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X-MEN CS LEWIS ANTHONY HOPKINS MILES DAVIS DEPP JULIE CHRISTIE ROEG

   DON'T LOOK NOW ( INVERNO DE SANGUE EM VENEZA ) de Nicolas Roeg com Donald Sutherland e Julie Christie.
Terceira vez que vejo esse filme e quanto mais o revejo mais eu gosto. A revista Time Out o elegeu em 2012 o melhor filme inglês da história. Nos extras, fartos, temos Danny Boyle nos explicando porque ele é tão bom e confessando quanta coisa ele roubou desse filme. Os primeiros 10 minutos são uma obra-prima: numa montagem primorosa, vemos um pai adivinhar a morte de sua filha. Tudo está interligado nessa sequência que condensa tudo o que virá a seguir. Água, o elemento da alma compõe todo o filme. O casal, já dentro do luto, vai à Veneza. O que vemos lá é a luta entre a razão e a intuição. A esposa se entrega à intuição, o marido resiste e morre por isso. Julie Christie está sublime. Nunca ninguém sorriu na história do cinema como ela sorria. Donald dá uma interpretação que beira a possessão. Seu medo se torna nosso medo. O filme dá sempre a sensação de que algo muito grave está já acontecendo. Isso porque Roeg une tudo, cada imagem e cada objeto é uma pista do que virá a seguir e ao mesmo tempo; a memória do que aconteceu. Poucos filmes, segundo Boyle, são ´tão "cinema", no sentido de que poucos captam tão bem o que seja o tempo. Recebido como apenas mais um filme em sua época, ele tem hoje o status de viga mestra de um futuro. Um muito grande filme. E, acima de tudo, um prazer.
  ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO de James Bobin com Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Sacha Baron Cohen, Anne Hathaway.
Menos ruim que o Alice de Tim Burton ( Tim é apenas o produtor aqui ), este filme tem da obra de Lewis Carrol apenas os personagens. O livro maravilhoso de Carrol em nada se parece com isto. O roteiro trata de uma Alice feminista que tenta voltar no tempo para ajudar o Chapeleiro a recuperar sua alegria. Tem ação e belas imagens. É bobo.
  MILES AHEAD, A VIDA DE MILES DAVIS de Don Cheadle com Ewan McGregor.
Se ainda não viu, veja! Talvez seja a melhor bio de jazz já feita. Isso porque Don Cheadle nunca sente pena de Miles e nem tenta mostrar a vida do gênio. O que o filme conta é um período de cerca de duas semanas, no fim dos anos 70, quando Miles, recluso desde 1974, volta aos palcos e aos discos. ( Nos anos 70 ficar mais de dois anos sem gravar ou tocar era muito estranho ). O filme, brilhante, tem energia, ação, beleza e clima de jazz-funk, exatamente o som que Miles fazia na época. O cara era um ego imenso, era frio, era malandro e era violento. O filme nada esconde. Não faz dele um "gênio sofrido" e nem um "cafetão malandro". Ele é Miles, único. Don dá um show. Fisicamente ele nada tem a ver com Davis, mas a gente aceita. O cara merece. Ewan está muito legal também. Adorei o filme. E no fim tem um show com Herbie Hancock que é de matar.
  TERRA DAS SOMBRAS de Richard Attenborough com Anthony Hopkins e Debra Winger.
Se voce for fã de C.S. Lewis talvez goste. Se não for...Lançado em 1993, lembro que críticos brasileiros diziam que o filme seria ignorado aqui. Isso porque em 93 ninguém no país tupi lia Lewis. Ele era bem desconhecido. Hoje, em 2016, felizmente, as livrarias têm livros de Lewis em estoque e seu nome é conhecido até nesta esquina do mapa mundi. O filme mostra ele em Oxford, por volta de 1952, tempo em que ele conhece sua esposa, a americana Joy. Lewis foi o tipo de professor britânico que hoje não mais existe, ou seja, seu mundo era feito de chá, conversas, aulas, cachimbo e nada, nada de sexo. Ele se casa aos 50 e tantos anos, virgem, e logo sua esposa começa a decair, com um câncer muito doloroso. Attenborough filma como sempre: solene e frio. É seu estilo. Lewis não era uma pessoa fria, a coisa destoa. Hopkins está soberbo. Em um olhar ele mostra toda a complexidade do autor. Winger sempre foi uma atriz maravilhosa. Pena o roteiro ser tão...comum. Não é um filme ruim, apenas penso que o tema merecia muito, muito mais. Belas imagens de Oxford compensam todo erro.
  LOVE AFFAIR de Glenn Gordon Caron com Warren Beatty, Annette Bening e Kate Hepburn.
Warren é um atleta aposentado, famoso e mulherengo, Bening uma mulher casada, infeliz. Se conhecem num voo, se apaixonam... Esse filme é refilmagem de um excelente filme de 1957, com Cary Grant e Deborah Kerr. Este é bonito. Até que não é ruim, a gente vê com algum prazer. Annette tá bonita como nunca e Warren é sempre ok. E tem o último papel de Kate, a maior de todas, que eletriza a tela. Vemos de forma explícita, Warren e Annette intimidados pela grande dama. Vale ver. Com alguém ao lado.
  X-MEN APOCALIPSE de Bryan Singer com James MacAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence.
Se Mad Max foi o melhor de 2015, este é o melhor filme deste ano! Vamos deixar de ser idiotas! O cinema de ação é o melhor cinema que se faz agora. Só saudosistas radicais ou esnobes preconceituosos não reconhecerão nesta obra poderosa, a força do melhor cinema que pode ser feito. Ele tem ação que emociona e mensagens importantes  e sérias todo o tempo. A gente pode falar de Ford, Kurosawa, Huston, Hawks e até de Lang vendo este filme. Uma de suas sequências, aquela onde um dos heróis interrompe o tempo e salva vidas, é de uma genialidade, graça e leveza dignas do melhor Keaton. E não só isso. A complexidade das cenas de ação poderia fazer disto um tédio sem fim, mas Singer já provou a tempos ser um maestro, conseguir fazer de explosões, socos e correrias uma coisa harmoniosa, direcionada. É um grande diretor! Assisti este dvd a dois dias e já sinto vontade de rever. Esqueça seus dramas sérios sobre vidinhas medíocres, aqui voce tem o espetáculo, a grandiosidade, a coisa verdadeira, o cinema. E com muito, muito cérebro.

CARMEN MIRANDA SPENCER TRACY HILLARY SWANK CLIVE OWEN LIZ TAYLOR

   ENTRE A LOURA E A MORENA de Busby Berkeley com Alice Faye e Carmen Miranda
Um roteiro bobo num musical hiper colorido da Fox. Busby Berkeley era completamente louco. Seus números musicais são imagens de LSD antes da invenção do psicodelismo. Carmen Miranda era genial. O filme abre com Aquarela do Brasil. Emociona. Tem ainda a orquestra de Benny Goodman. E eu adoro Benny! E Edward Everett Horton. Mas o roteiro podia ser um pouquinho melhor... Nota 4
   DÍVIDA DE HONRA de Tommy Lee Jones com Hillary Swank, Tommy Lee Jones e Meryl Streep
Aff...no tempo do oeste, em Nebraska, uma mulher parte sozinha para resgatar mulheres que enlouqueceram em outro estado. O filme é um pé no saco. Hillary faz seu papel de machona, Tommy é um velho esquisito e todo o filme nada tem de atraente ou de novo. Tédio, puro tédio.
   DEPOIS DA VIDA de Hirokazu Kore-Eda
Os países que perderam a guerra tiveram de se reinventar. Mantiveram a tradição, mas ao mesmo tempo zeraram sua história. Li isso no livro sobre o Kraftwerk. Este filme, extremamente chato, extremamente gratificante, é aquilo que o Japão é: uma cultura em construção eterna, ou: o mesmo de sempre se vestindo de novo. Passei todo o filme em quase transe, minha memória trazia de volta coisas que eu achava ter esquecido. É um filme que tem esse poder, ele nos faz mergulhar dentro de nós mesmos. Japonês. Os atores são sublimes.
   POR AQUI E POR ALI de Ken Kwapis com Robert Redford e Nick Nolte
Um filme bem simples. Um velho escritor de viagens resolve fazer uma viagem pelos EUA a pé. Sua esposa, Emma Thompson, só o deixa ir se for com companhia. Ele convida um monte de amigos e nenhum aceita. Mas do passado surge um amigo esquisitão, um bêbado meio sujo. Os dois partem então. Well...a geração baby boomer ficou velha e os filmes geriátricos abundam. Quando minha geração chegar aos 70 esse tipo de filme será maioria. Este é ok. Não é comédia, é apenas um filme leve, tranquilo e alto astral. Redford está um caco. Mas envelhece dignamente. Nota 5.
   A CONFIRMAÇÃO de Bob Nelson com Clive Owen e Maria Bello.
Na verdade é Ladrão de Bicicletas em versão 2016. O que vemos é um pai fracassado perder suas ferramentas de carpinteiro. Com o filho ele parte numa busca por quem as roubou. Emoção zero. O filme é bem bobo. Se a América é hoje desse jeito, estamos ferrados.
   ESPOSA SÓ NO NOME de John Cromwell com Cary Grant, Carole Lombard e Kay Francis.
Melodrama pavoroso! Cary é um homem casado que conhece Carole. Se apaixonam. A esposa de Cary, uma megera, faz de tudo para os separar. Uma pena ver dois atores tão geniais num roteiro tão ruim. O filme é velho, mofado, quase inacreditável.
   A GAROTA DOS OLHOS DE OURO de Jean Gabriel Albicocco com Marie Laforet, Françoise Dorleac e Paul Guers
Em 1961 este filme causou sensação. A fotografia era ousada, esquisita, bela. Hoje ela ainda impressiona...por dez minutos. O filme é insuportável. Uma mixórdia sobre um playboy que se apaixona por uma mulher misteriosa. Tudo contado de um modo truncado, torto, abrupto, bem à moda de então: nouvelle vague. Duvido que alguém consiga o ver até o fim.
   NO CAMINHO DOS ELEFANTES de William Dieterle com Elizabeth Taylor e Peter Finch
Uma inglesa jovem vai morar com seu marido rico no Ceilão. Lá ele se revela um doido. machista e beberrão. E há ainda os elefantes que ameaçam destruir a casa... Este filme dá pra passar o tempo. O cenário é bonito, Liz está linda e a direção faz a coisa fluir.
   A SELVA NUA de Byron Haskin com Eleanor Parker e Charlton Heston
Agora é na Amazônia. Uma moça se casa por procuração e vai à selva encontrar o marido que nunca viu. Ele a trata muito mal e aos poucos os dois se aproximam. Enquanto isso formigas ameaçam a fazenda...Quase a mesma história. Este é pior. Algumas falas são de doer! Eleanor Parker exala desejo por todos os poros...isso é fascinante.
   AMOR ELETRÔNICO de Walter Lang com Kate Hepburn e Spencer Tracy
Numa emissora de TV se instala um computador. As funcionárias não aceitam isso, têm medo de perder o lugar...É 1956, o computador ocupa toda a sala e faz ruídos " de computador". Kate e Spencer são tão bons que a coisa funciona! É um gostoso passatempo. E uma doce curiosidade. O computador é da IBM.

