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Red River (1948) ORIGINAL TRAILER



leia e escreva já!

RED RIVER. UM DOS MAIORES FILMES DA HISTÓRIA.

   Diz a lenda que Howard Hawks não move a câmera. Que ele monta a cena e pede sempre que o cinegrafista grave sem se mover. Há também outra lenda que fala que Hawks nunca pensava em fazer dois filmes parecidos ( isso até 1959 ). A segunda é fato, mas a primeira é desmentida por Red River. Feito em 1947, ele tem dois movimentos de câmera que ainda hoje, época da steady cam, são raros: um giro de 360 graus, onde todo o set e todo o grupo de atores é mostrado; e uma travessia de rio, onde vemos a ação de dentro de uma carroça. São dois momentos "não hawksianos" em um filme, brilhante e majestoso, onde toda a filosofia é 100% Hawks. Thanks God.
  John Wayne abandona uma caravana para se estabelecer no Texas. Há um salto de 12 anos, e agora, dono de um rebanho imenso, ele tem de levar o gado até St. Louis, 1.600 km de distância. No caminho ele começa a ficar muito agressivo, e seu pupilo, Montgomery Clift, entra em atrito com ele. Mais não conto, embora vontade não falte.
  A maioria dos leigos acha que "o novo modo de atuar" nasceu com Brando ou Dean. Na verdade nasceu com Montgomery Clift, aqui. Observe como ele nunca atua como Wayne. Assim como Marlon faria, ele emite as falas enquanto enrola um cigarro, brinca com o chapéu, pega algo do chão. Sua voz está sempre um tom abaixo, ele se esforça para não parecer atuar. Caso voce não saiba, Monty ainda tem um fã clube imenso, era amado por Brando e Dean, e teve sua carreira destruída pelo álcool e seus conflitos sexuais. Trabalhou com todos os grandes: Hitchcock, Kazan, George Stevens, John Huston, Zinneman, William Wyler, George Cukor. Em sua época, apenas John Ford e Billy Wilder nunca o usaram. Uma carreira de apenas 15 anos. Em 1963 ele já estaria destruído.
  Estranhamos no começo sua presença. Monty era pequeno, delicado, suave demais para um western. Parece que Hawks errou na escolha. Mas aos poucos percebemos o acerto. Nenhum ator da época era mais anti John Wayne que Clift. Inclusive no modo de atuar. O filme pedia por essa oposição. Hawks acertou no alvo. Wayne é pura força, virilidade, expansão, raiva explosiva; Monty é educado, completamente educado. Observa o modo como ele atira. A arma em sua mão é quase como uma raquete de tênis ou melhor, um florete. A mesma arma na mão de Wayne é um canhão.
  Dizem que John Ford tinha inveja de Hawks. Por causa deste filme, o único western que não era de Ford que Ford queria ter feito. Mais ainda: Ford dizia que John Wayne aprendera a atuar com Hawks e não com ele. Há fontes que dizem que ao assistir Red River, Ford comentou: " O filha da puta sabr atuar! ".  Rastros de Ódio só existe porque Red River existiu antes.
  Muita gente diz, e eu mesmo já falei isso, que os filmes de Hawks passam a sensação de que apenas se conversa, de que não há ação física de fato. Por isso Tarantino sempre o cita como diretor apreciado. Mas em RED RIVER a verdade fica mais evidente: A ação acontece, há muito movimento sim, mas os personagens são tão bem desenvolvidos e os diálogos são tão bons, que temos a sensação de que a ação não é tão importante. O que mais lembramos são dos tipos, dos caracteres, dos homens lá envolvidos. O filme tem estouro de boiada, ataque de índios, duelos, surras, correrias, travessias. Mas o que fica é Wayne esbravejando, Walter Brennan comentando a ação, Monty sendo diplomático com a troupe, e todo o resto, cada um com sua alma muito bem definida.
  Há bom humor em todo o filme. Hawks amava viver e ele é incapaz de ser pessimista. O filme não passa nem perto de ser uma comédia, porém ele crê no homem, faz fé em amizades, entende que o bem sempre dá um jeito de retornar. O final do filme não poderia ser melhor. Sorrimos com ele.
