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VOCÊ É AQUILO QUE VOCÊ LÊ, OU PORQUÊ EM 1975 A MELHOR COISA DO ROCK NÃO ERA PATTI SMITH MAS FAZIA DE CONTA QUE ERA.

   Ana Maria Bahiana. José Emilio Rondeau. Pepe Escobar. E Zeca Jagger ( Ezequiel Neves ). Zeca era o melhor. E eu amava o cara. Mas, Jeca que eu era, algo em mim, inseguro pra caramba, queria ser alta classe-intelectual. Então os outros críticos me diziam: O rock tá um lixo e só Patti Smith conta. Patti e Bruce. Mas muito mais Patti. Nos anos seguintes eles diriam que o Clash era a maior banda da história do rock e que Stones, Led, Dylan estava mortos e esquecidos. Bem....eu acreditei neles. Eu queria ser chique. Então me obrigava a escutar o que eles achavam relevante: Talking Heads. Gang of Four. Elvis Costello. Clash Clash e Clash.
 Zeca elogiava esses caras. Mas ele dizia, só ele, que os Stones estavam vivos e bem. Lendo os críticos cabeça, eu achava que o Led vendia uns 2000 discos e olhe lá. E que as paradas eram dominadas pelo Joy Division e Bow Wow Wow. Minha cabeça tava feita. Muito bem formatada.
 Bem mais tarde eu me informei melhor e vi que entre 1975 e 1980 o que mais vendia na Inglaterra era Queen e Iron Maiden, Dire Straits e bandas de ska. Elton John e das mais novas, The Police. Tudo o que eles mais desprezavam. E diziam, forçando a barra, que estavam no gelo, esquecidas. Estranhei quando em 1981 fui no Morumbi e vi 100 mil pessoas delirando com Freddie Mercury. Mas, eles tinha a resposta pronta: só no Brasil atrasado o Queen enchia estádio. Deus, quanta mentira! No Rock in Rio falaram que só aqui Iron e AC DC existiam. É 2020 e eles ainda lotam arenas. Já Nina Hagen e B 52s...por onde andarão?
 Fui enganado. Muita gente foi. Nos tempos pré internet, um jornalista era a lei. E se ele queria nos fazer crer que Bob Dylan já era ( em 1978 ), a gente engolia como fato. Elton John tava esquecido pelos fãs e relevante era Boy George. Pois é...
 Escrevo isso após ouvir de novo Toys in The Attic e dizer aqui e agora, sem vergonha nenhuma, que em 1975 o Aerosmith tinha lançado um disco perfeito. Toys não tem uma só faixa menos que ótima e em 2020 continua a ser um sincero convite à alegria, ao sexo e a sacanagem geral. Como diria Zeca, é descaralhante. Os críticos metidos nem se deram ao trabalho de ouvir. Estavam desvendando Van der Graaf Generator e Warren Zevon. Enquanto isso Joe Perry detonava riffs perfeitos e Tyler esburacava mentes e cinturas. E vendiam toneladas. Em 1975 era Aerosmith nos USA e Queen nos UK. Mas fazia de conta que não.
 O tempo mostra a verdade. 45 anos depois você sabe de quem o mundo lembra.
 PS: a melhor banda de 1975 era o Roxy Music. Os tais críticos nunca falaram do Roxy. Zeca sim. Uma crítica dele no Jornal da Tarde mudou minha vida.

STOOOOOOPID !

