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CLINT/ PAUL NEWMAN/ MARLON BRANDO/ FRED ASTAIRE/ RITA/ POWELL

SUPER 8 de JJ Abrams
Simpático filme de um sub-spielberg. Uma repórter ( não lembro o nome ) ao escrever de Abrams falou dos caras vindos da tv e que não deram muito certo. Ela esqueceu do principal, James L. Brooks, um diretor vindo da tv ( Mary Tyler Moore, Taxi, Os Simpsons ) e que ganhou Oscar de direção ( Melhor é Impossível ). Este filme, leve, bem levado, efeitos sem exageros, é uma competente diversão de fim de tarde. Um alivio. Nota 7.
A MARCA DA FORCA de Ted Post com Clint Eastwood
Em 1968, retornando de seu auto-exilio italiano, Clint faz este western. É sobre um vaqueiro que é enforcado e sobrevive a isso. Ele se torna delegado e parte à vingança. Há algo de Dirty Harry aqui, mas falta ritmo ao filme, falta direção. Sinto em dizer, é chato. Nota 3.
REBELDIA INDOMÁVEL de Stuart Rosenberg com Paul Newman, George Kennedy, Dennis Hopper, Harry Dean Stanton
Kennedy levou Oscar de coadjuvante e o filme foi sucesso de público em 1967. Newman é um cara que cumpre pena de dois anos por danificar parquimetros. Na prisão rural, ele se torna uma lenda por seu jeito safado-cool de ser e por suas fugas que nunca dão em nada. Filme pop de primeira. Se voce o assistir como aventura ficará satisfeito, mas se pensar sobre suas cenas verá uma parábola sobre Jesus Cristo. Tudo com humor, drama e uma atuação maravilhosa de Paul Newman. Um ator sempre adorável. Assista que vale muuuuuito a pena. Nota 8.
ZORRO, THE GAY BLADE de Peter Medak com George Hamilton e Lauren Hutton
Em 1978 foi considerado o pior filme do ano. Hoje é cult. Zorro tem um irmão gay. Quando ele se machuca, o gay assume seu posto. Chanchada simpática, mas muito menos engraçada do que se desejaria. Motivo: o irmão gay aparece pouco. Hamilton faz os dois. Foi considerado o pior ator do mundo na época. Nem tanto, o afetado com suas roupas de cores fortes é boa criação à Mel Brooks. Nota 3.
OS QUE CHEGAM COM A NOITE de Michael Winner com Marlon Brando e Stephanie Beacham
Em seu grande ano ( 1972 ), Brando fez 3 filmes: O Chefão, O Último Tango e este gótico inglês. O roteiro conta o que teria acontecido na mansão de Os Inocentes antes do filme de Jack Clayton. Ou seja, é um prólogo a Henry James e seu A Outra Volta do Parafuso ( que no cinema é o clássico Os Inocentes ). Brando é um brutal e infantil trabalhador rural. Ele é amigo dos filhos do patrão, um casal de crianças que o tem como ídolo. Os dois começam a imitar Brando em tudo, principalmente em sexo, pois eles espionam Brando em suas cenas de sexo sádico com a professora dos dois. O filme tem um belo clima soturno e filmes passados no campo pantanoso inglês são sempre interessantes. Mas tem mais, uma excelente trilha sonora de Jerry Fielding e uma atuação magistral de Brando. Enorme, cruel, sensual, simpático e ruim, tudo o que ele faz é violento, estúpido, errado. Ele faz crescer muito o filme com seus olhares tortos, as mãos de animal e a voz que é um sussurro primitivo. O roteiro tem momentos de quase tolice, mas Brando salva tudo por estar quase sempre em cena. Winner era considerado um diretor enganador em seu tempo ( anos 60/80 ), mas este filme está longe de ser ruim. Boa diversão para madrugadas de insonia. Nota 7 ( por Brando ).
O DIA DEPOIS DE AMANHÃ de Roland Emmerich com Dennis Quaid e Jake Gyllenhal
Todos conhecem esse filme. Posso jogar nele a filosofia de Pascal: imaginação. Usamos nossa imaginação para acreditar estar vendo um belo filme de ação. Mas o que vemos na realidade é um filme sem imaginação, sem suspense algum, sem alma. Neve, gelo, e o prazer doentio de se ver o planeta morrer. Os efeitos são ok, apesar dos lobos ridiculos. Quaid foi um dos atores mais interessantes nos anos 80 e envelheceu muito bem. Ainda tem aquele ar de malandro boa gente. Já o tal Jake é a cara dos anos 2000: um nerd inofensivo com olhos de mangá. Nota 4.
BONITA COMO NUNCA de William A. Seiter com Fred Astaire e Rita Hayworth
Uma menina que atende na 2001 conversou comigo quando comprei este dvd. Ela fala como pode existir gente que gosta de cinema e não assiste os clássicos. Falo que essas não são pessoas que gostam de cinema, são pessoas que gostam de ir ao cinema ou de ver dvd, o que é muito diferente de gostar de cinema. Ela descobriu os filmes clássicos através dos musicais, o que é uma coincidência, pois eu também tomei contato com a velha Hollywood via musicais. Aqui temos o gênio de Astaire na Buenos Aires made in California. Lá, ele se envolve com filha de rico argentino que não quer que eles se casem. Mas ela, Rita, o ama.... Como em quase todo musical, a história é um quase nada, mero acessório para as canções e danças e também as frases espertas dos diálogos. Não é um dos grandes musicais, mas é tão bom olhar para Fred, ele nos dá uma alegria tão leve, tão prazerosa é sua visão... assim como a beleza de Rita, no momento em que ela começava a ser estrela. Agradável, alegre, é aquele mundo do musical em que a gente pensa: Ok, nada a ver com a vida real, mas e daí? Viva a ilusão!!!!! Nota 7.
UM DE NOSSOS AVIÕES NÃO REGRESSOU de Michael Powell
Feito em plena segunda-guerra, fala de um avião que é atingido pelos nazis ao voltar de um bombardeio em Dusseldorf ( foi bombardear a fábrica da Mercedes ). Caem na Holanda, e o filme mostra seu retorno a Inglaterra ajudado pela resistência holandesa. Um elogio ao povo holandês, e os nazis não são pintados como demônios. Powell fez várias obras-primas, mas este filme, de certo modo propaganda de guerra, não é dos maiores. A volta acontece de forma fácil demais, sem grandes perigos, simples. Nota 6.

