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PRESTON STURGES, UM CINEASTA CULT QUE VOCE DEVERIA CONHECER

Preston Sturges era o Professor Pardal. Ele ia aos estúdios da Paramount de pula-pula. Era um tipo de inventor doido de artefatos práticos nada práticos, e fazia filmes muito, muito inventivos. Aliás, por falar em invenção, existem dois tipos de cineastas inventores, aqueles que criam angulos de câmeras ou efeitos visuais esquisitos, e os que inventam situações inusitadas. Preston era do segundo tipo. Isso porque ele escrevia seus filmes. Como Hitchcock ou Billy Wilder, seu grande prazer era escrever. Filmar era fácil demais. ----------------------- Seu auge foi curto, muito curto: 1939- 1948. Nesse anos ele chegou a fazer dois filmes por ano. Nesse tempo, um mesmo cara escrever e dirigir um filme era algo muito, muito raro. Só Billy Wilder, John Huston e Orson Welles faziam isso. Os diretores mais poderosos, Hawks, Ford, Hitch, Wyler, davam muitos toques nos roteiros, mas nunca colocavam seus nomes como autores do roteiro. Tudo era bem dividido. -------------------- Preston Sturges nasceu bem rico e morreu pobre, em Paris, totalmente esquecido. Seu revival foi nos anos 90. Sua onda passou com apenas um filme ruim. Bebida e inveja acabaram com ele. ------------------ Acabo de rever 4 filmes dele ( por favor, não confunda Preston Sturges com o ótimo diretor de westerns e filmes de guerra, John Sturges ). LADY EVE tem uma heroína que é realmente mal caráter. falsa filha de um velho ladrão. Eles aplicam um golpe em um rico ingênuo: Henry Fonda. Barbara Stanwyck é a heroína. Há um Eric Blore viadíssimo escorrendo graça. O filme tem o estilo mais gritante de Sturges: fantasia. Mas essa fantasia pode às vezes trazer uma moral muito real. Como em CONTRASTES HUMANOS, Sullivans Travels em inglês. Este sim, uma obra prima. Nele, um diretor de cinema, rico e famoso, se cansa de fazer filmes engraçados. Resolve ser hora de fazer um filme sociologicamente relevante. Frases surgem que revelam a filosofia de Sturges: " Pobres não gostam de filmes sobre pobres, pois eles já sabem tudo sobre a pobreza. Quem gosta de filmes de pobres são aqueles que não vivem nela". Quem diz isso é um produtor, mas o diretor, idelista, resolve largar tudo e viver 15 dias como pobre. O filme se torna uma montanha russa de cenas e personagens. Ele simplesmente não consegue e não pode ser pobre, pois há sempre uma rede de relações que o protege. Joel McCrea, que depois seria um dos mais famosos cowboys, está excelente. Veronica Lake está mais viva que o costume. O filme que este diretor, Sullivan, iria fazer se chamaria O BROTHER WHERE ARE THOU, o título do filme dos Irmãos Coen de 2002. Os Coen fizeram o filme que o diretor deste filme teria feito. Uma homenagem esperta a dos irmãos. O final deste filme é uma aula de sabedoria. ----------------- Reassisti também NATAL EM JULHO, filme com Dick Powell sobre um cara pobre que gasta dinheiro sem o ter, crendo ter ganho um concurso de slogans. Um filme brilhante, onde toda a atenção está nos personagens. São pessoas críveis dentro de uma história incrível. Sturges tinha o dom de criar. Por fim, PALM BEACH STORY, sobre uma esposa, Claudette Colbert, que larga o marido pobre, Joel McCrea, porque estando juntos eles sempre serão pobres. Ela seduz um milionário, Rudy Vallee, enquanto o marido é seduzido pela irmã do milionário. Aqui Sturges enlouquece totalmente. O filme á completamente irreal. Uma imensa diversão. Descubra Preston Sturges.

XADREZ- COEN- DEANNA DURBIN- ZWICK- SUO

   O DONO DO JOGO de Edward Zwick com Tobey Maguire, Peter Sargaard e Liev Schreiber
Lembro de 1972. O mundo parou para assistir, em suspense, a série de jogos entre o campeão do mundo, Boris Spassky, e o fenômeno americano, Bobby Fischer. Eu era bem criança e ainda lembro. Manchetes no Jornal Nacional da Globo. Manchetes dia a dia. Fischer venceu. O xadrez virou mania mundial. Mequinho surge aqui como mestre prematuro. E eu ganho um tabuleiro de xadrez do meu pai ( tenho-o até hoje ). Aprendo a  jogar sozinho, na Barsa. Creia, no mundo louco de 72, xadrez era pop. Tinha coluna diária nos jornais, e o mais legal, é que com os códigos de grandes partidas impressos, a gente podia as repetir em casa. O jogo 6 entre os dois foi repetido em minha casa por meu irmão ( ele tinha 7 anos de idade então ). Este filme recria bem a paranoia daquele tempo e a loucura de Fischer ( sim, ele era louco ). Não é um grande filme mas é um grande tema. Adaptado ao gosto de 2016, é um filme sobre xadrez que não mostra nada de uma partida ou de um movimento. Se concentra, óbvio, na doença de Bobby. Cansamos dos seus sintomas e cansamos dele. Mas o tema é sensacional. Fosse mais ousado seria uma forte crítica à loucura daquele mundo e a mediocrização deste nosso tempo. Hoje não temos mais loucos célebres, temos apenas celebridades doentes. Nota 5.
   AVE CÉSAR! dos irmãos Coen com Josh Brolin, George Clooney e um monte de stars.
Um fracasso. Os irmãos Coen, que eu adoro, erram feio aqui. Exageram em seu veneno e se envenenam. Querem falar tanto, abranger tanto, que perdem o foco. O filme acaba no vazio, um monte de som e imagem que nada significam. A intenção era excelente: mostrar que no cinema americano é o produtor que mantém alguma sanidade em meio a atores idiotas e diretores narcisistas. Eddie Mannix existiu na vida real, foi produtor da MGM, já no começo do fim da era do glamour. Ele realmente "dava um jeito" em filmes de produção complicada, atrizes promíscuas e atores gays. Lidava com prazos, dinheiro, gente, doenças, artistas e roteiristas "comunistas". Mas...que ironia, faltou um Eddie Mannix para este filme. Nota 4.
   DANÇA COMIGO de Masaiuki Suo com Koji Yakusho
Este filme de 1996 foi sucesso no Japão e refilmado em 2006 nos EUA com Gere, Sarandon e J.Lopez. A refilmagem vulgarizou a extrema delicadeza desta pequena joia. Fala de um homem de 40 anos que resolve aprender dança de salão, escondido da esposa e da filha. Pois no Japão de hoje dança de salão é coisa vergonhosa, coisa de gente que se toca. O filme, triste, engraçado, real, lindo, acompanha a lenta caminhada desse homem bom, tímido, travado. Todos deveriam assistir esta obra e ter uma bela surpresa. Nota 9.
   100 HOMENS E UMA GAROTA de Henry Koster com Deanna Durbin
Uma menina ajuda seu pai desempregado a conseguir trabalho com um grande maestro. Um exemplar belo do cinema da "grande depressão" americana dos anos 30. Deanna era um anjo e o filme nunca fica piegas, è bonito. Nota 7.
  