MAX OPHULS/ JASON REITMAN/ GEORGE CUKOR/ JAMES BROWN/ LUC BESSON/ MYRNA LOY/ JEAN RENOIR

   HOMENS, MULHERES E FILHOS de Jason Reitman
É um daqueles dramas que eu chamo de "drama do abat-jour pastel". Tudo filmado no escurinho, em tons pastéis, com as pessoas falando baixinho, com suas caras sem expressão. Tenho uma colega que é mormon. Incrível como a América é marcada por essas religiões da limpeza, do comedimento, da ordem. Tudo se parece com ela, as roupas, as caras, o modo de viver e de reagir. O filme tem cenas de sexo, claro que vestidas, o filme fala de um mundo interligado, claro que superficialmente. E ainda termina com cenas bastante apelativas, digna do pior de Party of Five. Aliás, eu tenho uma teoria de que Party of Five, com seus teens falando baixinho e seus climas pastéis ( e aqui as pessoas chegam a ler no escuro ), é a realização cultural americana mais influente dos últimos 30 anos. Mais que Sopranos, Pulp Fiction ou X Men. A trilha sonora é sonâmbula. Por outro lado, o filme não me cansou, não me entediou e me fez sentir pena daquilo que fazemos com os pobres adolescentes...pobrezinhos. Só que o buraco é bem mais embaixo. Nota 4.
   JAMES BROWN de Tate Taylor
Das biografias que não param de produzir, esta é das menos óbvias. Isso porque se evita a odisséia das drogas e álcool, que estragou a bio de tanta gente. O filme tem uma excelente recriação do Alabama negro da década de 30 e sabe usar as músicas sem exagero. Uma coisa ótima:: as cenas musicais sabem passar a energia do som de James Brown, o cara que mais mudou aquilo que se entende por pop music. Brown trouxe o ritmo para o centro do som e desse modo criou o som de nosso tempo. O filme não é triste, é bem editado e diverte. Legal. Nota 6.
   UM AMOR DE VIZINHA de Rob Reiner com Michael Douglas, Diane Keaton
Deus meu que filme vazio! O planeta está envelhecendo e é isto que oferecem a esse público? A batida história do cara viúvo, ranzinza, que conhece uma maluquinha divorciada e após muitas brigas ficam juntos. God! Isso já era velho em 1970! Tudo bem, nada impede mais um plot batido, desde que bem feito, fresh, vitalizado. Jack Nicholson e a mesma Diane fizeram isso muito bem em 2000. Aqui não! Nota 1.
   AS DUAS FACES DE JANEIRO de Houssein Amini com Viggo Mortensen e Kirsten Dunst.
Em 1960 René Clement fez o filme mais elegante da história do mundo. Com roteiro de Patricia Highsmith, O Sol Por Testemunha, um suspense digno de Hitch, teve a sorte de capturar a Europa em seu momento mais classudo. Era aquele classudo esportivo, leve, fresco, que foi destruído pela onda hippie a partir de 1966. Este filme, também baseado em Highsmith, tenta esse clima classudo todo o tempo. Se passa em 1962, a beira do Mediterrâneo, e os atores se vestem naquele estilo despojado com finésse da época. Mas assim como o suspense vira brutalidade, a elegância vira afetação. Fake ao extremo, mesmo o ótimo Viggo e uma Dunst linda de doer não salvam a gororoba. Fuja! Nota 1.
   3 DIAS PARA MATAR de Luc Besson com Kevin Costner, Amber Head e Connie Nielsen
Quer saber? Bom pacas! Muito bem dirigido em suas cenas de ação, que são poucas, o filme tem trama, tem suspense, surpresas e um Costner na ponta dos cascos. Vale muito a pena! É melhor que um monte de besteiras tratadas como arte só por sua lentidão e pretensão. Nota 7.
  NÚPCIAS DE ESCÂNDALO de George Cukor com Katharine Hepburn, Cary Grant, James Stewart.
A peça de Philip Barry deu dois filmes clássicos, este, o melhor, de 1940, e Alta Sociedade, de 1956. Kate fez a peça em NY e a comprou. O filme salvou sua carreira. Ela faz a mimada socialite prestes a se casar pela segunda vez. Cary, no auge do relax, é seu ex-marido e James Stewart ganhou um Oscar fazendo um repórter que vai cobrir a festa. Sinal dos tempos, um repórter num casamento rico é considerada coisa de extremo mal gosto! O filme é um souflé perfeitamente realizado: leve, gostoso, chic e inesquecível. Os diálogos voam como tiros de açucar e os atores parecem brilhar com papéis que pedem esse brilho. É um filme obrigatório para quem ama a palavra no cinema. A edição do dvd traz um doc sobre Kate que vale muito ser apreciado. Ela foi única! Nota DEZ.
  TOO HOT TO HANDLE de Jack Conway com Clark Gable, Myrna Loy e Walter Pigeon
Hummm....este filme choca um pouco por seu machismo, racismo, e sua defesa do mau caráter "legal". Se voce conseguir relativizar tudo isso terá um agitado filme de sucesso típico do mais pop dos anos 30. Clark é um fotógrafo de jornal que vive usando mentiras para vender suas fotos. Pigeon é seu rival. Myrna Loy é uma milionária que vai a Guiana para procurar o irmão perdido na selva. Clark era na época o modelo do macho sexy. Gary Cooper era mais bonzinho, Cary Grant mais chic, Charles Boyer o romantico, e Clark o homenzão. Dos 4 é hoje o mais ultrapassado. Mas o filme diverte, diverte como um tipo de cartoon absurdo, um pastelão onde tanta coisa acontece que a gente fica até tonto de ver. Nota 6.
   OS SETE SUSPEITOS de Johnathan Lynn com Tim Curry, Madeline Kahn, Christopher Lloyd
Um bando de tipos estranhos são convidados a uma casa. Lá, um por um começam a ser mortos. Vi o filme por causa de Tim Curry, ator que é sempre um show. Ele quase consegue salvar o filme, mas o roteiro, de John Landis, é um desastre! Mesmo o clima soturno é mal realizado. Nota 3.
   BOUDU SALVO DAS ÁGUAS de Jean Renoir com Michel Simon
Ah o sacrifício que a gente fazia pelo cinema....Eu tinha visto este filme numa cópia horrível nos anos 80, na TV. Era um borrão truncado. Aqui está a cópia nova! O filme brilha! É um dos clássicos de Renoir, e como todo filme de Renoir, ele nos desconcerta! Boudu é um vagabundo que cai no Senna. Recolhido por um senhor burguês, ele se mostra um homem irritante. Boudu seria um tipo de homem "foda-se", o cara que não tá nem aí, que não liga para educação ou bons modos. O filme fica assim duro de ver, porque Boudu nos irrita. Ele  mal agradecido, egoísta, sujo, mentiroso, um chato. Mas não sei porque, quando ele termina, e só quando termina, sentimos ter gostado do filme. Estranhamente, parece que pressentimos que havia algo ali. Bom, as cenas de rua são lindas! Renoir mostra a França de 1933, coisa rara então, e essas tomadas nos encantam. É um filme que preciso rever.
   LA RONDE de Max Ophuls com Simone Signoret, Gerard Philipe, Daniel Gelin, Danielle Darrieux, Simone Simon, Fernand Gravey e Jean-Louis Barrault
Lindo, alegre, mágico, encantador. Ophuls dá uma aula de cinema. Como diz PT Anderson no post abaixo, os personagens dão aos atores a possibilidade de atuar, Anderson mostra uma tomada, sem cortes, onde a câmera roda pelo set e deixa a atriz, Darrieux, atuar. Todd Haynes em outro post abaixo fala da beleza dos filmes de Ophuls. Este filme é uma dádiva, um presente, um prazer. Nota DEZ!