   São 10 LPs vindos diretos de Kookaburra, Australia! Edições de 1980, eles seguem adiante do lugar onde Lenny Kaye havia parado. Sim, voce sabe né, Lenny Kaye era crítico de rock e guitarrista da banda de Patti Smith e em 1972 ele conseguiu lançar um disco chamado Peebles. Era uma coletânea de bandas americanas que tinham desaparecido sem deixar rastro. Mais importante, eram bandas de garagem e em 1972 NINGUÉM MAIS lembrava do que era uma banda de garagem!
   Garagem era o tipo de som mal tocado, mal gravado e mal divulgado. Todas as bandas bebiam na fonte de Yardbirds e Them. E por causa da sinceridade, da energia, do desejo a flor da pele, era rock na mais pura alma. A molecada, alguns com 14 anos de idade, botava o fígado pra fora. Pois bem, esse som ameaçou estourar nas paradas entre 1966 e começo de 1967, mas a história foi cruel com eles. Veio em junho de 67 o sargento Pimenta e o rock mudou. Agora a moda era som pretensioso, bem arranjado ou solos longos inacabáveis. Faixas de dois minutos eram velharia agora...
  Em 1972, no auge do rock sinfônico e do hard rock hedonista, Lenny lança então esse Peebles. Fazia apenas 6 anos que aquilo tudo fora gravado, mas parecia um século. O mundo das garagens ficava a anos luz de Steely Dan e Roxy Music ( as grandes novidades de 72, e eu amo as duas ). Era tosco. Era juvenil. Era sublime.
  Peebles não vendeu nada, mas certos críticos amaram. E muito moleque de Akron, Detroit, Los Angeles e Londres pirou ao ouvir aquilo. Era exatamente o que eles queriam ouvir. Era um som que eles podiam fazer.
  Em 1979 um maluco Aussie, um tal de Seltzer, sai pelos USA a procura de discos perdidos em coleções, lojas antigas, porões cheios de tralhas. E nessa procura ele encontra material para 10 LPs!!! Todas as bandas que ele encontra têm em comum, além da sonoridade pré-punk, o fato de não terem vendido quase nada e nunca terem gravado um LP. Fizeram apenas um ou três singles, venderam de mão em mão, sonharam com o sucesso e sumiram sem deixar pistas.
  Algumas faixas têm péssimo som. Discos que foram achados semi destruídos, riscados, jogados em meio a vitrolas e bikes abandonadas. Um tipo de aventura de garimpo impossível de ser feita hoje. Uma aventura atrás de pérolas, de pepitas.
  A edição, os 10 discos com lindas capas acondicionados em uma pasta de vinil, com poster e uma carta de Lenny Kaye, é linda.
  Andei pensando se na história do rock existe um só nome que seja amado por todas as tribos. Um nome que possa ser escutado com gosto por góticos, hippies, punks, metaleiros, folks, indies, eletrônicos, blueseiros, rockabillies, countries, e etc sem fim...pensei que Hendrix chega perto dessa unaminidade...mas acho que uma banda como essa The 12 a.m. tem esse poder. O som vai de Sonic Youth e Mudhoney à Buddy Holly e Monkees. Ninguém sabe quem são, para onde foram, nada. Ficou o disco. Um milagre.

LINHA M - PATTI SMITH

   O livro tem fotos espalhadas pelos capítulos curtos. Fotos em preto e branco, bem comuns. Isso logo me lembrou os livros do Sebald. E Patti em certa altura fala do Sebald. Ela lê o alemão genial. Assim como lê ou leu Bronte, Paul Bowles, Nabokov, Genet, Camus, Plath, Harukami... e toma café. Baldes de café em cafeterias mundo afora.
  O livro fala de café. De bancos ao canto em cafeterias. De café bem tirado. Quente. Patti pensa. Ela está com 66 anos e bem só. Fred Sonic morreu faz 20 anos. Os filhos cresceram. Ela vive com gatos e livros. Ela escreve sobre Fred, sobre os livros que ama. E café.
  Viaja ao México. Vai pra Europa. Faz palestras. No Japão visita túmulos. Vai ao de Kurosawa e de Ozu. Limpa túmulos. Patti sente os espíritos. Mas não consegue sentir Fred, seu morto.
  Ela é doida por séries policiais na TV. Killing. CSI. E Dr. Who. Não se fala de música neste livro. Se fala do dia a dia, banal e irreal, de uma senhora que envelhece.
  Tanta coisa em comum entre eu e ela... o café, Kurosawa, Ozu, Sebald, os livros ( ok....50% dos livros ), a mania de tirar fotos de coisas que ninguém liga. E esse amor aos que partiram, aos ausentes, aos distantes.
  Ela diz que vivemos cercados de intrusos e que amamos aqueles que são os não presentes...
  É um livro de tardes de chuva.

BOÊMIOS.... DAN FRANCK. AQUILO QUE SOMOS HOJE. SÓ QUE NA IMITAÇÃO DA IMITAÇÃO DA IMITAÇÃO DA IMITAÇÃO...

