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VIGO/MEL BROOKS/BECKETT FAVORITO DO REI

L'ATALANTE de jean vigo com dita parlo, jean dasté, michel simon e louis lefebvre
todo grande filme é mais que cinema ( mas nunca deixa de ser cinemático ). desse modo visconti ou david lean são também história; fellini e ophuls são pintura; bergman e kurosawa são filosofia e aqui temos vigo- que é poesia. o filme é o mais livre do cinema. o mais poético. possívelmente seja o grande filme da história. nota dez.
JAMAICA INN de alfred hitchcock com maureen o'hara e charles laughton
o mestre fez este filme às pressas. havia assinado com selznick e estava com malas prontas rumo à américa. dá pra notar sua falta de interesse. nota 4.
THE PARADINE CASE de alfred hitchcock com gregory peck, alida valli e louis jourdan
aqui, sete anos depois, o mestre se vê diante de uma briga com selznick. o filme sofre com a interferencia do produtor no roteiro e na própria filmagem. nota 2.
PS- CHAMO HITCHCOCK DE MESTRE PORQUE NÃO EXISTE DIRETOR MAIS PRECISO, MAIS PERFEITO E COM TÃO GRANDE QUANTIDADE DE FILMES DE GÊNIO.
LA TERRA TREMA de luchino visconti com pescadores reais da sicilia.
o chavão comunista está ultrapassado. mas sobrevivem as belas imagens de um mundo passado. nota 6.
ALTA ANSIEDADE de mel brooks com mel brooks, madeline kahn.
o início já avisa : o filme é uma homenagem ao mestre alfred hitchcock ( mais uma ). o que vemos são citações de vários filmes do gênio. tudo encaixado habilmente na história de um psiquiatra que assume a direção de um hospital de pessoas muito nervosas. vertigo e intriga internacional são os mais citados, e é pena não terem achado onde encaixar janela indiscreta. a cena que cita psicose é uma das mais hilariantes e bem filmadas que já tive o prazer de assistir. nota 7.
SILENT MOVIE de mel brooks com o prórpio, marty feldman e vários atores famosos.
no auge do sucesso, de ego muito inflado, mel dá seu famoso tiro no pé : resolve fazer um filme totalmente mudo ! e infelizmente erra. o filme não funciona, e talvez seu motivo principal seja o desacerto da trilha sonora. mesmo assim, passamos todo o filme torcendo por mel, querendo ver se ele consegue renovar o filme silencioso. não consegue. o filme fracassou em seu lançamento mesmo tendo burt reynolds, paul newman e liza minelli em seu elenco ( a participação de burt é muito engraçada ). nota 5.
BECKETT de peter glenville e jean anouilh e hal wallis com peter o'toole, richard burton e john gielgud.
primeiro beckett foi peça de grande sucesso com olivier e anthony quinn. o diretor da peça, glenville, resolveu dirigí-la no cinema. dirigiu sem esforço nenhum- simplesmente ligou a camera e deixou que os atores entonassem o maravilhoso texto de anouilh.
o texto : trata da amizade do muito hedonista rei henrique II e do muito misterioso thomas beckett. os diálogos enfeitiçam qualquer pessoa com um minimo de bom senso/ bom gosto/ sensibilidade. eles voam, dizem tudo objetivamente e têm uma estranha poesia.
a produção : geofrey unsworth cuidou da fotografia, mas é a trilha sonora de laurence rosenthal que impressiona. que coisa maravilhosa ! uma mistura de canto gregoriano e música sinfônica irresistível. uma trilha absolutamente perfeita.
a duração : adiei sua apreciação. o filme tem 3 horas e eu sentia preguiça.--´pois bem- o filme alça vôo. são horas que passam com rapidez e que surpresa- após as 3 horas voce deseja mais !
os atores : richard burton diz suas falas com sua voz costumeira- perfeita. mas o papel de beckett não lhe oferece a dor descontrolada, que é onde ele brilha mais. burton se contém.
mas peter... Deus do céu... que gratidão eu sinto com o que esse ator nos dá ! Que desempenho fascinante!!! vemos em nossa frente um rei- feliz, fanfarrão, mulherengo- ir, pouco à pouco se consumindo em dor. ele ama seu amigo beckett, e é traído por esse amigo. a cena em que o rei percebe a traição é de uma genialidade sublime : vemos o rosto de peter criar nuvens de escuridão, os olhos se apagam em dor e a voz reflete uma imensa agonia. se isso não for pura genialidade, não existe ator genial.
peter teve o enorme azar de concorrer nesse excepcional ano com rex harrison fazendo higgins em my fair lady e perdeu seu oscar certo. qual dos dois é melhor ? quem sabe ? eu premiaria ambos.
beckett é um tipo de filme que deixou de existir : o filme culto ( não de arte, culto. o que é outra coisa. ) um filme que necessita ter um público de bom gosto, adulto, sério, refinado.
fazem 40 anos que alardeiam o fim do western e do musical. bem... os dois continuam por aí. mas este tipo de cinema acabou. com o fim do público adulto, e a queda na qualidade de ensino, ninguém mais tem a sensibilidade de apreciar um filme que pede atenção, conhecimento, detalhismo e alguma erudição. feito hoje, encheriam o filme de batalhas, feitiços e talvez até algum monstrengo medieval.
minha alegria é saber que este filme sobreviverá.
se voce tem alguma curiosidade intelectual, se voce consegue usar mais de dois neuronios, se voce compreende aquilo que escuta... corra e assista este filme.
e aplauda o sublime peter o'toole.