  Termino falando do feminismo real de Hawks. Até em seus westerns Hawks enfia uma mulher na história. E elas são sempre fortes, independentes, bocudas, e resolvem as bobagens onde os homens se perdem. Nenhum diretor explicita melhor o poder de civilizar que a mulher tem.
  Outro fato é a diferença entre os westerns de Ford e Hawks. Ford parece ter estado lá. Hawks é urbano, um gentleman. Ford é portanto muito mais crente, duro, machista, poético, ele crê no que filma. Para Ford um western é a vida real. Hawks é o contrário. Ele é sempre irônico, leve, democrático, nunca poético, evita o aspecto de saga naquilo que filma. Para ele, um western é um espelho da vida.
  RED RIVER é um filme imenso.
 

OZON/ FREUD/ BILLY CRYSTAL/ LANCASTER/ BORZAGE

   UMA FAMILIA EM APUROS de Andy Fickman com Billy Crystal, Bette Midler e Marisa Tomei
Avôs alegres e soltos e netos de vida programada e utilitária. Óbvio que os avôs irão salvar a vida chata dos netos. O roteiro nada tem de novo. Mas o filme se mantém ok. Porque? Billy Crystal é um tremendo comediante! E Bette Midler sempre foi uma diva. Tomei, ainda bonita, é a filha dos dois e mãe dos tais netos problemáticos. Nota 4.
   ANGÉLICA E O SULTÃO de Bernard Borderie com Michele Mercier e Robert Hossein
Um pavor! Este filme foi um hit na França dos anos 60. Tanto que foram feitas cinco sequências. Nos anos 70, na Tv Tupi, ele foi um dos primeiros a despertar minha "paixão" por um símbolo sexual. Lembro de assistir escondido, de madrugada. Visto agora é uma imensa decepção! Tem a pior trilha sonora da história, ação mediocre e nenhuma emoção. E Michele nem era tão bonita! Nota ZERO.
   FREUD ALÉM DA ALMA de John Huston com Montgomery Clift, Susannah York e Larry Parks
Existem momentos em nossa vida que são decisivos. Houve uma madrugada quando eu tinha 15 anos que foi assim. Na Globo passou, era segunda-feira, este filme no Corujão. Porque o assisiti? Uma bela crítica no JT. Fiquei abestalhado quando o vi. Tudo nele me enfeitiçou: o p/b genial e austero de Oswald Morris, a trilha sonora de Jerry Goldsmith, trilha que usa até mesmo música eletrônica-concreta. O romantismo rebelde do homem inovador contra tudo e contra todos, a incompreensão de seus colegas. O tom sofrido de Clift, numa atuação que joga em nossa cara um misto de inteligência e perdição. É um Freud sempre crível. A beleza dos pesadelos vienenses.... Lembro que não consegui dormir. Esperei minha mãe acordar para lhe dizer, às seis da manhã, que meu futuro se decidira: eu iria ser um psicólogo. Freud se tornou um de  meus ídolos por vinte anos. Depois percebi que meu ídolo era na verdade John Huston que fizera o filme. O filme passou esta semana em versão dublada na Cultura. Pensei em não o rever. Freud a muito se tornou um passado morto para mim. Mas não resisto. O filme volta a me enfeitiçar. E noto então que o que me seduzira fora a narrativa, a saga do intelectual contra o mundo, a saga da curiosidade em sua jornada e principalmente o soberbo e sublime clima vitoriano que o filme exala. Não me fiz psicólogo e não lamento isso. Me fiz um tipo de vitoriano. O filme antecipou sentimentos que eu encontraria em Henry James. Esteticamente é um primor. Huston, diretor de homens solitários contra seu meio, diretor dos derrotados, venceu. Nota DEZ!
   STREET ANGEL de Frank Borzage com Janet Gaynor e Charles Farrell
Gaynor ganhou o Oscar de atriz em 1929 por este filme. Que é um belo exemplo de filme silencioso. A câmera desliza, rola por ruas e fachadas, voa. Janet é uma moça sem lar que se une a trupe de circo. Há um bocado de alegria no filme. Uma alegria tristonha. Borzage foi um dos primeiros grandes do cinema americano. Os rostos são fascinantes. Nota 7.
