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MALLE E GODARD, DE VOLTA À FRANÇA

Volto à pensar na França e lembro o quanto eu amava sua cultura. Isso por causa de alguns filmes policiais que vi, feitos nos anos 50 e 70. Lembrei, os vendo, dos Gitanes que eu fumava. Fiz as pazes com parte do meu passado então. E revejo dois filmes da Nouvelle Vague. ---------------------- ASCENSOR PARA O CADAFALSO é de Louis Malle. É o filme que tem uma trilha sonora, sublime, de Miles Davis. A única que ele fez na vida. Malle lhe mostrava as imagens e ele ia improvisando. Miles sabia que na França, desde os anos 20, músicos de jazz tinham o respeito que não tinham nos EUA. O filme fala de um crime que não dá certo. Tem muito suspense e é moderno. Jeanne Moreau e Maurice Ronet. As ruas de Paris de 1959 transpiram poesia, uma poesia dura, cinza, fria, maravilhosa. Os carros pequenos, os sobretudos escuros, as janelas abertas. Malle teve uma carreira invulgar. Nunca se repetiu, sabia filmar, sabia dirigir atores. A partir de 1977 virou um diretor americano. Fez obra POP e outras de absoluta vanguarda. Casou com Candice Bergen. Nasceu e morreu rico. ------------------ A BOUT DE SOUFLE, ACOSSADO de Godard. O maoísmo matou o cinema de Godard. Sua militância, feroz, castrou o cineasta que respirava amor ao cinema neste seu primeiro e disparado melhor filme. Ainda, mais de 60 anos depois, parece filme de alguém muito jovem. Ele faz o que quer, se exibe como diretor dono de sua obra, por isso, por essa liberdade de fazer e criar, é ele tão influente. Cortes abruptos que até então seriam considerados um erro fatal, atores que saem do personagem, a flagrante consciência de que aquilo que vemos é um filme, não é real, a quebra do ritmo, hora rápido hora lento, e Belmondo, exalando charme como o heroi que é um ladrão. Todo cinema brasileiro chupou TUDO desta hora e meia de Godard. Voce aponta, em cada cena, um filme brasileiro plagiando Acossado. Toda a turminha deve ter visto isto dúzias de vezes. Me divirto, é um filme bom. Detalhe, em 1960 Bogart ainda não era um mito. Belmondo quer ser ele no filme e isso foi uma percepção de Godard, a de que Bogart era um possível heroi existencial. A moda pegou. Bogart desbancaria James Dean e Marlon Brando como maior mito do cinema. A trilha sonora é perfeita e Raoul Coutard foi um monstro na câmera flutuante, isso antes da invenção da steady cam. Tivesse uma câmera leve ele voaria com ela. ------------------ Pena que a partir de 1962 Godard ficaria muito mais ligado em discurso político que em cinema. Dois bons grandes filmes. Malle é melhor.

VIVE, LOUIS, LUDWIG, MIA, KANDINSKY

   VIVE LA FÊTE tocou em SP. Tenho um amigo que criou uma boa definição sobre 99% das bandas de 2012: Compõe bons covers. O VIVE abusa da chupação sobre o sublime VISAGE. Bom, pelo menos eles têm bom gosto em suas cópias. A maioria plagia lixo.
    Mia Couto transbordou simpatia no Roda Viva. Pena os entrevistadores variarem entre uma bobissima atitude blásé, tipo "Somos de um país maior" ( E há quem ainda pense que só a América tem arrogância ), e algumas tietes vazias. Mas o gajo tirou de letra. Esperavam discurso contra Portugal, não veio; esperavam traumas sobre a raça, nada a declarar. Couto é doce, sóbrio, poético e falou uma coisa lapidar: "Comecei a desistir da biologia ao perceber que explicava a vida pela poesia e não pela biologia". Ah sim, ele é biólogo. Que belo sotaque!
   Louis Malle tem justa homenagem em SP. Malle é melhor que Godard e Truffaut? Posso dizer que Malle não fez nenhuma obra-prima, mas também percebo que seus filmes são mais profissionais, mais atemporais, caem mais no gosto daqueles que esperam do cinema algo de "bem feito". Malle sobrevive melhor que os mais radicais. Mas atenção! Os filmes de Malle nada têm de careta ou de banais. Ele filmou em 1971 o incesto sem culpa, em 1977 a pedofilia sem discurso. Ele não tem obras-primas mas tem uma grande quantidade de filmes excelentes. E nenhum filme ruim. Mesmo Black Moon tem seu charme doido.
   Ando estudando pintura e começo citando uma frase de Wittgenstein que sintetiza toda a arte feita de 1910 em diante: "Sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar."  Wittgenstein começou como um tipo de linguista e terminou descobrindo que a lingua é apenas um código que nos é imposto. Ela não revela a vida, a vida é que foi compactada para caber na linguagem.
   Pois eu não sabia o que era o abstracionismo. Rothko, Mondrian, Malevich, toda a pintura abstrata é uma tentativa de se capturar aquilo que está além do concreto, da linguagem da imagem, a pintura sentida como religião. Kandinsky e uma frase de Wittgenstein, outra vez ele: " O mundo é tudo o que é o caso". Caso: natureza e sociedade, as estruturas da religião, da arte e da ciência. Todos os atos, todo pensamento, toda emoção e toda imaginação. A pintura abstrata se apropria do todo, do caso. Olhar uma tela e ver nela aquilo que ela te faz sentir. Experimentar.
   Mas o mundo agora não é abstrato. Muito menos é impressionista ou surrealista. A cidade acostumou-se a guerra. Entramos nela suavemente. Toques de recolher não nos ofendem, aceitamos. A arte que criou este mundo está toda no expressionismo.