TIM CURRY/ WES ANDERSON/ SLY/ RUSS MEYER/ JOHN CLEESE/ DAVID LEAN

   QUANDO O CORAÇÃO FLORESCE ( SUMMERTIME ) de David Lean com Katharine Hepburn, Rossano Brazzi e Isa Miranda
O filme é lindo e representa a virada na carreira de Lean. Ele vinha de um período perdido após o grande inicio no cinema inglês. A partir deste filme ele tomaria impulso para seus grandes épicos. Claro que este filme, íntimo, não é um épico, mas traz, já, o olhar de Lean sobre o estrangeiro, no caso Veneza. Kate é uma solteirona reprimida que viaja sózinha à Veneza. Lá conhece italiano bonitão e tem um caso com ele. É só isso e voce pode pensar que o filme é meloso e vazio. Não é. David Lean era um gigante e nos dá um passeio pela cidade que encanta, hipnotiza, seduz. Ver Kate andando pela cidade e tentando se feliz é uma experiência gratificante. Quando o flerte começa o filme cai um pouco, mas evita o óbvio e se reergue. Kate faz a solteirona com sua habitual força. A fotografia, de Jack Hildyard é magnífica. Nota 8.
   O GRANDE HOTEL BUDAPESTE de Wes Anderson com Ralph Fiennes
Caro Wes, mantenha sua crônica sobre uma época e esqueça o thriller. Este filme, lindo, nasceu para ser uma frívola comédia sobre uma época frívola. Leve, tolo, bonito e inutil. Vá fundo nisso. O que? Voce quer mais que isso? Mas assim voce perderá a obra! Ela não será nem carne e nem peixe! Afff....que pena! Voce quase fez uma obra-prima! Mas te faltou coragem para ser mais tolo e menos esperto. Uma pena! De qualquer modo, é um filme que irei rever em breve. Abraço. Nota 8.
   AMANTE A DOMICÍLIO de John Turturro com John Turturro, Woody Allen, Sharon Stone e Sofia Vergara
Um dos piores filmes do ano. Não é uma comédia! É um melancólico filme sobre a solidão. Uma bobagem com personagens irreais e antipáticos, cenas lamentáveis e um Woody Allen de dar dó. Detestável. ZERO!
  O HOMEM QUE PERDEU A HORA  de Christopher Morahan com John Cleese
Cleese é um diretor de escola maníaco por pontualidade que ao ir à homenagem a sua escola perde a hora e pira. O filme começa mal, vai melhorando e acaba bem bacana. É sempre um prazer assistir Cleese fazendo seu tipo de inglês reprimido e vaidoso. Falta um pouco mais de loucura ao roteiro e a direção exala mediocridade, mas dá pra ver numa tarde de frio. Nota 5.
  THE ROCKY HORROR PICTURE SHOW de Jim Sharman com Tim Curry, Susan Sarandon, Richard O`Brien e Little Nell
O filme é amador, exagerado, tolo, grotesco e mal intencionado. E daí? Quem não o assistiu não viveu! É delicioso, cafajeste, safado, gay, rocknroll, glitter, sexy, roxy, perverso, punk, funk, burrinho e smart. Oh Oscar Wilde!!!! Oh David Bowie!!! Eu não sou gay mas amo este filme!!!! AMO AMO AMO!!!! Quer ser feliz? Conheça Tim Curry e sua voz classuda chic fazendo este infame Frankenfurther, um misto de Bolan, Iggy e a bicha doida da Augusta. Pasmem! Nota DEZ!!!!!
   DE VOLTA AO VALE DAS BONECAS de Russ Meyer
Camp. Sabe o que é isso? É lixo feito de propósito. Este fracasso foi dirigido pelo inventor do filme de nudez dos anos 50, Russ Meyer. Em 1969 ele conseguiu dinheiro da Fox para fazer um filme grande. Este. E vejam só, o roteiro é do grande crítico Roger Ebbert. O filme, uma gozação com o mundo de 69, fala de 3 moças que formam uma banda de rock e se mandam para L.A. rumo ao sucesso. Se envolvem com produtor ( o melhor personagem, Z-Man ) e ....Tem transexualismo, hermafroditismo, drogas, psicodelia, mas tudo tratado com ""pureza", paz e amor. O filme é mal dirigido, tem os piores atores do mundo, cenas hiper editadas. Parece um trailer de duas horas. A gente espera que ele comece e nunca começa. Há quem o ache genial. Eu acho tão ruim que fica quase bom. O final é ótimo! Sem Nota.
   ROTA DE FUGA de Mikael Hastrom com Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenneger
Que roteiro bobo!!!! Sly é um cara que faz testes para ver o quanto uma prisão é a prova de fuga. Mas cai numa enrascada quando preso numa prisão intransponível. Ufa! Mais bobo impossível. Chato pacas! E quem diria? Arnie quase salva o filme! O cara tem humor! Em 1989 quando caiu o muro de Berlin muita gente disse que o cinema perdia seu vilão, a URSS, e que teriam de criar bandidos cada vez mais fantasiosos. Este filme atinge o pico do ridículo. ZERO>
   JUNTOS E MISTURADOS de Frank Coraci com Adam Sandler e Drew Barrymore
Nada de risos. Ele é um viúvo com 3 filhas. Ela uma divorciada com dois meninos. Sem querer vão juntos para um resort na África do Sul. E fall in love. Não é ruim. É desinteressante. Odeio esse Sandler chorão, bom moço. E Drew faz Drew, uma atrapalhada boazinha. O filme escorre mel, infla bondade, exala pinky. Aff, enjoa! Qual é? Nota 2.
  