   O ESPADACHIM NEGRO de Tay Garnett com Alan Ladd e Patricia Medina
Boa aventura medieval. Há ritmo na história chavão do ferreiro pobre que se disfarça de cavaleiro negro para se vingar de injustiças. Eu adoro filmes que usam espadas, muralhas e cavalos. Aqui temos tudo isso. Ladd não convence muito como herói medieval, ele é muito baixo e meio americano demais, mas a coisa funciona por causa de sua rapidez e falta de seriedade. Nota 5.
   DENTRO DE CASA de François Ozon com Fabrice Luchinni, Emmanuelle Beart e Kristin Scott Thomas
Tenho me "obrigado" a acompanhar o cinema atual. Tento ficar razoavelmente por dentro daquilo que rola nas telas deste século. E está na hora de confessar...não é fácil ! Tenho sido condescendente com filmes feitos de 2000 para cá. Quero gostar deles. Não os comparo aos clássicos. Os comparo com filmes de seu tempo. Mas, para ser sincero, isso começa a me enjoar. Quando entrei na era do dvd, passei três maravilhosos anos em que descobri 80% dos clássicos do cinema. Minha paixão foi lá em cima ! Que noites fantásticas ao lado dos filmes dos anos 30, 40, 50... Mas agora...É tudo tão pobre! Veja este filme: Um suspensezinho muito do comum que alguns críticos, e eu os entendo, colocam em alto posto. Não é um filme ruim. Apenas banal. Um aluno enrola um professor com redações que contam seu envolvimento com familia de amigo. É só isso. Devo dizer que o filminho cansa aos 40 minutos. Nota 3.
   BASTA, EU SOU A LEI de Burt Kennedy com Robert Mitchum, George Kennedy e Martin Balsam
Mitchum já era um veterano neste western que brinca com a velhice. Ele é um xerife que é aposentado por idade. Mas acaba por se unir a ex-rival e juntos eles salvam a cidade. Como se pode notar, o tom é leve, mas o tema é sério: a idade dos heróis, o momento em que o velho mundo dos cowboys morre e eles são afastados. Pode-se dizer que o filme fala também do fim do filme de western também. É um bom filme. Mitchum atua de seu modo distanciado. Kennedy está ótimo. Nota 6.
   APACHE de Robert Aldrich com Burt Lancaster
Dificil aceitar Burt como um apache. É um filme duro em seu começo. Vemos os apaches como judeus em campo nazista. Burt Lancaster é Masai, que foge a pé do exilio e volta a sua terra. Os brancos o perseguem. Aldrich foi um excelente e forte diretor. Sua filmografia é repleta de presentes dados ao público. De "Baby Jane" à "The Dirty Dozen". Ele se perde aqui ao esticar demais as cenas de romance. O filme cai e não se ergue mais. Pena. Nota 4.

XINGU/ GEORGE STEVENS/ KON ICHIKAWA/ CAMERON CROWE/ ELECTRA EURIPIDES/ GARY COOPER/ ZÉ TRINDADE

   COMPRAMOS UM ZOOLÓGICO de Cameron Crowe com Matt Damon e Scarlett Johansson
Há algo de errado com a gente. Simplesmente somos incapazes de levar "o bem" a sério. O século XX entupiu nossa cabeça com a ideia ( absurda ), de que apenas aquilo que é "do mal" pode ser verdadeiro. Quem viu este filme? Fala do luto, da morte, da reconstrução. Mas tudo sob a ótica de gente do bem. Pessoas que são como eu ou como as que eu conheço. Mas o doentio em nosso mundo é que essas pessoas que conheço só se interessariam por este filme se ele fosse do mal. Se o pai fosse um viciado em heroína e pedófilo talvez eles o assistissem. Se o papel de Scarlett fosse o de uma maníaca tarada e ladra, eles fizessem fila para ver. O estilo Jornal Nacional é o que predomina. Para as massas, prédios explodindo e viagens fabulosas, para os pseudo-cultos, a exposição de podridão e de personagens "do mundo real". Mundo real de quem, cara pálida? O meu não é. Este filme é melancólico pra caramba, não foge de assuntos dark, mas tudo sob a ótica da bondade, do ser legal. Senti aversão em 3/4 dele, tudo me parecia fofo, bobo, mas só no fim percebi que aquilo tudo era muito mais eu-mesmo que baboseiras metidas a artesinha-para-principiantes que abundam por aí. Em um mundo mais saudável este filme seria um hit. E meus amigos teriam corrido para vê-lo e depois o discutido comigo. Mas ele não tem auto-punição, sangue, sexo doentio, drogas pesadas, necrofilia...Tem apenas um cara tentando sobreviver e uma familia com problemas sérios de uma familia banal. Como a minha. E provávelmente como a sua. Damon está ótimo e Scarlett, desglamurizada, tenta atuar. É sua melhor interpretação. Crowe não desiste. Desde Singles ele tem um interesse: gente legal em mundo errado. O final deste filme é lindo de chorar. Mas alguém ainda procura a beleza na arte? Nota 7.