SUPER 8, FILME DE JJ ABRAMS, TEMPO SEM HISTERIA

A minha geração é geração que adora lembrar sua adolescência. E como eles agora são os diretores que podem escolher temas, abundam filmes que se passam no periodo entre 1976/1979. Recordo de um dos primeiros, Dazed and Confused de Richard Linklater e depois temos Velvet Goldmine, Boogie Nights, Quase Famosos, Tempestade de Gelo, Crazy, The Runaways, o excelente Reis de Dogtown e mais um monte que me esqueço agora. Nas entrevistas Abrams tem dito que sente falta daquele estilo de vida, do modo como se filmava, da estética dos filmes daquele tempo. A saudade deve ser imensa, porque ao contrário dos filmes acima citados, não existe um motivo para se situar este filme em 1979. Apenas a nostalgia.
Uma das maiores experiências que já tive numa sala de cinema foi a de ter visto Contatos Imediatos em seu tempo. Toda a platéia teen entrava em êxtase. A saída da sala era como um tipo de saída de tenda de xamã. Sabíamos que nunca mais o cinema seria o mesmo. Nós tomávamos o poder. Nada mais de cinema politico ou de vida adulta. As telas seriam dos teens e nós mostrávamos que tínhamos filosofia, visão, arrojo. Para o bem ou para o mal. JJ Abrams também estava numa sala escura naquele ano. Este filme é todo o tempo sua homenagem a Contatos Imediatos, mas também a O Vencedor e a todos os filmes baratos de horror. É um filme tosco de 1979. O fato de hoje esse tipo de filme ser levado a sério mostra o que somos.
Nas entrevistas Spielberg diz ter alertado Abrams que sem Truffaut e Jean Vigo, o cinema americano moderno não existiria. Quem viu O Atalante e A Idade da Inocencia sabe o que isso quer dizer. Em seus melhores momentos, este filme tem o espirito leve de Truffaut. Nos seus momentos ruins, ele é apenas mais um filme de catástrofe. Felizmente ele é um bom filme. Um filme realmente bom.
Apesar de suas concessões. Na estética de 1979, um filme exibia ação após mostrar os seus personagens. Aqui se mostra o personagem em meio a ação. O que faz com que certas falas beirem o ridiculo. Mas Abrams persiste, e sua sinceridade, o fato de ele amar o que faz aqui, acaba por salvar o todo. Se tudo parece tolo, bem, a mensagem é tão bacana que acabamos por engolir a coisa inteira. Não deixa de ser engraçado, como disse alguém, que filmes que eram tratados como cinema pipoca ( Tubarão, Contatos, Blade Runner, Alien ) sejam hoje "cinema sério". Super 8 é lançado como se fosse cinema sério. Não é. Em tempo de cinema sério hiper-chato, felizmente este filme se assume popular. Mas ele tem algo a mais: estilo.
A ação é feita pelos personagens. Não vemos coisas explodindo, o que vemos são pessoas se movendo em meio a explosão. Tudo acontece ao redor de gente. Abrams pegou o melhor dos filmes de 1979: o ator está sempre em primeiro plano. Dessa forma, o que mais lembramos não é o monstro, ou as armas do exército, ou a cidade em chamas. Lembramos dos meninos em fuga, da população em pânico e da menina confusa. Os efeitos não são a estrela. O filme é sobre gente.
Porque 1979? Bem.... além da nostalgia, talvez naquele tempo sem celulares e e mail, onde a vida só podia ocorrer na rua, Abrams tenha tido o espaço poético para não ser histérico. O filme é de ação sem fim, mas a histeria não está presente. O mundo mostrado aqui nada tem a ver com o mundo de Transformers ou de Velozes e Furiosos. Não há o histerismo da máquina em disparada. O ritmo é da pelicula. Biológico. Acelerado, mas sempre humano.
Os ex-adolescentes ( alguém conseguiu ser ex? ) adoram 1979 porque foi tempo de começos mundiais. Todo adolescente se sente "em começo", mas o segredo de 1979 é que o mundo parecia "começar". Começo do punk e da música eletrônica, começo do rap. Inicio do skate e do surf como esporte profissional, começo da moda de esportes radicais. Inicio de tvs a cabo, do clip e dos video games. Foi o começo do blockbuster e do filme feito em casa. Dos zines mimeografados, dos albuns de luxo de HQ. E foi também o começo do fim. O fim das ideologias, da inocência pré-aids e do rock como música anti-sistema. Grande tempo para se ter 15 anos.
No mais há no filme um leve pedido de desculpas da América ao mundo. É quando é dito ao alien: "Alguns de nós são bons". Tenho a certeza de que, quando a América deixar de carregar o peso de ser a policia do mundo, teremos uma nova nostalgia mundial: a saudade da hegemonia americana. O filme é bom. E 1979 foi um grande ano.