ANNA KARENINA/ MARNIE/ EUGENE O'NEILL/ BLIER/ KIM KI DUK

   O RISCO DE UMA DECISÃO de Richard Brooks com Gene Hackman, James Coburn e Candice Bergen
No início do século XX, uma corrida entre cavaleiros. O filme tem uma visão sensível, os cavalos são as vítimas. Hackman, excelente, é um cowboy humanizado. Ele ama os bichos. Coburn faz seu tipo de sempre, e isso é uma benção: um putanheiro, cachaceiro, malandro. O filme, do viril Brooks, é delicioso. A ação tem porque e os diálogos são ferinos. Brooks começou como pupilo de John Huston. Seu estilo é hustoniano: direto e sem firulas. Nota 7.
   MARNIE de Alfred Hitchcock com Tippi Hedren, Sean Connery e Diane Baker
O filme mais doentio de Hitch. Fala de uma cleptomaníaca. Connery é o milionário assaltado por ela que tenta a ajudar. É um filme desagradável. Feio. Hitch vai fundo no aspecto neurótico da personagem. Ela suja as imagens, borra a música, desfaz qualquer chance de beleza. O filme resulta como um tipo de pesadelo febril. Longe de seus melhores filmes, mesmo assim é obra invulgar. Há quem o adore. Não eu. Nota 6.
   PIETÁ de Kim Ki Duk
Um filme diferente dos habituais de Duk. Aqui o visual é pobre, feio. Tudo se passa num tipo de labirinto urbano, onde um homem trabalha como torturador. Ele quebra ossos de pessoas que devem dinheiro. Sem sentimentos, sua primeira cena é uma masturbação. Surge em sua vida uma mulher que confessa ser sua mãe. Ele bate nela, a humilha... O tema é religioso, Duk é budista. Todos cumprem carmas aqui. Mas o filme é aborrecido, sem emoção, frio. Nota 2.
   A FILHA DA MINHA MULHER de Bertrand Blier com Patrick Dewaere
Blier sempre ousa. Às vezes acerta, e quando acerta faz um filme soberbo como Corações Loucos. Quando erra faz um filme irritante, como este. Dewaere é casado. A esposa morre e lhe deixa a filha de outro casamento. Ele rouba-a do pai verdadeiro e ela o seduz. Cenas de cama, nudez, tudo liberado. Sem culpas. Hoje seria pedofilia, em 1981 era apenas "bem louco". O filme é árido. Não há emoção, tudo é feito sem sentimentos e sem sentidos. No final ele fica sem sua enteada, mas já de olho numa menina de 9 anos, filha de sua nova esposa-adulta. Dewaere era ídolo do cinema francês. Aqui já mostra as marcas do vicio que o mataria em seguida. Parece um zumbi doente. Como disse, Blier é sublime ou nojento. Nota 3.
   LONGA JORNADA NOITE ADENTRO de Sidney Lumet com Katharine Hepburn, Ralph Richardson, Jason Robards e Dean Stockwell
Eugene O'Neill foi, entre 1930-1960, o rei da intelectualidade americana. Um tipo de ídolo-gurú de quem era sério. Segundo americano a vencer o Nobel, suas peças são poços de angústia, desespero, vazio. Esta famosa peça foi sua herança. Escrita, ela só pode ser encenada após a morte do autor. Isso porque ela é muito autobiográfica. Uma familia está reunida numa casa de praia. O pai é um vaidoso e muito sovina ex-ator. A mãe é viciada em morfina e mergulha na loucura. O filho mais velho é um alcoólatra raivoso. E o mais novo é tuberculoso e volta à casa após ser marinheiro ( esse é Eugene O'Neill em auto-retrato ). A peça exibe as brigas, culpas e o aniquilamento do grupo familiar. É um tipo de texto que marcou a arte americana. Até hoje americanos sérios acham que arte deve ser assim, uma longa jornada noite adentro. O filme é pesado, estático, teatral e interminável. Lumet nada faz para disfarçar sua origem teatral. O que vemos são os atores e seu texto. Kate não está bem. Ela exagera. Ralph dá um show. O pai é tolo, frio, auto-centrado, um pavão egoísta. Jason Robards nos aterra. Tem ira, tem medo, tem inteligência destrutiva. E bebe. Dean está ok. Frágil, titubeante. Tennessee Willians roubaria de Eugene a centralidade do teatro americano. A ênfase deixaria de ser masculina-problemática e passaria a ser feminina-sonhadora. O filme não é bom. Mas vale a pena. 
   ANNA KARENINA de Joe Wright com Keira Knightley, Jude Law, Mathew MacFayden
Um grande filme! Dias depois ainda está em nossa alma. Bonito, forte, bem dirigido e muito bem interpretado, é o melhor filme de 2012. Algumas de suas cenas são obras-primas em encenação. Joe sabe tudo de montagem, de fotografia, orquestra uma polifonia de rostos e de vozes que fazem sentido todo o tempo. O filme, arriscado, nunca se perde. Navega pela obra de Tolstoi sem nunca ficar a deriva. Não é perfeito, não poderia ser, Tolstoi não se presta a simplificações. Mas em termos de cinema é um triunfo. Joe Wright ainda não errou. Nota 9.
   UM PARTO DE VIAGEM de Todd Philips com Robert Downey Jr., Zach Galifianakis
Não tem graça. E pior, para quem conhece um pouco de cinema, dá para notar cada um dos plágios. Todd usa dúzias de ideias de outros filmes. Rouba, não cita. Mas, pasmem, o filme não é ruim! Graças a dois atores com carisma, voce consegue assistir toda aquela bobagem e melhor, é um filme curto. É sobre dois caras que são obrigados a cruzar 3 estados americanos juntos. Sim, Steve Martin e John Candy fizeram isso melhor em 1988... Nota 5.

HUSTON/ BOGART/ HITCHCOCK/ SAM SHEPARD/ POWELL/ DIETRICH/ HARRISON FORD

   UMA AVENTURA NA ÁFRICA ( THE AFRICAN QUEEN ) de John Huston com Kate Hepburn e Humphrey Bogart
Alguém não conhece a história? Na África alemã, em plena guerra, Kate, uma missionária, tem sua igreja destruída pelos germanos. Bogey é um grosseiro barqueiro que a tira de lá. Na viagem que os dois fazem pela África ( a African Queen é o nome da velha barcaça enferrujada ), vemos o encontro de dois tipos distantes: uma senhora bem comportada e rígida e um ingênuo beberrão das classes mais baixas. O filme deu o Oscar de ator a Bogey ( derrotando Brando em "Um Bonde..." ). Peter Viertel escreveu um livro sobre as filmagens. A equipe isolada na mata, insetos, água contaminada, caçadas, tribos hostis. Clint Eastwood fez um excelente filme sobre a feitura deste filme. Clint faz um ótimo John Huston. O filme é ingênuo, tem sabor de velhas matinês, de sessões de cinema com muita pipoca e poltronas de veludo. Os dois atores estão brilhantes, Kate dando um show fazendo um tipo de velha de igreja que aos poucos se encanta com a aventura e cai de amores por Bogey. Bogart domina o filme. Faz um tipo de grosseiro sujo de bom coração. É bonito ver como ele vai perdendo a vergonha e começa a encarar aquela senhora fria como uma mulher. Um clássico. Nota DEZ.
   PAVOR NOS BASTIDORES de Alfred Hitchcock com Jane Wyman e Marlene Dietrich
No livro de Scorsese ele tece imensos elogios a O Homem Errado, um dos filmes de Hitch menos conhecidos e dos melhores. Este também é pouco conhecido, mas não é dos melhores. Há uma falha da qual Hitch nunca se perdoou: um falso flash-back no começo. Nesta história em que devemos descobrir quem é o assassino falta um vilão mais forte, mais absorvente. Nota 6.
   AS 3 FACES DO MEDO de Mario Bava
No começo dos anos 60 houve uma voga de filmes italianos de horror. Filmes baratos, exagerados, cheios de clima. Bava foi um dos principais nomes desse momento. Aqui temos três histórias de medo  e de desespero. A primeira é fraca, mas as outras duas são muito boas. Há a história de uma aldeia assombrada por vampirismo. Um visual maravilhoso ( e cliché ) leva nossa atenção até o fim. Mas a terceira história é realmente assustadora. Fala da maldição sobre uma ladra de cadáver. Bava cria um horrendo clima de pesadelo. É quase uma obra-prima. Na média, nota 7.
   ASSALTO EM DOSE DUPLA de Rob Minkoff com Patrick Dempsey e Ashley Judd
Se voce desculpar a infantilidade das falas e a tolice da situação poderá até se divertir. É sobre um assalto duplo a banco. Um bando hiper modernoso e organizado, e uma dupla de caipiras fazem esses dois assaltos. Dempsey é um "esquisito" que estava lá e Judd a caixa do banco. É uma comédia. Ok dá pra passar uma sessão razoável no cinema. Pelo menos ele é curto e não tenta ser "de arte". Minkoff dirigiu 'Stuart Little". Judd, que sempre foi belíssima, está perdida no filme, seu papel é quase nada. Nota 5.
   BLACKTHORN de Mateo Gil com Sam Shepard, Stepehen Rea e Eduardo Noriega
Todo diretor sonha em fazer seu western. É uma questão de honra. Aqui temos um western espanhol com equipe americana. Duvido que passe nos cinemas daqui. Fala de Butch Cassidy. Mas não é um tipo de continuação do célebre filme com Paul Newman e Redford. Vemos Butch morando na Bolivia, velho. Ele resolve voltar aos EUA. Mas nessa tentativa de retorno se envolve com ladrão espanhol e tudo acaba dando errado. Porque todo western de hoje tem de ser triste? Pudor de fazer um simples faroeste escapista? Shepard dá dignidade ao papel. É um cara admirável. Autor de teatro, escreveu o roteiro de Paris Texas de Wenders e de Zabriskie Point de Antonioni. Foi o herói, perfeito, em The Right Stuff ( o Chuck Yeager que ele faz é inesquecível ), e se casou com Jessica Lange!!! Que cara!!! Mas este filme é meio flácido. Nota 5.
   CAVALGADA TRÁGICA de Budd Boetticher com Randolph Scott
Um cowboy leva mulher que fora raptada pelos indios de volta a seu marido. Um bando de tipos suspeitos o acompanha. Budd faz westerns simples, crús, como devem ser. Mas este dvd recém lançado tem um grave problema: péssima imagem!!! As paisagens se tornam pálidas, o filme perde todo seu visual. Sem nota.
   COWBOYS ALIENS de Jon Favreau com Harrison Ford e Daniel Craig
Mais uma turma que sonhava em fazer seu western. Mas isto é mesmo um filme do gênero? Tem cowboys, cavalos, poeira e tiros, mas não tem espirito, alma, vida. É apenas uma barafunda de socos, sangue, correrria e pulos no vazio. Craig é um ator que segue a cartilha Stallone de interpretação: cara de fodão e grunhidos de besta; e Harrison Ford, o nobre herói de tantos filmes não soube administrar sua carreira, chega a dar pena vê-lo fazer escada para Craig. Se voce abstrair que aquilo tenta ser um western e esquecer que Craig tenta ser um ator, pode até rir das cenas de ação e do visual falso. Nota 3.
   O DETETIVE DESASTRADO de Robert Moore com Peter Falk, Ann-Margret, e um vasto time de bons atores.
Ann-Margret foi uma das atrizes mais sensuais do cinema. Vulgar, ferina, tola, esperta, bonita, inebriante. E Falk um grande ator, um soberbo comediante, e o "Columbo" da Tv. Este filme satiriza filmes de Humphrey Bogart e tem roteiro de Neil Simon, escritor que foi um dia ( anos 60/70 ) um tipo de rei da Broadway. Com tudo isso, o filme não engrena. Voce ri muito de algumas cenas, mas em seguida o ritmo cai. Daí voce dá gargalhadas, e vem outra vez uma longa sequencia sem interesse. É um exemplo de filme mal dirigido. Nas mãos de um Mel Brooks seria delicioso. Uma pena... Falk faz um Bogey maravilhoso. Nota 4.
   OS CONTOS DE HOFFMAN de Michael Powell com Moira Shearer
Powell... que diretor ambicioso!!! O que dizer deste filme? É uma obra de arte? É um fiasco? É lindo? É vulgar? Trata-se de uma ópera, não tem um só diálogo. Dança ( tipo ballet ) e canto. Fala de amor todo o tempo, do poeta e seus três tipos de amor, o puro, o profano e o artificial. O filme, hiper-colorido, com aquele technicolor do qual Scorsese tanto sente falta, tem algumas cenas que são de jamais se esquecer. Há uma que mostra uma carruagem estilizada que chega perto do sublime. Por outro lado tem várias cenas dignas de carnaval. O filme é todo feito em estúdio, cheio de trucagens, de fantasia ( penso no que Powell faria com os efeitos digitais de hoje ). Se voce viu Moulin Rouge sabe do que falo, Luhrman é fã deste filme. O elenco tem alguns dos melhores bailarinos da época, e se Moira Shearer é responsável pela inspiração de várias meninas que se fizeram bailarinas, Ludmila Tcherina é tão bonita que chega a parecer um pecado. O filme, cansativo, produz um efeito de sonho, e causa uma surpresa: ao assisti-lo voce se irrita com seus defeitos e se entedia com seus momentos longos, mas dias depois voce sente desejo de o rever. Powell foi um gênio. Barroco, exagerado, sem medidas, mas brilhante e jamais comum. Sem nota.
  

