bennet e Britt Ekland
Uma coisa horrenda ! Baseado em Agatha Christie, o filme não tem nada da dama inglesa. Desprovido de suspense, de estilo e de humor. O elenco é horrendo, a direção banal. Curiosidade : Britt Ekland, atriz sueca que acabou com o pouco equilíbrio que havia em Peter Sellers e que depois transformou Rod Stewart num babaca. Nota 1.
ASSASSINATO NUM DIA DE SOL de Guy Hamilton com Peter Ustinov, Jane Birkin, Maggie Smith e Colin Blakely
Outro baseado em Agatha. Mas este é ok. Bem produzido, bem fotografado, bons atores e toques de humor e crueldade. Um filme indicado para madrugadas de vinho e queijo. Nota 7.
A FILHA DE RYAN de David Lean com Sarah Miles, Robert Mitchum, Trevor Howard
Se Spielberg pudesse nascer de novo ele gostaria de nascer David Lean. O rei do bom gosto, o diretor que melhor sabia usar a tela grande, o perfeccionista. Lean tem todas as qualidades de Spielberg e nenhum de seus defeitos : David Lean nunca é piegas. Ryan é seu maior fracasso e quase destruiu sua carreira. Mas é um belo filme ! A Irlanda nunca foi melhor fotografada e o filme é vasto painel de um mundo desaparecido. Nota 7.
A PANTERA COR DE ROSA de Blake Edwards com David Niven, Peter Sellers, Claudia Cardinale e Robert Wagner
O filme que originou Clouseau. Mas ele não é o centro do filme. Há romance demais e Peter Sellers de menos. Ficamos torcendo para que ele surja logo na tela. Acaba sendo um filme xoxo com alguns bons momentos. Sellers foi um gênio. E que ano estupendo foi esse para Claudia !!! Em 1963 ela esteve neste filme, em OITO E MEIO de Fellini e em O LEOPARDO de Visconti !! Nota 5.
UM TIRO NO ESCURO de Blake Edwards com Peter Sellers, Elke Sommers, George Sanders e Herbert Lom
O segundo da série. Há milênios atrás, este foi o filme que me fez começar a gostar de filmes "velhos". É minha comédia favorita de todos os tempos, mas isso não quer dizer que eu a ache a melhor. Tenho uma relação afetiva com todas as falas e cenas deste filme. Ele é como meu paraíso pessoal. Encontramos Sellers em seu auge. Clouseau é criação de gênio. Mas é aqui também que nasce seu ajudante sempre sério ( Dudu ), o criado Kato e principalmente o comissário Dreyfuss, impagável na pele de Lom ( ele só não rouba o filme porque tem de disputar com Sellers ). É uma comédia que cresce cada vez mais, vai se tornando mais e mais veloz e termina já dando saudade. Aconselho a que os muito jovens não o assistam. Nota DEZ.
RAN de Akira Kurosawa
Quando o cego larga sua flauta e se aproxima do abismo percebemos que a arte do cinema pode ser tão nobre quanto a melhor literatura. Jamais vi filme com fotografia tão linda e raras vezes assisti obra com tal alcance. Um dos segredos de Kurosawa ( são vários ) é sua modéstia. Ele filma épicos gigantescos como quem faz um filme B. Tudo parece direto, sem complicações. RAN é inesquecível. Pretender conhecer cinema e não penetrar em RAN é nada saber. Nota .........
KAGEMUSHA de Akira Kurosawa
Aqui o mestre se perde. A trilha sonora lembra John Willians, o roteiro tem sérios problemas e o filme desmorona todo o tempo. Em que pese a maestria de Kurosawa em filmar batalhas, o filme é o pior de sua grande carreira. Nota 4.
COWBOYS DO ESPAÇO de Clint Eastwood com Ele, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland e James Garner
Clint sempre fez dois tipos de filmes : Hawks e Hustons. Este é Hawks. Amizade masculina é o tema central. Quem tem amigos antigos vai adorar o filme. É um RIGHT STUFF ( OS ELEITOS ) caipira. Uma delícia, sem a menor pretensão, com um elenco cheio de carisma e muito bem levado pelo impagável Clint. Humor e aventura, quem quer mais ? Nota 7.
UM CASAMENTO PERFEITO de Eric Rhomer
Rhomer diz fazer documentários sobre o rosto humano. Note : seus filmes são sempre felizes. É por isso que gosto deles ( apesar do desleixo e do fato de que ele não sabe dirigir atores. ) são leves, esvoaçantes, simples, banais. As pessoas falam e falam e falam. E tudo o que fazem é... falar mais. Como todos nós. Para esse tipo de filme funcionar é vital que nos apaixonemos pelos personagens. Isso não acontece desta vez. Nota 4.
SEMPRE AO SEU LADO de Lasse Hallstrom com Richard Gere e Joan Allen
Hallstrom... em 1985 ele chamou atenção mundial com VIDA DE CACHORRO, um dos mais bonitos retratos da infância já filmados. Depois veio a América e GILBERT GRAPE, CHOCOLATE.... virou um bom fazedor de filmes para mocinhas. A poesia de seu primeiro sucesso se perdeu. Filmes de cachorro.... espero que um dia façam a obra-prima dos filmes de cachorro. Não foi este. Sua primeira metade é banal. Mas a segunda, bem... é um dos filmes mais tristes que já assisti ! Não deixem as crianças assistirem. Ao contrário de outros filmes de pets, este tem lágrimas mas não tem final feliz. Eu chorei pra caramba !!!!!! Mas é pura manipulação, minhas lágrimas são pelo cão sofredor, não pelo filme. Que apelação !!!!!!!!! Nota 4.
PAULO FRANCIS
Assistam de joelhos ou joguem tomates na tela, mas assistam. Um mundo sem Francis não tem tempero e a geração que não o conheceu nem imagina o que significa ser provocado por Paulo Francis. Ele era um provocador, mas com conhecimento de causa, com história, com argumentos. Foi o cara que me fez procurar livros de Waugh, Greene e Huxley; foi o cara que me abriu os olhos para Gielgud, Olivier e Rex Harrison e que me fez desconfiar para sempre de modas e opiniões moderninhas. Ele era sincero. Faz uma falta do caramba !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!