MALLE/ BARDOT/ WOODY ALLEN/ DEMI MOORE/ PECKINPAH/ ANTONIONI/ LUMET

DAQUI A CEM ANOS de William Cameron Menzies com Ralph Richardson
Menzies é o grande nome da história do design em filmes. Mas como diretor ele faz belos cenários. O roteiro, baseado em HG Wells, fala de sociedade surgida pós-guerra, sociedade de militares. O filme não funciona. Sem ritmo, atores mal dirigidos. Nota 2.
VIVA MARIA!!!! de Louis Malle com Brigitte Bardot e Jeanne Moreau
Tenho sérios problemas com Moreau. Talvez seja a única atriz que eu deteste. Abomino seu rosto, sua voz, o jeito como os diretores se apaixonam por ela ( porque??? ). Méritos a Godard que nunca a amou!!! Malle faz aqui seu pior filme. Bardot está desperdiçada em papel sem graça. O filme é sobre duas francesas de cabaret que participam de revolução em ditadura sulamericana de araque. Tolo, com humor bobinho e sem qualquer criatividade. Nota 1.
A ÚLTIMA NOITE DE BORIS GRUSHENKO de Woody Allen com ele e Diane Keaton
O último filme da primeira fase de Woody. Uma homenagem a todos os clichés dos romances russos e a Bergman também. Exuberante é a palavra. Se existem cenas que não funcionam, em outras ele consegue provocar gargalhadas. A música de Prokofiev, maravilhosa, é usada com sensibilidade e Keaton é comediante perfeita: uma mistura de tolice e seriedade, pretensão e avacalhação, hilária! Os primeiros vinte minutos são das melhores coisas que ele já fez, mas o final, homenagem belíssima ao Sétimo Selo é emocionante. O filme fala de suicidio, morte, Deus e Dostoievski, sempre com leveza e humor. Saudades....Nota 8.
O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS de Joel Schumacher com Demi Moore, Emilio Estevez, Judd Nelson, Ally Sheedy, Rob Lowe, Kevin McCarthy, Andie MacDowell
Muito estranho ver esse filme hoje...foi o filme da moda de 1986. O "Crepúsculo" de então. Os atores eram ídolos teen, os mais bonitinhos ( fora Tom Cruise e Kim Basinger ). O estranho é que como tudo na década de 80, ele está velho demais!!!! Aqueles jovens tãaaao yuppies, tão arrumadinhos, tão tolos com suas carreiras e sua fé no american way of life....A década de 80 negou furiosamente o ideário hippie e deu no que deu: Reagan e Thatcher. Se voce quer saber o que é um filme yuppie eis sua chance. Demi Moore era absurdamente bonita... Mas jovens de paletó em aptos de vidro e neon....Socorro!!!!! Nota 3
TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA de Sam Peckinpah com Warren Oates
Já em estado de alcoolismo avançado, Peckinpah fez este, hoje cult, drama mexicano. É sobre milionário fazendeiro que oferece um milhão para quem trouxer a cabeça de Alfredo, que engravidou sua filha. Warren, em atuação de gênio, é um pianista americano de puteiro, que parte atrás da grana, consegue a cabeça, mas pira no fim e sai matando todo mundo. O filme tem a violência real de Peckinpah, mas não tem sua energia. É um filme anestesiado, alcoólico, flácido, que se perde em algumas cenas dispensáveis. Um fracasso em 1975, foi redescoberto nos anos 90 e hoje tem a cara do cinema atual. Filme muito feio, sujo, com cenas de sexo estúpidas e desagradavelmente tosco. Ato de coragem, mas longe da genialidade do louco Sam Peckinpah. Nota 6.
BLOW UP de Michelangelo Antonioni com David Hemmings, Vanessa Redgrave, Sarah Miles e Jane Birkin
Um fotógrafo famoso e rico deveria significar poder e potência. Mulheres a seus pés deveriam significar alegria e excitação. Mas na Londres de 1966, o fotógrafo sente que esses significados se embaralharam. Fama e poder significa tédio e impotência e sexo quer dizer fuga. Em 2011 os signos estão pós-embaralhados, estão vazios. Um corpo baleado no chão ou um carro cheio de crianças cantando nada querem dizer. O filme é uma obra-prima. Jamais acaba seu assunto. Nota DEZ!!!!!!!!!
ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCE ESTÁ MORTO de Sidney Lumet com Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke, Albert Finney e Marisa Tomei
Lumet aos 80 anos dando um banho de juventude na molecada. Este filme é o que se pode ter de tragédia grega em nossos dias. O tema é aquele de sempre em Lumet: as cidades como produtoras de sofrimento e frustração terminal. Homens tentando fugir desse inferno. Um Dia De Cão e Rede de Intrigas são bem melhores, mas este é um filme que se feito na época certa teria uma acolhida muito mais calorosa. Deve ter sido um prazer para os atores encontrar papéis tão bons! Nota 7.