   UM LUGAR AO SOL de George Stevens com Montgomery Clift, Elizabeth Taylor e Shelley Winters
Monty faz um desajustado. Em seu rosto vemos que ele não tem lugar, mal sabe o que é. Mas para seu azar ele sabe o que quer. E desajeitadamente tenta obter esse objeto. E paga pelo erro. O filme não faz nenhuma concessão. É duro. E maravilhosamente bonito. Stevens sempre buscava a perfeição. Cena a cena ele trabalhava duro para ser perfeito. Conseguia. Tudo aqui é superlativo: atores, fotografia e roteiro. Jovens diretores costumam estudar este filme nas escolas de cinema. O que conseguem aprender? Ou melhor, o que a Sony e a Viacom deixam ser tentado? Filme de crime sem vilão e sem mocinho. Tragédia que beira a magnitude. E composta de gente comum, normal, o que o torna mais forte ainda. Nota DEZ!!!!!!!
   ARROWSMITH de John Ford com Ronald Colman, Helen Hayes e Myrna Loy
Um dos primeiros filmes sonoros de Ford, tem um visual cheio de sombras e belos cenários expressionistas. Começa devagar, mas vai crescendo até seu final dramático. Fala de um médico que exita entre ser um pesquisador ou um sanitarista. No final vai para o Caribe enfrentar epidemia. Apesar do Caribe ser um país de fantasia, é lá que o filme atinge seu melhor ponto. Há clima, magia e suspense. Colman parece artificial demais, um Melvyn Douglas cairia melhor. Myrna Loy infelizmente aparece pouco, seu charme e sofisticação parecem de outro universo. É um filme bom, mas longe da gigantesca estatura de Ford. Se parece muito com as bios que a Warner faria em seguida. Nota 6.
   FOGO NA PLANÍCIE de Kon Ichikawa
É o mais próximo do inferno que podemos chegar. Nas Filipinas em 1945, soldados japoneses, cercados por soldados americanos, não têm o que comer. Acompanhamos um soldado tuberculoso vagando pela floresta. No caminho ele encontra desesperados como ele. O homem em seu limite. Canibalismo. Alguns começam a comer os feridos e um deles chega a comer a si-mesmo. O cinema japonês é rico em filmes que vão ao limite. E aqui Ichikawa filma sem sensacionalismo. Tudo é como é. Eles não são do mal ou do bem, são organismos que tentam viver. O objetivo da vida seria a própria vida. É um dos filmes mais desagradáveis já feitos. Mas atenção, Ichikawa nunca busca o sensacional ou a chantagem emocional, não faz escãndalo, o filme é elegante. Chocantemente elegante, ele prova que isso pode ser feito. Nota 8.
   ELECTRA de Michael Cacoyannis com Irene Papas
Impressionante. Numa vasta planicie, Cacoyannis filma a tragédia de Euripides do modo como tudo deveria ser 2500 anos atrás. Cabanas, roupas de lã grossa, gente feia. Irene está assustadora. Sua Electra é infelicidade completa. Ela precisa e deve se vingar. O irmão, Oreste, exita, mas acaba por cometer o crime. A trilha sonora de Mikis Theodorakis é uma obra-prima. A fotografia de Walter Lassally também. Se eu fosse freudiano diria que todo nosso inconsciente mora aqui. Se eu fosse jungiano, diria que este filme mostra nossos arquétipos. E se eu acreditasse em pura biologia, diria que nossos gens foram poluídos por essas experiências. Como sou apenas eu-mesmo, digo que é um filme digno de um texto chave de nossa cultura e de nosso senso do que seja o trágico. Jamais se farão filmes como este novamente. Nota 9.
