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OSCAR 2013

    O urso Ted foi melhor ator que Jennifer Lawrence. Sua interpretação no filme de David Russell é banal. Quem derrotou Riva foi Dujardim. Jamais Hollywood premiaria uma francesa após um francês. Como aconteceu com Gwyneth, Reese e René, Jennifer é a bola da vez da indústria.
    Hugh Jackman tinha minha torcida. Lewis de novo! É o Meryl Streep masculino. Falta concorrência? Lincoln é chato pacas! Ang Lee é o diretor mais interessante da América. Inquieto. A primeira hora de PI é deliciosa. Depois fica monótono e volta a melhorar no final.
    Shirley Bassey cantando Goldfinger foi o ponto alto da noite. Porque não levaram os ex-Bond ao palco? Para não humilhar o cara-de-burro Daniel Craig?
    Argo é bom. E foi produzido pelo cara mais querido de Hollywood: George Clooney. Tinha de vencer. Os grandes perdedores foram Lincoln e o filme do Bin Laden.
    Uma coisa boa aconteceu neste ano: O show foi menos MTV e mais cinema. Até musical teve! E os Caras estavam lá: Jack, Dustin, De Niro, Michael Douglas, Gere. Se Al Pacino e Clint Eastwood estivessem na sala todos os maiores do cinema americano estariam juntos.
    Quem não viu que veja, Anna Karenina é o filme do ano. Mas o Oscar resolveu que Joe Wright será premiado só após os cinquenta anos. Pena.

PEDRO MILOS FORMAN/ O MESTRE/ PRESTON STURGES/ STEVE MCQUEEN/ OSCAR 2013

   Antes vou falar sobre o Oscar de amanhã. Bem, cada ano ele se torna mais irrelevante, mas não dá pra ignorar. Neste ano tem um monte de filmes "bacaninhas" e nenhum filme ótimo. Pelo menos não estamos em nivel tão baixo quanto 2011, quando uma série de filmes de arte-lixo-fake concorreu ( e foram derrotados, felizmente, pelo Discurso do Rei, excelente ). Infantil o prêmio se torna cada vez mais, mas ás vezes ele ainda acerta. O melhor filme em inglês do ano não concorre a melhor filme ou direção. Anna Karenina é um filme sofisticado demais para um prêmio que se faz teen. O diretor Joe Wright faz mais um grande filme e dessa vez nos dá o prazer de uma féerie de cores e de sons. Arte superior. Porcos não apreciam pérolas. Dos indicados deve dar Argo, filme que tenho preguiça de ver. Ben Affleck será melhor diretor. Hollywood ama atores que dirigem. Se unirá a Warren Beaty, Clint Eastwood, Mel Gibson, Kevin Costner. Day-Lewis vencerá melhor ator e Emmanuelle Riva a melhor atriz. Anne Hathaway será coadjuvante e Seymour Hoffman o masculino. Ou seja, vai ser tudo um tédio mortal. Dos indicados eu adoraria ver a vitória de Os Miseráveis. É o único indicado que me surpreendeu. Muito melhor do que eu esperava, nada tem de xaroposo. Diretor votaria em Tom Hooper. Assim ele seria o segundo inglês na história a ter dois Oscars ( o primeiro é David Lean ). Melhor ator Hugh Jackman, de longe o melhor. Atriz Helen Mirren em Hitchcock. Jamais daria o coadjuvante para Anne, seria Amanda Seyfried e ator coadjuvante Christoph Waltz. Tá bom? Vamos aos filmes que assisti na semana....