AMERICAN GRAFFITTI/ SHINDÔ/ MIZOGUCHI/ MALLE/ LOACH

A ILHA NUA de Kaneto Shindô
Um dos mais estranhos filmes que já vi. Numa ilha, estéril, quente, um casal e duas crianças precisam trazer água do continente ( a ilha não tem água doce ) para manter sua horta e sua vida. A ilha nada tem de cruel, ela é linda. Mas a vida deles é absurda. O filme, que não tem diálogos, é apenas o ir e vir em canoa, subir morros íngremes com cuidado, regar a terra arenosa. A fotografia é belíssima e a trilha musical maravilhosa. O diretor, de esquerda, quer nos dizer que o trabalho impede a comunicação. Eles não têm tempo para falar. A vida se resume a manter a própria vida. O filme, com todo esse arrojo e conteúdo tem um problema: é chato. Foi enorme sucesso de arte em seu tempo. Mas cansa ver a canoa cruzando o mar e o morro sendo subido. Nota 5.
À PROCURA DE ERIC de Ken Loach
Eric Cantona foi o ponto final na galeria de cavalos selvagens do Manchester United. Não a toa, ele diz em entrevista que jogadores como ele e George Best foram expulsos do United. Futebol hoje é para almofadinhas. Cantona nunca deu certo na seleção da França. Formou ataque com Papin, mas foram tirados da copa de 94 pela Bulgaria de Stoichkov. Em 98 ele poderia ter sido campeão do mundo. Zidane e Cantona fariam maravilhoso ataque. Mas Eric brigou com todo mundo e não foi chamado. De qualquer modo, ele tornou-se um deus no United. Mito. Seu estilo misturava a força de Adriano com a volúpia de Edmundo. O caráter era de Serginho Chulapa. Há uma cena famosa em que ele pula o alambrado, invade a torcida rival e desfere socos num torcedor. Se na final de 2006 estivesse ele em campo ( parou em 99 ) Zidane teria mais um para bater no italiano. O filme, sobre carteiro fracassado que recebe visitas de Cantona, tem o esquema de filme de Herbert Ross com Woody Allen. Só que no filme antigo é Bogey quem dá conselhos para Woody. Ouvindo o ex-jogador, o carteiro volta para ex-esposa e arruma situação do filho. É um filme honesto, jamais brilhante. Ken Loach é diretor da velha esquerda britânica: ele ama a classe operária. Seus filmes têm cheiro de povo. Este não chega aos pés de Kes, mas é um triste e simpático trabalho. Ken deve ser um cara muito legal. Nota 6.
AMERICAN GRAFFITTI de George Lucas com Richard Dreyfuss, Ron Howard, Charles Martin Smith e Harrison Ford
Se voce assistir este filme hoje vai achá-lo apenas ok. Mas deixa eu te dizer o porque de sua fama. Foi o primeiro filme a idolatrar os anos 50 ( o filme é de 73. A história se passa em 59. São quatorze anos que graças a revolução de 68 parecem 50 ), foi o primeiro filme em que não existe personagem ou história central, são vinhetas que se completam. Foi também o primeiro filme grande a usar discos pop como trilha sonora ( Scorsese já fazia isso desde 70, mas eram filmes pequenos), e foi ainda o primeiro filme teen nos moldes como conhecemos até hoje: carros, sexo, medos e piadas. O filme tem trilha sonora repleta de obras-primas dos 50. Vai de Buddy Holly a Beach Boys, de Chuck Berry a Fats Domino. Tudo está lá. Os atores estão muito simpáticos, os carrões são aquilo que se chama de super-muscle-cars e o filme é de uma despretensão cativante. Com o sucesso deste filme Lucas partiria para o projeto Star Wars e sua carreira como diretor iria pro espaço. Coppolla produziu. Nota 7.
A INDOMÁVEL de Ray Enright com Marlene Dietrich e John Wayne
É sempre bom ver Wayne, mas um western quando é bom é muuuuuito bom; quando é ruim é terrível. Este é bobíssimo. Nota 1.
LUA NEGRA de Louis Malle
Após o sucesso escandaloso de Lacombe Lucien, Malle fez este tipo de Alice no País das Maravilhas jungiano. Foi um absoluto fracasso. É impossível encontrar algum sentido neste filme. Guerrilheiros matam, há uma fazenda onde velha senhora morre e fala língua inexistente, ovelhas em todo canto, um rato de estimação, uma mulher dá o seio para que a velha mame, um unicórnio falante, uma águia assassinada... e tudo isso é só a metade. No meio dos absurdos anos 70 este é dos filmes mais loucos. É ruim demais. Mas ele vai tão fundo em sua ruindade que acaba ficando em nossa memória. Malle, diretor sempre provocante, escapa dos diretores "ruins e bem loucos" da época por ter um trunfo: ele sabia dirigir. Tudo é bem filmado, bem fotografado, bem dirigido. Malle mostra a loucura, mas ele nunca perde a razão. A fotografia é do bergmaniano Sven Nykyvst. Malle era o cara. Isto não é o filme. Nota 4.
OS AMANTES CRUCIFICADOS de Kenji Mizoguchi
Que lindo filme!!!! Lembro que foi este o primeiro filme japonês que vi na minha vida ( tv Cultura, 1990 ). Fala de amor que nasce e é sacrificado. Fala da ganancia de maridos ricos e de costumes arcaicos. Fala da coragem de amar. Mizoguchi, um tipo de anti-Kurosawa, dirige com uma delicadesa de seda. O filme é cheio de portas de papel, paredes de bambú, vielas com sol. As mulheres, como em todo filme do mestre, são as heroínas. O final do filme é toque de mago. Belo e muito doloroso. Nota 9.