   THE PRIDE OF THE YANKEES de Sam Wood com Gary Cooper e Teresa Wright
Eis o que seria um filme pop antigo. A biografia do jogador de beisebol Lou Gehrig, seu sucesso e sua aposentadoria ao se descobrir com doença fatal. Sinal dos tempos, o filme mostra sua infancia pobre, sua escalada e seu estouro. Os primeiros sinais da doença também, e NÃO mostra a doença. A cena final, linda, mostra Lou entrando no túnel dos vestiários, sumindo no escuro, e fim. Tempo em que havia o pudor de se poupar a crua exposição de intimidades intimidantes. Quem teria prazer em assistir a dor de um câncer? Gary Cooper é um monstro de carisma. A gente o segue com os olhos, gosta de olhar pra ele e de o escutar. Sam Wood era o diretor dos grandes hits ds MGM. Este foi um dos maiores. Absolutamente ultrapassado, totalmente familia, e uma deliciosa nostalgia. Nota 7.
   ENTREI DE GAIATO de JB Tanko com Zé Trindade, Dercy Gonçalves, Costinha e Chico Anísio
Brasil dinossauro. Zé Trindade é meu humorista brasileiro mais querido. Passei a infancia repetindo seus bordões ( "O que é a natureza...."), um malandro simpático. Ainda se pode crer em malandros simpáticos? Dercy é outra malandra. Os dois tentam enganar um ao outro, e depois resolvem roubar um hotel. Ingênuo e bobinho, quando termina deixa uma sensação de "quero mais". Cauby Peixoto aparece cantando e tem Moacyr Franco com "Me dá um dinheiro aí!". Nota 5.
   MINHAS TARDES COM MARGUERITTE de Jean Becker com Depardieu
Já falei deste filme alguns meses atrás. Mas ele voltou a cartaz e devo dizer que é o melhor filme para se ver em SP. Tudo o que falei do filme de Crowe vale para este com uma diferença, este é melhor. Simples, triste, solar ao mesmo tempo, é cinema sobre gente e não sobre bailarinas de cartoon dark ou viciados em sexo de manual de arte-para-iniciantes. Tomo radical posição ao lado de O Artista e de Hugo contra a moda emo. E sei que esse cinema que hoje combato é culpa do meu heroi Bergman. O gênio da Suécia criou o cinema como arte-da-crise existencial, e um bando de pseudo-artistas tenta a 50 anos repetir seus passos. Acabam por fazer uma versão teen dos dramas bergmanianos. Fazem um tipo de PERSONA para iletrados. Aqui não. Becker faz um filme longe desse mundo de baboseiras. Depardieu é apenas um bronco que descobre a cultura. É lindo, é real e é profundamente humano. Imperdível!!!!! Nota 8.
   XINGU de Cao Hamburger com Felipe Camargo e João Miguel
O que deu errado? O tema é o melhor. Os cenários de sonho. Mas não emociona jamais. Voce vai ver um filme como este para sentir frisson, adrenalina e até lágrimas. Nada disso ocorre. Voce se interessa e não se entedia, mas nunca seu coração dispara. Uma entrevista com os heróicos irmãos funciona muito mais. Creio que somos um país de documentários. Não entendemos o espetáculo. Um doc com este tema funciona como show mais que este filme. O que é uma contradição. Mas merece ser visto pela beleza plástica e a nobreza de seu tema. E a coragem de Cao ao empreender uma obra tão dificil. Mas devo dizer, é frustrante. Nota 6.

UM LUGAR AO SOL - GEORGE STEVENS, DEMASIADO HUMANO, DEMASIADO HUMANO...