   O MESTRE de Paul Thomas Anderson com Joaquim Phoenix, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams
Anderson é um bom diretor mas ele precisa dar um tempo e viajar, descansar, se renovar. Seus filmes sempre foram chatos, mas em troca da chatice nos davam momentos de belo cinema. Ele criava. Ousava. Mas, ultimamente, seus filmes se tornam cada vez mais crispados, áridos, mal-humorados, solenes, quase mortos.  O cinema de Anderson sempre foi cristão. Todos os seus filmes falam sobre a perda do pai, a dor e a ressurreição. Às vezes de forma explícita, como em Magnólia, onde até a passagem bíblica da queda dos sapos comparece. Sangue Negro é o filme em que o diabo vence. Anderson entrega os pontos e admite, gnósticamente, que a partir de certo momento de nossa história Deus foi exilado. Puritano. O cinema de Anderson é hiper-puritano. Hawthorne e Melville são suas fontes. A ironia que dava a força vital a seus filmes vinha de Robert Altman, diretor que foi seu mestre. Boogie Nights e Magnólia são filmes à Altman feitos por um cara que nunca foi doidão. Com o tempo Anderson foi trocando a influência saudável de seu mentor hippie por um cinema mais clássico, um tipo de William Wyler intelectual. Não está dando certo. Mesmo admirando suas intenções, mesmo torcendo por ele, seus filmes são chatos, sempre chatos. Aqui, puritanamente, ele condena os falsos religiosos, os vendilhões do templo. Ótimas intenções, mas o tiro sai pela culatra. O único ser vivo em todo o filme é Seymour Hoffman. Ele parece ser humano e real. Todos os outros são tipos unilaterais, sofrem de sintomas, não são "ricos". Sem nota.
   AS TRÊS NOITES DE EVA de Preston Sturges com Henry Fonda e Barbara Stanwyck
O mundo inteiro não deve estar errado. Todos adoram esta comédia do mais valorizado dos diretores americanos. Mas eu não. Então concluo que o errado deva ser eu. Certo? Fonda faz seu tipo bom rapaz ingênuo, e Stanwyck é uma vigarista que o seduz. É um filme ok, mas não vi sua criatividade tão decantada. Nota 5.
   SHENANDOAH de Andrew V. McLaglen com James Stewart
Se voce suportar a carolice de seu começo, onde Stewart faz um pai de familia, viúvo, voce verá um bom filme de ação em sua parte final.  Ele, Stewart, tenta ser neutro na guerra de secessão, não consegue. A guerra invade sua vida e sua familia se despedaça. É filme da fase final da carreira de Stewart, ele atua no piloto automático, repete as falas como um Lincoln de segunda mão. Mas a parte final é boa, e tem uma bela fotografia. Nota 6.
   CROWN, O MAGNÍFICO de Norman Jewison com Steve McQueen e Faye Dunaway
Um dos filmes mais vaidosos e exibicionistas de todos os tempos. O ano é 1968. Steve McQueen era então O Cara. Uma mistura de Sean Connery com Paul Newmann. O inventor do cool, o feio atraente, o cara muito macho e muito sexy. Ele se exibe como um milionário que se torna fora da lei só para espantar o tédio. Faye vinha de Bonnie e Clyde. Era a atriz da moda. Faz uma sexy e elegante agente de seguros que tenta capturar McQueen. O fotógrafo do filme é Haskell Wexler, o mais moderninho de então. O filme é todo "esperto". A tela dividida em quadros, imagens fracionadas, ângulos arrojados. A trilha sonora é de Michel Legrand. Cheia de bossa, jazzistica, a trilha que hoje Soderbergh adora. E o diretor, Jewison, vinha de sucessos em série. Resultado de tudo isso? Um super-sucesso de box-office. Mas não é um grande filme. Tanta exibição faz dele uma coisa fria, distante, sem emoção. É como ver uma revista de moda, o filme é lindo, chic, gostosão, mas sem mais nada que essa casca. Nota 6.