500 DIAS COM ELA/ MINHA VIDA DE CACHORRO/ SETE HOMENS E UM DESTINO/ SOPRO NO CORAÇÃO

PARIS TEXAS de Wim Wenders com Harry Dean Staton, Nastassja Kinski
Um filme que dói. O amor morre e a estrada se abre. Ser herói é sempre ser só. Isso é verdade ou um consolo? O filme homenageia Ford e todo o cinema da América. Mas é alemão. Tão alemão como é Mann ( os dois Mann, Thomas e Heinrich ). O amor sempre termina e fica este homem andando sem rumo e esta mulher exibida numa tela. Mas ficou um rastro, uma criança. Wenders fez filmes imensos. É o cara. Nota DEZ. Um dos filmes que definiram aquilo que sou. Eu sou Travis.
SETE HOMENS E UM DESTINO de John Sturges com Yul Brynner, Steve McQueen, James Coburn e Charles Bronson
Este filme dá raiva. Queriam transformar Horst Buchholz ( quem? ) em star. Então o filme tem esse péssimo Horst demais e tem McQueen de menos... Baseado em 7 Samurais de mestre Kurosawa, é um western pop com uma das trilhas mais famosas da história ( Elmer Bernstein ). Boa diversão. Não é o oeste de Ford ou de Anthony Mann, mas é muito ok. Nota 7.
500 DIAS COM ELA de Marc Webb com Joseph Gordon Levitt e Zooey Deschanel
O filme segue aquilo que Nick Hornby diz : a vida pode se tornar uma tristeza com essa ração de música pop triste. Neste filme, o cara é fã de Smiths. Conhece sua amada ouvindo o som de Morrissey e Marr no elevador. A partir daí rola o romance dos dois em flashback. O filme é uma chatice. Os dois são exatamente o tipo de gente que menos gosto, dois fofinhos. Viciado em deprê, o cara passa o filme inteiro tentando nos fazer sentir pena. Sentí tédio. Quem gosta disto ? É um tipo de filme de Eric Rhomer para iletrados. Por medo de ousar se usa um narrador para explicar o filme, assim como se datam os flashbacks para não confundir. Sinal dos tempos : um filme para estudantes espertos que é pudico e envergonhadérrimo. Sua única boa cena é ao som de Bookends de Simon e Garfunkel. Ao som de Bookends até jogo de canastra se torna poesia. Mas é, apesar de tudo, um filminho bem intencionado. O Annie Hall de 2009. Mas é chaaaaatoooooooo!!!!!!! Nota 3.
ANNA KARENINA de Julien Duvivier com Vivien Leigh e Ralph Richardson
Livros banais podem dar bons filmes. Livros bons podem ser suplantados pelo cinema ( Wonderboys é um filme melhor que o livro de Chabon ). Hammet, Chandler, Du Maurier, Pasternak, Elmore James, são todos autores médios ( sim, acho Pasternak médio ) que foram melhorados nas telas. Grandes peças podem dar filmes geniais ( cito UM BONDE CHAMADO DESEJO e QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOLFF, duas peças de antologia e dois filmes históricos. ) Mas obras-primas da literatura nunca dão grandes filmes. A exceção, única, é OLIVER TWIST de David Lean, que é melhor que o livro ! Lord Jim de Conrad virou um filme chato, Dom Quixote é ridiculo e Moby Dick se tornou aventura normal. Sem falar em O Morro dos Ventos Uivantes, filmado até por Bunuel e sempre dando filmes ruins. Anna karenina nunca deu certo nas telas. Vira um tipo de romance aguado, vazio, sem aquilo que Tolstoi lhe deu de melhor : Força Divina. Vivien seria uma excelente Anna, mas o Vronski deste filme é um brioche de vento. Se voce nunca leu o livro pode até se divertir com seu visual bonito. Mas de Tolstoi não tem uma vírgula. Nota 5.
MINHA VIDA DE CACHORRO de Lasse Halstrom
Em 1985 a Suécia nos revelava este diretor sensível. O filme se tornou famoso, concorreu até a Oscars de direção e roteiro. Depois Lasse viveria nos EUA e dirigiria filmes como Chocolate e Gilbert Grape. Este filme, sobre um garoto desajeitado e sua família, será para quem o assistir hoje, uma maravilhosa surpresa. Peço para que todos voces o procurem e assistam. Precisa ser assistido porque é um filme que faz bem. A poesia e a alegria vivem neste filme ( e a dor também ). Se voces querem saber o que espero de um filme vejam este. É engraçado e faz chorar. O menino está comovente e a vida com seu tio é a vida que todos nós precisaríamos viver. Dá vontade de rever assim que termina e dá vontade de ir à rua e gritar : Viva a Suécia ! È uma obra-prima dos filmes sobre a infância ( e NADA tem de infantil ). Lindo. Nota DEZ.
MONTE CARLO de Ernst Lubistch com Jeanette MacDonald e Jack Buchanan
O mundo de Lubistch. Distante de nós. De todos os grandes é ele que está mais distante. Seu tipo de filme jamais poderá ser refeito, é filho de um mundo ainda iludido. É Vienna antes de Hitler, é mundo de romance tipo bolo de noiva, de canções maliciosas, de piscadas de olhos, de ligas de seda, de cafés e de cerveja. Não há violencia, não há deselegancia, nada de pressa. O tema é o romance, e não há qualquer pretensão a verdade ou a arte. O objetivo é divertir com classe. Delicioso, mas sinto que sua lingua se apaga ano a ano.... nota 7.
O TENENTE SEDUTOR de Ernst Lubistch com Maurice Chevalier, Claudette Colbert e Miriam Hopkins
Mundo de soldadinhos de chumbo. Romance sempre feliz, risos, dinheiro, reis de carochinha, flores e música de cervejaria. Uma bolha de sabão, leve, linda e que estourou. Nota 6.
A LEI DOS CRÁPULAS de Jules Dassin com Gina Lollobrigida, Yves Montand, Marcello Mastroianni, Pierre Brasseur
Numa vila italiana todos são maus. Não apenas maus, muito maus. Roubam, traem, mentem, enganam. Jules Dassin foi um dos grandes. Na América fez no mínimo 3 obras-primas. Eram filmes policiais e de denuncia social. Foi perseguido pelo Macarthismo e sua carreira continuou na Europa. Filmou na França, Inglaterra, Itália e Grécia. Continuou irriquieto, ousado e genial. É dos meus favoritos. Este é seu filme mais fraco. Os personagens são todos tão maus que o filme nos repugna. Gina é linda, mas incapaz de segurar o filme. Montand está cafa e excelente. A vila é maravilhosa, mas o filme é esquisitíssimo. Nota 6.
SOPRO NO CORAÇÃO de Louis Malle com Lea Massari e Daniel Gelin
Um dos mais originais filmes já feitos. Viva Malle ! Penso que se o mundo tivesse sido feito por Malle seria um lugar muito feliz. Todos seus filmes, tão variados, pregam a anti-culpa. Não existe culpa em seus filmes. Aqui acompanhamos um adolescente fã de Charlie Parker. Seus irmãos, sua primeira transa, o padre, o pai médico, uma doença no coração. Esses temas em outras mãos fariam do filme drama. O garoto não se dá com o pai, os irmãos vivem o perturbando, a mãe tem um amante, ele está doente. Mas, com Malle, tudo é brilho, tudo é leveza e todos são felizes ( sem serem jamais tolos ). É um cinema feito de coragem, de cultura e é sempre pop. Louis Malle não era bem aceito pela nouvelle vague porque apesar de seus temas serem modernos, seus filmes são feitos para serem entendidos. Não há nada de hermético, de enigmático, de intelectual. Mas é alta arte. E aqui ele tem a coragem de tocar no tema mais espinhoso que existe : o incesto. Filho e mãe. Não vou dizer o que ocorre, mas digo que nada parece chocante ou violento. Malle enfrenta o desafio de filmar algo muito pesado com leveza, e estranhamente ele consegue. O filme perturba por isso, nada é como esperamos. O final é sublime. Assisti este filme em 1982, no cine Iguatemi. Ele fora censurado em 1972 ( junto a LARANJA MECANICA e O ÚLTIMO TANGO ) e liberado em 1980, na abertura do presidente João Figueiredo. Adorei-o e fiquei estranhamente eufórico com sua alegria, sua energia e por perceber a absolvição de todo pecado que Malle nos dava. Quase trinta anos depois o revejo e percebo que ele permanece novo, ousado, vivo, e perturbador. É um filme para sempre. Louis Malle foi o único diretor francês de sua geração a dar certo em Hollywood. Viveu por lá de 1979 até 1993, fazendo bons filmes e alguns sucessos de bilheteria. Casou-se com a disputada Candice Bergen e terminou sua brilhante carreira na França, com filmes ainda ousados e lindos. Num país que nos deu Clair, Clouzot, Clement, Cocteau, Godard, Chabrol, Resnais, Renoir e Carné, ele é talvez o mais dotado, com absoluto talento para o drama, a comédia e o suspense. Louis Malle foi perfeito e SOPRO NO CORAÇÃO é único, não se parece com nada e é absolutamente feliz. Nota DEZ !!!!!!!!!!!!!

