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ASPECTOS DO MASCULINO - C.G. JUNG

Li este e o outro volume, o que fala sobre os aspectos femininos. Para mim não foi uma leitura muito instigante, isso porque os dois volumes são coletâneas editadas de Jung sobre o tema da força masculina e feminina no inconsciente. Anima, a força impessoal feminina que habita o inconsciente do homem, e o animus, equivalente da mulher, sendo essa uma força masculina. Grosso modo, é o lado mulher que habita a psique dos homens e o lado homem que vive na psique da mulher. Mas não vulgarize, meu lado feminino não é um eu travestido de mulher, nem mesmo é um eu mais sensível. A Anima não é uma pessoa, é, como o inconsciente, um espírito coletivo, comum a todos, puro instinto, puro hábito, pura força sem começo e sem fim. Anima que não fala, não se vê, que age como natureza, não humana e também super humana. É o desejo que sentimos pela MULHER, aquela imagem feminina que não tem rosto ou voz, a síntese de todas as mulheres e que é nenhuma sendo tudo. Procuramos em toda mulher essa MULHER e não a encontramos, pois ela vive dentro de nós mesmos, é a força que nos faz viver. Não é o que nos falta, pois ela é nós mesmos, mas é o que queremos encontrar. ------------------ Jung, como sempre faz, cita milhares de referências, filosofia hermética acima de tudo. Hermes-Mercúrio, como símblo de transformação, pois o encontro com a anima transforma o homem de dentro para fora. Jung enfatiza a necessidade desse encontro, do entrar dentro para poder haver a individuação, o encontro consigo mesmo que faz de um homem natural um homem ele-mesmo, um homem racional. Para isso é preciso criar uma ponte que faça o inconsciente ser entendido e assim reavivar toda a força da vida. ---------------- Pois vive no mais fundo caminho a força que criou vida e que existirá para sempre. Eis um tema junguiano: o inconsciente é a digital, eterma e imaterial, do criador, seja ele Deus, deuses ou o que for. O inconsciente é portanto imortal, pois ele existe em toda vida e a vida existirá após a minha ou a sua morte. Meu inconsciente, como minha anima, é igual a sua, pois ela é a sua. Apenas a sinto diferente de voce, pois é meu ego que a percebe ou a nega, e meu ego, que perecerá, sou eu e não voce. Minha história é meu ego, minha memória consciente é meu ego. O que não é ego é eterno, ou seja, a história da vida, a memória da vida, o tempo da vida. ---------------- Jung foi um suiço de língua alemã, portanto impregnado de filosofia alemã. Schopenhauer é uma influência imensa, como foi em Freud, mas Freud pega de Schopenhauer o conceito de Vontade como força que move a vida e o transforma em libido. Jung é mais sutil, ele mistura Kant e faz da vontade uma força inconsciente sem nome, uma espécie de vida surgida antes da vida, um imperativo. ----------------- Sempre bom o ler.

PSICOLOGIA E RELIGIÃO ORIENTAL - JUNG

Uma das coisas mais populares hoje no instagram é a série de vídeos onde se mostra a confecção da comida de rua na Ìndia. O objetivo é fazer rir com a sujeira, a inocência e a falta de noção do indiano. Montes de ervas, pós, ovos, leite, são misturados sem medida ou comedimento em imensas frigideiras ou caldeirões amassados. Tudo no chão, com as mãos, à vista da rua. O que o ocidental não consegue ver é a imensa confiança que há no processo. Não se pesa ou se mede o ingrediente porque se sabe que não importa como, a coisa ao fim dará certo. Não se cuida do visual pois se foca apenas no sabor. A higiene é insignificante, afinal, ninguém morreu por comer aquilo. Seu avô o prova. ( Nenhum indiano morreu ). Há imensa certeza naquela comida. -------------------------------- Jung disseca neste belo livro vários aspectos do oriente em comparação ao ocidente. O mais louvável é que ele não tece elogios exagerados ao oriente, ele diz que cada povo falha em algo e vence em outro fator. O ocidente optou pelo modo grego: observar com os olhos, medir, anotar, crer apenas no que pode ser descrito. A linguagem racional como único modo de entender e apreciar a vida. Somos aquilo que aprendemos e apreendemos. O que há dentro de nós VEIO DE FORA. ---------------- No modo oriental ( e não se engane, em 2023 eles copiam o ocidente, mas por debaixo da casca made in USA continuam os mesmos ), somos aquilo que nascemos sendo. O que há em nós NASCEU CONOSCO. A vida não se apreende, ela é aquilo que vive dentro de nosso espírito. O oriente é, portanto, introvertido, tudo vive dentro das coisas, o ocidente é extrovertido, a vida acontece lá fora. ----------------- Em religião, no ocidente, a salvação e a iluminação descem sobre nós. Deus, Ser externo, nos concede uma graça. No oriente a graça vem de dentro de voce mesmo. Deus mora dentro de cada um e de todos. Não pense que isso é tão simples. Para nós ocidentais, por mais que digamos que Deus é tudo, a certeza absoluta nos é impossível. Somos agnósticos sempre. ------------------- Um dos temas mais interessantes do livro é aquele que trata do LIVRO TIBETANO DOS MORTOS. É um texto obscuro que ensina ao monge aquilo que ele irá entoar ao corpo do recém morto. E o que é isso? Instruções de tudo aquilo que lhe irá acontecer nos 49 dias de existência na morte. ( 49 dias em tempo de outra realidade ). Jung se surpreende logo de cara: O que explica culturas tão distantes, o que explica Swedenborg, que jamais soube deste livro, também começar dizendo que "mortos não sabem que morreram" ? ---------------- A jornada é basicamente uma queda ao sofrimento. Para depois dessa "segunda morte" , vir afinal a reencarnação. A alma tem a chance de ascender à Luz, mas raramente isso ocorre. Uma das coisas mais surpreendentes é o momento da reentrada na vida. No ponto final da queda, a alma recorda do sexo e fica obcecada pela sexualidade. Procura então uma entrada para o sexo. Literalmente a alma caça um corpo a ser desejado. "Seduzida" pelo ato sexual que presencia, ela entra dentro da futura mãe, apaixonado por aquela mulher que copula. ----------------- Sim, pode ficar chocado. Jung se lembra de Freud aqui e diz que O LIVRO TIBETANO explica aquilo que Freud não quis explicar: o que vem antes da paixão do filho pela mãe e da filha pelo pai. ------------ É uma escolha. Vagando pela vida, a alma, desejando sexo, no ponto mais baixo de sua condição, penetra na futura mãe e se faz filho. --------------- Jung diz que o ocidental deveria ler o livro de traz para a frente: a história da vida começando no nascimento, e se dirigindo à morte. O LIVRO TIBETANO faz o caminho oposto, o início é o momento da morte, momento de luz e de transição sem dor, e o nascimento é o final, o desejo sexual puro e absoluto e a volta ao mundo da matéria em dor. ------------------- Me seduz uma mente tão inquisidora e insaciável como a de Jung. Intelectualmente ele não temia nada. É fácil rirmos dessa imagem de cópula e espíritos e filho e mãe. Somos ocidentais, zombamos de tudo que a ciência não chancela ou que um filósofo não elocubrou de modo lógico. Na crença nessa "jornada dos mortos", o tibetano não duvida, ele sabe. Se é verdade não faz a menor diferença. O que tem valor é a imensa margem espiritual que se abre, ao ocidental, ao se imaginar tal realidade. ----------------- Quando criança, cercado de japoneses, meu bairro era uma colônia nipônica, lembro que minha mãe dizia, não sei de onde ela soube isso, que o japonês chorava no nascimento e comemorava a morte. Sei hoje que não é bem assim. Mas o que importa é: de onde veio essa ideia? Nós, ocidentais, cremos realmente no mundo do além? Penso que o exagero, a inflação na cultura POP de fantasmas, bruxas, duendes, realidade paralela sci fi, física quântica simplificada, vampiros, mostra exatamente a falta de crença real e um desejo infantil e impotente de recuperar algo dessa fé perdida.