   PEDRO, O NEGRO de Milos Forman
Uma obra-prima. Finalmente descubro uma obra-prima!!!! Há quanto tempo!!!!! Aleluia!!!!!!!!! Feito na libertária Tchecoslováquia de 1966, Milos Forman com este filme influenciou todo o novo cinema americano de então.  O filme parece documentário, parece reportagem. É jovem, é fresco, é vivo, é maravilhoso. Com câmera na mão e atores de rostos inesquecíveis. Pedro é um adolescente. Ele trabalha como vigia de mercado e tenta engatar namoro. Sempre calado, os enormes olhos em dúvida constante, Pedro é um dos mais perfeitos retratos de um adolescente já vistos em filme. Mas todos os outros também são ótimos. O pai, um durão que não o entende, a mãe, submissa, os amigos, feios, ansiosos, brigões, e as meninas. Há tanto amor pelos personagens que o filme chega a comover. E há humor, o humor tcheco, absurdo, ácido. A cena do Hóy ( quem assistir saberá do que falo ), é uma das mais hilárias que já vi. Creiam-me, é um filme obrigatório. Vendo-o voce entende o quão pouco é preciso para se fazer um grande filme. Voce percebe que arte e diversão podem andar juntas. Melhor que Estranho no Ninho ou que Amadeus, é o grande filme do grande Milos Forman. PS: Maravilhosas cenas nas ruas e nos mercados da Praga de então. Nota DEZ !!!!!!!
  

O LADO BOM DA VIDA/ HITCHCOCK/ SOPHIA LOREN/ REVOLUÇÃO SEXUAL

   O LADO BOM DA VIDA de David O. Russel com Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Chris Tucker, Jacki Weaver
Um casal de desajustados anda pelas ruas. Ele tem saudades da ex-esposa. Lentamente esse novo casal, que foi apresentado por amigos, vai se envolvendo. Mas seus problemas emotivos costumam atrapalhar tudo e dar ao filme seus momentos de humor. Poderia esse ser um resumo de Manhattan ou de Annie Hall. Mas infelizmente não é. O filme é este O Lado Bom da Vida. Ele não é ruim. É um filme muito gracinha. Um fofo. Um querido. Mas é ao mesmo tempo profundamente conservador, careta, reaça, antigo. Isento de sexo, de crítica social, de qualquer sinal de ousadia. Por que cobro ousadia deste filme? Porque me irrita essa coisa de se colocar gente pseudo-moderninha, gente com problemas "modernos" em filmes que no fundo são tão comodistas. Transforme o cara num alcoólatra vulgar no lugar de ser um bipolar, e transforme a mocinha numa descasada com roupas comuns e voce terá um filme de Doris Day. Mas dá pra ver algo de ainda pior. É uma comédia sem graça e um drama sem seriedade. E Jennifer Lawrence, por favor!, nada faz de especial, é uma atuação de rotina. A indústria resolveu que ela é a Jennifer da vez e poderá ganhar o Oscar numa atuação tão comum como as que premiaram Gwyneth Paltrow e Reese Witherspoon. O filme é de Mr.Cooper, e nos limites do roteiro pobre, ele se sai bem. Aliás se assistirmos ao filme esquecendo do absurdo de suas 8 indicações ( antigamente 8 indicações era coisa só para filmes excelentes ), poderemos ver um bom filme tipo Sessão da Tarde. Os personagens são simpáticos e torcemos pela mocinha e pelo mocinho. Torcemos mesmo. A gente sente peninha deles. O que nunca aconteceu com os personagens de Woody Allen. A gente pode odiar, mas nunca sente dó de Annie Hall e de Alvin. Escuta gente: a neurose foi extinta? Cooper nada tem de neurótico. Ele nada questiona, nada critica, não vai fundo em nada, nada tem a dizer. Nem chato ele é! Ele apenas sofre com seu TOC e fica nessa coisa de manias e obsessão. Não estou falando que ser neurótico é cool. Apenas digo que cada época tem sua doença e que hoje temos TOC e deprê. Em 1976 era a neurose. Talvez não tenhamos mais neuróticos porque não há bons comprimidos para eles. A neurose é traço da alma, não tem como curar. Não é sintoma, é um caráter. Termino dizendo que cada geração tem seu Annie Hall. Em 1989 foi Harry e Sally e em 2013 é este filme. Ah, ia esquecendo, De Niro faz De Niro de novo. Nota 6.