LEONARDO DI CAPRIO/ MATHEW MCCORNAGHY/ BRUCE DERN/ BEN STILLER/ JULIE CHRISTIE/ ROCK HUDSON

   NEBRASKA de Alexander Payne com Bruce Dern, June Squibb, Stacy Keach e Bob Odenkirk
Ao contrário de seu costume Payne não fez o roteiro deste filme sem nenhuma concessão. Em preto e branco deslumbrante, acompanhamos um momento na vida medíocre de um velho. Ele crê em prêmio de loteria e tenta de todo modo viajar para receber o pretenso prêmio. O filho fracassado o leva de carro. Lento, com algumas cenas de humor amargo, é um daqueles filmes que nos anos 70 se fazia aos montes. O tal "pequeno grande filme". Bruce Dern, eterno coadjuvante, tem aqui seu segundo melhor papel ( em Amargo Regresso ele teve o papel de sua vida ). Payne está construindo uma bela carreira. Nota 7.
   A VIDA SECRETA DE WALTER MITTY de Ben Stiller com Ben Stiller
Talvez o pior filme deste ano. Uma hiper-pretensiosa comédia sem graça nenhuma e sem conteúdo algum. Walter Mitty sonha acordado. O filme tenta fazer graça no contraste entre sua vida de loser e seus sonhos. O tema é bom, mas Stiller não tem mérito algum nisso, Mitty foi filmado anteriormente nos anos 50. Stiller causa antipatia de tanta vaidade. ZEROOOOOOO!
   LONGE DESTE INSENSATO MUNDO de John Schlesinger com Julie Christie, Peter Finch, Alan Bates, Terence Stamp e Prunella Ramsome.
Épico inglês feito no auge da popularidade de seus atores. Schlesinger, vindo de filmes ousados, faz aqui seu filme tipo David Lean. Cheio de belas paisagens, conta a história de uma dona de terras que é cortejada por três homens. Um soldado mulherengo que lhe desperta desejo, um velho amargo e rico que se casa com ela, e um trabalhador simples e persistente, que salva seus negócios. Julie está belíssima, leva o filme com facilidade. Os 3 homens são muito bem escalados, Stamp é o soldado, Alan o camponês e Finch o homem amargo. Dificil saber quem está melhor. Um lindo filme. Nota 9.
   O CLUBE DALLAS de Jean-Marc Valée com Mathew McCornaghy, Jennifer Garner e Jared Letto.
E Mathew levou seu Oscar. Ele está ótimo como um cowboy machista que tem aids. Com a doença ele muda e se torna um cara melhor. Valée fez um filme maravilhoso e emocionante: CRAZY. Este é apenas comum. Um tipo de telefilme. Só isso. Nota 5.
   INSIDE LLEWYN DAVIS de Joel e Ethan Coen com Oscar Isaac, Carey Mulligan, John Goodman, Justin Timberlake
Os Coen são talvez os diretores americanos de quem mais gosto ( claro que falo dos vivos ). Este filme, que não se parece com nada do que fizeram, apenas os cenários lembram algo de sua obra, tem um grande defeito: Oscar Isaac. Sem nenhum carisma. Mas, por outro lado, não será proposital? Afinal, esta é a história de um cantor folk que quase chega ao sucesso. Não chega porque ele se revela um desastrado, teimoso e até mesmo petulante tipo. Ou seja, um cara feito para perder. O filme se equilibra num fio muito perigoso, ele quase cai na pura chatice e consegue fugir da comédia ( ele tem tudo para virar um pastelão ), é um trabalho de direção muito sutil, dificil de manter. Eles conseguem. Mas é um filme seco, sem emoção. Gostamos, mas não queremos nunca ver de novo. A trilha sonora é muito boa, de T, Bone Burnett. Nota 6.
   O LOBO DE WALLSTREET de Martin Scorsese com Leonardo di Caprio, Jonah Hill, Margot Hobbie, Jean Dujardim e Mathew McCornaghy
Uma porrada. Febril, engraçado, amoral, o filme demonstra a genialidade de seu diretor e de todos os envolvidos. Scorsese faz, com prazer e com facilidade, tudo o que quer. Vai do drama ao pastelão, do suspense a farsa, com supremo savoir faire, know how, sabedoria. Uma aula de cinema, uma obra de um mestre, do maior diretor vivo. Aos 70 anos, Martin exibe um vigor que faria a maioria dos jovens diretores passar vergonha. Um muito grande filme, é, com A Grande Beleza e Branca de Neve de Pablo Berger, os grandes filmes de 2013. Nota DEZ.
   A ESPADA DE DAMASCO de Nathan Juran com Rock Hudson e Piper Laurie
Nos tempos pré-TV, o cinema mandava sózinho. E produzia toneladas de filmes B. Eram filmes simples, alguns muito bons, outros ruins. O objetivo era preencher as telas todo o ano, afinal, as pessoas iam ao cinema 3 vezes por semana em média. Este é um filme da Universal estilo 1001 noites. Rock Hudson ainda não era uma estrela e o filme dá pro gasto. Nota 5.

INSIDE LLEWYN DAVIS- JOEL E ETHAN COEN, O FOLK ERA E É UM LIXO

   Nada mais comum na música de 2014 que essas meninas de franjinha e óculos cantando folk com seu violão doce azedo. E caras de barbinha cantando sobre a solidão. Esse estilo, tão século XXI, era a coisa mais quente nos EUA de 1962. O filme dos irmãos Coen retrata esse tempo não através de um vencedor, mas acompanhando um grande desajeitado. O que dói na história do filme é que o cara quase que poderia estourar, bastava uma dose de sorte e outra de flexibilidade. E o filme dos Coen, que não é dos seus melhores, mas que mesmo assim é bom, poderia se ótimo se eles relaxassem e se deixassem levar pelo seu criativo estilo Coen. Mas não, eles se retraem, querem fazer algo que não se pareça estilo Coen. Eu acho uma pena, mas não deixa de ser corajoso.
  Llewelyn perambula pelas ruas de NY. Não tem onde morar e usa sofás de amigos. Talvez tenha um filho, talvez . Paga aborto para amiga cantora. Viaja com dois loucos pela neve ( melhor parte do filme e a mais Coen style de todas ). E fracassa sempre. O filme não é choroso. Ele é uma figura de comédia. Mas o filme insiste em não ser engraçado.
  A última cena do filme tem Bob Dylan, aos 20 anos, se apresentando no buteco onde Llewelyn sempre tocou. Ele ignora Dylan e sai pra rua. Bob Dylan seria a salvação do folk e seu carrasco. Seria o herói de toda essa galera durante 3 anos e em 1965 seria o traidor que matou e cuspiu no folk. Isso porque ele usaria o rock, misturando rock com folk e criando o som preponderante da década. Hoje isso parece banal, mas seria como se o Arcade Fire passasse a usar rap de Miami ou Michael Stipe lançasse um disco solo de funk. Funk do Rio.
  Esse folk sempre foi chato. Joan Baez, Judy Collins, Pete Seeger, Peter Paul and Mary foram varridos pelos Beach Boys, Byrds e depois pelos Beatles e etc. O que havia de bom virou rock, Dylan, Paul Simon, Roger McGuinn...
  Mesmo que voce odeie folk, meu caso, o filme vale ser visto. As canções não atrapalham, são todas originais e passam depressa. Creio que os Coen foram fãs de folk no college e aqui retratam sua ingenuidade dos 18 anos. É um filme carinhoso.