FALEMOS DE CAETANO E DE RITA

Eu não odeio Caetano e Rita. Mas hoje eu sei que eles me odeiam. E isso mudou tudo. --------------- Jung dizia que a individuação acontece quando vemos, inclusive, que nossos ídolos são falíveis. Eles eram apenas imagens-guias, muletas para minorar a dor de uma alma fraturada. Quando nos individuamos não mais precisamos deles. O processo é longo mas aqui no Brasil ele se encerra de modo violento. ------------------ As máscaras caíram nos últimos anos e os ídolos revelaram suas almas sem pudor. A imagem que hoje eles passam possui uma mistura de vaidade ditatorial e indiferença ao diferente. Pior: aquilo que eles chamam de democracia nada mais é que orgulho por comandar. Democrata é quem me segue. Aquele que se recusa a me obedecer não é democrata. ------------------- Diz também Jung que a alma individuada perde muitos dos "amigos" mas em compensação passa a fazer parte da "massa". Nada representa melhor meu estado atual que essa afirmação. Eu tinha dezenas de amigos, mas me via sempre como um ser superior à massa, portanto, fora dela. Hoje tenho apenas 3 ou 4 amigos, mas me vejo e me entendo como parte de uma comunidade planetária, a comunidade do "homem comum". ------------------ Caetano, assim como Rita, Cazuza, Gil, ficaram para trás. Dentro de mim eles vivem em um limbo, um tempo distante, mundo que aceito como parte de meu passado, mas que jamais poderá ser revivido. Olhar para eles é ver tudo que mais odeio no mundo: a aliança com a bandidagem, o relativismo do bem, o desprezo por valores que são eternos, o deboche. --------------- Eles me odeiam e eu sei que esse ódio é a confirmação do meu acerto. --------------- Por fim, li em algum lugar que nós somos aquilo de onde nascemos. Eu sou meu pai, meu avô, meu bisavô e minha mãe. E não há como ser diferente. Pois somos feitos do material, físico e espiritual, dos que nos precederam. O tijolo que nos fez, a pedra que nos sustenta veio da olaria e da pedreira que nos precedeu. A foto postada acima, alguns homens portugueses almoçando em pausa do trabalho, exibe em rostos e em alma a minha formação. Foi um longo caminho para os encontrar e uma árdua batalha para os amar. Me vejo neles. Adeus Cazuza. Voce não deixa a menor saudade.

JUNG E O TARÔ - SALLIE NICHOLS

Não vou falar especificamente sobre o tarô, deixarei para outro post. O que prefiro dizer agora é o conceito de individuação de Jung, o modo como ele vê no tarô uma espécie de mapa de vida, uma trilha e bússola que nos auxilia no encontro de nosso EU. ---------------- EU que não deve ser confundido com Ego. Pois o Ego é algo que construímos na vida que vivemos, enquanto o Eu nasce conosco e permanece sendo ele mesmo ao infinito. O Ego é uma espécie de identidade, máscara, modo de agir, modo de ser e de sentir, algo portanto que se modifica com o tempo e o espaço, que evolui ou se encolhe. ================= O EU é o que é, e pouco importa nosso tempo ou o que fizemos, ele permanece, daí seu caráter de eternidade. pois ele não existe como algo que muda com o tempo ou que existe em certo lugar. O EU, ponto mais profundo da alma, ponto que não é ponto, pois ele se move em todo lugar e em lugar algum, é ele aquilo que nos traz paz, verdade, sossego, pois do encontro do Ego com o Eu surge a sua Individualidade. -------------------- Jung não nos ilude. Não há plano ou método para se encontrar esse Eu. O que faz a vida é a sua busca. Estamos aqui para isso, para tentar o encontrar. Estamos aqui para nos individualizar. Somos ùnicos, cada um de nós uma pessoa sem par, e o tarô exemplifica a busca, a procura e mais que isso, ele nos apresenta os personagens e as situações que vivemos em nosso íntimo. Do LOUCO, carta Zero, até a carta 25, as imagens nos mostram aquilo que enfrentamos, nossas mortes e nossas renascenças. ---------------------- Jung sabe que em mundo que cobra união, associação, todos juntos e iguais, a individuação se torna mais difícil. Ser alguém fora do grupo e fora do costume se faz ato de coragem e de estranheza, mas por outro lado, a recompensa é ainda maior. O mundo e a vida são atos de indivíduos solitários que influenciam o grupo dos não individuados. Sem a busca do EU não há ação significativa. Um mundo onde todos ficassem estáticos, conformados numa uniformidade banal, seria um mundo sem história. O sentido do tarô aponta sempre para a frente. E al fim há o Eu, o seu Eu. Único.

EM BUSCA DA SOLIDÃO

O movimento mais importante da história humana é aquele que nos levou à solidão. Essa frase é de Nietzsche e eu ando o lendo com um prazer sublime. Irei então desenvolver essa ideia. ------------------ Se voce observar, mesmo hoje, um adolescente, irá notar que estar só é para ele um tipo de vergonha. de constrangimento. Esse é, pois, um sentimento arcaico que ainda sobrevive dentro dele. Observe agora uma favela. Por falta de escolha, a vida lá é totalmente comunitária. Todos vivem unidos a todos, e mesmo que voce não queira, sua vida é invadida pelas vozes, sons e atos dos vizinhos. Se então voce for a lugares onde o passado é mais vivo, aldeias indígenas, cidades da India ou núcleos tibetanos, irá perceber que ser excluído da comunidade é o pior castigo possível. Mais que isso, ser só é inimaginável, pois aquilo que cada membro da comunidade deseja, faz e teme é aquilo que o grupo deseja, faz e teme. ---------------------- Por 99% da história do homem a solidão foi o mais temido dos infernos. Mais que temer a solidão, era inimaginável que alguém pudesse a desejar. Desse modo, podemos dizer, com certeza, que a filosofia e a arte como as conhecemos, nascem no momento em que o homem se INDIVIDUALIZA. Em certo momento ele começou a ler em voz baixa ( a leitura durante séculos era feita apenas em voz alta, lia-se para ser ouvido por alguém ), morar com portas fechadas, falar em segredo, querer comer algo diferente do vizinho, e então pensar por si próprio. Esse movimento rumo à solidão começa mais ou menos em 500 AC no Ocidente. Artistas e escritores passam a fazer algo impensável: assinam sua obra! Se individualizam. ---------------------- O movimento é irrefreável. Estamos caminhando rumo à solidão total. Para isso nos livramos da corte de reis, das ruas com portas abertas, da Igreja como rebanho de ovelhas, e vemos agora o fim na família e das nações. Quando o GLOBALISMO fala em criar um mundo UNO ele não percebe estar criando um mundo UNO de pessoas distantes umas das outras. Se voce não tem uma nação, uma fé que te una á seu vizinho, se até mesmo seu sexo biológico é só seu, NADA fará de voce membro de uma comunidade. --------------- É por isso que todo movimento comunitário moderno acaba em Kaos ou decepção: Hippies, punks, veganos, e até mesmo socilistas. São movimentos que nascem como UNIÃO E IRMANDADE e se vêm depois numa espécie de SOLIDÃO EM GRUPO CADA UM NA SUA. --------------- A Direita mundial perdeu muito terreno por pregar a volta à família, à igreja, às velhas comunidades, quando na verdade seu apelo, seu Charme deveria ser falar, sem medo, daquilo que ela tem REALMENTE, no DNA, a solidão do EU Individualizado. Cada um criando sua vida e seu destino, o mais distante possível de governos, sindicatos ou modismos. --------------------- A riqueza e o poder de uma pessoa hoje é medida pelo quanto ela pode ter de solidão. Gente pobre TEM de viver em grupo. Gente rica usufrui do silêncio e da distância. Basta voltar 200 anos para ver que em 1823 gente rica NUNCA estava só e gente pobre vivia como numa granja. -------------- Toda invenção da tecnologia nos leva à solidão. Preciso citar exemplos? E no futuro, breve, a vida se fará em células auto suficientes e mesmo o trabalho e o ensino serão exercidos a sós. Quem quiser escrever um livro de sci fi relevante, que narre um momento revolucionário do futuro, passado em 2.200, que fale de um homem que ousa falar com um outro homem. Cara a cara. Se hoje ler em voz alta parece absurdo, falar com alguém será visto do mesmo modo. ---------------------- Nietzsche de certo modo elogia essa individualização. ( E essa é mais uma prova do quanto ele nunca foi fascista ). Mas ele sonha com a mesma individualização de Jung, a consciência de que há em voce uma originalidade criativa que deve ser libertada. E para isso é preciso negar o grupo. Nietzsche, como Jung, é sempre um aristocrata. O que ele pede é um movimento de aristocratização das massas, embora nenhum dos dois admita isso. O problema é que poucas pessoas têm o dom ou o interesse em se aristocratizar. Então o que vemos é que essa solidão atual e futura é aquela do ser vulgar, não criativo, comum. Uma solidão feita de depressão, negação, sem consolo. Uma solidão obrigatória, dada pela história do mundo, nunca escolhida e usufruida. Pior, solidão negada, vendida como "grupo social", " escolha", modernidade. ----------------- Se a Direita pode se vender como ideia de individualização, a Esquerda terá de trair a si mesma e inventar um tipo de socialismo de indivíduos, ideia que na verdade eles já vinculam, ideia que nada tem de socialista e muito tem de mera propaganda. ---------------------- Vale à pena tentar lutar contra esse movimento? Não, não vale. As forças da história são irrefreáveis. Mas por instinto haverá sempre aqueles que defenderão a família, a igreja, a vida em comunidade. Deveriam então perceber que são famílias sem pai ou mãe, sem refeições em grupo, sem proteção. Igrejas sem sentimento de doação e pertencimento e comunidades sem vínculos de gerações. O que digo é que o que nos resta de "velhas comunidades" já foi comido por dentro e delas só há a aparência. -------------- Melhor educar cada um para ser um Homem Criativo, um ser que ergue sua chama e constroi uma solidão só sua. ---------------- É isso.....