WYLER/GROUCHO MARX/AVANT-GARDE/RAY

INFÂMIA de William Wyler com Audrey Hepburn e Shirley MacLaine
Numa escola feminina, aluna acusa as sócias da tal escola, de terem um caso gay. Está feita a tragédia. Filme levado com bela discrição e grandes atuações. Mais um acerto desse venerável Wyler, o mais premiado diretor do cinema americano. Voce se envolve, torce e fica chocado com seu final absolutamente pessimista. nota 7.
ANDREI RUBLEV de Andrei Tarkovski
Não consigo assistir Tarkovski. Percebo sua originalidade, sua nobreza e seu realismo. Mas me irrito com sua lentidão, me perco em seus devaneios, adormeço com sua frieza. Nota 1.
ROBERTO CARLOS EM RITMO DE AVENTURA de Roberto Farias com Roberto Carlos, Reginaldo Farias, José Lewgoy
Há uma cena em que vamos dentro de um helicóptero em vôo rasante pelo Rio de 1967. É de doer : que bela cidade ela foi ! Quase sem favelas, muito verde e um trânsito ainda civilizado. Quanto ao filme : é um Help tupiniquim. Um Roberto, muito jovem e cheio de alegre ingenuidade, vive aventuras moderninhas em ritmo de nouvelle vague. Suas roupas são fascinantes e Reginaldo está hilário como o diretor de cinema doido. A trilha é uma brasa, mora! Tem desde "Eu sou terrível " até "Negro Gato". Roberto era um tipo de bom menino com roupas bacanas. Funciona, o filme é o retrato de um país que não existe mais : jovem e inocente. nota 6.
APARAJITO de Satijajit Ray
Segunda parte da vida de Apu. Ray, com dinheiro de amigos e de imóveis, criou o cinema indiano realista. As 3 partes da vida de Apu dignificam o cinema. Aqui vemos Apu adolescente, indo para a cidade grande e se tornando bom aluno. Mas o foco é sua relação com a mãe : dolorosa. O filme é menos emocionante que "O mundo de Apu", mas ainda assim é fascinante e hipnótico. Ray foi um grande poeta e suas histórias têm o encanto de fábulas. Nota 8.
UTAMARO E SUAS CINCO MULHERES de Kenji Mizoguchi
Dos três gigantes do cinema japonês, Mizoguchi é o mais nipônico. É fascinado por sexo e morte, e tudo em sua obra exibe cuidado plástico e tradição. Porém ele se perde neste confuso e inconvincente drama sobre erotismo, arte e mentira. O roteiro é mal desenvolvido e a ambição está acima da realisação. O mais fraco Mizoguchi. Nota 4.
A AVENTURA de Michelangelo Antonioni com Monica Vitti e Lea Massari
Excelente filme para quem sofre de insônia. Após 30 minutos é impossível não se adormecer. O filme tem o pior dos defeitos : fala do tédio da burguesia. E nos entedia. Nota Zero.
OS 4 PRIMEIROS FILMES DOS IRMÃOS MARX : THE COCOANUTS, OS GÊNIOS DA PELOTA, OS 4 BATUTAS e OS GALHOFEIROS. Diretores : Victor Hermann, Norman Z. McLeod e Robert Florey. Com Groucho, Harpo, Chico e Zeppo. Mais Lilian Roth e Margaret Dumont.
Uma das alegrias da vida é poder assistir os filmes dos irmãos Marx. Não é cinema, como WC Fields não o é. É mais que isso. Assistimos seus filmes como se neles encontrássemos um segredo : são uma religião. Por isso que com eles não há meio termo, ou se ama, ou nada se entende. Não existe o mais ou menos, não existe a meia fé. E minha fé é grouchoharpochicoana. Graças ao vaudeville. Seus filmes não têm história, não têm evolução. Assistimos para comungar com sua felicidade. Pois o mistério dos irmãos é esse, eles exibem uma profunda felicidade. Amar os irmãos Marx não é sinal de inteligência ou de bom gosto. É sinal de saudável espirito brincalhão. São um topo inatingível de descompromisso com tudo, de criatividade anti- correta, de brilho hedonista. Groucho fala o que pensa e o que ninguém entende, Harpo anda pela vida como um cachorro no cio e Chico é o mal-humor feliz. E nós, crentes na Marxilandia do espírito anarquista, sorrimos gratificados com o fato do cinema nos ter dado tal clarividencia. Para o mundo dos Irmãos, a vida é uma bosta e para viver bem é preciso nada se levar a sério. Os quatro primeiros filmes, da fase da liberal Paramount, são meus favoritos por serem os mais toscos. Na Metro eles ficariam um pouco presos. E palmas para Margaret Dumont, a vítima perfeita de Groucho, e atenção para Lilian Roth, símbolo belíssimo e sapeca das estrelinhas dos anos 30. Nota Um milhão quatrocentos e setenta e oito mil e sete.
A ARCA RUSSA de Alexander Sokurov
Crítica abaixo. Dizer mais o que ? Um diamante, uma porcelana de Sévres, um quarteto de Haydn, um conto de Voltaire. O filme brilha e é uma obra-prima dos anos 90. Nota Dez.
ELMER GANTRY de Richard Brooks com Burt Lancaster e Jean Simmons
O filme ataca um dos calcanhares de Aquiles da América : a religião. Deu o Oscar de ator à Burt e ele brilha como um malandro que se torna pastor. Nos irritamos com sua falsidade, mas ao mesmo tempo, nos apaixonamos pelo seu carisma. Burt lhe dá várias facetas, o que faz de seu desempenho exercício fascinante. Mas a direção de Brooks é crispada, séria demais, veemente em excesso, pesada. O prazer em se ver o filme se esvai na direção dura de Brooks. Nota 5.