CATHERINE KEENER/ HUGH LAURIE/ JANE FONDA/ MICHAEL CAINE/ BOB FOSSE/ BRANCA!!!!

   A FILHA DO MEU MELHOR AMIGO de Julian Farino com Hugh Laurie, Catherine Keener, Oliver Pratt e Leighton Meester
Tinha tudo pra dar muito errado. A história de duas familias amigas. Os pais fazem corrida juntos, as mães se visitam, tudo normal. Então a filha de uma dessas familias volta pra casa. E o pai de meia-idade da familia "amiga" começa a namorar com a garota. Vem a separação, o ostracismo, a pressão social. O filme começa mal, parece ser mais um filme gracinha e jovenzinho tipo Miss Sunshine. Mas não é. A forma como os dois ficam é muito simples e muito real. O casal funciona, parecem de verdade. O namoro dos dois faz com que tudo mude na vida de todos os envolvidos. A rotina das familias muda, eles têm de acordar. E me peguei torcendo para que o filme não brochasse, que fosse nessa linha, a mudança nascendo do inesperado. Mas não. No final, e vou contar, a menina sai perdendo. Ela não suporta a pressão e vai embora. Todos voltam ao normal, todos se dão bem, ela perde. O filme acaba sendo uma grande defesa do maior dos valores da América ( não, jamais foi a familia ), a amizade entre os homens. Os dois pais voltam a ser amigos, a camaradagem masculina vence. O filme tem atenuantes. A menina tem 24 anos, ou seja, longe da pedofilia. E o estilo é todo de "comédia familiar", apesar do tema é um filme doce. A atriz que faz a menina, Leighton Meester é apaixonante. Natural, linda, alegre. O elenco é todo ok, e o filme é bem melhor do que parece ( apesar dos defeitos aqui apontados ). Se o final fosse menos óbvio seria um filme bastante invulgar. Mas vale muito ver. Nota 7.
   PAZ, AMOR E MUITO MAIS de Bruce Beresford com Jane Fonda e Catherine Keener
Beresford não muda. Todos os seus filmes são assim: mais ou menos, legaizinhos, do bem, esquecíveis. Este é bem assim. O fim de um casamento. A mulher leva o casal de filhos para a casa da avó, para dar um tempo. Essa avó mora em Woodstock e é uma lenda lá. Hippie radical, ela vende maconha, pinta homens nús e namorou Leonard Cohen entre muitos outros. A filha odeia essa mãe doidona. Os netos são logo conquistados. Fumam, bebem, festejam. O filme tem de bom Jane Fonda, a beleza do lugar e o fato de nada ser tipo "hippie chic". A casa tem galinhas nos quartos e é de uma bagunça exemplar. Mas o roteiro é hiper-pobre. Nada acontece de errado. Não há atrito, não há erro. A gente sabe todo o tempo tudo o que vai ocorrer. Jane brinca de ser Jane Fonda. Alguém ainda lembra que em 1973 ela era uma Angelina Jolie perseguida pela CIA ? Famosíssima  e muito politizada, ela era odiada pela direita americana. Depois se casou, largou o cinema e passou a viver em função do marido ( que sonhava em ser presidente ). Toda uma geração a desconhece. Este filme serve apenas para quem já a conhece. Woodstock é uma cidade linda!!!  PS: que bela atriz é Catherine Keener! Nota 4.
   O PARCEIRO DE SATANÁS de Stanley Donen com Gwen Verdon, Tab Hunter e Ray Walston
O diabo vem a Terra e tenta um fã de beisebol. Se ele lhe vender a alma será rejuvenescido e se tornará o maior jogador da história do esporte. Ele aceita. O filme não é bom. Porque? Tab Hunter é um péssimo ator e o roteiro, baseado em show da Broadway, se perde. Fica chato até. Mas, quase ao final, um milagre acontece. Bob Fosse entra em cena e faz um número com Gwen Verdon. São três minutos da mais absoluta genialidade. É alegre, é sexy, é criativo, é esperto. Dá vontade de ver pra sempre. Grande Bob Fosse, um gênio! Fora isso, todo o resto é absolutamente falho. Bola fora do grande Stanley Donen. Nota 3.
   UM GOLPE PERFEITO de Michael Hoffman com Colin Firth, Cameron Diaz, Alan Rickman, Tom Courtney, Stanley Tucci.
Nos anos 60 era moda um tipo de filme que era chamado de "filme sofisticado pop". Falava de gente malandra, de gente bem vestida, mentirosa, cheia de tramóias e planos de roubos ou golpes mentirosos. Tinham trilha sonora chiquérrima, cenários vastos e atores bacanas e extra cool. Pois bem, todos esses filmes foram refilmados nos últimos quinze anos. Desde Charada até Get Carter, todos foram destruídos em refilmagens terrivelmente ruins. A única excessão foi Oceans Eleven, cuja versão de Soderbergh é muito superior a original. Michael Caine fez vários desses filmes "espertos" originais. Que eu me recorde, seis foram refilmados nos últimos dez anos. Michael Caine já foi reinterpretado por Jude Law, Matt Damon, Mathew McConaughey e agora por Colin Firth. O original deste filme é uma maravilhosa sacanagem. Cheio de humor, de malicia e muito chique. Tem ritmo, tem savoir faire, tem estilo. E faz rir. Esta versão, escrita pelos irmãos Coen, que devem adorar o original, foi malhada pela Folha. Esqueça a Folha! Apesar de estar a milhas do original, este filme faz rir, dá prazer e é uma gostosura. Firth está ótimo como um bobo que se acha infalível, Alan Rickman rouba o filme como a vítima e Courtney é um grande mito do palco inglês. Cameron está bem ( mas as mulheres realmente piraram....que corpo hiper malhado é esse??? ). O filme tem 3 ótimas cenas. E um final fraco. Vale ver. Nota 6.
   FOGO CONTRA FOGO de David Barrett com Josh Duhamel, Bruce Willis e Rosario Dawson
Sobre testemunha de crime que resolve matar o bandidão. Eis o tipo de aventura que odeio. Porque o estilo é "metido a arte". Tudo é escuro, sombrio, trêmulo, cheio de sons esquisitos. A gente nada vê, e acaba por nada mais querer ver. O filme é muito, muito ruim. Bruce Willis participa como um policial veterano. Nada faz no filme. ZERO!
   O EXPRESSO DE VON RYAN de Mark Robson com Frank Sinatra e Trevor Howard
Na Itália dominada pelos alemães, prisioneiros ingleses escapam de um trem que os levava para a Alemanha. O filme começa devagar, mas então ele acelera e não perde mais o rumo. É uma bela aventura de guerra, cheia de suspense e com boa produção. O final é amargo e pode desagradar. Eu gostei. Inclusive do final. A trilha sonora de Jerry Goldsmith é uma obra-prima. Feito em 1965, segundo a dupla francesa pop Air, este é o grande ano das trilhas de cinema. Ouça esta e entenda porque. Nota 7.
   BRANCALEONE NAS CRUZADAS de Mario Monicelli com Vittorio Gassman e Stefania Sandrelli
O primeiro Brancaleone é talvez a melhor das comédias de cinema. Este, feito cinco anos depois, não chega nem perto. Mas é um prazer rever Gassman nesse papel. Ele nunca teme o exagero, vai fundo na doidice inocente de Branca e exercita seu talento infinito. Amamos Brancaleone, mas agora não amamos o filme. A soberba criatividade do primeiro não se repete aqui. PS: a estrela Stefania Sandrelli... chega a doer de tão bela !!! Nota 5. 