   George Stevens já era um diretor famoso quando em 1941 foi para a Segunda Guerra. Até então ele era basicamente um diretor de comédias, um excelente diretor de comédias, que começara fotografando filmes de Laurel e Hardy e evoluíra para as produções A. Na guerra ele comandava um grupo que era encarregado de filmar e fotografar batalhas e tomadas de cidades. Stevens esteve no dia D e mais importante, foi seu grupo o primeiro a entrar em Dachau. George Stevens foi o primeiro a ver e registrar câmaras de gás, pilhas de ossos e corpos jogados como lixo. De volta a seu país, ele nunca mais dirigiu uma comédia. Este filme, considerado por muitos um dos melhores filmes já feitos na América, é uma sinfonia sobre compaixão, sobre desamparo e sobre o azar.
   Montgomery Clift é um rapaz pobre que cruza o país para encontrar um tio rico. Lhe pede um emprego e passa a trabalhar na fábrica do tio. Se envolve com colega de trabalho e a engravida. Mas ao mesmo tempo começa a ser surpreendido pelo interesse que desperta numa rica herdeira belíssima. Tudo, que poderia ser sorte e alegria, se faz desencanto, erro e crime. O filme é de uma melancolia absoluta.
   Baseado em clássico de Theodore Dreiser, o roteiro não faz concessões. Clift é um rapaz triste. Em seus olhos e nos seus modos vive um tipo de "estrangeiro", de homem que nada sente por inteiro, de alienado. Marlon Brando levou a fama, mas o ator que criou o modo moderno de atuar é Clift. Torturado, complicado, profundamente infeliz, Clift morreria aos 45 anos de alcoolismo. Seu trabalho aqui é impressionante. Jamais sentimos raiva ou pena dele, sentimos proximidade, compaixão.
   Incrível pensar que Elizabeth Taylor tinha 17 anos aqui. Foi seu primeiro filme sério e ela está lindíssima. Faz com leveza e coquetismo a milionária que cai de paixão por Clift. As cenas de beijo dos dois são plasticamente imbatíveis. O filme fez dos dois, amigos para toda a vida. Shelley Winters faz a proletária engravidada. Há uma cena, em que ela vai ao médico para tentar aborto. A cena lentamente se transforma  numa luta surda, cruel, tristíssima entre Shelley e a verdade.
   George Stevens se fez famoso pelo seu capricho. Filmava muito, gastava meses em montagem, era um perfeccionista. Nos extras Roubem Mamoulian diz que ele tinha o mais corajoso dos estilos: cenas longas, sem movimento de câmera, sem cortes e enfeites. E são cenas maravilhosas! A beleza do filme está ligada ao tema. Nunca é uma beleza gratuita. Como diz Warren Beaty em outra entrevista nos extras, Stevens dirige sem se exibir. Como faziam Renoir, Wyler e Zinnemann, é a direção invisível, não intrusiva, que conta e mostra, que nos faz esquecer que aquilo é um filme.
   As cena se fundem em outras cenas. É um efeito encantatório. O rosto de Liz Taylor se apaga lentamente enquanto um carro passa correndo numa estrada. Ou o lago brilha ao luar e desaparece dando lugar aos rostos de Clift e Liz. As cenas se embaralham, se torcem, fluem como brilho de sonho. Aliás, todo o filme tem um aspecto maravilhoso de sonho ( ou melhor, pesadelo ). Mas não é só na forma ou em seus atores que reside a grandiosidade de A Place in The Sun. É na humanidade do todo que ele nos toca mais fundo. Aqui não há um vilão. Não há um herói. Os milionários são apenas homens, assim como os operários. As duas mulheres se comportam como amorosas e assustadas apaixonadas. Nenhuma delas é ruim ou boa. E Clift, numa atuação mágica, faz um assassino que nunca parece ruim ou esperto, e um herói que é todo mentira, tristeza e distancia.
   Vencedor de 6 Oscar, sucesso de bilheteria, feito antes de SHANE, este é um filme inesquecível.

UM FILME PERFEITO: TARDE DEMAIS- WILLIAM WYLER

Fazer um bom filme tendo por base uma obra-prima da literatura é tarefa quase impossível. Fazer, como aqui, uma obra perfeita baseada em livro perfeito é um milagre. Pois este filme é baseado em WASHINGTON SQUARE (A HERDEIRA ) de Henry James, e incrível, é um filme que nunca desmerece esse tão soberbo livro.
