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OSCAR 2015

   Sem emoção. Ou melhor, muita emoção só com A Noviça Rebelde. Sinal dos tempos. Um filme de 1965 trouxe o único sinal de vida à noite. Birdman mereceu? Sim. É um grande filme. Impossível um cara que goste seriamente de cinema ou de teatro não se encantar pelo filme. Iñarritu disse ser uma comédia. Eu ri muito durante a exibição. As pessoas não entendem mais o humor negro?
   Felicity Jones é linda. Estou in love por ela. Tipo da menina delicada de 1964. E Travolta com seu colar de metal. Qualé?????
   Pena de Wes e de Linklater. Fazer o que....
  Lady Gaga foi ótima. E Julie uma lady. Palmas para a mulher que foi Mary Poppins, A Noviça e de quebra ainda nos deu Victor/Victória e o delicioso Modern Millie. ( E Elisa Doolitle no teatro ). Chorei.
  E é só. Nada de Oscar honorário, nada de Irving Thalberg. Morreram todos? Ninguém mais para homenagear?
  Ano que vem tem mais.

O JOGO DA IMITAÇÃO/ A TEORIA DE TUDO/ JAZZ/ MARCEL CARNÉ/ A STAR IS BORN/ BOYHOOD/ FANNY

O JOGO DA IMITAÇÃO de Morten Tyldun com Benedict Cumberbatch e Keira Knightley
Mesmo conhecendo a bio de Alan Turing fiquei chocado com o fim do filme. Imagino como se sente quem não a conhece. O filme é sensacional. Ele toca todos aqueles que se sentem esquisitos, todos os que foram perseguidos na escola, todos os diferentes. Ou seja, toca quase todos nós. Turing foi um gênio e o filme é digno dele. Suspense bem feito, drama e uma bela história. Adoraria ver este filme ser, como foi O Discurso do Rei alguns anos atrás. a grande surpresa inglesa do Oscar. Os dois se parecem muito. São filmes clássicos, muito ingleses, com um momento chave do século XX pescado do esquecimento. O melhor ator do ano é Benedict. E quem achar que caio em contradição, pois costumo criticar essa mania de confundir boas imitações com grandes desempenhos, que Benedict não imita Turing, ele cria uma personagem. Pois ao contrário de Capote ou de Ray, Turing tem um nada de videos para se imitar. Foi em vida uma pessoa obscura. 2015 é a melhor safra do Oscar desde o século XX, este é o filme que mais me emocionou, O Hotel Budapeste é o melhor filme. Qualquer dos dois que vencer será uma alegria para mim. Nota 9.
A TEORIA DE TUDO de James Marsh com Eddie Redmayne e Felicity Jones
Se Eddie vencer o Oscar será mais uma vitória do papel de doente. Impressiona como o Oscar ama gente interpretando doentes! O filme é legal, mas está muito atrás de O Jogo da Imitação, com o qual poderia se parecer. Tudo aqui é correto, como Hawking, que é um cara do bem. Mas o filme não causa impressão. Dois dias depois voce mal recorda uma cena. Felicity é na verdade a heroína. Excelente interpretação, ela foi uma santa em aguentar o casamento. O filme é dela. Nota 6.
WHIPLASH, EM BUSCA DA PERFEIÇÃO de Damien Chazelle com Miles Teller e JK Simmons
Um pensamento ruim me ocorreu durante o filme. O jazz desde os anos 50 virou isso...um fóssil estudado por chatos, nerds e infelizes. O que era uma expressão folclórica de vida, virou objeto de adoração semi-religiosa e de estudos devotados. But....o filme, simples, barato, é bom. E mostra algo de muito particular que só o jazz tem: nele não existe nada de bom ou de correto. Ou o cara é """do cacete"""ou é muito ruim. Para fazer parte da coisa voce tem de ser uma fera. Músicos bons, como no rock são quase todos, não sobrevivem no jazz. Porque aqui, mesmo aquele esquecido baixista da banda de Fletcher Henderson ou do trio de Benny Golson, era mais que excelente. No jazz, como na música erudita, não dá pra enganar. Porque aqui o simples barulho ou as notas simples inexistem. Para quem toca este filme é obrigatório. E mesmo para o resto, é um bom filme. Espero que ele mostre aos roqueiros o quanto bateristas discretos, jazzistas, como Charlie Watts ou Mitch Mitchell são bons. Ritmo, isso é tudo. Conseguir manter a batida, sem variação de velocidade ou de volume, matematicamente preciso, é isso. Posto acima um Buddy Rich, o mito. JK dá um show. Mas o garoto também é bom. Nota 7.