TARANTINO/ GRACE KELLY/ COEN/ DONEN/ DE MILLE/ CUKOR

   DUAS SEMANAS DE PRAZER de Mark Sandrich com Bing Crosby e Fred Astaire
Dois partners de shows se separam, por causa de uma mulher. Crosby que é o bonachão, vai viver no campo, e lá monta um hotel-teatro, onde apresenta shows só nos feriados. Astaire acaba indo parar lá, e eles disputam outra garota. O filme, muito alto astral, tem White Christmas, o single fenômeno de Irving Berlin. E tem muito mais, tem diversão, boas canções e atores simpaticos. Sandrich dirige tudo com finesse. Exemplo do filme standard da velha Hollywood. Nota 7.
   FUNNY FACE de Stanley Donen com Audrey Hepburn, Fred Astaire e Kay Thompson
Crítica longa postada abaixo. Que mais dizer? É lindo. Audrey convence como a intelectual que se torna modelo e Fred faz o fotógrafo que a descobre. Vão à Paris e a cidade nunca foi tão bonita. A verdadeira cidade sempre sonhou em ser esta Paris da Paramount. O filme tem um visual brilhante, as cores parecem respirar. Em termos visuais é uma obra-prima. Relaxe e aproveite! Nota DEZ.
   KILL BILL VOLUME I  de Quentin Tarantino com Uma Thurman
Um absoluto prazer! Rever este filme agora é tão bom como em seu tempo de lançamento. Tarantino, talento superlativo, um cara que sabe tudo de cinema, esbanja talento. A ação é incessante e nunca cansa. Música e cor, corpos que se lançam no vazio, olhares coreográficos. Com os Shaw Bros, Tarantino aprendeu tudo e uniu essa arte às referências dos anos 70 que ele tanto adora. Uma festa para os olhos, para os nervos, para o coração. Esse diretor dá dignidade ao cinema atual, mostra que a grande tradição da ação, do cinema tipicamente americano, é viva. Bato palmas para todos os seus filmes. DEZ!!!!!
   KING KONG de John Guillermin com Jeff Bridges e Jessica Lange
Quem esperaria que Jessica se tornaria uma atriz com dois Oscars? Ela, modelo de sucesso, estréia aqui, e brilha em sua sensualidade e beleza inebriante. Mas o filme é tolo, sem porque. O Grande Lebowski é um tipo de cientista-explorador meio hippie. O macaco é cômico. Jessica é a melhor vítima do Kong que já houve. Um tipo de nova Grace Kelly em tempos sem realezas. Nota 2.
   MATADORES DE VELHINHAS de Irmãos Coen com Tom Hanks
Pra que refilmar um filme perfeito? O original é inglês, de MacKendrick e tem Peter Sellers. Este é ridiculo. Não tem graça nenhuma, é irritante, mal escrito, sem sentido. Talvez o pior filme dos muito talentosos irmãos. Tom Hanks está constrangedor. Nota ZERO.
  MEIAS DE SEDA de Rouben Mamoulian com Fred Astaire, Cyd Charisse e Peter Lorre
Não gosto muito deste filme. E deveria gostar, afinal todos os seus ingredientes são excelentes. Mas algo desandou, as canções funcionam mal, as danças são comuns e o diálogo não tem graça. Fala de agentes russos que se deixam seduzir por Paris. Cyd é a super-russa que vai até lá, ver o que aconteceu. É refilmagem de Ninotchka. Não deu certo. É dos últimos musicais de Astaire, ele merecia coisa melhor. É um filme "de luxo", há quem o adore, não é meu caso. Nota 3.
   MESTRE DOS MARES de  Peter Weir com Russell Crowe
Foi uma das grandes decepções que tive nos cinemas na época. Revisto agora é ainda mais insuportável. Um monte de cenas escuras, tédio constante, o filme não se decide entre a ação e a tal arte. Acaba por não fazer nem uma coisa e nem outra. Quem procurar aventura ficará frustrado, quem quiser reflexão nada encontrará. Crowe parece com sono. Nota 1.
   LEGIÃO DE HERÓIS de Cecil B. de Mille com Gary Cooper, Madeleine Carroll, Paulette Godard, Robert Preston e Preston Foster
O filme fala da rebelião no Canadá. A população mestiça se rebela contra a coroa inglesa e a policia montada é enviada para cessar a briga. Cooper é um texano que está por lá com uma missão. É um filme exemplar. Após uma apresentação precisa, a ação se desenrola sempre no tempo certo. O diretor dá tempo para que conheçamos os personagens e logo em seguida cria mais uma reviravolta e mais uma cena de movimento preciso. De Mille era um cozinheiro-mestre, sabia sempre o que adiconar, a dose certa, a temperatura exata. Gary Cooper, já foi dito, era o americano perfeito, aquilo que todos eles gostariam de ser. Pouca gente lembra, mas era ele a grande estrela do cinema da época ( ele estava acima de Gable, Grant, Bogart e Fonda ). Já vi vários filmes de Cecil B. de Mille, este é aquele que mais me satisfez. Diversão pop de primeira. Nota 9.
   LES GIRLS de George Cukor com Gene Kelly, Kay Kendall e Mitzi Gaynor
Uma ex-corista lança uma biografia. Ela é processada por difamação. Quando o filme começa já estamos no tribunal. Três depoimentos serão dados, os três conflitantes, qual a verdade? O filme tem um problema sério, a primeira parte tem Taina Elg como centro, e ela não consegue segurar o interesse. O filme melhora muito nas outras duas partes. Kay Kendall, comediante inglesa de primeira, na época esposa de Rex Harriosn, dá um show como uma atriz beberrona; e Gaynor está ótima como uma bailarina americana virgem. Gene Kelly é o sedutor-diretor das três mocinhas. Não há nenhum grande número para ele brilhar, mas o filme é elegante, colorido e dirigido naquele estilo vistoso de George Cukor. Cukor foi um dos grandes de Hollywood, seus filmes sempre brilham. Nota 7.
   HIGH SOCIETY de Charles Walters com Grace Kelly, Bing Crosby e Frank Sinatra
Sempre me lembro de um reveillon em que voltei bêbado pra casa ( e insone ). Lembrei então que ia passar este filme na TV, e que no jornal saíra uma página sobre ele. O chamavam de o "filme mais chic" já feito. Liguei a TV, deitei no tapete e o assisti. Me senti tão chic, que no dia seguinte comprei uma cigarreira de prata. E procurei a trilha sonora em disco até achar. Depois desse dia já o revi por duas vezes. Ontem foi a terceira. Ele é sobre nada. O que vemos é Grace ficar bêbada, dançar, flertar e afinal se casar com seu ex-marido. Crosby é esse marido. Paciente, tranquilo, cool. E Sinatra é um jornalista pobre. Louis Armstrong faz Louis Armstrong, ele toca alguns números no filme, todos ótimos. Os outros números musicais são todos maravilhosos ( Cole Porter ). Destaque para True Love, uma das mais belas canções de amor já feitas, e tem ainda Did You Evah?, em que Crosby e Sinatra se preparam para ir à uma festa. O filme é uma bobagem, uma tolice leve e ebuliente...assim como é também um doce delicioso, um souflé, uma calda de chocolate. Vicia e delicia. Grace Kelly está muito bem. Sua personagem, nada fácil, é frágil, arrogante e sedutora. Falam de Audrey, de Liz Taylor, de Sofia Loren.  Mas para mim ninguém foi mais bonita que Grace Kelly. Ela era perfeita, sexy, tinha uma voz educada e elevada, um olhar de promessa. Mesmo ao lado de dois mitos ( Sinatra e Crosby ), o filme é todo dela. Maravilhosa!!! Nota 9.