Quem leu James sabe: o mistério de sua escrita é a sutileza. Quando mal adaptado ao cinema se torna apenas uma boa história. Quando adaptado com inteligência, como sucede neste caso, toda sua maestria se torna imagem e som. Este filme é uma aula para aquele que deseja saber o que o cinema pode ser. Poucas vezes a sétima arte foi melhor que nesta produção.
Primeiro a história. E um lembrete. Para se apreciar este gigantesco trabalho é preciso ter lido James. Pois ao ler o gênio americano voce terá desenvolvido sua sensibilidade estética, e ao refinar essa sensibilidade voce estará pronto para apreciar a extrema beleza destes diálogos superiores. E quanto prazer cabe em linhas tão bem escritas! Os diálogos são afirmações de engenho. Neles o talento brilha. Estamos então na New York do séculoXIX, e estamos em casa de luxo austero. O pai é um médico muito rico e ele, viúvo, tem uma filha. Ao contrário da mãe, essa moça é feia e sem qualquer encanto. Pois bem. Um dia, um jovem, belo e brilhante, porém esbanjador, se enamora dela. O pai impedirá isso, pois ele não crê que alguém possa amar mulher tão sem graça. Em linhas gerais essa é a história. Mas sabemos, por debaixo disso há muito, muito mais. James falará sobre amor de pai e filha, sobre a morte, sobre sedução, sobre o que é ser mulher e principalmente sobre o dinheiro como destino. O filme, que maravilha, consegue ser tudo isso.
Os personagens. O grande ator inglês, Ralph Richardson, faz o pai. Que prazer deve ter sido vê-lo fazendo Shakespeare...prvilegiada geração que viu ele, Olivier, Gielgud e Redgrave nos palcos. Observe como ele faz esse pai. É um monstro? Jamais. O que vemos é autoridade. Ele precisa fazer o que faz. Percebemos seus pensamentos mais secretos nos olhos desse ator de gênio. O modo como ele sonda o namorado, o modo como ele analisa a filha, o desgosto. Mas temos a filha, papel que deu a Olivia de Havilland seu segundo Oscar. Ela faz uma moça feia, bastante limitada e ingênua. E como a faz? Com olhares de estupidez, reações puras e animais, e a pose de virgem intocada. Os imensos olhos de Olivia são espelhos que refletem alma que luta para existir. Ela se apaixona com desespero. Quando cai na razão e é humilhada pelo pai vemos um coração dilacerado. É dos momentos mais tristes de toda a história da tela. Montgomery Clift faz o pretendente. Faz tão bem que quase cremos em seu amor. Ele é belo, limpo, claro, bom falador, mas jamais engana o pai. Nos pegamos querendo crer no que ele diz. Clift, primeiro ator moderno do cinema, precursor e rival de Brando e Dean, faz muito com pouco. Sua atuação é magistral. Miriam Hopkins é a tia que percebe tudo mas que toma o partido do rapaz. Imagem da solteira casamenteira. Temos então um excelente roteiro em mãos de atores mais que talentosos. Quem misturará essa massa?
O diretor se chama William Wyler, e foi ele, entre as décadas de 30/50, ou seja, no tempo em que cinema era rei único, o diretor mais confiável, mais seguro, melhor dotado. Wyler não errava. Pauline Kael diz em sua crítica que "aqui vemos a perfeição. Wyler guia o filme com mão de ferro. Ele faz um filme sobre o controle com absoluto controle sobre atores e filme."
Todo movimento de câmera é peso sobre nossa emoção. Cada ângulo e cada cena é a imagem exata de destino inexorável. Wyler dirige como um grande dramaturgo cria: dominando todo o material e moldando-o a seus objetivos. Arte suprema em mãos de mago.
Há ainda a trilha sonora impecável de Aaron Copland ( sim, Copland, grande compositor erudito, compôs, pouco, para cinema ). Trata-se de música emocional, majestática, suprema. Eleva o filme à altura de Henry James.
Não há um só momento menos bom neste imenso romance em movimento. Cada cena é um ponto numa tapeçaria de jóias. Fica a memória de se ter testemunhado uma obra que nos alerta sobre tudo o que a tela pode comportar. A perfeição existe. Ela reside aqui.