BOYHOOD de Richard Linklater com Ethan Hawke e Patricia Arquette
Somos uma geração, a minha, entre 40/50 anos, desastrada. Criamos filhos como amigos e eles queriam pais. O filme acompanha o crescimento de um menino. E Linklater, que entre seus filmes favoritos tem Truffaut e Bresson, evita todo momento de drama, exibe o banal e nesse banal o que há de mais bonito. O filme é leve, puro, otimista. O menino, que sorte, vira um cara legal. Mas eu queria que mostrassem mais a irmã! Ela parece mais interessante. Ethan faz Ethan Hawke, o cara gente boa. Patricia manda muito bem. Gorda, a sensual Alabama virou uma americana comum. Ponto pra ela! O melhor de Linklater ainda é Dazed and Confused, mas se ele vencer o prêmio de direção será bem legal. Ele é Wes, com seu amor por filmes franceses, são dos poucos caras a dar ar de liberdade ao amarrado e cabisbaixo cinema atual. Nota 8.
FANNY de Marcel Pagnol com Raimu, Pierre Fresnay e Orane Demazis
Por falar em cinema francês...Eis Pagnol, escritor, autor de teatro e diretor de cinema. O homem da Provence antes do lugar virar moda. A história aqui é de uma menina, grávida e solteira. O pai da criança a abandonou para virar marinheiro. Ela aceita a proposta de um homem mais velho, que assumirá o nenê. Mas o marinheiro volta...O filme é tosco, sem produção, primitivo. E encantador. É um tipo de filme tão arcaico que hoje fica parecendo muito fresco, novo, original. Assistir Fanny é como ver um documentário sobre um planeta que deixou de existir. O mundo de Cézanne e de Cassat. Um prazer. Nota 9.
CONTRABANDISTA A MUQUE de Christian-Jacque com Totó e Fernandel
Existe uma cidade na fronteira entre França e Itália em que ruas e casas marcam a divisão. O filme mostra desse modo o contraste entre os dois países. Totó é um contrabandista. Fernandel um policial. Um é bem italiano: malandro, preguiçoso, mentiroso. O outro é rigido, cumpridor das leis, burocrático e meio bobo. Divertido, o filme, de 1958, nos faz pensar que essas diferenças hoje seriam ilusórias. A Europa virou um grande caldeirão comum. Uma certa nostalgia surge, onde os italianos estão? Totó, um gênio como ator, nunca mais. Nota 7.
FAMÍLIA EXÓTICA de Marcel Carné com Françoise Rosay, Michel Simon, Jean-Louis Barrault, Louis Jouvet e Jean-Pierre Aumont.
No cinema clássico francês dois caminhos logo surgiram. O cinema simples de Renoir e o cinema elaborado de Carné. Prefiro Carné. Aqui temos uma rocambolesca comédia com os melhores atores de então. Como explicar a história? Tem um escritor que finge ser um pacato burguês, tem um doido assassino, tem um conquistador barato...e muito mais. Os diálogos, de Prévert, são brilhantes. É um filme Pop, feito para divertir, para entreter. Nota 7.
NASCE UMA ESTRELA de William Wellman com Janet Gaynor, Frederic March e Lionel Stander
Um grande clássico. A primeira versão da história da moça que quer ser estrela de Hollywood e se envolve com um ator decadente. Ela sobe, ele afunda. Tudo aqui funciona. O filme emociona, dá raiva, toca, fica. O mecanismo da imprensa surge crú. March está magnífico! Faz um alcoólatra com tintas de Barrymore sublime. Temos pena dele. E admiração. Gaynor jamais se torna doce demais. Ela ama March. Ama o cinema. E tem ainda Stander, um jornalista que é o mal em pessoa. Ele odeia March e goza em ver sua queda. Wellman faz o roteiro de Dorothy Parker voar. É um grande filme. Nota DEZ.