JACQUES TATI/ JOHN WOO/ ARONOFSKI/ ALDRICH/ IRMÃOS COEN

O MATADOR de John Woo com Chow Yun Fat
Maravilhosas cenas de tiroteios ( coreografadas ) e uma insuportável trilha sonora. No meio dos anos 90 Woo era chamado de "a esperança" do cinema de ação. Depois do horroroso Windtalkers desapareceu. Mas o homem tem um talento imenso para o movimento. Nota 6.
AS FÉRIAS DO SR.HULOT de Jacques Tati
O paraíso. Vemos pessoas que se dirigem à praia. Lá, sem diálogos e com trilha sonora ( de jazz ) observamos o que acontece: banhos de sol, jantares e cafés, discos na vitrola, fogos de artificio, carro que quebra, sono e jogos de xadrez e cartas. Nada de diferente da vida banal. Mas o milagre é esse, mostrando a banalidade Tati se torna único. Um gênio? Com certeza, pois o genial é ver o sublime e o original na banalidade e conseguir transmitir aos outros essa visão única e especial. O filme é o mais "feliz" já feito. Se houvesse um paraíso seria aquela praia. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
CISNE NEGRO de Darren Aronofski com Natalie Portman, Vincent Cassel e Barbara Herschey
Darren andou assistindo Red Shoes de Michael Powell.... e o misturou com Roman Polanski ( aquele de Cul de Sac e de O Inquilino ). Este filme também pode ser visto como The Wrestler, versão feminina. A bailarina é tão terminal quanto o lutador de Rourke. E vemos seu corpo em processo de destruição, como no outro filme. Sangue, agulhas, lâminas, suor e loucura. Paranóia. É um filme de horror, de desgosto e de putrefação. Mas a questão é: isso interessa a alguém? Não sei responder....Quem tiver dúvidas do talento de Darren, basta prestar atenção nos cinco primeiros minutos e nos quinze finais. Darren Aronofski é amante do budismo e dá para se perceber isso. Sua visão da realidade do corpo e da forma é feita de dor e de sacrificio, é como se todo invólucro fosse uma prisão. Espero agora que ele prove ser grande, fugindo desse seu mundo que começa a parecer cliché. Natalie está bem. Barbara está ok. Winona está Winona. Nota 7.
O IMPERADOR DO NORTE de Robert Aldrich com Lee Marvin e Ernest Bognine
Na década de 30, em plena depressão, vagabundos tentam pegar carona em trem. Mas o vigia feroz não permite. O filme é só isso. Mas Aldrich sabe tudo sobre aventura e faz um filme muito correto. Com uma falha grave. A trilha sonora é um absurdo! Parece ser de uma comédia romântica! Isso destrói todo o clima miserável e fatalista do resto. Mas tem Lee Marvin e isso é muuuuuito bom. Nota 5.
BRAVURA INDÔMITA de Joel e Ethan Coen com Jeff Bridges, Matt Damon, Josh Brolin, Barry Pepper e Hailee Steinfeld
Não é uma HQ. E não é um filme com toques e estilo "muito louco". Não fala "umas verdades da vida" e não posa de "arte pessoal". Apenas um filme que conta uma história. Uma história de vingança. E que tem ótimos diálogos, excelente fotografia e atores dando o máximo. E com toda essa simplicidade, essa falta de afetação, é um sucesso de público e de crítica. Bem... ele atesta a maravilhosa versatilidade dos irmãos Coen. De Fargo a Lebowski, passando pelo melhor filme dos anos 2000 ( Onde Os Fracos Não Têm Vez ) e várias excelentes comédias, eles não se cansam de provar serem os diretores melhor dotados de sua geração. Aqui, finalmente fazendo western ( o nome Ethan Coen foi dado pelo pai em homenagem ao Ethan de John Wayne em Rastros de Ódio. Ethan Hawke também... ), este filme é um remake de True Grit, filme de Henry Hathaway que deu Oscar de ator em 1969 para Wayne ( batendo Dustin Hoffman em Perdidos Na Noite... sim, foi uma injustiça... mas John Wayne merecia um prêmio antes de morrer.... ). Jeff Bridges é sábio, ele faz um Rooster que não tenta se parecer com John Wayne. Continua sendo um velho beberrão e sujo, mas Wayne lhe dava uma autoridade moral que aqui é substituida por um humor mais assumido. Matt Damon mostra que poderia ser um novo cowboy se existissem papéis para cowboys hoje. De bigode e sujo, Damon perde todo seu jeito de bom moço e se torna um belo tipo. Mas o filme é de Hailee. Que atuação mágica! Ela vai da tristeza a alegria, da desconfiança ao afeto com firmeza e competência. Tem tudo para marcar sua geração. Atenção para a cena final de Bridges. Uma cavalgada noturna que é uma nobre e poética homenagem a vários westerns. Finalmente alguém consegue fazer um filme de cowboys "como nos velhos tempos". Nada saudosista, nada revisionista, nada satirico, sem filosofadas. Apenas um competente, sincero, sensível e emocionante faroeste. Quem precisa mais? O cinema está lotado de pretensos Bergmans, pequenos Godards e principalmente novos Antonionis. Aqui temos um bonito Anthony Mann.... Que alivio! Nota 9.