HANGMAN'S HOUSE de John Ford
Filme pseudo irlandês, da fase muda de Ford. Tem belo trabalho de fotografia e se assiste com belo interesse. Mas está longe das obras-primas do mestre maior. Nota 6.
LES AMANTS de Louis Malle com Jeanne Moreau e Alain Cuny.
E Malle continua sua obra sobre a culpa. A não-culpa, no caso. Uma chatíssima burguesa entediada tem um amante. Diverte-se com ele como quem compra um novo casaco. Mas o marido, esteta chato, convida o amante e a amiga da esposa a passarem um fim de semana na mansão do casal. No caminho a esposa infiel conhece jovem e arruma um novo amante. Nada de culpa e nada de drama. Malle é um grande diretor : mostra o tédio e jamais nos entedia. O filme flui lindamente e tem uma fotografia em p/b brilhante ( de Henri Decae ). Moreau, atriz que não me agrada, está aqui sensual e muito bem. O filme arrisca em seu final : o apaixonar-se dos dois tem todos os hiper clichês de uma nova paixão. Sentimos enjôo. Mas funciona, vemos toda a tolice do se apaixonar por tédio. As cenas são plasticamente belíssimas, mas o que eles dizem é chocantemente tolo. O filme se faz comédia estratosférica. Malle sabia tudo. Nota 7.
PAL JOEY de George Sidney com Frank Sinatra, Kim Novak e Rita Hayworth
O azar de Kim Novak foi seu contrato com a Columbia. Ela era muito mais do que o studio acreditava. De qualquer modo ela esteve em dois anos em Vertigo e em Pic Nic. E neste Pal Joey, onde ela rouba o filme. Linda e vulnerável. Sinatra é um cantorzinho mulherengo fracassado, que tem sua grande chance ao conquistar viúva rica ( Rita muito abatida ). O filme tem na trilha "My funny Valentine", "The lady is a trammp" e "Bewitch", todas de Rogers e Hart. Precisa mais ? São três das maiores canções já escritas. Mas o filme sofre de um roteiro pouco inspirado, bobo. Melhora quando Kim aparece mais e Sinatra se humaniza. Em tempo : no filme Frank conquista toda mulher que deseja. Sua teoria é : trate a mulher sempre como ela não espera. A bonita como se fosse feia, a feia como bonita; a deusa como vagabunda, a vagabunda como deusa; a séria como palhaça e a palhaça com seriedade. Isso é puro Sinatra ! Nota 6.
A PARTIDA de Yojiro Takita
Fuja deste chatíssimo exemplo de filme vazio e sem porque. Deve agradar ao tipo de público bonzinho. Mas é exemplo do vazio absoluto de idéias e de projetos do atual cinema japonês. Chato pacas!!!!! nota zero.
A FRONTEIRA DA ALVORADA de Philippe Garrel com Louis Garrel e Laura Smet
O diretor, séculos atrás, foi namorado de Nico. Este filme recorda isso. Tem os piores tiques moderninhos dos anos 70 levados aos xoxos anos 2000. O filme é uma imensa crise existencial que só pode interessar a quem a vive e nunca a nós que a assistimos. Exemplo de filme masoquista. nota zero.
AVANT-GARDE
Houve um momento na história do cinema em que ele precisou se definir. Ou se assumia literatura, ou se fazia arte plástica. Venceu a literatura, e o cinema que hoje conhecemos tem história. Tem enredo, personagens e narrativa pessoal. Esta coleção de dvds, mostra a vertente derrotada, a turma que via no cinema algo próximo a fotografia e a pintura, imagens, puras imagens em movimento. Se alí fosse percebido algum sentido literário seria por mero acidente. ( Aliás, uma pintura pode contar uma história. Mas não é o principal. O que define a pintura é sua realidade como imagem, como puro visual. E isso lhe justifica, lhe basta. )
O que vemos nestes videos são curtas de artistas que filmaram imagens em movimento. Alguns são completamente aleatórios, outros possuem enredo, mas todos têm o fascínio da imagem solta, livre, sensual. Se os video-clips tivessem alma seriam assim. ( E a gente nota que todo diretor de clips assistiu e estudou estes filmes ! ). Que filmes são estes ?
Man Ray é o que mais me tocou. São quatro curtas desse irriquieto fotógrafo americano, que viveu a boemia francesa como poucos. A ESTRELA DO MAR é uma das maiores obra-primas que já assisti. São cenas de um prazer imenso, de absurda sensualidade, onde toda imagem é uma nova surpresa. Mas os outros três mantém o mesmo nivel : maravilhosamente surreal. Mas há mais. Hans Richter com cenas de força e de ritmo vertiginoso, Charles Cheeler e suas tomadas de Manhattan baseadas em Whitman, BALLET MECANIQUE de Léger, famosíssimo curta que merece a fama que tem, há ainda a obra-prima de Germaine Dullac LE COQUILLE ET LE CLERGYMAN, filme encantador como sonho e como viagem de ópio, BRUMES D'AUTONNE de Dimitri Kirsanoff, com imagens de melancolia obsedante. E esse burlesco CHATEAU DE DÉ de Man Ray, que é um monumento ao nada. Todos são fantásticos, como continentes perdidos, um mundo cinematográfico abandonado, porém é mundo vivo, moderno, instigante e transgressor. Conhecer estes filmes é ver aquilo que esta arte poderia ter sido, aquilo que em seu inconsciente ela quer ser : livre. Impossível dar nota a tal monumento. Assita e se surpreenda.