Um andava com uma camisa feita de papel. Outro fez uma gravata de madeira. Todos tinham visual ultrajante. Todos passavam frio e muita fome. Mas não desistiam. Este livro fala deles. Cada capitulo, de duas paginas, fala um causo. Uma piada, um drama. Nisso lembra o livro do Ruy sobre Ipanema. Mas este é francês. Muito Paris.
Vai de 1900 até 1930. Começa com Picasso. O cubismo. E Apollinaire, o poeta. Em Montmartre. Primeiro choque: em estilo, palavras, as pessoas hoje, cem anos depois, imitam todos eles sem saber. Mesmo quem nunca ouviu falar de Max Jacob ou de Modigliani. Cocaína, absinto, ópio, arte. Se morria pela arte. Este livro explica Patti Smith e Mapplethorpe. Boêmios.
Triste é a parte final. Após cubismo, fauvismo e o dadá, vem o surrealismo, e esse movimento estraga tudo. Mete política e poder no meio. Porquê antes todos eram anarquistas. E estrangeiros. Os inimigos dizem isso, que todos são estrangeiros, que eles destroem a verdadeira França. E há a guerra de 14, que mata tantos...
Foujita, um japonês que se vestia de mulher e seduzia as damas burguesas. Man Ray, o fotógrafo americano que amou Kiki, a menina de rua que virou musa da época.
Jarry, o autor do Ubu, que andava armado e dava tiros em bares, na rua.
Tzara, líder do dadaísmo, onde nada fazia sentido e tudo era piada. As festas dadas, as mentiras como forma de arte.
É tanta gente. Brigas em bares, delegacias, peças que viram lutas, vaias, socos, fogo e tiros.
E as mulheres. Modelos, putas, dançarinas. Uma esfuziante fé na vida, mesmo sem comida, com piolhos, doença e criação. A vida como obra de arte.
Lá tudo isso ainda era de verdade. Porquê eram os primeiros. Não imitavam ninguém. Não queriam ser como boêmios. Eles eram Os boêmios. Faziam o que queriam da forma que podiam.
Picasso ficou rico. Foujita, Derain, Van Dongen, Matisse, Braque...todos ricos. Mas ainda duros. Como dizia Picasso: o ideal é ser pobre tendo dinheiro.
Livro inspirador! 

SO' GAROTOS....PATTI SMITH

A frase que revela a alma de Patti é dita quando ela diz que Robert não conseguia perceber o romantismo da febre, de se estar doente. Ela percebe. Patti é uma romantica. Rimbaud, Baudelaire, Rousseau são guias. Sua geração foi a ultima geração culta do rock. Depois existiram românticos, mas artísticos de verdade não.
O rock é coisa pura, energia sem razão. Isso é maravilhoso, isso foi único. Com Dylan o intelectualismo invadiu a coisa. Esse intelectualismo quase matou o rock, mas trouxe Zappa, Joni Mitchell e acima de tudo o VELVET UNDERGROUND. Patti nada tinha a ver com o mundo do rock. ComoLaurie Anderson, David Byrne ou August Darnell, sua praia é outra, a poesia. Patti poderia ser uma chata. Não é. Ingenua sempre. Uma pessoa adorável.
Sam Sheppard namorou Patti Smith! Isso é incrível! Para quem não lembra, Sam escreveu o roteiro de PARIS/TEXAS, fez o papel de Chuck Yeager em OS ELEITOS, e é marido de JESSICA LANGE desde os anos 80.
Não espere ler aqui sobre rock. Ele é sobre boemia. Sobre um casal apaixonado. Sobre o estranho Mapplethorpe e a boazinha Patti Smith. A Esta ira, e o modo como Rimbaud, Keith Richards e JESUS CRISTO guiaram a vida dessa menina sem igual.
O livro também mostra o contraste entre a década de 60 e a de 70. A primeira foi utópica, trágica e infantil. A dos 70 foi cínica, egocêntrica e centrada no culto às celebridades.
Eu lembro de quando saiu Horses. Causou surpresa por ser sem rótulo. Não era folk, nem hard, prog ou pop. Lançado em ano de transição, foi, ao lado de Born to Run, de Springsteen, disco do ano. Depois inventaram que ela era punk!???!!! Nunca foi! Patti ignora Stooges, MC5 E OS DOLLS. PATTI foi da mesma matriz de Lou Reed, arte, Andy Warhol, beats, cinema, franceses.
França... Faz falta essa influência boemia/Montmartre no rock de hoje. Ambição...
Devore o livro! É bom pacas!

O QUE ELES POSSUEM HOJE?

   E Patti Smith vai ao X da dor: "Nos meus downs eu tinha Rimbaud e Mick Jagger, eu tinha Virginia Wolff e Dylan, tinha Walt e Cocteau, eles me davam alegria, confiança, paz e objetivo. O que nossos jovens têm agora? Um novo tênis, uma dose de heroína? Uma trepada, um novo carro? O que restou para eles se erguerem e confiarem na vida?"
   Durante anos e anos, longe dos discos e longe dos palcos, Patti e Fred moraram em cabanas, hotéis baratos, casas pequenas. Vivendo dos direitos da versão que Springsteen gravou de Because the Night, quase duros, sempre perto do mar, ela e Fred ( ex-guitar dos MC5 ), criaram o filho Jackson. Ela escrevia, lia, cozinhava, nadava. Ele pintava, navegava, cozinhava, esculpia. Quando Jackson estava pronto, eles voltaram...