TWO TONE ( ANTI BUNDA )

Quem quiser que ouça : too much too young, com Specials, antídoto anti bundamolice.
Pula pula pula. Tá na barra aí em cima. 2 Tone records, 1980, pretos e branquelos ingleses tocando juntos. Specials, Madness, The Beat.... vendia demais, foi febre entre os workers, nada popular nos USA.
Do tempo em que ingleses ainda tinham testosterona. Mas aí veio Thatcher e tudo virou bundamolice. Aquela coisa fog que dura até hoje : inglesinhos sensíveis fazendo arte chorosa em seu quartinho azul. Mingau de aveia no lugar de Guiness.
Japas pulando em Monkey Man, 1979. Pra onde foram os caminhoneiros ingleses???? Jason Statham é o último inglês com culhões ?
Japas pulando com negros cantando. Milagre ? Em 79 a policia dava porrada em Brixton nos blacks e nos whites. Two Tone usava xadrez : preto and branco. Capicce ?
Saudade da Guiness !!!!!
O mundo só vai criar vergonha e voltar a ser fun quando os ingleses voltarem a ser machos e os americanos voltarem a ser cowboys, ou seja, jamais.
Os irmãos Coen refilmaram True Grit, o western que deu Oscar para John Wayne. Não vi e já adorei. Chega de cinema metido a besta!!!! Arte pode ser viril !
Too Much too Young. É pra pular !!!!!
Quem não escuta som de preto não sabe NADA de música.
Morô ?