MICHAEL POWELL/ LEAN/ HEPBURN/ FRED E GINGER/ CHOW

KUNG FU HUSTLE de Stephen Chow com Stephen Chow
Imenso sucesso na Asia, este filme é o que pode ser chamado de festa de reveillon. Ele é muuuito engraçado e é feito com uma técnica cinemática assombrosa. Chow usa todas as referências possíveis : Tarantino, Keaton, Tati, Scorsese e ainda Fred Astaire ( há bela homenagem a Top Hat ). Sem dúvida é um dos grandes filmes deste milênio. É ver para crer. Nota DEZ!!!!!
OS 5 VENENOS de Chang Cheh
Clássico da Shaw Brothers. Fala de grupo de ex discipulos Shao Lin que procura tomar posse de fortuna. É cada um por si. As lutas são estupendas, os cenários muito criativos e a diversão está garantida. Como já falei, após esse aprendizado de filmes orientais, fica dificil para mim engolir a parte de ação de filmes como Batman, Homem de Ferro e que tais. Nota 7.
O ESPIÃO NEGRO de Michael Powell com Conrad Veidt e Valerie Hobson
Para Scorsese e Coppola, Michael Powell foi um gênio, o maior diretor da Inglaterra. Eu concordo. Todos os seus filmes variam entre o genial e o excelente. Além do que ele fez de tudo : comédia, drama, musical, fantasia, aventura, filme experimental. E culminou com A Idade da Reflexão, o filme mais alegre da história. Este é de seus primeiros filmes e fala de espião nazi que trabalha na Escócia. Suspense hitchcockiano, belo clima de fatalidade, tudo feito com rapidez e simplicidade. Um gênio em seu nascimento. Nota 7.
UMA MULHER DO OUTRO MUNDO de David Lean com Rex Harrison
Mas a maioria acha que David Lean é o maior dos ingleses ( Spielberg e Fincher o colocam nas alturas ). Sem dúvida foi um gigante. Aqui, no começo de sua hiper vitoriosa carreira, ele adapta uma peça de imenso sucesso de Noel Coward....Ah Noel Coward....Nada foi mais pop no final do imperio britânico que Coward ( lá entre 1915/1955 ). Suas peças, suas canções, as frases que ele dizia... Noel era o inglês que todo inglês queria ser. A partir de 1959, quando os Angry Men tomaram a cena, Noel Coward se foi para o limbo. Waaaal....esta peça/filme trata de fantasma de esposa que volta a terra para atrapalhar o casamento de ex-marido. Há ator de comédia fina melhor que Rex Harrison ? O filme é uma efervescente bobagem. Nota 7.
PAT E MIKE de George Cukor com Kate Hepburn, Spencer Tracy e Aldo Ray
Kate e Spencer tiveram um caso extra-conjugal que durou toda a maturidade dos dois. Mas, por ele ser um fervoroso católico irlandês, jamais se divorciou da esposa. A imprensa, que respeitava muito os dois, sabia de tudo mas não divulgava nada ( belos tempos éticos ). O caso só veio à tona quando a esposa de Tracy morreu. Nesse tempo de affair ( que terminou com a morte dele em 1967, foram 35 anos de caso ), os dois fizeram uma série de comédias adultas. O tema era sempre sobre casais de opostos, ela geralmente sendo uma feminista e ele um machão bonachão. Alguns desses filmes se tornaram clássicos absolutos e outros nem tanto. Este, que fala de esportista fenomenal ( Kate ) que se sente insegura quando assistida pelo noivo chato, é dos menos bons. É bacana ver como eram o tênis, o golfe e o basquete na época, mas Cukor está em seus dias de preguiça. ( George Cukor tinha o dom da imagem. Fez alguns dos filmes mais "belos" do cinema. Sabia ser chic, esperto, leve. Mas por ser um grande festeiro e colecionador de arte, as vezes parecia fazer filmes preguiçosos, feitos no piloto automático. Este é desses. ) De qualquer modo, é sempre um prazer ver Kate em ação. Nota 5.
FOLLOW THE FLEET de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ele é um marinheiro em folga. Ela é sua ex-noiva. Ele tenta reconquistá-la. Com as músicas de Irving Berlin fica fácil. O filme é dos menos geniais da dupla: é "apenas" delicioso. Ginger Rogers está belíssima e apimentada como sempre. Fico imaginando a alegria que deveria ser em 1937, ver esse filme e em seguida levar sua menina para jantar e dançar.... Nota 8.
TOP HAT de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton
Cenários art-déco em branco. As paredes são brancas, os móveis são todos em branco, o chão é prata, os objetos de vidro. Van Nest Polglase e Carrol Clark faziam esses sets que eram como o paraíso na tela. O filme fala de homem que conhece garota, se apaixona, a perde e tenta a reconquistar. Astaire consegue o milagre: dizer tudo dançando. Para entender a genialidade dos melhores musicais é preciso entender isso : quando a música começa, a alma dos personagens fala. Ouvimos e vemos o que eles pensam e sentem. E ninguém fez isso melhor que Fred e Ginger. Cada passo e cada olhar transmitindo tudo aquilo que voce já sentiu ou viveu com alguém. Isso é magia pura. Este foi o maior sucesso da dupla e salvou a RKO do vermelho. Um dos maiores clássicos do cinema, homenageado em Wall E, em Kung Fu Hustle, em A Lenda e mais uma infinidade de filmes. Ele é sempre usado como " a coisa mágica que ficou do passado lembrando ao homem que viver vale a pena ". Quem fez mais que isso? Nota impossível.
SWING TIME de George Stevens com Fred Astaire e Ginger Rogers
Os críticos mais "sérios" consideram este o melhor filme da dupla. Eu discordo. Acho o mais esquisito. A parte cômica é a menos ótima, porém, a parte musical é a melhor. Jerome Kern fez uma seleção de canções que variam do sublime ao inesquecível. Bojamgles of Harlem em que Fred se pinta de negro e homenageia seu ídolo ( Bill Robinson, o gênio do taps ) é dos maiores momentos da história das telas. Mas tem mais: a cena na neve ( que lindo set ! ) e a hora em que se canta The Way You Look Tonight, quem já amou irá se comover. Mas a magia insuperável nasce quando Fred e Ginger se despedem "para sempre", e tentando reatar ele canta Never Gonna Dance ( para mim, junto com Falling in Love Again, as duas músicas que melhor retratam o amor ). Nesse momento, junto a escadaria em set vazio, Fred consegue em música e dança, transmitir todo o desespero de alguém que percebe o amor partir. É de uma beleza aterradora ! Bergman precisa de duas horas para fazer o mesmo efeito ! ( E Bergman é um gênio ! ). Quando Ginger afinal cede e começa a dançar com ele, voce percebe então : eis a tal "arte americana", a arte puramente da América, a arte de se dizer muito se usando pouco, a arte de se comunicar a muitos um segredo de poucos. O filme, em que pese suas várias cenas erradas, se afirma como um monumento ao sentimento de amor. Nota DEZ.
SHALL WE DANCE de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Eis o meu favorito ( ou será The Gay Divorcée, que preciso rever ). É o mais tolo de seus filmes, quase um cartoon. E por isso eu o venero. Fred é Petrov, um americano que se finge russo bailarino clássico. Ginger é uma apimentada sapateadora yankee. E vêm os desencontros de sempre: mal entendidos, frases ferinas, muito bom humor e os números que contam exatamente o que eles sentem. A trilha é de George Gershwin... precisa dizer mais ? Todas as canções são clássicos do jazz. Cenários em branco e prata, figurinos chics ao extremo ( os anos 30 são estranhamente a era da depressão e ao mesmo tempo o ponto mais chic do século vinte ). Quando estou chateado e quero me reerguer é fácil : boto este filme pra rodar ! Foi o primeiro da série que assisti ( lá se vão vinte anos ) e foi na época uma revelação. Nota DEZ !!!!!!!!!!!!
CIÚME: SINAL DE AMOR de Charles Walters com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ginger sempre brigou com Fred. Ela queria ser uma atriz séria e achava que Fred lhe roubava o mérito. Quando a dupla acabou, ela conseguiu ser a tal atriz séria e logo ganhou seu Oscar em drama. Dez anos depois da separação, eis que os dois se reencontram aqui. E é um filme estranhamente triste ( o único dos dois ). É claro que é uma comédia, mas há algo de muito melancólico em todas as cenas. Eles fazem um casal que se separa porque ela quer ser atriz séria. Fred não a esquece ( na vida real ele jamais foi apaixonado por ela ) e no fim eles se reencontram ( felizmente tem um final feliz ). Ginger está já madura, ainda leve e linda, mas com algo de sério naquela menina dos anos 30. Fred envelheceu bastante. Continuava insuperável ( faria em cinco anos seu grande clássico: A Roda da Fortuna ), mas não é mais o jovem alegre e tolo da década anterior. E tudo isso dá ao filme algo de muito doído: a consciencia da passagem do tempo. Torna-se o único musical trágico da história. Nota 7.