Patti Smith - Horses & Hey Joe



leia e escreva já!

AS MELHORES ENTREVISTAS DA ROLLING STONE ( BONO, JOHNNY CASH, COPPOLLA, OZZY, BRUCE...)

   As entrevistas são editadas para caber num livro médio. Isso tira todo o sabor delas. Ler este livro é como ver uma série de trailers de filmes que voce gostaria de assistir. Nada acrescentam. Portanto é um livro ruim e eu não costumo citar os livros ruins que leio ( creia, são muitos ). Mas vale a pena dizer que umas 3 ou 4 entrevistas valem a pena. 
 O livro começa com Pete Townshend, que em 1968 foi o primeiro entrevistado da revista. O repórter foi num show do Who e Pete não quebrou a guitarra. Intrigado, o jornalista perguntou a ele o porque. Veio desse papo a primeira entrevista da RS. ( Bons tempos em que uma estrela se deixava entrevistar de improviso ).
 John Lennon é very ugly. A cabeça dele estava um lixo em 1970. Ele se auto-glorifica. Sou um gênio, desde criança eu sabia disso e por aí vai. Pobre Paul que precisou conviver com esse pseudo-Goethe de Liverpool. É a figura mais ridicula de toda a história do rock. Mas, como ele fez meia dúzia de canções realmente boas, vou crer que aquele foi um momento de doença mental ou o que for. 
  Jim Morrison fala de álcool. Phil Spector é hilário. E tem ainda Bill Clinton, o Dalai Lama, Bill Murray, Tina Turner, Eric Clapton, Ray Charles, Brian Wilson, Keith Richards, Neil Young, Joni Mitchell, Kurt Cobain, Axl, Eminem e um vasto etc. Todas chatíssimas! Mas...
  Jack Nicholson fala de quando descobriu que sua irmã era na verdade sua mãe. George Lucas conta da sua expectativa para o lançamento de seu novo filme, Star Wars, e conta que seu objetivo é fazer com que o cinema americano saia da depressão dos filmes descrentes dos anos 60/70 e volte a acreditar em cowboys, heróis, que os jovens de 1977 tenham de volta a fé que ele viveu nos filmes de Erroll Flynn e John Wayne. Mais que isso, seu sonho é ter lojas onde tudo isso se conjugue: filmes, quadrinhos, bonecos e jogos sobre esse mundo de heróis. George sem perceber, tem nessa entrevista o insight sobre 2014.
  Leonard Bernstein é sempre cool. Fala de seu amor pela música. Há uma hilária conversa entre Truman Capote e Andy Warhol. Truman foi encarregado de escrever sobre o tour de 1972 dos Stones, mas não escreveu, então a revista manda Andy para saber o que houve. Truman gostou dos shows, mas não sentiu inspiração. Os dois se derramam em elogios a Jagger, mas o charme da coisa está em sua conversa sobre tudo e sobre nada. Os dois conversam passeando por NY, gravador ligado e sentimos a presença de Capote e Andy. Uma delicia!
  Mick Jagger impressiona. Ele conta que odeia se expor. Simples assim. As pessoas que façam o que quiserem, mas ele não gosta de falar de si-mesmo. Acho incrível e ao mesmo tempo noto que isso é verdade. Não há grandes fatos sobre a intimidade de Mick nesses 40 anos. Ele parece se expor no palco mas é teatro, máscara. Mick é um típico inglês vitoriano, reservado e familiar.
  Falei de entrevistas divertidas, mas agora falo das únicas entrevistas que revelam alma, vida, dor e poesia.
  Patti Smith é linda. Sei, ela parecia um garoto magro e agora parece uma bruxa. Leia o que ela fala e voce vai se apaixonar por ela. Patti conta sua história com Fred, seu marido, o que eles faziam nos anos 80, seu começo nos anos 70, sua vida com Mapplethorpe, a morte desse amigo genial, lentamente, de AIDS. O que ela pensa das novas bandas, sua poesia. São apenas cinco páginas que te tocam. Eis uma Dama. Eis algo que pode se aproximar da verdadeira genialidade.
  E lemos a entrevista de Bob Dylan feita em 2002. Raios caem do céu. Dylan fala como um velho que viu tudo. E não dá pra não dizer: é como escutar Walt Whitman em 2002. 
  Mas então? Falei tão bem de algumas entrevistas...então o livro é bom! Não. São 40 entrevistas. Destaquei 5. OK?