WOODY/DUSTIN/BRESSON/EDDIE/VIDOR/2012

O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ de Joel Coen com Billy Bob Thorton, Frances McDormand
Para o filme noir funcionar é preciso carisma. Você tem de torcer por alguém, se identificar, se ver no bandido ou no policial. Bogart, Alan Ladd e Mitchum tiravam isso de letra. Quando eles surgem na tela voce está no papo. Billy Bob é legal. Mas não é carismático. O filme perde o interesse. Não torcemos por ele, não odiamos Frances. Bola fora dos Coen. Nota 2.
O CAMERAMAN de Edward Sedgwick com Buster Keaton
Aqui Buster é um péssimo cameraman que tenta alcançar algum sucesso para conquistar a secretária do chefe. Eis a diferença entre os gênios : Chaplin nos faria chorar e sairia como mártir derrotado e poético; os irmãos Marx destruiriam o escritório e esnobariam a secretária; WC Fields odiaria a secretária, mudaria o enredo no meio do filme e teríamos outra coisa no final- um filme de ressaca; Laurel e Hardy fariam tudo errado até o final : que seria uma explosão; e Harold LLoyd salvaria a secretária de algum incêndio e se tornaria um herói. Buster Keaton trabalha com afinco, acaba aprendendo o oficio, jamais desiste, e consegue se superar no final. É o mais persistente e portanto, o mais heróico dos comediantes de gênio. O filme é uma obra-prima de invenção, de truques de camera, de enredo simples e jamais cansativo. Buster é o cara ! Nota DEZ.
LANCELOT DU LAC de Robert Bresson
Eis o cinema de Bresson : a idade média como ela deveria ter sido ( mas não´foi ). No iníco o sangue jorra de corpos mutilados... será o Monty Python ? Mas então vemos que se trata de um filme sobre o amor de Lancelot por Guinevere ( e nos lembramos que Merlin era francês ). Bresson não funciona aqui. É uma idade média sem mistério, sem bruma, sem magia. O filme é colorido, bonito, seco. O melhor retrato medieval ainda está em Bergman. Nota 5.
ZELIG de Woody Allen com Woody e Mia Farrow
Como uma mulher tão bonita como Maureen O'Sullivan pode ter sido mãe de Mia Farrow ? Este filme, falando do filme, é um pseudo documentário sobre um tal de Zelig, um homem-camaleão. Quando com chineses ele se tornava um chinês, quando entre negros, um negro. O filme é criativo, engraçado e bastante curto ( 78 minutos ). Mas dá uma certa frustração. Gostaria de ver Zelig falar : o filme é todo narrado e exibido como jornal de cinema, fotos e som. De qualquer modo, cenas como a dos nazistas, Zelig negro e as sessões de hipnotismo são hilárias. 7.
KRAMER VS, KRAMER de Robert Benton com Dustin Hoffman e Meryl Streep
Em entrevista recente Hoffman diz que guarda dois arrependimentos na carreira : a de não ter aceitado filmar com Fellini e Bergman. Ele pensou na época que teria tempo para fazer filmes com os dois. Não teve. " Diretores como eles não existem mais". Fellini o convidou para ser o Casanova. Dustin recusou e Donald Sutherland ficou com o papel. Bergman o chamou para a Hora do Amor em 1970 ( Bergman achava Hoffman um ator tão bom quanto Max Von Sydow ). Dustin preferiu fazer O Pequeno Grande Homem. Em 1977 Bergman tentou de novo. Era para fazer O Ovo da Serpente. Foi esnobado novamente. Bom...... se não existem mais Federicos e Ingmars, existem Bentons de montão. Este é um filme quadrado. Nada é invenção, tudo é convenção. O pai é abandonado pela esposa. É um publicitário bem sucedido. Ao ter de criar o filho vê a carreira ir pro espaço. E a megera ainda volta querendo o garoto ! Meryl é a megera. Ganhou seu primeiro Oscar aqui. Mas o filme é de Hoffman. Ele o salva do ridículo. Graaaande ator, seu Kramer é absolutamente verdadeiro. Uma aula de como ser gente-comum, gente banal, vulgarmente como nós todos somos. Ele dá um show. Kramer é um dos filmes mais detestados por fãs de cinema radiciais pelo fato de no Oscar de 1979 ter derrotado Apocalypse Now e All that Jazz ( além de O Vencedor, Muito Além do Jardim e Blade Runner ). Que culpa tem Kramer ? Ele tem cara de prêmio. O filme é comum, Dustin Hoffman nunca é. Nota 7.
48 HORAS-PARTES 1 E 2 de Walter Hill com Nick Nolte e Eddie Murphy
Deliciosos filmes de ação. O primeiro, de 1982, ainda tem jeito de filme dos anos 70. Tenta-se mostrar a psicologia dos personagens. É mais triste, vazio e árido. O segundo, de 1990, já é ação pura. Mais tiros, pulos, sangue e inverossimilhanças. Os dois são dominados por Murphy, ele é bom pra caramba ( e no segundo cria a persona do burro de Shrek , confira ). Dois bons exemplos da bela safra ( 72/92 ) de filmes de ação. Nota 7.
O MAGNÍFICO de Philipe de Brocca com Jean-Paul Belmondo, Jacqueline Bisset e Vittorio Caprioli
Veja a história : um agente secreto, Bob Sanclair, salva o mundo livre de bandidos da Albânia. Sangue jorra, mulheres são beijadas, golpes de karate. Um corte. Na verdade é um escritor- gripado, sujo, relaxado- quem escreve sobre Bob Sanclair. O filme é engenhoso : ele se balança entre a vida real do autor e a fantasia do que escreve. Desse modo, a vizinha linda e distante ( uma Bisset maravilhosa. Impossível beleza maior ! ) se torna a garota de Sanclair e o editor dos livros é o vilão. Trata-se de uma comédia deliciosa, um sátira à Bond e a filmes sanguinolentos. Belmondo esbanja carisma, ele é adorável, comediante de brilho genuíno. Quem não gosta de cinema francês terá aqui uma humilhante surpresa. Cenas como a dos personagens do livro parando de falar porque uma tecla da máquina de escrever emperrou são criativamente fantásticas. Mas também acontecem cenas reescritas, mudanças de tom, hesitações e exageros à granel. Comparar este filme com aquele lixo de Will Ferrel demonstra onde estamos hoje : oceano de pretensão vazia. Nota 8.
O PÃO NOSSO de King Vidor
Há quem considere Vidor o maior diretor que os EUA já tiveram. Não foi. Mas nobre e corajoso não houve igual. Este filme, totalmente socialista, foi feito com o dinheiro da sua casa hipotecada ( Vidor já era famoso. Mas ninguém queria financiar um filme sobre socialistas fazendeiros ) então ele vendeu tudo o que tinha e fez o filme. Seria como se Daniel Filho vendesse suas coisas para fazer um filme sobre os sem terra. Feito no auge da depressão, ele é didático e ultrapassado em seu otimismo marxista. Mas caramba, o ser-humano precisa crer em algo ! King Vidor acreditou sempre. O filme é raro e é uma peça de dignificação da profissão de cineasta. Nota 7.
STREET SCENE de King Vidor com Sylvia Sidney
Obra-prima do cacete !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Adaptando sua própria peça, Elmer Rice, importante autor de teatro americano, o cara que trouxe a vida das ruas para o palco; nos dá um texto que é milagroso. Os diálogos faíscam e ricocheteiam. King Vidor, em momento de supremo brilho, mostra a vida da rua. Todo o filme se passa na calçada. Fofoqueiras, prostitutas, imigrantes ( um italiano, um judeu comunista - o filme fala abertamente de anti-semitismo e de marxismo- e irlandeses tolos ). O centro é uma família em que a mãe chifra o marido abertamente e a filha é cortejada pelo patrão. O marido irá matar a esposa e vemos que não haverá futuro algum para a filha ( feita por Sylvia Sidney, excelente e belíssima ). O clima é todo urgente, febril e sórdido. Vemos o intelectual judeu em sua passividade assustada ( o filme é de 1931 e antecipa o espírito de opressão contra os judeus que nascia na Alemanha ), as vizinhas vigiando tudo o que todos fazem, os comentários hipócritas. King Vidor, gigante personalidade, nos dá um filme perfeito. Tomadas de Nova York, janelas com seus moradores, crianças nas ruas, carros engarrafados, polícia na rua... um filme vivo e mais de vinte anos adiante de seu tempo. E tem Sylvia Sidney... que linda ! Obrigatório. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
NO CALOR DA NOITE de Norman Jewison com Sidney Poitier e Rod Steiger
Em 1967 todo cinéfilo queria ver a vitória de Bonnie e Clyde nos Oscar. Afinal, Bonnie foi o Pulp Fiction de seu tempo. Mas assim como Tarantino perdeu para o Forrest Gump, Clyde perdeu para este filme. Que assim como Gump, é um ótimo filme. Fala sobre racismo. Mas o tom nunca é pesado. Porque há um genuíno prazer aqui : Steiger e Poitier brincam com seus papéis. Se voce quer ver dois atores brilharem e terem prazer em trabalhar veja este filme. Poitier como Mr, Tibbs faz o negro policial perdido no sul hiper-racista. Steiger, genial, é o delegado gorducho, caipira, arrogante e hilário. O filme é o trabalho dos dois, todo o resto é secundário. Nos divertimos intensamente, rimos e ficamos nervosos, mas o prazer está sempre aqui. Para ajudar há uma trilha sonora sublime, de Quincy Jones. Mereceu tantos prêmios ? É melhor que Bonnie e Clyde ? Que importa ? É genuíno cinema pop, do mais alto profissionalismo. Rod Steiger foi melhor ator e Jewison perdeu o de melhor direção para Mike Nichols. Nota 8.
2012 de Uma equipe de espertos Produtores
Em 1977, numa entrevista, George Lucas dizia que é muito fácil produzir emoção na platéia de cinema : pegue um ratinho e torça seu pescoço- está criada a emoção. Difícil é criar personagens, caráter, enredo. Lucas estava certo. O que faz Star Wars ficar são seus tipos. 2012 é um rato tendo seu pescoço torcido. Filma-se o fim de todos os ratos. Emociona ? Claro ! É tão emocionante quanto ver um motoboy ser atropelado e tem tanta arte quanto filmar uma video-cacetada. Porém, lógico, tem uma habilidade técnica espantosa. Habilidade que só o dinheiro traz. No mais, não consigo deixar de perceber que tudo aquilo é desenho animado. Não me venha falar em siglas bacanas; trata-se de animação. Não me convence : as cidades parecem cidades de cartoon. Do rato torcido eu teria pena e indignação, aqui, me deu vontade de rir. Nota 3.
A ÚLTIMA TEMPESTADE de Peter Greenaway com John Gielgud e Michel Blanc
Já se levou Peter a sério. Entre 82/92 ele foi considerado o cara. Um artista refinado, o futuro do cinema, o mais intelectual. Hoje, ele é o que é : um chato pretensioso. Seus filmes são barrocos : um carnaval de cenários coloridos, gente passando, letreiros, música minimalista, vestidos imensos, muita nudez, textos longuíssimos. É um anti-Von Trier com o mesmo espírito de Von Trier : enganação de quem nada tem a dizer de verdadeiro. Este filme, cheio de imagens "lindas", cenas postas sobre cenas, tela dividida, bailarinos de fundo, Gielgud recitando Shakespeare, é uma besteira. Tem tudo de ruim dos anos 80. Rico, afetado, luxuoso, bonito, erudito, chic e muuuuito vazio. Nota 2.