   HITCHCOCK de Sacha Gervase com Anthony Hopkins, Helen Mirren, Scarlet Johanson, Toni Colette, Jessica Biel e James D'Arcy
Tem uma comovente imitação de Anthony Perkins feita por James D'Arcy. E um belo retrato de Hitch por um Hopkins contido. Como em todo filme que tem sua presença, Helen Mirren engole todo o elenco e domina o filme. Sem forçar. Scarlet imita Janet Leigh. A esposa de Tony Curtis era tão adorável que fazendo Leigh até Scarlet ficou mais humana. O filme é uma delicia. O momento em que a trilha de Bernard Herrman comparece na cena do chuveiro em Psycho é sublime. Um adendo: crianças que começaram a ver filmes agora tendem a não compreender o porque de tanta idolatria por Hitchcock. Ora meus novatos, todos os filmes que voces amam são hitchcockianos! O mestre inglês foi o cara que criou o cinema como "manipulação das emoções do público". Filmes planejados para dar emoções e reações a seu público. Hitch não contava histórias, ele criava sensações. Esse é o cinema, quando bom, de agora. Este filme cria uma sensação: a de testemunharmos a criação de um filme ícone. Nota 8.
   VÍCIOS PRIVADOS, VIRTUDES PÚBLICAS de Miklós Jancsó
Nudez frontal feminina e masculina todo o tempo. Masturbação explícita. Só dois cenários: um jardim e um salão. Um fiapo de história: dois jovens herdeiros resolvem sabotar o reino dopando toda a nobreza e fotografando uma orgia com duques, barões etc. Esse será o estopim da revolução. Jancsó é considerado por alguns o maior diretor do cinema húngaro. Foi famoso nos anos 60/70, e este filme, de 1976, tem a cara da década mais doida, é exagerado, otimista, tolo, brega, sem noção, despudorado, sujo e feio. E chato. Não tem história, não tem emoção, não tem nada. Tudo o que vemos são pênis, seios, muitas bundas, vaginas, e ouvimos risos, risos e mais risos. Hora e meia de uma cena dionisíaca. Seria bom estar lá, assistir cansa. Houve um tempo em que se tinha a certeza de que toda a tristeza do mundo vinha da repressão ao sexo. Liberando o sexo haveria naturalmente uma renascença. Os seres, livres, fariam uma revolução social e implantariam um socialismo libertário no planeta. Todos seriam felizes, sem patrões e com muito sexo. Essa era a fé da década. Daí seu otimismo. Jamais imaginaram que a liberdade sexual seria usada como produto e o gozo como objetivo em si-mesmo. Cães copulam a vontade e nem por isso são mais ou menos revolucionários. A liberdade é coisa muito mais individualista que a geração dos anos 60 queria crer. Não darei nota porque isto não é cinema. É uma tese.
   A BELA MOLEIRA de Mario Camerini com Sophia Loren, Marcello Mastroianni e Vittorio de Sica
Não seria Sophia a maior estrela do cinema mundial ainda viva? Felizmente viva. Ela é tão grande quanto Audrey, Liz Taylor ou Brigitte Bardot. De todas é a mais sensual, carnal, saudável. Uma festa na tela. Aqui, muito jovem e ao lado do sempre brilhante Marcello, ela faz uma camponesa que por ser bonita não padece dos impostos cobrados pelos invasores espanhóis na Nápoles de 1700. Marcello é seu marido, um malandro que começa a sentir ciúmes. É apenas isso, um alegre passatempo sobre a bella e alegre Itália. A direção é bastante tosca, mas os atores nos dão calor e encanto. Vale a pena. Nota 6.