SWEDENBORG

O sueco Swedenborg nasceu em 1677 e morreu em 1772. Uma longa vida que na verdade foram duas. Na primeira vida ele foi um cientista. Bem sucedido. Na segunda parte ele foi um medium. Após uma vida dedicada à ciência, ele recebe a visita de espíritos e de anjos. Conversa com eles por mais de um ano e então escreve sua obra, obra que narra não só aquilo que eles lhe contaram como também aquilo que Swedenborg viu. Pois ele visitou o Outro Mundo. --------------- Primeiro entenda: Swedenborg era tão famoso em ciência que recebera até mesmo um título de nobreza. Segundo: o espiritismo na época dele não havia sido ainda divulgado por Allan Kardec. A "moda" espiritualista viria apenas no meio do século seguinte, cerca de 60 anos após a morte de Swedenborg. Mas... o que ele viu e ouviu? ------------------- Primeiro: não existe pecado original ou condenação ao céu ou inferno. A própria pessoa escolhe seu lugar no além vida. Há pessoas que se deixam seduzir pelo inferno, há pessoas que desejam o céu, e nisso se mostra o Livre Arbítrio. Deus não julga, a pessoa escolhe. ------------- Mas como? Então Swedenborg acha que o Genesis é uma mentira? Que não houve o Pecado de Adão e Eva? ------------- Não. Swedenborg crê na Bíblia mas ele diz que lemos a Bíblia de modo errado. Tudo nela é a narração do crescimento e da evolução da Alma. E sua obra é a "tradução", a exemplificação daquilo que a Bíblia diz por símbolos. Daí vem a imensa influência de Swedenborg sobre Jung. O psicólogo suiço usa, como Swedenborg, o símbolo. Jung vê na Bíblia e em toda religião uma mensagem simbólica sobre a evolução individual. Toda religião seria um código de evolução espiritual. --------------------- O livre arbítrio não termina com a morte. Após morrer, a alma sente mais afinidade com certas almas e segue então esse caminho, rumo ao céu ou ao inferno. Ela escolhe. O inferno, por ser essa alma ruim, guiada pelo mal, lhe parece apropriado. É um mundo sujo, decadente, cheio de intrigas, violência e escuridão. Não há castigo ou Demônio, Deus comanda o inferno assim como o Céu. Na eternidade infernal, a alma vive para sempre dentro do mal. Borges, que adorava Swedenborg, tem conto sobre o céu descrito pelo sueco. O que nos leva ao céu é a inteligência. Só pessoas evoluídas cognitivamente esclarecidas, amam o céu. Não é lugar de beleza ou de paz eternas, é como um local de discussão filosófica, de apreciação racional, um mundo frio, equlibrado, etéreo. --------------------- Na leitura da Bíblia, Swedenborg diz que existem 6 eras: a mais primitiva é a de Adão e Eva. A maioria das almas não consegue evoluir para além dessa era, mundo de escuridão onde a alma não percebe quase nada da Verdade e mal consegue usar a Inteligência. A terra é o recipiente do conhecimento, o lugar onde toda inteligência se concentra. O que ilumina a terra são a Fé e o Amor. Tudo que vem do homem é morto, tudo que vem de Deus é vida. O homem se comunica com o céu graças aos anjos que são mensageiros. Vem daí o conceito de intuição de Jung. Todo pensamento ou toda sensação de Bem, de Fé, de Amor vem do céu, de fora do homem, trazido pelos anjos. ------------------ Cercado por espíritos ruins, o homem celestial ouve apenas aquilo que os anjos lhe dão. Esse homem se torna a imagem do céu. A crença-fé no Divino fazem dele a mais perfeita das imagens. ----------------- Ao morrer, Swedenborg se tornou patrono de uma igreja que existe até hoje, predominantemente nos EUA. Ele previu com exatidão o dia e hora de sua morte e pouco se importou com ela, pois para ele esta passagem pela terra é apenas uma escolha a ser feita. O corpo nada significa e a alma é eterna. A vida é uma tentativa de renascer, de evoluir, de atingir o alto. Anjos não nos protegem de nada, eles apenas podem falar conosco. Tudo de bom e de melhor que há em nós não é nosso, é Deus em nós. Tudo se resume a tentar fazer o espírito falar, pois quando ele fala é Deus que fala em nós. ------------------------ Antes de terminar este texto falo agora de mim mesmo. Sim, houve momentos, raros e brilhantes, em minha vida, em que hiper inspirado, parecia ser Outra Pessoa que me guiava e que falava por mim. Mais que isso, nesses momentos houve uma felicidade calma, clara, nítida, que parecia resolver todo enigma. Esses momentos, se eu os tentar descrever, se caracterizam acima de tudo pela felicidade e pelo esquecimento de si mesmo. A inteligência fala e fala de um modo mais racional que a própria razão. O eu é surpreendido por si mesmo. Eu pareço ser mais sábio e melhor do que eu mesmo acreditava ser. ------------- Essas experiências, que vivi, se encaixam bem naquilo que Swedenborg disse, pois seria Deus falando em mim. Inspiração real. Nessa hora o corpo pouco importa e morrer não significaria nada. Esta vida, trevas que escondem símbolos, seria insignificante. Ou melhor, o que se esconde nela seria tudo. A morte de meu pai me deu essa clareza. Mas não só isso. ----------------- Por fim, devo dizer que o mundo de 2023, histérico, cheio de imagens, ordens, gritos, regras, pressão, dificulta cada vez mais qualquer chance de clareza. Um soldado numa trincheira poderia ter uma visão espiritual, mas um jovem envolto em modismos, falsos valores e confusão não tem como parar e perceber. O que digo com isso? Que nosso cotidiano, dito normal, é mais nocivo que uma guerra física real. Eu disse física porque estamos numa guerra espiritual feroz, terrível, decisiva. O mal predomina. Almas escolhem o inferno aos milhôes. ------------------------ Swedenborg estava certo?