SCORSESE/ FANTASIA/ GROUCHO/ NUM LAGO DOURADO/ TERREMOTO

NUM LAGO DOURADO de Mark Rydell com Henry Fonda, Kate Hepburn e Jane Fonda
Kate derrotou Meryl Streep, Susan Sarandon e Diane Keaton em 1982 com este filme, levando seu quarto Oscar. Henry, cinco meses antes de morrer levou o seu. Ele está fabuloso ( nunca o ví menos que fabuloso ) nesta melosa história de casal de velhos que passa férias em casa à beira de lago. Lá eles recebem visita de filha problema ( Jane, bela e aparecendo pouco ) e tomam conta de filho do novo namorado da filha. Henry consegue passar tudo o que significa ser velho : ter medo de morrer. Seu velho nunca se parece com uma piada. O filme nunca pesa demais, tem momentos de muito humor e é representante da reação do cinema-família contra as loucuras dos anos 70. Fez imenso sucesso e recordo de o ter visto sobre o Atlântico, no avião voando rumo à Frankfurt. Reparo também que é um tipo de filme completamente extinto. Ninguém é neurótico, ninguém tem emprego esquisito, nem é muito rico ou miserável. Nada ocorre de sensacional, é apenas gente banal em momento importante e inevitável. O filme se deixa ver, e passa como canção nostálgica. Tudo nele é bonito demais, limpo demais, mas os atores levam a história com brilho e conseguem dar vida ao que dizem e fazem. Nota 6.
FANTASIA de Walt Disney
Após o imenso sucesso de Branca de Neve, Walt gasta tudo o que tem e vai à falência tentando provar ser artista classe A com este muito metido desenho. Fantasia levou anos para ser feito e foi detestado por público e crítica. Walt se salvou com Dumbo e Pinóquio, e nunca mais se arriscou. Este desenho são clips de música erudita. Interessante notar como desde então o mundo inteiro se disneysiou. A forma como este filme vê a arte é absolutamente infantil. A sexta de Beethoven se torna uma fábula de pseudo-mitologia, com cavalinhos alados, centauras ninfas e muita pedofilia. Seios nús e muitas bundas de bebês, mas tudo bem gracinha, bem Disney. A Sagração de Stravinski, que é hino de paganismo, aqui é história sobre a criação da vida. É muito bom, é legal ver mares em erupção, vulcões, fogo e dinossauros. Mas nada tem de Stravinski. O final tem Mussorgski, em cena que cita ( plagia ? ) o Fausto de Murnau. Demônios e assombrações. Deve ter apavorado as crianças... Há ainda Dukas, Tchaikovski, Schubert... velho problema do mundo pseudo-intelectual : pensar que citar autores significa conhece-los. Disney infantiliza, domestica, torna tudo inofensivo. Profeta desta época de parques de diversão e visuais chocantes. Nota 3.
BELEZAS EM REVISTA de Lloyd Bacon com James Cagney, Ruby Keeler e Joan Blondell
Musical anos 30 com coreografia de Berkeley. É incacreditávelmente brega e deliciosamente bobo. Como sempre, tudo gira em torno da montagem de um show. Tem uma coreografia aquática inacreditável : dá pra perceber o medo de miss Keeler. Impressiona a objetividade do cinema de então, não se perde tempo com nada, as coisas são curtas e diretas, se é pra acontecer, que aconteça já. Isto é a TV de 1933 !!!! Nota 7.
A RELIGIOSA de Jacques Rivette com Anna Karina
Baseado em Diderot. Hiper pretensioso, eis aqui tudo de ruim que o cinema francês e a nouvelle-vague em especial, pode ser : chato. Chega a ser inacreditável sua cara de pau. Nota 1.
TERREMOTO de Mark Robson com Charlton Heston, Ava Gardner e George Kennedy
Filme do tempo em que acidentes eram moda no cinema. Sua primeira hora é boa, Robson sabe levar uma história, mas quando começa o terremoto enjoa tanto acidente e tanta tragédia. 4.
A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO de Martin Scorsese com Willem Dafoe, Harvey Keitel e Barbara Hershey
Baseado em Nikos Kazantzakis. Com o mesmo roteirista de Taxi Driver ( Paul Schrader ), Martin vê Jesus como um Trevis Bickle palestino. Jesus começa o filme como Van Gogh, um esquizofrênico, e termina como Cristo, ser que funda nosso mundo. Sua morte é momento de cinema corajoso e de soberbo talento. Scorsese consegue demonstrar que apenas a morte na cruz faz de Jesus, Cristo. Ele não poderia morrer como homem, seu sacrifício ( e o filme é genial como exposição do que seja ser herói ) é o motivo de sua existência. O herói é herói ao morrer, não em vida. Isso é demonstrado de forma engenhosa. Mas o filme tem uma cena muito ruim : a salvação da prostituta. Parece que veremos o Monty Python cantar. Uma cena genial : a ressurreição de Lázaro. Aterradora e crível. O filme nada tem de fácil, Judas ( Keitel, muito bem ) é visto como figura tão importante como Jesus e os outros apóstolos são pouco mais que broncos. Trata-se de filme cheio de ira, de brilho e de muita dor; sentimos que Scorsese se penitencia. O filme mostra toda a revolucionária novidade de Jesus : um Deus de amor. Até então todo deus era baseado em força e poder, Jesus coloca o amor no centro do mundo, o amor como razão para se viver. Ele inaugura-nos. Nota 8.
THE PLEASURE GARDEN de Alfred Hitchcock
É o primeiro filme do mestre. Vale só por isso, pois é um comum filme pop inglês da época. Não se trata de suspense. Nota 4.
SUPLÍCIO DE UMA ALMA de Fritz Lang com Dana Andrews e Joan Fontaine
Último filme americano de Lang. Uma vergonha ! Mal enquadrado, atores sem direção, roteiro cheio de furos. O grande Lang sem nenhum tesão. Nota Zero !
CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO de John Sturges com Spencer Tracy, Robert Ryan, Lee Marvin e Ernest Borgnine
Homem chega a cidadezinha. Todos o recebem com rancor. Todos escondem um terrível segredo. O filme tem fotografia deslumbrante. Ele é seco, árido, másculo. O clima de hostilidade se mantém por todo o filme e o roteiro é redondo, engenhoso, direto. Nada de forçado, nada de inverossímil, nada de pedante. É um belo filme com Spencer dando aula de discrição. Nota 7.
SEU TIPO DE MULHER de John Farrow com Robert Mitchum e Jane Russell
O filme tem uma primeira parte perfeita : um bando de esquisitos num hotel de luxo mexicano. Há um clima Hawks/ Huston e Mitchum carrega o filme com ironia. Mas aí acontece uma loucura : surge Vincent Price, e tudo muda, agora é uma gozação, uma sátira, um carnaval. Entendemos então que o filme mudou de diretor, que o produtor é Howard Hughes e que Farrow brigou com ele. Toda a parte final se parece com bebedeira, o filme cambaleia, fica à deriva. Não deixa de ser fascinante com as cenas dentro do barco tão ousadas, modernas, tortuosas. É um filme invulgar. Nota 6.
OS GÊNIOS DA PELOTA de Norman Z. MacLeod
É com Groucho, Chico e Harpo. Quem não gosta deles ( óh pobre infeliz ) vai detestar este filme. Tudo aqui é anárquico, solto, sem porque. Quem gosta deles ( óh gente feliz ) vai embarcar na viagem rumo ao mundo sem sentido dos geniais Marx. Nota 7.