  

HITCHCOCK- SACHA GERVASE, UMA EXPLICAÇÃO SOBRE UM GÊNIO

   Para aqueles que amam o cinema, é um filme emocionante. Para fâs de Hitchcock, obrigatório. O filme, discretamente dirigido, fala dos bastidores da produção de Psycho. Ao mesmo tempo revela a relação de Hitch com sua esposa, Alma. Para quem conhece Hitch, a coisa é uma delicia.
   Tudo começa com o sucesso de INTRIGA INTERNACIONAL. O  mais divertido dos filmes do mestre. Em seguida ele recebe a oferta de dirigir o primeiro filme de James Bond, que seria então Casino Royale. Hitch não aceita, não quer fazer sempre o mesmo filme. A Paramount, e essa é uma das delicias do filme, não quer um novo Hitch diferente, não quer mais Vertigo ou O Homem Errado, grandes fiascos de bilheteria. Ela quer mais Intriga Internacional. A Paramount briga com Hitch e ele tem de fazer em produção independente Psycho, um filme que ninguém quer produzir. Se o filme não der lucro Hitch estará quebrado.
   Essa a base do filme, mas ele tem muito mais. Alma, frustrada no casamento frio e sem sexo, se envolve com um escritor banal. É ela quem salva Psycho na sala de edição e insiste em ter a música de Bernard Herrman na cena do chuveiro. Este filme revitaliza a música. Quando ouvimos a melodia das facadas sentimos o quanto Herrman era genial. Se sua trilha de Vertigo é a obra-prima das trilhas de cinema, os acordes de Psycho são os mais marcantes. No fim do filme, quando um Hitch tenso, espia a reação da platéia à cena do chuveiro, e observa que eles reagem exatamente como ele queria, nós, público de hoje, após mais de 50 anos de imitações de Psycho, sentimos toda a carga de emoção que deve ter havido naquela noite de 1960. Só por essa cena o filme já vale muito.
   James D'Arcy faz Anthony Perkins. A atuação de Perkins como Norman Bates é uma das cinco ou seis mais icônicas dos últimos 50 anos. Perkins é uma figura comovente em sua mistura de fragilidade e crueldade. D'Arcy em suas poucas cenas dá um show. Ele é Anthony Perkins! O andar hesitante, a voz reprimida, o homossexualismo reprimido, a ansiedade, é uma atuação imitativa, não criativa, mas para quem como eu adora Perkins, é um prazer vê-lo vivo outra vez. Scarlet Johanssen está calorosa como Janet Leigh. Simpática, simples e sexy, como Leigh era. E fazer Scarlet parecer humana já é por si um mérito. O filme tem ainda em seu elenco sublime Toni Colette, Jessica Biel e o filho de John Huston, Danny, que tem filmado muito.
   Anthony Hopkins é da velha escola inglesa de atuação. O estilo inglês não permite o surgimento de um Heath Ledger ou de um De Niro. O ator não se torna o personagem. Jamais deve se emocionar com a atuação. O controle sobre a atuação, essa é a lei. No estilo criado nos EUA por Brando, Dean e Montgomery Clift, o ator busca dentro de si o personagem. Ele mergulha dentro de suas emoções, encontra o personagem e passa a ser dominado por ele. No estilo inglês, sua inteligência observa o personagem "de fora", cria as peculariedades desse tipo e doma esse caráter. Hopkins é assim. Ele nunca foi Hannibal Lecter, ele criou Hannibal Lecter. Seu Hitch nunca é caricato. E não é Hitch. É sempre um ator, brilhante, fazendo o que seria um Hitchcock possível. Perfeito. Helen Mirren é da mesma escola. Acho que ela é a única atriz a ter trabalhado com Michael Powell e que ainda está viva. Dizer o que? Helen é tão perfeita aqui que não percebemos sua atuação. Nada parece dificil, forçado, sofrido. Ela é Alma Reville. Discreta, reprimida, dura, decidida. E que quase fraqueja com o escritor ruim vivido por Danny Huston. Nos últimos quinze anos nenhuma atriz tem a coleção de grandes atuações que Mirren tem. Não levará o Oscar, mas tem minha torcida. Sempre.