NIETZSCHE, JUNG E A PERSEGUIÇÃO AOS FORTES

Uma amiga me envia um texto de Nietzsche. Fico assombrado com aquilo que Nietzsche diz. É exatamente tudo que acontece no Ocidente hoje. Eis alguns trechos: " Os doentios são o grande perigo do homem, não os maus, as aves de rapina....são eles, sao os mais fracos aqueles que corroem a vida entre os homens, os que mais perigosamente questionam e destroem nossa confiança na vida e no homem..... Neste solo de auto desprezo cresce toda erva ruim,e tudo tão pequeno, tão insincero, tão ADOCICADO...Aqui pululam os vermes da inveja e do rancor, aqui a simples visão do vencedor é odiada! E que habilidade para esconder esse ódio!...Representar o amor, monopolizam a virtude, a justiça, a sabedoria, mas tudo que os move é o ódio....Rondam entre nós com sua censura, com a palavra justiça, exibindo suas almas belas, atacando os felizes....É uma vergonha ser feliz em tanta miséria, eis seu mote, sua censura, sua justiça....Não pode haver erro maior que os felizes, os bem sucedidos, os fortes começarem a duvidar de seu direito a ser feliz...... POIS FORA COM ESSE MUNDO AO AVESSO! FORA COM OS FRACOS! FORA COM A DITADURA DOS RESSENTIDOS!"-------------------------- Escrito em 1889, eis a antecipação do mundo de 2023, a ditadura, absoluta, completa, dos fracos, dos invejosos e dos ressentidos. Mundo onde toda exibição de força ou de auto suficiência é vista como ofensiva, cruel ou irresponsável. ---------------- Começo pelo óbvio: Casa e família. Esse sempre foi o sonho de todo ser humano, ter uma casa só sua e fazer uma família. Pois hoje nada é tão atacado e ridicularizado que esse desejo. Casa pra quê? Voce se vira, voce é livre, pra que ter uma casa? Em último caso, o estado cuida de voce! E família? Pra que? Família é o mal do mundo, fonte de neuroses, pra que isso? Una-se à uma rede de amigos, de amores, tenha um cachorro, família não! ------------- Não se engane: uma pessoa com uma casa e uma família é uma pessoa forte. Ela lutará para defender o que é seu. Ela morrerá para salvar o que tem. Uma pessoa sem lar e sem filhos é um fugitivo. Ou um ser que diz: Tanto faz!, para tudo. Ele é nômade e nômades não lutam por nada, eles se mudam. ----------------- Pessoas fracas odeiam a alegria, odeiam a força e odeiam a independência. Seu ideal é uma população que não as ofenda, que não lhes recorde de sua covardia e de sua fraqueza. Na pandemia vimos isso ao extremo, qualquer um que ousasse não ter medo, não se apavorar era taxado de vilão. Ora, se voce tem um pingo de cultura sabe que em toda história do mundo, o heroi a ser seguido sempre foi aquele que não tinha medo. Os fracos seguiam o destemido. imitavam seu modo de ser. E o que fazia o heroi? Se expunha ao perigo e mostrava que o mal não era tão horrível. Em 2019 o heroi foi chamado de anti-ciência, vilão, idiota ou INDIVIDUALISTA. Guarde essa palavra, individualista. É aí que a tirania se revela. Nada é mais odioso à ditadura que um indivíduo. --------------- Eu nada tenho de heroico, sou um covarde, mas durante toda a pandemia me obriguei a não ter medo. Eu andava pelas ruas, sempre, e sem máscara, tive uma vida normal. Minha mãe não foi contaminada por mim e nunca se usou alcool em casa. Porque fiz isso? Para me exibir? Não, por fidelidade à minha filosofia de vida. Sou um individualista que cultua herois. Eu não me perdoaria se me deixasse ser apavorado pelo poder dos ressentidos. Ressentidos que amaram a pandemia e sentem saudades dela até hoje e para sempre. ------------------------ Não se engane. A arte que se faz hoje, seja POP ou erudita, é toda feita para humilhar os fortes e idolatrar a fraqueza e o medo. Não há um só dia em que não se ameace a vida com um cometa, o aquecimento global ou um vírus que virá ( todos são desejos dos fracos, eles amam ver os fortes sentirem medo ). Filmes lembram todo tempo da maldade do homem "egoísta", o inferno que é viver, o sofrimento do "sensível e bom", o vazio que há na vida. Sempre existiram filmes tristes, mas o trágico mostrava que havia uma coisa chamada "superação", que era preciso coragem, e que, como diz Jung, é preciso se individualizar para ser forte. O problema é que hoje ensinamos as crianças que ser fraco é ser bom e ser forte é um mal. A conta na farmácia vai subir cada vez mais, as indústrias químicas agradecem. ------------------------ O mesmo com a música POP. Sempre houve a música triste, mas hoje todo artista POP não é apenas triste, ele é um doente mental. Uma criança-velha que cultua sua fraqueza fofa. ---------------- Aliás nada é mais desejado hoje que ser uma criança. Se antes o alvo era ter uma casa e uma família, hoje a meta é ficar no quarto brincando. Amiguinhos na rede, sexo virtual, um pet pra amar e um trabalho "divertido". O Estado agradece. Dominar crianças é mais fácil que dominar adultos. Crianças querem ser cuidadas. -------------------- A depressão se faz comum à todos porque nossa alma pede por realização e ela só se dá na vida adulta. Seja espiritualmente ou biologicamente, todo ser precisa amadurecer, crescer, chegar ao seu apogeu. Quando a pessoa é mutilada por um meio que a impede de crescer, de ser ela mesma, de ser forte e livre, ela se frustra e se deprime. Lhe colocam uma máscara de "bondade feliz e amorosa" e essa máscara sufoca. Estamos matando uma geração. -------------------- Perversamente nunca se falou tanto em ser voce mesmo, escolha seu sexo, sua vida, seu estilo, mas observe, voce pode ser o que quiser, desde que seja FRACO. Desde que pense no GRUPO. Desde que não ofenda ou se imponha. Isso não é liberdade! Isso é um jogo de crianças incentivado por adultos perversos. É uma castração feita com drogas recreativas e sexo sem tesão. Uma imensa palhaçada. --------------------------- Esse povo, fraco, ressentido, invejoso, vai censurar e estigmatizar todo aquele que for adulto, forte e feliz. Olha ao seu redor que voce verá isso acontecer em cada esquina, na mídia e na arte. Pior, nas escolas, lugar onde desde cedo se ensina que o mundo é ruim e toda figura histórica foi um monstro. --------------- Nietzsche estava certo e Jung sabia qual a cura. Se invidualize. Siga os fortes e os independentes. Seja ousadamente feliz. E jamais obedeça oa grupo. --------------- Depois falo mais sobre isto.

ESPIONAGEM NA INGLATERRA E UM LIVRO MUITO PERIGOSO

Acabo de ler que um dos serviços de contra espionagem inglês possui um comunicado onde se lê: " Qualquer pessoa que for vista com o livro 1984 de Orwell, ou obras de Joseph Conrad, Tolkien, CS Lewis será considerada uma perigosa extremista de direita. Livros que pregam a contra revolução não podem ser tolerados. " Pasmado? Eu não. Esse movimento não é novo e durante a pandemia foi bastante solidificado. Na crise do vírus, governos perceberam que a população é hoje facilmente comandada. Quem foi e é crítico será sempre chamado de extremista. E de direita, porque quem não aceita a "união pelo bem " só pode ser um egoísta e todo egoísta é direitista. ---------------- Um técnico mostra na NET, com imagens, que a AI, a inteligência artificial que começa a ser dada agora para uso geral, já está ideologizada. Se voce pede para o cérebro eletrônico criar um poema sobre Bolsonaro, ele responde não poder criar nada que seja sobre política. Mas se voce pede um sobre Lula, ele te dá um longo poema sobre o heroi. ---------------- Eu não fico surpreso e nem alarmado. O bom senso prevalecerá. A incompetência da esquerda destroi a ela mesma. Aliás, acabo de reler mais um livro de Evelyn Waugh, e ele não entra na lista da Inglaterra porque ninguém mais o lê. MALÍCIA NEGRA foi escrito em um tempo em que as pessoas discutiam, não cancelavam e fingiam ignorar. Seria interessante ver um lacrador de 2023, um típico comedor de ostras da Vila Madalena lendo este livro. Como um nazista, ele provavelmente o queimaria na calçada. A sátira demolidora de Waugh fala de um imaginário país africano onde a crueldade e a corrupção impera. O presidente só se preocupa em parecer chique e fino, gasta fortunas em decoração e palácios, seus aliados o traem por qualquer quantia, o exército é antigo e sem disciplina, os estrangeiros brancos vivem em ócio impotente e loucos para fugir do lugar, cenas e mais cenas de assassinatos, roubos, fugas, troca de favores. Fome e miséria para o povo, uma nova limusine para o líder. Waugh jamais pensa estar sendo racista, ele simplesmente cria uma ficção que espelha a realidade. A África dos anos 60 era exatamente aquilo e escrever sobre o que se via não era ofensivo ou proibido. Não era coisa de chato de direita. Era a época de Idi Amin comendo a carne de seus rivais e de guerrilhas dizimando quem não lutasse por elas. Não houve um só país da Africa negra que não fosse vítima de líderes metidos à besta. Waugh nos faz sentir nojo e rir amargo. Sim, o livro é uma comédia. -------------------- Estou surpreso por ainda não terem se metido a criticar Jung por sua fé na INDIVIDUAÇÃO. Talvez porque Jung foi tomado por charlatâes que só percebem nele aquilo que desejam ver. Já Eliot, assumidamente conservador, é complicado demais para um militante censor e por isso ainda não foi atacado. Toda censura é burra e ao mirar em Orwell ou Tolkien eles esquecem do muito mais perigoso, para eles, Nietzsche, o homem que pregava o indivíduo sobre tudo o mais. Literatura de valor é sempre anti grupal e aqueles que tentaram ou foram fortemente socialistas envelheceram rapidamente: Gorki, Brecht, Shaw. Neruda só é lido na América do Sul, continente que nunca irá sair de 1968, e Saramago já começa a exibir teias de aranha em sebos. Mesmo autores "de esquerda branda", quando lidos com isenção, revelam, se são muito bons, um individualismo imenso, um descompromisso com revoluções, uma desconfiança às promessas de união pelo bem. Os ingleses vão ter de queimar mais livros que os nazis queimaram em 38.