BOYHOOD.

   Uma entrega do Oscar com mais de dois filmes admiráveis. Desde o século passado isso não acontecia. Em 2015 temos 3 filmes que me deixariam feliz com sua vitória. E Boyhood é um deles. Contra o cinema empetecado e tolo de Nolan, Fincher e gang infindável, o cinema simples de Linklater. Boyhood é um filme que gosta de gente, e isso hoje é uma benção.
   Acompanho o cinema de Richard Linklater desde 1995, DAZED AND CONFUSED é um filme que acompanha um bando de adolescentes em seu último dia de aula. Passado em 1976, o filme tem uma trilha sonora perfeita, melhor que a de Quase Famosos, e dentre seus atores inexperientes estão Mathew MacCornaghy, Ben Affleck e René Zellwegger. Adoro esse filme onde nada acontece. Ou melhor, onde nada de cinematográfico acontece. Mas onde a vida acontece. Boyhood é exatamente assim. Richard evita habilmente todas as cenas melodramáticas, tangencia o sensacional e nos entrega os momentos que fazem a vida, ou seja, uma coleção de ""quases"". Mostrar a mãe apanhando do marido seria fazer cinema sensacional, ou pior, seria dar valor a um momento isolado dentro de uma vida. Ao contrário do cinema de hoje, que procura sempre e de forma apelativa, a dor, o sangue, a doença, o extraordinário, Linklater procura o comum, o simples, o banal. E mostrando isso ele nos dá o presente inestimável de exibir diante de nós a nobreza da vida de qualquer um que ainda se veja como apenas mais um. Boyhood exala nobreza. Quantos filmes com essa marca voce tem visto?
   O pai, o adorável Ethan Hawke, é apenas um mentiroso. Sonha em ser um rock star, mas não muito. E acaba sendo um bom pai. Dentro do possível. A mãe escolhe maridos errados. Mas consegue educar os dois filhos. Apesar de ser uma distraída. Eu gostaria que o filme se concentrasse na filha. Ela parece ser muito esperta. Mas o menino é cativante. Finalmente um filme consegue exibir um silencioso e delicado adolescente sem cair no chavão. A geração é aparentemente quieta e deprimida porque o mundo lhes parece absurdamente errado. 
  Mais que um problema, nossa tragédia atual é a completa incapacidade que minha geração demonstra com a paternidade. Não importa se a geração de meu pai era hipócrita ou repressora, havia um papel para eles e eles o seguiam. Pai era provedor. Pai era protetor. E pai era autoritário. Mães eram ditadoras, preocupadas, davam comida e roupas quentes e queriam em troca amor e respeito. Claro que esse não era um mundo ideal, mas era um mundo possível. Hoje o mundo parece impossível. Os pais de hoje não são ruins, eles são raros. 
   Patricia Arquette foi uma mulher hiper sexy. E que nunca teve medo de perder essa condição. Faz a mãe. Comovente. Ethan Hawke é o amigo mais velho que todo moleque gostaria de ter. É quase um tio. Pai não. As melhores cenas são com ele e o filho. O menino é brilhante. A gente gosta dele. É um filho que todos gostariam de ter. E percebemos que filhos continuam a existir. E pedem o que sempre pediram. Ajuda. 
  Uma vez li a lista dos diretores favoritos de Richard Linklater. Havia Bresson. O maior elogio que posso fazer a Boyhood é esse. Ele é digno de um filho de Bresson. O cinema nunca mostra a vida como ela realmente é. Mas ele pode, em raros momentos, mostrar como a sentimos e percebemos. Boyhood chega lá.