   Ao final Psycho é um grande sucesso. E um corvo pousa no ombro de Hitch anunciando seu próximo filme, Os Pássaros. Que será mais uma obra-prima. Para quem conhece pouco a história do cinema, devo dizer que Hitch é tão importante por ter sido o criador do cinema como "emoção dirigida". Alfred Hitchcock foi o primeiro mestre a pensar, planejar e obter a emoção e reação que ele desejava. Antes dele o que guiava um diretor era o desejo de contar uma boa história. Com Hitch passa a ser o desejo de conseguir reações. E nesse processo ele criou todo o cinema feito de 1960 em diante. Uma busca incessante por reações, por emoções, por respostas imediatas.
   Como diz o filme, ele não era levado a sério. Os críticos preferiam Elia Kazan, George Stevens ou John Huston. O público o amava. Truffaut e Chabrol foram os primeiros a observar que o que ele fazia era unir a alta arte ao popular. E nisso ele foi também um pioneiro. Ele expunha taras, frustrações, doenças, medos, e mesmo assim conseguia divertir.  Apesar de Ford, Murnau, Kurosawa, ninguém chegou onde ele chegou.
   PS: ele nunca ganhou um Oscar. Como Orson Welles, Kubrick, Michael Powell, Anthony Mann ou Tarantino. A seleção dos derrotados é tão boa quanto dos vencedores.
   PS: E nos EUA de hoje ainda se fala de Jerry Lewis como exemplo de mal cinema!!! Que saco! Jerry era bom e não tinha culpa de ser o rei da Paramount. Esqueçam Jerry Lewis! Viva Jerry Lewis!
   PS: Vertigo é hoje considerado o maior filme americano da história. Desbancou KANE. É a história de um impotente que força uma mulher a se tornar a ex-amada que morreu. Ele acaba por levar essa mulher à morte. Um dos mais trágicos filmes já feitos. E quase sem diálogos. Hitchcock riu por último.

DJANGO LIVRE

   Os letreiros são de western-spaguetti e a trilha sonora usa temas de Bacalov e de Morricone, dois gênios das trilhas sonoras ( vi recentemente um documentário na tv Cultura, com a participação de Dave Holmes e da dupla Air, sobre trilhas sonoras. Eles diziam que as melhores trilhas foram feitas entre 65 e 75: John Barry, Henry Mancini, Lalo Schiffrin, Quincy Jones, John Willians, Michel Legrand, Nino Rota, Georges Delerue e Bacalov-Morricone ). Django é nome de um filme da época, um western-spaguetti com Franco Nero. Não se iluda, do Django original só ficou a trilha sonora e uma participação de Nero como um italiano que perde de Di Caprio no Mandingo.
   A unanimidade americana em torno deste filme é merecida, é um filme maravilhoso, mas ela expõe uma crise. Filmes como este, em 1965 ou em 1973, eram feitos de forma sucessiva. O que reafirma minha tese de que Dirty Dozen ou The Great Escape seriam hoje filmes de Oscar. Os amantes de cinema sentem saudades de grandes filmes divertidos, de filmes que misturam arte e Pop, que são inteligentemente entertainment. Fazer filmes de arte sobre o nada se tornou banal, fazer diversão soberba é cada vez mais raro. E a carreira de Quentin mostra isso, ele sabe filmar e sabe narrar.
  Entre os cinco filmes favoritos de Tarantino, pelo menos dois são obras-primas do diálogo: Onde Começa o Inferno de Hawks e Jejum de Amor, também de Howard Hawks. Outro fato mostrado em Django: Tarantino mantém viva a arte do diálogo. O filme tem cenas longuíssimas de diálogo. A amizade entre o alemão e Django é como a de Wayne e Dean Martin em Hawks, toda feita em longos e calmos diálogos. Como em Hawks, temos um mestre e um discípulo em bela interação.