O LEÃO NO INVERNO - ANTHONY HARVEY

Existem várias maneiras de se assistir este brilhante filme inglês. A política, a estética e a psicológica. Usufruir das três é ter um sorriso no rosto durante as duas horas e meia do filme.
A política.
O filme conta o dia de natal de 1183 em que Henrique, rei inglês, dono de metade da França, tentou decidir com quem ficaria seu reino. Ele apóia John, filho idiota e repugnante, mas sua mulher, Elinor, apóia Ricardo, uma máquina guerreira. Há ainda Geoffrey, filho ignorado e talvez o mais inteligente e Philipe, rei da França em visita ao castelo. Peter O'Toole faz Henry, Kate Hepburn é a rainha e Richard é Anthony Hopkins. Timothy Dalton faz Philipe. O rei mantém uma amante, exibida diante de todos, e trancafia a esposa num castelo durante dez anos. Eis o geral. Parece Shakespeare, mas felizmente, nunca tenta ser. O que vemos é uma feroz briga de cães. Agressões sobre agressões, mas que brilhantemente, sempre se encerram com uma frase de humor. O filme é drama medieval, mas com a ironia do século XX.
É o momento chave em que a monarquia se afirma na Inglaterra, o momento em que Henry dá as diretrizes do modo britânico de domínio e de guerra ( ele chega a dizer que ele é o inventor da guerra ). E vemos, deliciados, o quanto já fomos grandes.
De Shakespeare o filme consegue o efeito de nos fazer testemunhas do imenso universo que há no homem. Henry não quer, ele ansia. A rainha não trama, ela é diabólica. Tudo é inteiro, não existem meias emoções, o espírito humano está completamente livre. O roteiro de James Goldman, baseado em peça sua, tem diálogos que nos deixam sem fôlego. Jamais sabemos quem fala a verdade, quem está sendo leal, se as lágrimas são sinceras. Todos jogam, todo o tempo.
Estéticamente o filme é imbatível.
Começando com a trilha sonora de John Barry, uma das melhores e mais famosas do cinema. Barry foi um gênio, suas centenas de trilhas o provam. Aqui ele se supera. È música medieval e bárbara. Sublime. Mas há mais. Vemos a real arquitetura da época. O rei parece um mendigo, o castelo é frio e fétido, as tropas são pequenas e desorganizadas. Estamos longe da bela Itália e o rei francês é modelo de cortesia e educação, Henry perto dele é um bárbaro.
A fotografia é de Douglas Slocombe. A cena da rainha cruzando o lago justifica sua carreira.
Quanto aos atores... Kate ganhou seu terceiro Oscar aqui. Merecido ? Ora. Ela mereceria todos os Oscars da história. Sua superioridade sobre qualquer atriz de qualquer tempo é total. A rainha que ela faz é a mais triste das criaturas. Kate consegue passar a dor de uma mulher que envelheceu e perdeu seu amor. Ao mesmo tempo ela é má, mentirosa, jogadora, e começamos a duvidar de seu sentimento. Há uma cena em que ela se olha no espelho que é, talvez, o melhor momento de uma atriz já filmado. Só Falconetti em Joana D'Arc lhe chega perto.
Peter O'Toole perdeu mais um Oscar aqui. Para Cliff Robertson ( Pode ? ). O papel é o mesmo que ele havia feito em Beckett. Só que naquele filme era Henry jovem, aqui é o Henry aos 50. O que dizer dele ? Nos apaixonamos por seu rei. Olhamos fascinados seu descaramento, sua violência, seu gênio e no final, sua suprema decepção. Peter torna-se um sol. Uma aula para todo ator. Carisma puro, bem treinado, como só atores treinados em Shakespeare possuem.
Para voce sentir o clima do filme conto uma cena : o rei quer ir à Roma, anular seu casamento. A rainha o ameaça com a morte. Os dois discutem, se ofendem, são humilhados e ele parte. Kate, genialmente, diz ao final : - Qual a família que não tem seus altos e baixos ?
Por que não se fazem mais filmes assim ? Por que nossos filmes históricos não passam hoje de um enfadonho desfile de modas e a única questão é : quem ficará com a pobre mocinha ?
Creio que o principal é o completo desconhecimento de história e de estética. Mas talvez seja ainda pior. A incapacidade de se entender diálogos complexos e brilhantes. Uma pena.... Daniel Day Lewis, Meryl Streep, Susan Sarandon, Kevin Kline morrerão sem papéis como estes.
Em 1968 ele concorreu a montes de Oscars. Ganhou 3. Merecia mais.
Psicologia.
O filme trata do embate entre o princípio da pura masculinidade e da pura feminilidade. Trata da briga por atenção nas famílias. Trata do incivilizado tornado civilizado. Da dor de se precisar ser livre. E tem a exposição de almas desnudas, suas injustiças, seu egoísmo, seu medo.
Termino contando mais uma cena : Henry diz que após o natal a rainha voltará a seu cativeiro. Kate derrama uma lágrima discreta e diz que não há dor maior que a de se conhecer o mundo, a liberdade e perder todo esse mundo.
O filme é sobre isso. O cinema hoje vive esse dilema. Nós somos essa rainha.
Que Deus nos proteja e que Henry seja clemente.
O Leão no Inverno somos todos nós. Este é o inverno de nossa coragem.

LEVADA DA BRECA - HOWARD HAWKS e CARY GRANT/ KATE HEPBURN

Existem filmes que criam todo um novo mundo. Desenham um modo de se fazer um filme e passam a ser massivamente copiados. Existem pessoas que fertilizam.
Hawks criou dois tipos de comédia. Em 1934, com a ajuda de John Barrymore, criou a comédia de diálogos loucos. Aquele tipo de texto em que os atores metralham milhares de palavras por minuto, normalmente se agredindo. Para esse tipo de humor é necessário um ator que saiba falar, e que possa ser agressivo sem se tornar ofensivo. Tudo deve ser leve e ácido. O filme era chamado TWENTIETH CENTURY.
Em 1938 Hawks cria mais um tipo de comédia. A comédia baseada no encontro de um cara muito careta com uma moça muito doida. Eis LEVADA DA BRECA. Mas para criar esta, que é a mais genial das comédias, Howard precisou de dois atores de imenso talento : Cary e Kate. E creia, ver os dois juntos é um prazer insuperável.
Se voce é um tenro menino, acostumado ao humor pós-SATURDAY NIGHT LIVE, acostumado então a humor baseado em imitações e citações, bem, voce não irá gostar nada de LEVADA DA BRECA. Pois aqui temos humor baseado em gente engraçada e não em agressivas sátiras. Nada há neste filme que possa ser chamado de agressivo. O filme é feliz. Ficamos felizes enquanto o assistimos. Adoramos Cary e Kate. Nos apaixonamos pelos dois. E assistimos estupefatos ao nascimento de todos os clichês da comédia romântica. Porém, feitos antes, feitos com mais inteligência, mais talento e com dois atores de puro gênio.
Cary Grant criou dois tipos de humorista. Este, que é o tipo "cientista-nerd" e em JEJUM DE AMOR, também de Hawks, o espertalhão-safado. Depois dessas duas criações, hordas de atores passaram a imitar esses dois tipos. Mas foi Cary quem os inventou. Kate, melhor e maior atriz da história do cinema, diverte-se à larga, nesta que é sua primeira comédia pastelão. A gente se apaixona por ela. Sua maluquice anárquica, seu risinho de "sininhos", suas quedas e correrias. Escrevo isto e já sinto vontade de assistir o filme mais uma vez....
A história é fantástica, inverossímil, pura bobagem, como toda comédia deve ser. Trata de um cientista que num jogo de golfe se envolve sem querer com herdeira maluquinha que é dona de um leopardo. O resto é bola de neve. O filme nunca se interrompe, é doideira atrás de doideira, palhaçada sobre palhaçada, voce pensa que nada mais há para acontecer e lá vem mais uma volta de carrossel. Mas nada é forçado : em sua excentricidade, tudo acontece de forma natural. O roteiro de Dudley Nichols ( autor de vários westerns ) e de Hagar Wilde é de ouro. Arquétipo de comédias futuras.
Repare no modo como Kate interage com Cary na festa onde ela rasga o vestido. Repare em como voce reage ao filme. Voce não irá gargalhar ou mesmo rir. Hoje nossa reação a este filme é o sorriso. Um sorriso que fica por duas horas grudado no rosto e uma alegre leveza que se tatua no peito ao ver os dois juntos. Brigando, discutindo, ele fugindo dela, caindo e finalmente a rendição ( dele ). Comédia que nos dá um presente raro : felicidade.
Críticos já disseram que o filme tem um lado sério. Em meio a toda aquela palhaçada existe a representação do modo como toda história de amor se revela. Perda de certezas, perda de controle, resistências, entrega. Atração de opostos que se destroem para renascer depois.
Howard Hawks, Cary Grant e minha amada Kate Hepburn. Como agradecer à eles ? Os agradecimentos já foram feitos. Tanta gente, em 2010, tempo que nada tem a ver com LEVADA DA BRECA, ainda amar este pedaço de paraíso. Essa é a maior homenagem que um artista pode querer.
E ser tantas vezes imitado!!!!
Adendo :
Quem já escreveu ( ou tentou) comédia, sabe como é fácil fazer o humor tipo "Todo mundo em Pânico", "Borat" ou "American Pie". É um humor todo baseado em imitações, exageros ( voce pega qualquer situação e leva até o limite físico ) e preconceitos ( fazer rir do diferente é sempre fácil ). É um humor formatado na piada de bar e na raiva adolescente.
Quem já tentou escrever comédia sabe como é duro criar um tipo engraçado cem por cento original. Não baseado em ninguém, e cômico pelo que é, não pelo que faz. Humor verbal e de situação, nunca de gozação ou desconstrução.
LEVADA DA BRECA, minha mais querida comédia do meu mais amado diretor e de meu mais admirado ator e de minha mais adorada atriz, é monumento exemplar. Ficará viva enquanto o homem existir.