o melhor filme já feito é sobre um rio que passa...

Jean Vigo. Dirigiu L'Atalante. Foi seu segundo filme. Foi seu último filme. Jean Vigo dirigu deitado numa maca. Ele morria de tuberculose. Mas o filme é feliz. É um canto de amor à vida que passa.
Maurice Jaubert fez a música. Faz chorar a música deste filme.
Boris Kaufman fez a fotografia. Depois deste filme ele foi à América. Trabalhou com Kazan e Lumet. A fotografia de L'Atalante é a mais bela possível. Realista e sem artifício. Poética sem falsear a realidade.
Jean Dasté faz o noivo. Dita Parlo é a noiva. Eles se casam e vão viver em um barco fluvial. Não se entendem e se separam.
Michel Simon é um marujo. Michel Simon tem a atuação mais irreal da história do cinema. Não é a melhor ou a maior atuação: é a mais original, portanto, a mais genial.
O filme é um poema. Mas nunca se afasta da vida real. Ele é realista.
E eu penso :
Nunca mais tivemos um recanto como o quarto de Michel Simon no barco : máscaras, instrumentos, ossos, trapos, pó, bonecos e muitos gatos. Onde há uma cena em que ele tenta seduzir a noiva - sutil e abjeta- linda e suja.
Nunca mais tivemos tanta pobreza em um filme e no entanto tanta riqueza visual. São névoas, é o sol, e o rio que passa e as roupas no varal. Navalha e espuma, travesseiros brancos e lençois.
Não mais os beijos. Não mais aquele garoto tonto que vive no barco e quase nada diz mas que Vigo premia com breves closes reveladores.
Quanto amor cabe naquele noivo ciumento ! Quanto amor vive naquela noiva simplória ! E a sensualidade da saudade que enlouquece o noivo na cama !
Não mais aqueles ângulos de câmera que nunca se repetem, mas que não traem nenhum exibicionismo. Gigantescos marinheiros, gigantescos barcos, gigantescos segundos.
O filme flui como pensamento e marca como sonho. Nada parece construído, ele parece natural. É um filme que respira, que cheira, que se pode comer.
Eu bebo L'Atalante.
Eis então o melhor filme já feito. Mas como ? Diz voce...
O melhor por ser tão rico em linguagem como Kane, porém, muito mais poético, muito mais natural, muito mais simpático e vivo.
Não posso afirmar que o prefiro se comparado à Vertigo ou Rashomon. Mas L'Atalante é o melhor por ser mais nobre que Vertigo e mais mágico que Rashomon.
Vigo não tem a genialidade de Kurosawa ou a maestria de Hitchcock. Mas sentimos que ele era melhor.
A tuberculose o levou ao final das filmagens. Tivesse vivido mais, ele teria se tornado o maior diretor da França. Um Fellini francês ( L'Atalante lembra muito os melhores filmes do poeta italiano ).
Nunca mais um diretor morrerá de tuberculose em plena filmagem.
Nunca mais um abraço como o do final do filme.
Nunca mais direi que um filme é o melhor.
Nunca mais um diretor de cinema parecerá com um passarinho ferido.
Nunca mais um filme se deixará ver como uma paisagem que passa.
Nunca mais...nunca mais...
Pois o mundo que criou L'Atalante é morto e enterrado
Mas não esquecido.
Eu prefiro os filmes de Hitchcock- são mais emocionantes e são perfeitos
Eu prefiro os filmes de Kurosawa- são mais sábios e geniais
Bergman é mais inteligente e impressionante
E Ford é mais cinema puro
Mas eu amo aquele barco, aquele casal e aqueles marujos... torço para que sejam felizes e quero acompanhar o barco que vai passando...
Eu amo L'Atalante.