  Alguns podem se incomodar pelo mundo que Tarantino mostra. O mundo dele é o mundo Pop. Nenhum filme dele mostra aquilo que se chama "mundo real". Bem, eu gostaria de perguntar: alguém mostra o mundo real? Dou exemplo. O mundo de Cosmópolis é real? Nunca vi ou vivi naquele mundo. O mundo dos filmes de Wes Anderson é real? O que é o mundo real? Todo filme não é a visão particular de um homem, ou de uma equipe, sobre um mundo que ele imagina? O mundo real de Tarantino, e de seus fãs, é o cinema. Como acontece com Hitchcock, ele cria um mundo baseado em suas paixões internas. E essas paixões são Pop. Para quem é fã, como eu sou, é o mundo onde vivo e onde me formei. O mundo colorido da cultura popular de consumo.
   O filme tem duas falhas, duas grandes falhas que quase o destroem. Uma é sua metragem. Ele termina e vai adiante mais meia-hora que são esquisitas. Parece que Quentin perde o tesão no final. Isso acontece por causa da segunda falha: o elenco.
   Christoph Waltz está magnifico! A criação dele é uma das coisas mais geniais que já vi. É um personagem que ficará na história. Day-Lewis levará o Oscar, mas Waltz está melhor, bem melhor. E temos Di Caprio, compondo um tipo dúbio, feito de sutilezas, de movimentos de sobrancelha, de gestos das mãos. E então, essas duas atuações desequilibram o filme. O herói, Django-Jamie Foxx, não está a altura dos dois. Quando Waltz morre o filme acaba.
   Mas é um grande filme, cheio de cenas memoráveis. Momentos como aquele da KKK, com um Don Johnson hilário, são jóias de diálogo, de criação de tipos e de filmagem. Tarantino não erra uma tomada. Repare como não ficamos reparando nos ângulos de câmera, nas bossas da direção. Esse é o estilo Hawks, a direção que conta a história sem jamais chamar a atenção sobre si-mesma ( estilo esse cada vez mais raro no cinema ). Nos ligamos na história, não na "obra".
   Por fim...o filme é um western, mas é um western-spaguetti. Tem o descompromisso com a veracidade, tem a violência estilizada e falsa, tem o humor dos westerns made in Italy.
   PS: Quentin Tarantino já falou de gangsters, de lutadores de kung fu, de mercenários da segunda-guerra, de vampiros...Ele está pronto para fazer um filme sobre suas raízes made in Italy. Mal posso esperar pra ver.

AS AVENTURAS DE PI, FILME DE ANG LEE

   Ao contrário do que o pai de Piscine lhe tenta ensinar ( Tigres são diferentes de nós. Tenha medo. ), o jovem Piscine insiste em seu maravilhamento. Ele ama a vida e esse amor o leva a curiosidade. Dentre as várias maravilhas do mundo, nada tem um caráter tão maravilhoso: Deus. Ele passa então a procurar Deus. Onde? Nas religiões. E lá se vai o jovem inquieto na busca por maravilhamento. Mas a pressão da familia, a cobrança por coerência lhe entristece. Eis um momento importante: A vida perde seu encanto, o tédio se impõe. Piscine está pronto para ser "mais um".
   No belo livro de Yann Martel, toda essa primeira parte ocupa quase metade da narrativa. E é a melhor. Com soberbo humor e sabendo fugir do clima "auto-ajuda", voce lê tudo isso com prazer e surpresa. Os animais passam a ocupar o lugar de Deus na vida de Piscine. E vem a saga.