STERNBERG/STAGE DOOR/ALTMAN/BETTE DAVIS

MOLIERE de Laurent Tirard com Romain Duris, Fabrice Luchini, Laura Morante e Ludivine Sagnier
Houve tempo em que filmes europeus eram lançados toda semana no Brasil. Romy Schneider era mais famosa que Jane Fonda e Catherine Deneuve que Barbra Streisand. Mais que Jack Nicholson, Dustin Hoffman ou Clint Eastwood, as pessoas amavam Yves Montand, Jean-Paul Belmondo, e principamente Mastroianni. Alain Delon era tão famoso quanto é hoje Brad Pitt ( Delon era mais bonito ) e o mais amado diretor era Fellini. Nos anos 80, com os filmes tipo Rambo/ Robocop/ Duro de Matar, a América se tornou a única fornecedora de filmes pop. Rompeu-se a ligação, e hoje, estrelas européias com menos de 40 anos... quem ?
Romain Duris é o maior ator/estrela da França hoje, e penso que muito pouca gente o conhece fora de seu país. Ele faz Moliere neste filme, e o faz muito bem. Seu Moliere é o Moliere que imaginamos, se parece com alguém que escreve, atua e possui gênio. O filme, belo e alegre, é delicioso. Mas é esse estupendo Fabrice Luchini, diabólicamente engraçado, fazendo um nobre cornudo com raro talento, que nos impressiona. Torcemos para mais cenas com ele, são hilárias. O filme é cheio de frases elegantes ( tem ótimos diálogos ) e se passa em palácios suntuosos ( que nos fazem ter consciência da triste condição de nossa arquitetura ), o filme é um prazer para a vista. Na França ainda se fazem filmes para o povão em que não há um só tiro, nada é digital e nada se passa num mundo de sonhos. São bons atores, bons diálogos e uma boa história. Aliás, às vezes é um alívio ver atores europeus : você já notou que eles têm rosto de "gente" ? Nota 7.
NAKED CITY de Jules Dassin
Um narrador conta o que vamos ver : um dia na vida de Nova Iorque. As imagens das ruas e dos bares, metrô, barbearias são sensacionais. Na verdade o filme é quase um documentário. Depois vem uma boa trama policial, toda filmada em locais autênticos. São as lições do Neo-realismo colocadas em prática por esse excelente Jules Dassin. O filme é elétrico, rápido, viril, magistral. nota 8.
O RETRATO DE DORIAN GRAY de Albert Lewin com George Sanders, Donna Reed, Angela Lansbury e Hurd Hatfield
O doido diretor do maravilhoso PANDORA, filmou antes este hiper enfeitado Dorian Gray. È irritante ver Sanders vomitar epigramas de Wilde colocados a torto e a direito na história. O filme é enjoativo como glacê branco. nota 3.
A GUERRA DO FOGO de Jean-Jacques Annaud
Após ganhar o Oscar em seu filme de estréia, Annaud passou anos para conseguir fazer este filme. Usando o trabalho do autor de Laranja Mecânica ( Anthony Burgess ) que criou uma língua ancestral, Annaud filma uma aventura passada no início da nossa história, no nascimento da civilização como a conhecemos, na hora da descoberta e da valorização do fogo. O filme é bela aventura, bastante plausível, sério, e com tema tão difícil, consegue se sair muito bem. Mas é isento da poesia maravilhosa que 2001 tem em seu início. Os temas dos dois filmes são complementares, mas Kubrick fez coisa de gênio e Annaud é bom diretor, não um criador original. Mas este filme é ok. nota 7.
PEFÍDIA de William Wyler com Bette Davis e Herbert Marshall.
Baseado em peça de Lilian Hellman, o filme foi feito no tempo em que Lilian era a heroína da esquerda americana. O filme nos mostra como os ricos são maus e não se cansa de acumular maldade sobre maldade. Wyler, um dos gigantes, dirige tão bem que nem tomamos consciência de seu trabalho. Não há um só erro, uma só tomada a mais, uma cena longa demais ou feita às pressas. Wyler trabalha para nosso prazer e para o brilho de texto e atores. Ambos brilham. Bette dá seu show costumeiro. Ela exala maldade. Você é hipnotizado. nota 8.
A IMPERATRIZ VERMELHA de Joseph Von Sternberg com Marlene Dietrich
Entre 1930/1937, Sternberg fez uma série de filmes com sua musa, Dietrich, e a transformou em super-estrela, rival mais quente de Garbo. Marlene foi crescendo filme a filme, e quando os dois se separaram Sternberg se apagou. Os filmes são todos parecidos : lugar exótico, cenários imensos e barrocos, insinuações fortes de sexo anormal e closes e mais closes de Marlene hiper-glamurosa ( Madonna copia esses closes até hoje ). Este é o pior dos que ví. Sternberg enlouquece e perde o senso do ridículo. Nesta história passada na Rússia de Catarina, o palácio é uma gororoba de caveiras e monstrengos, Marlene dorme com metade do exército e os diálogos são risíveis. É exemplo de cafonice chique, de pesadelo gótico. nota 2.
STAGE DOOR de Gregory La Cava com Kate Hephurn, Ginger Rogers e Lucille Ball.
Comédia dos nos 30 é assim : diálogos apimentados que jogam ironia sobre ironia e nos fazem sentir mais espertos se os entendemos e mais sofisticados se os citarmos. São tão bem escritos que continuam, mais de setenta anos depois, a ser o modelo de tudo o que é cosmopolita, fino e elegante. Aqui vemos uma pensão onde vivem aspirantes a atriz. Ginger é a mais cínica e a líder do grupo, Kate é a bem nascida que quer brincar de ser atriz. Ou seja, Kate e Ginger fazem elas mesmas. Kate está linda. É fantástico como ela, que não era bonita, parece a mais bela das atrizes em vários filmes. Isto é diversão inteligente, atemporal, que só não é genial porque tem duas cenas de drama sério que desandam com o ritmo esperto. nota 8.
SILLY SYMPHONIES
Comentei esta coletânea abaixo, em texto próprio. A nota é DEZ !!!!!!
BASQUIAT de Julian Schnabel com Jeffrey Wright, David Bowie, Gary Oldman e Benicio del Toro
Julian foi artista plástico nos anos 80. Amigo de Basquiat. O filme é mensagem carinhosa e saudosa ao amigo morto. A trilha sonora é cheia de canções fantásticas ( Cale cantando Cohen é de matar ). Triste, pesado, tortuoso, funciona a perfeição, por fazer aquilo que Kael reclamava em outros filmes : fala de um artista tortuoso de forma tortuosa. Como o filme de Dylan, que fala de um artista multi-facetado em filme multi-facetado. Kael falava ( mal ) de "Sociedade dos poetas Mortos", filme que era contra a repressão, mas que fora filmado como o mais conservador dos dramalhões. Assim como ruim é RAY, filme que fala de um cantor que era puro calor, sensualidade e feeling, mas que teve como bio um filme que é frio, pudico e calculado. Basquiat é um filme perdido, desencantado e incompleto... como seu personagem foi. nota 8.
ASSASSINATO EM GOSFORD PARK de Robert Altman com Maggie Smith, Helen Mirren, Clive Owen, Emily Watson
A única pessoa no mundo que poderia ter feito este filme é Altman. O fato de ele não se perder e conseguir fazer fluir uma tão vasta galeria de rostos, vozes e sentimentos, atesta, mais uma vez, sua genialidade. Ele era mestre em "colcha de retalhos", em sinfonia de atores, em modernidade anárquica-total. Este jamais brilha como SHORT CUTS ( afinal, Cuts É o maior filme dos últimos vinte anos ), mas é filme de mestre. Um micro exemplo, da mais ampla ressonância, de tudo que há de mesquinho e torpe nas relações de classe. Gol de placa. nota 9.
SOB O SIGNO DE CAPRICÓRNIO de Hitchcock com Ingrid Bergman e Joseph Cotten
Que bela era Ingrid ! E que desamparo ela passa ! Mas este filme, o único Hitch feito na América que eu nunca vira, foi feito sob as ordens de Selznick, não é puro A.H. Melodrama gótico, foi adorado pela crítica francesa e odiado pela americana. É um filme muito esquisito...nota 5.