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MEMENTO MORI - MURIEL SPARK

Iris Murdoch, Doris Lessing e Muriel Spark. Das três é Muriel a menos conhecida ( embora seja bastante famosa em GB e EUA ). Das três talvez seja ela a melhor. E nisso nada há de esnobismo, ela é a mais fácil de ler. Murdoch cai às vezes num exoterismo obscuro e Lessing é ambiciosa demais ( para seu dom ), mas Spark tem humor, um maravilhoso e amargo humor inglês, humor de velhinha sortuda, humor de quem viu, não gostou e achou graça.
Durante esses dias copeiros lí Philip Roth e detestei. Se Portnoy é um livro maravilhoso, esse livro sobre a morte de seu pai ( cujo título me escapa ) é um pé no saco. Masturbativo. Lí também o Monsenhor Quixote, de Graham Greene. Greene é autor delicioso, mas escrevia demais. Se Nosso Homem em Havana e O Consul Honorário são maravilhosos exercícios de humor absurdo, este Monsenhor é uma rala lenga-lenga sobre marxismo e catolicismo. Mas Muriel Spark é um prazer. Vamos ao livro.
Escrito em 1959, trata de velhos. Sim, velhos. A jovem Spark, em seu segundo livro fala de velhinhos ricos em Londres. Velhos bem velhos. O menos ancião tem 70 anos. Nada de bons velhotes. O livro os exibe obcecados com testamentos, com fofocas, concorrendo uns com os outros, sovinas, desmemoriados, senis, loucos. O humor transborda. Muriel tem um dom para pegar o banal e sutilmente exagerá-lo. Um livro que poderia ser deprê, é alegre, colorido, vivo e ao mesmo tempo, azedo. É profundamente inglês: os velhos tomam chá todo o tempo, babam por seus pães com geléia e manteiga. Cada um deles tem a ilusão de ser superior, original, todos são ridículos.
Telefonemas anônimos e uma governanta que os manipula. É isso que move o romance. Mas o que impressiona é a simplicidade da escrita de Spark, a facilidade com que ela nos fixa personagens, sua maestria em contar e descrever. Escritora nata. Nasceu para narrar.
As ilhas britânicas fabricam escritores, bons escritores, com a facilidade com que nós produzimos jogadores de futebol, bons jogadores. Não sei se é o clima cinzento que os faz se recolher e contar histórias, ou se é o chá, mas apesar de não ter tantos gênios como a França ou a Alemanha, em quantidade de bons livros, são os ingleses, escoceses e irlandeses imbatíveis.
Muriel Spark é da boa safra dos anos 50/60. Memento Mori é grande prazer.