AB-REAÇÃO, ANÁLISE DOS SONHOS, TRANSFERÊNCIA - CARL GUSTAV JUNG

Em termos de descrição daquilo que é o inconsciente, este é o texto mais claro de Jung que li até agora. Existem como que dois campos dentro de nossa mente, ou melhor, que constituem nossa mente: o consciente e o inconsciente. No ideal de bem estar, ambos estariam em equilíbrio, cada um existindo em seu campo. Mas isso raramente ocorre. O consciente, sobrecarregado, perde energia e nesse momento o inconsciente começa a se fazer perceber. Nosso consciente se assusta com os conteúdos do inconsciente e nasce a neurose. Tentamos escapar das imagens, das sensações, do universo irracional do inconsciente, nem que para escapar tenhamos de criar sintomas, manias, a ilha da neurose. Perdendo toda fé na razão, cheios de medo, dividido em dois, no meio de uma guerra interna, procuramos ajuda. O terapeuta assume a função de nossa consciência, começa então a transferência. ------------- Primeiro fato que percebo: O povo muito deslumbrado que pensa seguir Jung tende a hiper valorizar o inconsciente. Jung deixa claro que cabe ao médico salvar a consciência. Somente doentes têm a prevalência do inconsciente, o que se deve fazer é perder o medo do outro lado da mente, abrir algum tipo de entendimento entre os litigantes, mas sempre tendo a razão como guia. Penetrar no mundo escuro da inconsciência é sempre destruidor e a maioria jamais retorna dessa viagem. --------------- O que seria o inconsciente? É aquilo que resta de nossa história de milhôes de anos passados. O começo do homem como ser não-animal. Dentro desse mundo, não verbal, pois falamos de um homem sem linguagem verbal, o que existe é o medo do fogo, da chuva, o canibalismo, o incesto, a possessão demoníaca, a morte ritual, a inanição por fome, o não-eu, a não-compreensão. Tudo é imagem, é fagulha, é corpo. Não há o "Porque" e nem o "Para que". Não há tempo ou distância, tudo é sempre aqui e agora. Não é animal, pois é humano, mas é o mais primitivo dos humanos, o homem puro impulso, ação sem planejamento, instinto solto, fomes e desejos. Um mundo de fantasmas, de cavernas, de frio, de fuga e caça, de sujeira. ------------ Então, de forma muito lenta, e não se saberá jamais porque, o homem começa a criar a consciência. Primeiro ele se vê como um outro diferente daquele a seu lado. Depois ele planeja uma ação. E então começa a desenvolver um discurso. Acontece a cisão. Para poder sair do estado de natureza, ele precisa calar seu lado puramente instintivo, aprender a esperar, a negar, a se adaptar. A luta interna deve ter sido dolorosa. Não mais comer a carne humana. Não mais deitar com a irmã. Não mais roubar. Se submeter a lei. E passam os séculos....e cada vez mais o inconsciente fica lotado de tudo aquilo que o consciente não mais aceita: não bater em quem te ofende, não caçar, não guerrear, negar desejos. Explodem as neuroses, lógico. Nossa história não pode ser apagada. Nossa herança genética, espiritual, histórica, dê o nome que quiser, vive e respira. Ela mora nos sonhos. Nas neuroses. Na arte. E em ações sem sentido como a guerra e a auto destruição. Em todo homem moderno ocorre a guerra interna entre luz e sombra. E muitas vezes vamos à sombra pensando ser ela a luz. E vice-versa. ------------------ A religião cristã tinha um modo maravilhoso de lidar com isso. O consciente era o Paraíso. O inconsciente era o Inferno. Luz e trevas. De forma sutil, forma que não cabe aqui descrever, a Igreja pacificou o conflito dando aos fiéis sua escolha pacífica. Mas isso terminou no século XVI com a ruptura da Igreja em dois lados: Católicos e protestantes. Desde então a própria fé tomou partido e a cisão interna de cada homem se refletiu na cisão cristã. Para os de Roma são os protestantes os seres da sombra. Para os evangélicos, são os católicos os partidários do engano. Ambos jogam no adversário aquilo que não aceitam em si mesmos: sua sombra. --------------- Ainda não terminei de ler todo o livro e neste momento leio sobre a alquimia. Jung analisa imagens de antigos volumes alquímicos e nos explica toda a mensagem ali expressa. Breve posto mais.

MAIS CONSIDERAÇÕES SOBRE AGHARTA

Há uma cidade dentro da Terra e seu nome é Agharta. Uma lenda, uma crença, um folclore ancião. Miles pega esse nome e faz dois shows no Japão que serão a descoberta de uma cidade dentro de nossa alma. Esse o sentido do nome do disco. E a música, arte imaterial, a mais espiritual das atividades humanas, é a ferramenta para chegar até lá. Mas, que música? Miles sabe e intui: voce não irá falar com sua cidade profunda por meio de um mapa. Nem por um discurso. Não haverá um caminho, apenas um deixar ir. Ou seja, um ritmo. Uma percussão. E não será um avanço ou uma construção, mas sim uma repetição em círculo de um ritmo, um groove. Porque não se quer ir ao longe, mas sim ir onde se está, porém, para dentro. A música deverá girar sem se mover, perfurar e assim adentrar. O corpo ajuda. Como ajuda? Se tornando vazio. Perde-se e pede-se que o corpo abra mão de sua solidez. Ele se desmancha em dança. Esvai-se. Primeiro a cabeça que se faz um átomo em movimento circular. Depois as mãos que viram cometas. E o ritmo leva os quadris ao modo sexual. Não é mais voce ouvindo, é voce parte da música. Não há garantia, o êxtase pode não ocorrer, ele é raro. Mas haverá o perigo. Duende-dionísio. Frenesi-perder-se-deixar ir-entrar. A coisa gira. --------------------------------------- Eis a imagem da coisa girando.

JUNG, UMA BIOGRAFIA - DEIRDRE BAIR

Se voce quiser saber tudo sobre "a vida" de Jung este é seu livro. Mas se voce quiser entender algo sobre o trabalho de Jung, fuja daqui. Esta é daquelas biografias que detalham cada passeio e cada viagem de Jung, que apresentam cada pessoa que entrou em sua vida, mas que se abstém de explicar o porque de sua imensidão. Para mim é frustrante. Bair anuncia que em certa data Jung faz uma palestra sobre sonhos, mas não detalha aquilo que foi dito na tal palestra. Lendo, tive a sensação de que Bair não se interessa por Jung, ela se importa com a celebridade do psiquiatra genial. --------------- Falei genial? Não há sinal algum de sua genialidade aqui. Sua vida, segundo Bair, é um casamento mal arranjado, amantes mal amadas e um trabalho debaixo de holofotes. Não critico este livro por ele criticar Jung, Bair não o critica, ela o descreve de modo neutro. Mais que neutro, anódino. O Jung descrito por Bair é uma batata cozida. Sem sal. Sem azeite. Sem mostarda. ------------------------- A tentativa de se compreender uma mente tão ousada passa longe daqui. --------------------- Quem quiser entender o que seja uma grande biografia leia o Joyce de Ellman. Continua a ser o modelo que vive lá no alto.

O SÍMBOLO DA TRANSFORMAÇÃO NA MISSA - C.G.JUNG

Neste vasto, vasto livro, Jung nos mostra o significado profundo do ritual da igreja católica e do porquê dele ser um modo genial e racional de encontro das várias partes dispersas em nosso ser. Para isso, com sua assombrosa erudição, Jung cita textos gnósticos, alquímicos, judaicos, egípcios e nos faz entender o modo como o catolicismo, habilmente, anulou o perigo da vaidade gnóstica e nos deu a MISSA, a teatralização da vida e da morte de um Deus. Nela, nós, sem o perceber, somos mortos e matamos, comemos e somos comidos, bebemos e damos nosso sangue, somos testemunhas e ao mesmo tempo agimos. Disse que o livro é vasto? São apenas 90 páginas, mas são repercussões sem fim. --------------- Como posso dar a voces o gostinho, um sinal da abrangência de tudo isso? Quem me lê sabe que para mim Jung é guru pelo fato de que ele não me convence com suas palavras ou me seduz com suas ideias. Eu dou valor a Jung porque o que ele fala eu senti ANTES de o ler na carne e na alma. Percebo dentro de mim, desde sempre, a divisão entre meu insonciente e meu consciente, um atemporal, não verbal, eterno porque não começa em mim, cósmico, livre, e o outro, racional, preso ao tempo e às palavras, vigilante, medroso, finito porque nasceu quando nasci e deixará de ser quando eu morrer. Pois saiba que em minha vida, em momentos vários, eu senti o inconsciente em mim e ao redor de mim. Vi a indiferença com que ele existe, sua força imorredoura, sua eternidade ampla, independente, e ao mesmo tempo comum à todo ser humano. Somos os dois, mas a maioria vive no limite auto imposto de ser apenas o consciente, aquilo que fala, que sabe, que explica, que divide em partes. Pois saiba, a Missa é a mais bela forma de tentar integrar os dois. Como? Pelo exemplo do Cristo e pelo ato sem porque. ---------------- O ato sem porque: Não há razão no inconsciente. Ele não é apreensível pela razão e não pode ser descrito por palavras. Falar do inconsciente é matar o caminho. O inconsciente se faz perceber por imagens, atos sem sentido, símbolos, sensações. O incenso, o cálice, o vinho, o sino, tudo é modo de acessar o caminho para dentro. E há a cruz. ----------------- As duas linhas que se cruzam e formam quatro campos. No encontro, no centro da cruz, o ponto que é o centro do universo. Conhecer o limite do universo através do infinitamente pequeno. Mas, mais que tudo, ela nos lembra que para se conseguir ser o UNO, o INTEGRADO, aquele que não tem conflito, é preciso se dar em sacrifício. Dar sem esperar nada em troca. Dar por amor a quem se dá. Dar por dar. Abrindo assim mão do ser temporal, do que é seu, do que voce é. Morrer. Padecer. Eis o único modo de se RENOVAR. REVIVER. RENASCER. Não há ganho sem dor, mas não se deve dar esperando esse ganho. Não se pode procurar o sacrifício, ele precisa ser aceito. ---------------- Falando das palavras, Jung diz: " A ruptura do contato com o inconsciente e a tirania da palavra representam uma perda: A consciencia torna-se cada vez mais discriminadora e com isso a vida torna-se cada vez mais dividida em partes. Perde-se então o sentido de UNIDADE. A psique se rompe em divisão. O sentido se perde". ( Que bela discrição do mundo de 2022 ). --------------- A Missa é a história, sempre renovada, de um Deus que renuncia a si-mesmo, que abre mão de si e nos mostra o caminho da integração, da unidade. Um milagre sempre refeito: séculos passados e a missa se mantém como é: um momento atemporal e sem lugar. O grande milagre da Igreja explícito, a Missa existe. Sua ocorrência é o milagre maior. Pão e vinho, da duas maiores criações da cultura, o grão que vira pão, a uva que se torna vinho, e ambos se tornando sangue e carne. Comemos um Deus. A missa não foi criada, é uma manifestação de uma profunda necessidade. É uma mensagem sem palavras. Gestos e atos sem sentido que refazem o sentido. ------------ Explicar mata o mistério. Falar interrompe a comunhão. Paro aqui.