LEONE/COEN/FRANK CAPRA

THE GOOD THE BAD AND THE UGLY de sergio leone com clint eastwood, elli wallach e lee van cleef. Foi Pauline Kael quem disse que assistir à um western italiano é tão estranho à um americano quanto assistir um filme sobre aborígenes da austrália. Cowboys com caras de napolitanos... Este é um divetidíssimo filme que marcou toda a geração de Tarantinos e Ritchies. Não é um western, é uma aventura passada num western made in europe. Fotografia maravilhosa de tonino delli colli e trilha famosa e excessiva de morricone. nota 9.
HIGH PLAINS DRIFTER de clint eastwood com o pro´prio. Dizer o que ? Belo, ágil, cheio de imperfeições, intrigante, quase ridículo, inesquecível e saboroso. nota 9.
THREE MULES FOR SISTER SARAH de don siegel com shirley maclaine e clint eastwood. juntar a adorável shirley ao taciturno clint é como colocar açucar em gim fizz. nota 2.
BUGSY MALONE de alan parker com jodie foster e scott baio. Um musical sobre gangsters dos anos 30. porém o filme é interpretado por crianças, em cenários diminuídos e as armas atiram chantilly. é o primeiro filme de parker e jodie está com 12 anos de idade. há um clima de pedofilia que hoje incomoda. mas é divertido. nota 5.
ARIZONA NUNCA MAIS de joel e ethan coen com nicolas cage, holly hunter, john goodman, frances mcdormand. os irmãos coen nunca foram tão bugs bunny como neste filme. um casal caipira rapta um filho de um figurão. mas, como acontece com os coen, tudo se complica. muito. cage está hilário, holly dá um show e a fotografia ( do futuro diretor sonnenfeld ) parece cartoon. um sucesso dos anos 80 e que é uma aula de edição e roteiro. nota 9.
LOUCURA AMERICANA de frank capra com walter huston. que diretor mágico capra foi !!!! um filme curto e simples, todo passado dentro de um banco. mas quanta fluidez, como os personagens são bem definidos, quanta graça e drama em tão poucas linhas. slumdog millionaire- alguém notou que ele é um capra de segunda ? - cheio de brilharecos e balangandãs ?.... fique com o otimista/ moralista original, o poeta frank capra. nota 7.
A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO de curtis hanson com rebecca de mornay e annabella sciorra.
a fotografia, com sua cara de filme feito para a tv, estraga muito deste suspense com péssimos atores e roteiro banal. hanson faria depois o ótimo la confidencial e um dos meus mais adorados filmes : garotos incriveis. este leva nota 1.
CRY BABY de john waters com johnny depp, iggy pop, traci lords. rebeldes gays brigam com almofadinhas gays. garotas machudas participam. este filme, chato- flácido- tolo, é colorido como um clip das go go's e tão esquecível como seus discos. nota 1.
MULHERES E LUZES de fellini e lattuada com carla del poggio, giulieta masina e peppino de filippo. as cenas iniciais com o show mambembe são das melhores coisas que fellini já filmou. mas o filme todo, o primeiro do gênio, é de uma beleza estúpida. cenas de estrada e de trem inesquecíveis e uma visita ao circo para se guardar. nota 7.
CAMINHO DO DIABO de budd boeticher com randolph scott e maureen o'sullivan. um cowboy solitário se envolve em sequestro. de todos os diretores classe b que os críticos franceses salvaram do esquecimento, budd é o melhor. este filme, curto, barato, simples, tem tudo aquilo que o western precisa : ação, poesia e honra. a prova de que o talento pode transformar a banalidade em ouro puro. nota 8.
CASINO ROYALE de huston, mcgrath, annakin, parrish e guest com peter sellers, david niven, ursula andress, woody allen, orson welles. a trilha de burt bacharach é uma delicia! sexy e cafona, alegre e fofissima. o filme, que foi um desastre de critica e de bilheteria, precisou de cinco diretores para ser acabado. a história, cheia de furos, tem até woody allen ( hilário e já sendo woody allen ). mas eu me diverti muito! adorei seu ar de malicia ingenua, suas cores psicodélicas e seu desfile de garotas bonitas e atores admiráveis. é aquilo que onze homens e um segredo sempre quis ser. nota 6.

porque os irmãos Coen são tão bons

Queime depois de Ler é mais um grande filme dos Coen ( Arizona, Lebowski, Onde os Fracos, Fargo, Barton Fink, E aí meu Irmão ).
Porque?
Primeiro porque os Coen realmente amam o que fazem. Voce percebe que eles assistem filmes ( e os filmes de Preston Sturges e Billy Wilder são óbvias influencias, mas há muito mais ), voce nota que eles amam os atores e amam os personagens. Existe amor por Lebowski, pela xerife de Fargo, pelo vizinho de Barton Fink, pelo casal em Arizona, pelos condenados em Meu Irmão...
Neste filme, tanto a hilária Liptzke ( mais um show dessa adorável e genial Frances McDormand ) quanto o maravilhoso Clooney ( que ator fantástico! Tudo o que ele faz parece tão fácil de ser feito e por isso nos passa tanto prazer em assistir ), são acarinhados, embalados, respeitados pelos roteiristas. Roteiristas que deixam as cenas durarem o que precisam durar e que jamais movimentam a câmera sem que seja necessário.
Segundo motivo de excelencia é o fato de que os Coen são realmente inteligentes e nos tratam como seres pensantes. ( E nisso eles estão quase sós no cinema atual, onde até mesmo filmes pretensamente adultos já vêem com suas conclusões prontas ).
Todo o filme é impregnado de ira, de crítica a tudo aquilo que merece ser criticado. O vazio de um mundo sem relações estáveis, a ansiedade por se reinventar sempre, os aparelhinhos que nos fazem parecer e ser idiotas, a paranóia urbana, a infantilidade de quem não tem porque existir, a futilidade da politica.
Tudo isso é mostrado. Mas, e vem daí sua genialidade, o filme jamais prega. Ele confia em nossa cabeça, e deixa aberta a opção de nossa escolha : se concordamos com aquilo que os irrita, nos divertimos e usufruimos ainda desse poder de critica; se não queremos ou podemos pensar, temos uma diversão excelente. Os Coen fazem filmes que negam tanto bobagens como Batman ou Agente 86 ou filmes engessados e pseudo-profundos, como Sangue Negro e Milk ( tolices artísticas que vêem prontas. Eles trazem bulas : aqui voce deve chorar, aqui voce deve concordar, veja como isto é profundo... ).
No cinema dos Coen tudo é aberto : voce escolhe o que aquilo significa, podendo inclusive nada significar.
Este filme é, inclusive, um anti- Onde os Fracos. Naquele filme todos queriam alguma coisa; aqui há alguma coisa que ninguém quer. Naquele não havia trilha sonora, neste há uma trilha exagerada e invasiva. Poucos personagens em Onde os Fracos, aqui uma constelação de tipos; a aridez do deserto versus a fertilidade do norte americano; o personagem são ( Tommy Lee ) em Os Fracos, sobrevive e dá a conclusão magnifica, aqui o único personagem que ainda tem algum discernimento é burramente executado.
Trata-se de um filme que não se esgota em uma visão e que tende a melhorar com o passar dos tempos ( o que è sintoma de grande arte. Todo grande filme cresce com o passar dos tempos. Todo filme medíocre morre em dois verões ).
Os Coen merecem ser homenageados sempre. Eles olham para mim e para voce com verdadeiro carinho. Nos respeitam, confima em nosso julgamento, em nosso entedimento. Acreditam que somos ou seremos adultos, que não rimos por cenas de banheiro, que não nos impressionamos com um travelling ou uma fotografia amarelada. Eles amam sua profissão. E isso faz com que eu ame seus brilhantes filmes.