ZAZIE/STAR TREK/JULIA ROBERTS/KILLSHOT

SERESTEIRO DE ACAPULCO de Richard Thorpe com Elvis Presley e Ursula Andress
O mais famoso filme de Elvis. Uma chatice. Nunca tinha notado como Elvis tem caras e bocas idênticas as que fariam a glória de Bowie e Ferry. Glamour. Mas o filme é tão chato! nota 1.
O AMERICANO TRANQUILO de Joseph L. Mankiewicz com Michael Redgrave e Audie Murphy. Eis um grande desastre. Mankiewicz, excelente diretor e roteirista, erra totalmente neste filme baseado num soberbo livro de Graham Greene. Passa-se no Vietnã pré-americano, o Vietnã-francês. Trata de ciúmes, americanismo e europeísmo. No filme se perde tudo: não há politica, não há humor negro. Há uma versão de John Boorman, com Pierce Brosnam e Brendan Fraser que é igualmente ruim. O genial Redgrave está perdido aqui. nota 1.
KILLSHOT de John Madden com Mickey Rorke e Diane Lane.
Miss Lane continua absurdamente bonita. Rourke continua escolhendo mal seus filmes. E agora chega: filmes de FBI, petrodólares, ex-agentes...cansou!!!!! nota zero.
STAR TREK de JJ Abrams com uns caras.
Vamos falar a real ? Vamos parar de bobagem ? Uma diversão como esta não pode ser criticada por alguém que fala sobre cinema. Seu objetivo é o mesmo da TV ou do Hopi Hari : o máximo de emoção com o minimo de risco. Deve ser analisado não em termos de roteiro, atuações ou direção. Deve ser julgado como investimento e retorno. Voce gasta uma grana para ter bom acompanhamento para pipocas e Coca, para ter emoção fácil, saudável e limpa. Voce recebe o que pediu. Como num grande parque, num circo ou na Disney. Analisado como cinema, cinema pop, ele é previsível, idêntico a dúzias de filmes anteriores. Apenas um fato : pra que atores ? Desenhos animados fariam tudo o que eles fazem e melhor. nota... qualquer uma. Não faz a menor diferença. O que conta é que a sala estava cheia.
O EXTERMINADOR DO FUTURO de McG com Bale, Sam e Moon
Tudo que foi dito acima vale para este. Com um agravante : o diretor tenta fazer cinema, não consegue, irrita. Bale se tornou uma caricatura. Diverte pouco. Dou nota : zero.
DUPLICIDADE de Tony Gilroy com Julia Roberts e Clive Owen
Adorei o inicio. Promete muito. Parece que será aquilo que o filme ridiculo de Brad e Jolie deveria ter sido. Tem classe, agilidade e algum bom humor. O diálogo parece ser acima do nível rasteiro de hoje... mas então... o diretor se deslumbra e se perde. Começa a destruir tudo o que "parecia" e vemos o que o filme é : veículo para a volta de Julia, única real estrela de sua geração. Ela não compromete, já Owen começa a saturar : ele tem duas únicas expressões, usa-as com constância de relógio. Uma bela fotografia. nota 4.
BANDEIRANTES DO NORTE de King Vidor com Spencer Tracy
De Bogart à Brando, de Sean Penn à De Niro, todos dizem que Tracy é o maior. Eu não gosto de Tracy. Este filme, do muito importante Vidor, é aborrecido, racista, ultrapassado. nota 1.
ZAZIE NO METRÔ de Louis Malle com Catherine Demongeot e Philippe Noiret
Após tantos filmes ruins, algum alivio vem da França. Deste mítico filme de Louis. Faça-se justiça à Malle, ele foi o melhor cineasta da época da nouvelle vague. Tinha o anarquismo de Goddard com o apuro de Resnais. E uma poesia que remete a Clair e Cocteau. Que filme é este ? Impossível dizer!!!! É uma versão de Alice de Lewis Carrol passada na Paris de 1960? É uma homenagem à Keaton, Chaplin e aos irmãos Marx? É o pai dos melhores video-clips? E dos filmes dos Beatles? É um filme sem sentido nenhum ? É tudo isso junto! É o mundo visto pelos olhos de uma criança feliz. É a única tentativa na história do cinema de se fazer aquilo que seria um filme dirigido por uma criança. Por Zazie. Malle consegue. Viva!!!! nota 8.
VIRTUDE FÁCIL de Stephen Elliot com Jessica Biel e Colin Firth
Eu adorei este filme bobo. Ainda não passou em nossas telas e duvido muito que passe. É uma adaptação de um texto de Noel Coward pelo diretor de Priscilla, rainha do deserto. Jessica não compromete ( não gosto dela, acho-a esquisita, bocuda ) e Colin ( de quem sempre gosto ) está excelente. Trata de uma tradicional familia inglesa, que recebe o retorno de seu filho, casado com uma "moderna" americana. O conflito, em tom de ironia, se dá. A mãe não aceita a moça e ela não aceita a vida na mansão campestre. Coward obteve imenso sucesso com esta peça. Ela era tudo o que ingleses e americanos queriam assistir : cinica, leve e cheia de inteligencia. E hoje? Existe público para um filme onde tudo de melhor que acontece está vinculado àquilo que é dito e não àquilo que é feito ? Onde tudo é refinado, sutil, sub-entendido? Gostaria muito que sim, e é sintomático uma entrevista de Jessica em que ela diz ter sido "um prazer dizer aquele texto tão inteligente. Pena hoje não falarmos assim!" O público entendirá ou se entediará ? Músicas de Coward abrilhantam o filme ( e algumas de Porter também ) e todo o resto do elenco está delicioso ( com excessão do filho, um fraco e bobinho menino ). No fim, o filme vai se acinzentando e se torna um bom drama de final risonho ( mas não feliz ). Adorei. É um prazer, uma raridade e com certeza será um lindo fracasso. nota 8.