O ENCONTRO COM A ANIMA

Ela vem como a morte vem. Como o fim. Sua promessa é veneno. Ela é precisa, necessária e inevitável. Inenarrável e inexplicável. Ela anula seu ego e obscurece sua luz. É o abismo e o vazio, o nada absoluto. E ao mesmo tempo ela é tudo. ---------------- Ela não vem como força da natureza e portanto é uma união que não poderá dar frutos-filhos. Ela traz a marca de algum tipo de proibição-maldição, e trará em si um mundo que te é desconhecido. É uma surpresa esperada pela qual voce sempre ansiou sem saber que a aguardava. Resposta de uma pergunta jamais feita. Ela é o fim de seu desejo. ---------------------------------------------------------------------------------------------- Segundo JUNG, todo homem necessita viver, uma vez na vida, o encontro com essa figura feminina. A Rainha de Saba. ( No cinema, a Femme Fatale ). É a mulher proibida. Ela traz em si a negação daquilo que voce pensa ser. Ela desafia seu mundo por vir de outro universo. É o outro lado do espelho. A estrela negra. A sombra sedutora. A morte. Estar com ela é como morrer ou matar. Pois ela nega o que voce foi até então. Ela é o encontro com o complemento. A formação do ser andrógino. Não há futuro nessa relação, mas ela é o próprio evoluir. Haverá um obstáculo: Ela será casada. Ou muito jovem, muito velha ou de classe social-cultural muito distante. De todo modo, seus amigos-família terão suspeitas sobre ela. Ou melhor, nem mesmo irão a conhecer. Pois ela é secreta. Voce é dela ( mesmo tendo outra, mesmo longe dela sendo o de sempre ), mas ela jamais será sua ( mesmo se dando completamente). Há muito de maldição aqui. De pecado. De sina. De erro aparente. É desafio, guerra, luta, vitória na derrota. Detalhe: a união sexual poerá jamais ocorrer. A interdição pode ser grande demais e tudo ficar na expectativa que não se deixa resolver. Mas o encontro das almas ocorreu. A promessa foi cumprida. A maldição foi vivida. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estava nas estrelas. ( Escrito ao som do CONCERTO PARA PIANO NÚMERO UM - LISZT - O MAIS FANTÁSTICO DOS CONCERTOS E O MAIS SENSUAL DOS COMPOSITORES )

AFINAL: O QUE É SINCRONICIDADE?

Sempre, desde criança, houve em mim uma sensação estranha. Vou tentar a descrever de um modo bem simples, sem poetizar, embora esta sensação faça parte do que chamamos de poesia, forma fácil de colar rótulo naquilo que deixa nossa razão confusa. Pois bem: Deitado em minha cama, no meu quarto azul, eu tinha a nítida sensação de que por detrás da parede que dava para a cozinha, havia um compartimento secreto, um local da casa que ninguém conhecia, onde ninguém jamais havia estado, e mais, lugar que somente eu suspeitava existir. Cedo em minha mente, esse é apenas um exemplo, se criou a ideia de que NOSSA MENTE CRIA AQUILO QUE CHAMAMOS DE REALIDADE. O mundo real, o mundo dos fenômenos dos sentidos é uma escolha. Explico melhor. ---------------------- Quando saio à rua e vejo uma rua eu tenho duas escolhas: andar á esquerda ou a direita. Uma rua serve para isso, e apenas para isso. Pois eu te digo, uma criança ainda não DOMESTICADA, verá na rua a possibilidade de ir em qualquer direção. Ela achará invadir um quintal ou entrar num bueiro escolha tão válida como esquerda ou direita. NOSSA MENTE CRIA A REALIDADE DA RUA COMO ACHAMOS QUE ELA É E DEVE SER. No ponto mais extremo, nossa mente acredita que A REALIDADE É A PALAVRA E APENAS A PALAVRA. A VIDA É UM TEXTO E LINGUAGEM TEM REGRAS FIXAS. O que não é texto não existe. ---------------- Quando um físico olha a realidade ele a olha dentro das regras de física, e mesmo os aparelhos por ele feitos serão conforme sua mente. O mesmo se dá em qualquer outra ciência, e por isso a realidade última, aquela pura e simples nos é inalcançavel. Vemos o mundo de acordo com os conformes de nossa mente. Não olhamos o céu como ilimitado espaço, mas sim como um azul com nuvens. Mas mesmo o ilimitado espaço é uma criação de nossa mente, pois talvez ele seja algo que não conseguimos captar. ------------- O mundo do meu cão me é completamente distante. Ele reage a mim e eu a ele, mas o universo onde ele vive é outro. ------------- Vou dar agora um salto: falarei de história, okay? ------------ Nós, que moramos nas Américas e na Europa temos um grande trauma. Éramos povos, seja voce negro africano, celta alemão ou indio dos Andes, que vivíamos dentro de um certo universo. Falarei dos celtas, meus antepassados, mas isso serve a qualquer um que tenha sofrido esse salto traumático. -------------- Pois bem...lá está meu tatatatataravô. Ele vive no bosque. Sente que as árvores têm alma. Sacrifica humanos aos deuses da guerra. Ama a luta e a coragem. Morre aos 30 anos, em combate. Tem xamãs que lhe ditam imagens. Se guia por presságios. Vê naquela rocha a alma de seu antepassado. Dentro desse mundo, não importa valor aqui, há uma história. Talvez, após séculos e séculos, esse homem se tornasse outra coisa. Talvez ele passasse a odiar a guerra ou a ter vinte esposas. Talvez ele cultuasse os mortos ou então os negasse. O certo é que ele CRIARIA SUA HISTÓRIA E COM ELA SEU UNIVERSO. Mas um dia lhe foi cortada essa história. Uma cultura e uma fé ESTRANGEIRA lhe foi imposta. Uma LÍNGUA alienígena ensinada e exigida. Eis o trauma. Sua história sofreu um aborto. -------------- Mas esse CELTA não morre porque nada morre no mundo. Antes se adapta. A guerra permanece, mas sem o caráter de dever ou de cerimônia. A magia se conserva, como astrologia, busca por religiões não oficiais, drogas que criam visões, arte fantástica. Mas observe: tudo é jogado no QUARTO OCULTO, e é isso o INCONSCIENTE COLETIVO. Mundo onde a língua não tem acesso porque ele é iletrado. Onde o tempo nada modifica, pois ele não faz parte da história. Mundo imortal pois está preservado em sua morte que não foi morte, foi antes um ocultamento. ---------------- É nesse inconsciente arcaico, eterno, que se dá a SINCRONICIDADE. Pois se nossa razão se ocupa do AQUI E DO AGORA, DO PARA QUE E DO POR QUE, o inconsciente vive no ISTO É. E assim, nossa mente, que seleciona e cria a realidade perceptível, é pega desarmada pelo inconsciente, que lhe assalta e joga na cara AQUILO QUE É NOSSO E AO MESMO TEMPO NÃO É. -------------------- Complicado? Palavras não servem aqui. Então falarei do sonho que tive ontem.No SONHO eu havia conseguido um diamante. Uma pedra do tamanho de um ovo. Não havia a comprado, tinha ganho. Então encontrava minha namorada e dizia à ela que não eram aneis, que não ia casar com ela, era um diamante só meu, valioso. Surge então uma outra mulher, mais bonita, formando-se assim um triângulo. A minha namorada se torna alguém menos atraente. Fim do sonho. Nada demais não é? Será? Logo esqueço do sonho e vou ao trabalho. De volta pego um gibi do Fantasma para ler. Na história, 3 ladrões roubam o tesouro do Fantasma. Baús e sacos cheios de diamantes. Nesse momento recordo o sonho. Acho engraçado a coincidência. Durmo e no dia seguinte pego um livro para ler. Logo no início é narrado um sonho onde o heroi pega um diamante de uma árvore. Eis a sincronicidade. ------------------- Como acontece? Mera coincidencia? Estatisticamente qual a probabilidade de eu pegar um gibi e um livro, em sequencia, com diamantes como tema? --------------- Segundo Jung, meu inconsciente coletivo me guia a encontrar aquilo que DEVO ver. Ele cria a minha realidade. Ele sonhou e ele sabia que aquele gibi e aquele livro me convinham naquele momento. Parece magia? É MAGIA bebê. -------------- Nada na vida é por acaso. Cada encontro e cada fato faz parte de uma sincronia de eventos, eventos que não temos como entender racionalmente, mas que apreendemos por intuição. Ninguém entra em sua vida sem ter nenhuma afinidade com seu destino, voce não dá um passo sem a autorização de seu inconsciente. Melhor dizendo, sim, voce vai ao trabalho por ato racional e de vontade consciente, mas é seu inconsciente que a longo prazo, DIA A DIA, lhe guiará para o desastre ou o sucesso espiritual. Simples observar alguém bem sucedido que se dirige inconscientemente à falência. Simples ver uma pessoa apaixonada plantar a desarmonia dia a dia. O CELTA feroz, o iletrado guerreiro se manifesta sempre. E seus desejos nem sempre são os seus. ---------------------- Espero ter sido entendido.