   Ang Lee é um dos melhores diretores vivos. Mas não é David Lean. Com todos os recursos digitais, ele não dá ao mar o que Lean deu ao deserto. O oceano de Lee é lindo, o deserto em Lawrence da Arábia era aterrador. Cada tomada de David Lean era entrada no sagrado ( como foi também o espaço em 2001 de Kubrick, para mim, o melhor dos filmes religiosos ), cada tomada de Ang Lee é apenas Disney. E que belo Disney!!! O vôo dos peixes-voadores já é uma cena clássica.
   A história é narrada para um escritor sem inspiração. E ao final ele dirá que Richard Parker, o tigre, era Piscine. Mas então quem era Piscine?
   Conhecendo alguma coisa de poesia inglesa a gente logo percebe que existem cinco poemas centrais no idioma. Aqueles que todo estudante mediano conhece. Ode ao Vento Oeste, Ao Rouxinol, Se... e de William Blake temos The Tyger ( na grafia antiga com um Y ). O poeta vê o tigre e hipnotizado sente que aquela imagem é mais do que um bicho: pode ser Deus. É impossível Yann Martell não conhecer esse poema. Ele já foi citado centenas de vezes em filmes e até em música pop. Pois bem...
   O tigre se vai na mais bela cena do filme ( e a única que me emocionou ). Com sua missão cumprida, uma terrível missão, pois o Tigre que salvou Piscine também poderia tê-lo matado ( O que não me mata me fortalece ), ele desaparece na floresta e não deixa rastros. Vem então a chave do filme: Qual a história verdadeira?
   Desde a muito eu sei que exsitem dois tipos de espirito. E saiba que eu vivo/vivi ambos. Existe gente que olha o mar e vê água e sal. E um monte de bichos. São simplificadores, sempre diminuem tudo, inclusive a si-mesmos.  Existe gente que olha o mar e vê o infinito. E trilhões de caminhos. Mais que isso, vê um mistério SEM POSSIBILIDADE DE RESPOSTA. Portanto, mesmo não admitindo, essa pessoa vê Deus no mar. Já o outro, míope, só consegue perceber o óbvio, água e sal.
   Piscine diz ao ouvinte que a história o fará crer em Deus. E muita gente se decepciona pois o ouvinte não vê uma prova de Deus. Mas não é caso de julgamento, é uma questão de ESCOLHA. Ao optar pela história de Richard Parker e não pela do cozinheiro louco, o ouvinte está se abrindo ao maravilhoso, ao além do banal, a Deus portanto. Ele não crê em Deus, mas tem uma porta aberta a Sua possibilidade.
   Dito isso o que desejo deixar claro é que acredito na religião da BELEZA, e fico entristecido e com pena daqueles que só conseguem ver a fealdade na vida. O senso de beleza pode salvar uma vida, dar dignidade a dor, dar sentido ao caminho. O maravilhamento de Piscine com Richard Parker abre seus olhos a beleza inenarrável de sua saga. E na morte em vida ele encontra a Ilha que lhe dá outra-nova vida. Sua tragédia é um reencontro com a liberdade da infância, a curiosidade e a busca.
   Tenho amigos que vivem comigo nesse Oceano. Tenho outros amigos que só querem ver o cozinheiro louco, a água e o sal, o tigre sem nome. É sempre uma questão de QUERER CRER.
   O melhor filme de Ang Lee continua sendo sua magnífica versão de RAZÃO E SENSIBILIDADE de Jane Austen, mas este filme é uma obra de coragem e de simplicidade invulgar.
   Um PS: É dito no filme que os Super-Heróis são os deuses-indianos de hoje. Sempre repito isso, nossa necessidade, humana, de transcendência nos faz adotar heróis, gurus, profetas e curandeiros, mesmo os mais medíocres. Richard Parker me parece um bom tipo de transcendência. Parker não dá nada com facilidade, não banaliza as coisas, nunca se vende. É uma força que tem de ser entendida, compreendida e aceita. Nisso reside sua beleza.