filmes que andei vendo e revendo

ASCENSOR PARA O CADAFALSO...louis malle em sua estréia nos dá um policial trágico, surpreendente e perfeito.....................................9
A VIÚVA ALEGRE...escapismo. sonho. risos. fantasia. classe...................9
O HOMEM COM O BRAÇO DE OURO...sinatra foi um ótimo ator. aqui ele é um junkie-baterista. o filme é duro, cruel e muito jazz. ( bernstein, shorty rogers e shell na trilha )....8
O OURO DE NÁPOLES...um de sica menor........6
COMBOIO...sam peckimpah, em sua fase final drunk. filme setentista on the road. é um tipo de filme de burt reynolds sem humor.....5
GRANDES ESPERANÇAS...eu sabia que ethan e gwyneth são ruins. mas aqui eles se superam. chega a dar pena de ethan . ...1
A CASA DOS ESPÍRITOS...um super elenco num super lixo. melaço burro, chato...zero!
THE COOLER...muito bom. 7
BONNES FEMMES...um filme de chabrol de 1959. perdido em firulas modernetes....3
MURDER BY DEATH...peter falk, david niven, peter sellers, maggie smith, truman capote; podia ter sido melhor. falk imitando bogart é inesquecível.....6
WHATS NEW PUSSYCAT...peter o'toole, peter sellers e woody allen ( estreando no cinema ). e ainda a adorável romy schneider. se voce quiser saber porque os sixties foram tão alegres....4
UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO...bill murray interpretando hunter thompson.....8
GUERREIRO BÚFALO...filme ruim, burro, de más intenções, picareta. um anti-mash.....ZERO.

SEM CULPA E SEM MORAL

Pretty Baby, filme de Louis Malle feito em 1977. Tem Susan Sarandon e Brooke Shields.
Não é um grande filme. É apenas um filme bonito e muito agradável. Mas acima de tudo, ele seria impossível nos dias de hoje ( principalmente feito pela Sony ).
Em New Orleans, 1920, uma menina de 12 anos ( com corpo de quem tem 12 ), cresce num bordel. Ela é filha de Sarandon, prostituta do lugar.
A menina brinca com os clientes e se comporta como uma criança normal e feliz. Brinca de dançar, cantar, falar piadas e observa, deslumbrada, o trabalho da mãe.
Um fotógrafo se encanta pela mãe e a criança sente ciúmes. Tenta seduzir o fotógrafo do modo como uma criança faria. Infantilmente, inclusive brincando de ser prostituta.
Certa noite sua virgindade é leiloada. E ela rí e se diverte em sua primeira noite.
A menina seduz o fotógrafo. Vão morar juntos. Ela brinca de ser sua vagabunda.
Lógico que a relação fracassa. A mãe a leva embora quando se casa com um homem rico.
O fotógrafo sofre. Mas nada muito dramático.
O filme é isso : um anti-Lolita. Não há arrependimento. Não há culpa nenhuma. A menina não é vítima ou vilã, ela se diverte e sente desejo ( infantilmente lidado ). O filme é leve, não julga, não tem qualquer moral a condenar ou a defender, ele mostra e exibe.
Malle é um dos mais naturais dos diretores. Começou em 59, em plena Nouvelle Vague, mas seus filmes sempre foram caretas no modo de filmar e ousados nos temas. Sopro NO Coração, de 1971, mostrava o incesto entre mãe e filho com total naturalidade e bom humor.
Malle foi para os USA em 75, casou-se com Candice Bergen, e fez uma série de filmes importantes. Voltou em 87 para a França e morreu nos anos 90.
Vale a pena conhecer Pretty Baby. Nem que seja para entender que tudo pode ter mais de um lado, mais de uma abordagem e que a vida é bem maior do que podemos perceber.