SINCRONICIDADE - JUNG

Não é um dos melhores textos de Jung. E antes que voce reclame, já aviso que gosto muito desse psicólogo suiço. Jung não teve tempo para desenvolver melhor esse conceito novo, a sincronicidade, e do jeito que está aqui, parece bastante precário. ------------- Do livro todo, a melhor intuição é a de perceber, muito antes que qualquer outro colega, que a matemática, a física e a estatística seriam as melhores ferramentas para a psicologia do futuro. Jung estava por dentro, e se sentia fascinado com as então recentes descobertas da física sub atômica. Wolfgang Pauli o ajudou neste volume, lhe deu dicas e informações sobre a física mais moderna. Jung percebeu que após a queda da física mecânica-newtoniana, o império da causa e efeito como lei única e imutável ruía. Assim como ocorria no espaço cósmico e no mundo infimamente pequeno, nossa mente teria processos misteriosos, que escapariam da lei observável. Ele passa usar dados estatísticos e observações in loco para tentar provar a sincronicidade. Sincronicidade sendo um tipo de fenômeno mental sem motivo, sem causa, sem porque. Se Jung tivesse vivido mais, ele entenderia, teria percebido que o campo do acausal não suporta coisas como prova, teste ou previsão. Para obter uma prova sicrônica ele usou o método clássico científico. Não poderia jamais dar certo. ------------- Grosso modo, Jung intui que nossos pensamentos, nossas percepções não racionais independem de tempo e espaço. Nisso ele acerta na mosca! Fato mais que aceito hoje, nossa vida emocional, espiritual, intuitiva não se insere dentro do mundo de tempo e espaço. Independe de local, distância ou data. Isso porque, e aqui Jung acerta outra vez, nosso inconscinete coletivo é anterior a criação da vida como tempo e local definido. Nosso espírito, chamemos esse campo assim, está além e antes do tempo, além e abaixo do aqui e agora. Bergson criou toda uma filosofia sobre isso. A física hoje aceita essa ideia sem qualquer problema. ---------------- Jung se arrisca mais ao tentar entender onde vive nosso espírito. Se o cérebro é substância dentro do tempo e do espaço, como pode ele criar algo que independe de tempo e espaço? Vários casos de experiêcias de coma, de trauma mortal, de parada cardíaca são relatados. Pessoas que viram seu corpo como algo independente de si mesmo. Casos que se repetem toda semana, todo dia, toda hora mundo afora. Jung parte daí para criar a sincronicidade. --------------------- Um dia eu estava andando na rua e pensei, não sei porque, numa amiga que não via fazia cinco anos. Assim que ergo os olhos vejo-a diante de mim, parada no semáforo. Isso é sincronicidade. Jung diz não haver para isso nenhuma explicação racional. Isso mesmo, ele não teme dizer que nossa razão jamais entenderá esse tipo de fenômeno. Na mente existe todo um universo incompreensível, milagroso. A sincronicidade é um deles. ------------- Ao pensar minha amiga eu adentrei, sem saber e sem querer, o mundo sem tempo e sem local da minha mente. Um lugar mental que não é um lugar, é um todo, um momento que não existe como momento, é um eterno agora. Nesse universo voce acessa, sem pensar nisso, símbolos, sonhos, visões, lembranças, futuros que são sempre presentes. -------------------- Bonito? Jung insiste que na verdade tememos muito esse mundo. ------------- Mas afinal, onde fica nossa mente espiritual? Jung diz que na sincronicidade, nosso espírito fica paralelo ao nosso corpo e não dentro de nós. Haveria um paralelismo sincrônico entre nosso cérebro, animal, sólido, funcional, e nosso espírito, intuitivo, inconsciente, sem tempo e lugar, sem ego. Ele evita levar isso ao campo da religião, nada de conversa sobre se esse espírito viveria sem um corpo etc etc. Mas ele não teme o risco. Essa tese é corajosa. ----------------- Não, não é um bom livro. As teses são interessantes, mas como disse, ele não teve tempo para o desenvolver. É um rascunho. A tão famosa sincronicidade de Jung é apenas uma ideia que não pode ser pensada à fundo. Pena.

INTERPRETAÇÃO DO DOGMA DA TRINDADE - C.G. JUNG

Comecei a leitura deste livro, apenas 90 páginas, ontem. Tive um sonho esta noite, sonho que relatei à minha mãe: " Pipoca, minha cachorra, vivia num jardim com outro cachorro, uma pequeno boxer preto. Um gatinho cinza aparecia por lá, eu o alimentava e impedia que Pipoca se aproximasse do gato". Apenas isso. Agora de manhã termino a leitura do livro, e logo leio este trecho: " Sonhos com a trindade são comuns e nascem sempre do mais profundo inconsciente. Sonhos onde vemos ( alguna exemplos )...e dois cáes e um gato...". --------------- Minha relação e crença em Jung não se dá porque o ache bom escritor, não é, ou consolador, não quer ser, mas sim porque empiricamente, dentro do possível, ele passa pelos testes. Jung é real em minha vida. Ele faz sentido empirico. Neste texto ele expõe a ligação, saudável e necessária, dos símbolos cristãos com nossa mente. De um modo que não podemos racionalmente entender, a simbologia cristã, principalmente a católica, satisfaz e pacifica nosso inconsciente coletivo. É um arcabouço de imagens e de mitos que falam fundo dentro daquilo que somos. ----------------- O PAI. O FILHO. O ESPÍRITO SANTO. Não é preciso explicar isso, é necessário crer neles. Do Pai nasce o filho. E da união dos dois surge o Espírito Santo. Eis a trindade. Jung sabiamente diz que nossa vida refaz esse caminho: do meu pai eu surjo. Devo me contrapor à ele, o negar, me fazer filho. Depois, ao tomar consciencia do que sou, me reconcilio com o pai e então estou apto a ser eu-mesmo. Eis o milagre do espírito santo: me torno aquilo que sou. Jung não teme dizer: sem a fé e sua simbologia não há vida mental produtiva. É a religião que nos liga àquilo que é da comunidade desde sempre: a vida do inconsciente coletivo. Do que não tem voz e não se comunica de forma legível. Daquilo que é eterno. ---------------- O texto é fascinante e gostaria de o explicar inteiro. Jung fala da necessária quaternidade, fala de Pitágoras, Platão, do Diabo como o mal que dá validade ao bem e que nos faz ter de escolher. Para Jung, Satã, o anjo que ousou questionar, seria um vértice da trindade, secreto, o pé da cruz. ------------- Jung defende a superioridade da igreja católica sobre os protestantes. Ela, a romana, usa imagens, ritos e palavras que mesmo que não mais as entendamos, falam fundo dentro de nós. Há ainda uma forte crítica ao mundo moderno. Perdemos a capacidade de mergulhar na simbologia. Por orgulho intelectual, não nos subjugamos ao Pai. Evitamos a reconciliação e ficamos presos, para sempre, no papel de filho. Jamais alcançamos o Espírito Santo. Vaidade racional. Orgulho intelectual. Independência ilusória. Por esses valores futeis, deixamos de cumprir a trindade. -------------- Pois ser adulto é se deixar comandar, se permitir obedecer, seguir sem mais questionar. Para Jung, muitas são as armadilhas, pois esse papel, de guia, de comando, pode ser tomado pelo fascismo comunista ou nazista, por falsos profetas ou teorias delirantes. Jung diz que dois mil anos provam que a igreja cristã é o guia mais confiável. A igreja soube escutar e dar voz ao inconsciente coletivo. Ela entendeu a necessidade mais profunda do homem. Por outro lado, as correntes baseadas na razão perdem o caminho rumo ao inconsciente. Pois são todas baseadas na palavra, no discurso, no que se pode ver e provar. -------------- "Atinge-se o estado adulto quando se volta a ser criança, no sentido a que se permite a um outro adulto tomar o comando". Eis a humildade cristã. Eis o NADA SEI de Sócrates. --------------- Evito falar aqui do problema do mal, pois não quero ser leviano e para não o ser teria de copiar palavra por palavra o texto de Jung. Encerro então, dizendo que Jung não tem a vaidade de valorizar sua "sabedoria médica". Ele diz em alto e bom som, que a religião é superior a psicologia, a metafísica mais vasta que a física, e que não é uma questão de aceitar Deus ou não, pois Ele é. Fora da linguagem religiosa a vida deixa de fazer sentido, nossa jornada se torna absurda e o mal se relativiza. Se voce pensou no mundo de 2021, voce acertou. -------------- Boa leitura.

INCONSCIENTE

Vou considerar apenas o DNA. Nada de alma portanto. Por 200 mil anos, no mínimo, vivemos a experiência de ver lobos trucidarem nossos companheiros. E ao anoitecer sentíamos o pavor indizível da hora da fera. Escondidos em árvores e depois em cavernas, encostados, passávamos a noite escutando urros, gritos, guinchos. Todo amanhecer era a alegria de mais uma vitória. Por 200 mil anos, na verdade mais, matávamos quem roubasse nossos grãos, matávamos por nossa área de caça, matávamos por nossa mulher, tomada. Se esperava de nós que assassinássemos bem. Capturamos bichos. Plantamos muito depois, e mesmo como agricultores, lutávamos para manter a terra. Por 200 mil anos, ou mais, bem mais, jogávamos ao lixo nossos bebês defeituosos. Sobrevivia quem podia ajudar a sobreviver, os doentes atrapalhavam. Nossos corações viviam encharcados de adrenalina, nossos ouvidos sempre alerta, prontos para fugir ou para brigar. Todo o tempo. Não havia família. Enquanto fosse forte um homem procriava com quem pudesse. Quando fraco, que se escondesse. Os filhos eram das mulheres, só ao crescer o pai os tomava e os levava à caça. E a guerra. Não havia propriedade. Tudo era do clã. E o clã tinha seu chefe. Esse chefe era aquele que melhor matava. Simples assim. Para poder comer, ou ter um teto, voce se submetia ao clã. A religião era a explicação da vida. Uma defesa contra o medo. A arte era sempre religiosa. Tudo era exterior. Eternamente em luta, não havia tempo de olhar para dentro. Não mais de 5000 anos de civilização como a conhecemos. E civilizar é sempre reprimir. Voce não vai tomar e estuprar sua vizinha. Voce não vai fugir da defesa do grupo. Será mantida uma lei, e ela tem por objetivo dar rumo e ordem ao grupo. A lei necessita história, tradição, costume. Nossa mente começa a ser ocupada por regras, novos hábitos, obrigações. Para onde vai o homem antigo? Para a caverna da mente, a zona escura, o inconsciente. Não se apaga essa herança por simples vontade. Ficou escrito em algum gene: matar, fugir, se esconder, estuprar, grunhir. Medo. Muito medo. Voltando no tempo somos 100 mil pessoas no planeta. Ou menos, claro. Tivemos as mesmas experiências. Por milênios. Somos todos parentes. Temos portanto o mesmo inconsciente. Coletivo. Esse inconsciente está a espreita. Eis ele surgindo em sonho. Numa doença mental. Num ato gratuito. Na arte. Na fala involuntária. No transe. Num crime. Numa guerra. Saúde é conseguir harmonizar consciente-civilização com o inconsciente-barbárie. Como? Nunca pela palavra. Por atos. O inconsciente não fala, faz. Simbolize.

TIPOS PSiCOLÓGICOS - JUNG

"Em épocas arcaicas não havia individualidade. Rousseau estava errado. O homem primitivo não era livre. Ele sofria a pressão da coletividade de forma absoluta." " Esse poder opressor está vivo dentro de nós. Estado e igreja são a exteriorização do poder que internalizamos em nosso passado mais arcaico. O poder dos dois não é tão forte quanto permitimos que seja". " Para a força coletiva nada é mais odioso que a individualidade. Para o barbarismo tudo tem de ser feito para todos. O indivíduo é uma criação da cultura ". " Para o introvertido, Deus é procurado dentro de si mesmo. Para o extrovertido, Deus se encontra no mundo, Ele é um encontro fora de si". " Duas mentalidades opostas: Uma procura fazer do mundo aquilo que ela pensa ser o certo, outra olha o mundo e procura tirar proveito daquilo que se apresenta. São inconciliáveis. " " O individualismo nasce com a creça cristã de que cada um possui uma fagulha divina e que cada um é responsável por sua salvação. " " Uma das certezas mais ilusórias de nosso tempo é crer que a religião pode ser banida de nossa vida com um simples desejo de negação. Ela faz parte de nosso modo de sentir, pensar, e formar nossa ideia de vida. E assim como o paganismo, ela está incrustada em nosso inconsciente". " Artistas e filósofos, os verdadeiros, trazem sua ideia do inconsciente. Têm acessa á essa fonte. Por isso logo o mundo os segue, pois eles apenas antecipam aquilo que o inconsciente pede à todos". " No mundo tecnológico, QUANTO MAIS O HOMEM COLOCA SUA LIBIDO EM SEUS OBJETOS, MENOS LIBIDO ELE TERÁ EM SI MESMO. Haverá um esvaiziamento interno e um excesso de libido na máquina ". Estes são frases coletadas dessa imensa, difícil, compensadora obra de Jung. Lançada em maio de 1920, temos então seus 100 anos. Dos gregos aos primeiros cristãos, depois Schiller, William James, Nietzsche, Schoppenhauer, Spitteler, a cultura de Jung é imensa. Eis um volume que vale por enciclopédia. Procure e leia.

ALMA LIBIDO E ANIMA

Ande comigo minha alma, anima, sombra que espreita minha vida. Se falo demais, então é voce calada, se penso demais, então é voce impulso. Espelho, imagem invertida, se sou viril é voce pura feminilidade. Fértil. Olhe para mim alma que me dá libido, libido que não é sexo apenas, é investimento, energia que injeto em algo que está em mim. Ou não. Mulher que vejo na rua agora, e onde projeto a minha alma. Invisto energia. Libido feito imagem fora de mim. Beijar minha alma em voce. Ouvir minha alma em voce. Unir. Se eu sou a pedra é voce água. Se eu sou mudança é fixa sua presença. Indomável alma, feminina alma, todo homem tem alma mulher, toda mulher tem alma homem, abraça-me. Imagem à janela que me encanta desde que vim ao mundo. Olhar lânguido que é um lago e uma fonte. Alma minha eu sou seu.

DOIS TIPOS DE POETAS

Yeats é um tipo introvertido. Whitman um tipo extrovertido. Yeats vê dentro de sua mente uma paisagem enevoada, e dessa paisagem ele tira uma narrativa. Whitman vê soldados em meio à guerra civil, e disso ele desenvolve sua poesia. Yeats joga sobre a torre, real, em Sligo, aquilo que dentro dele ele vê. Yeats sente que o mundo vive em sua alma. Whitman olha para o mundo e do mundo ele absorve aquilo que dentro dele entrará. Ele é parte do mundo. Yeats acharia Whitman muito ativo demais. Talvez rude demais. Quem sabe até mesmo ríspido. Whitman veria Yeats como um delicado. Egocêntrico demais. Idealista que não sente o gosto do mundo real, como ele é. Todos nós somos os dois, e é claro que os dois tiveram seu lado contrário. Mas um dos lados nos domina por um tempo maior. Nos traimos por nossas ações mais planejadas, pela nossa rotina, pelo que nos interessa. Observe: Yeats não parecia ligar para o sucesso. Whitman queria ser a voz de sua nação. Tudo nele está voltado ao outro, ao cidadão. Yeats escrevia para as fadas. Para si mesmo. E no máximo cinco amigos. Whitman falava com um país inteiro. É arriscado e ingênuo querer falar da personalidade de duas almas tão complexas e distantes de nós. Mas a obra de ambos nos dá essa chance. ( baseado em Jung mas ele não usa esses exemplos )