Mostrando postagens com marcador iris murdoch. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador iris murdoch. Mostrar todas as postagens

A MOÇA ITALIANA- IRIS MURDOCH

   Nascida em 1919, Iris Murdoch foi uma feminista. E também socialista. Chegou a ser impedida de entrar nos EUA por causa desse seu perfil. Mas acima de tudo ela foi uma filósofa. Sua base filosófica é espiritual e naturalista. O amor, para ela, é o que nos faz ser coisa real. Ele é objetivo. Iris Murdoch rejeita o subjetivismo. A análise leva sempre ao EU e o eu leva à solidão absoluta.
  Aqui temos um livro escrito por ela em 1964. ( Quem quiser saber mais sobre Iris assista o filme de mesmo nome. Kate Winslet faz ela jovem e Judi Dench sua velhice ). Devo dizer que este não é um grande livro. Mas ele é necessário. Iris mostra uma familia completamente destruída. Pelo sexo. Iris não demoniza o sexo, mas mostra o poder de morte que ele possui. Ela vai ao extremo. As pessoas se agridem, se matam, se chutam, se anulam. E o amor só nasce ( nasce? ), após toda essa ruína.
  Desagradável e árido, é um livro dificil.
  Nada mais a dizer. Iris Murdoch, famosa, se foi neste século. Fez uma legião de dedicadas seguidoras. Suas palestras eram vistas quase como rito religioso.
   Ela faz falta.

O MAR, O MAR - IRIS MURDOCH, É POSSÍVEL SABER ALGUMA VERDADE?

   Fizeram um filme sobre Iris Murdoch alguns anos atrás. Acho que Richard Eyre dirigiu... sei que era com Kate Winslet e Judi Dench. Bom filme, que mostrava a importância de Iris para a cultura inglesa no período 1960/2000. Ela fazia palestras, divulgava sua filosofia, tinha fãs apaixonados. Leio em Harold Bloom que ela era profissionalmente uma filósofa. E Bloom diz que considera Iris Murdoch autora genial, mas que estranhamente, ela nada escreveu de plenamente satisfatório. Para ele, Iris nunca escreveu um romance, ela escrevia textos romanescos.
   Texto romanesco é aquilo que Stevenson ou Kipling escreveram. Livros em que a ação e a ambientação são o mais absorvente. Os personagens são secundários. Nunca parecem seres reais. Weeell.... Murdoch adorava Henry James e Shakespeare, dois mestres em criar gente de verdade. Mas, nos livros de Iris, o que nos seduz é seu enredo, os momentos de mistério e de leve absurdo que ela cria. Quanto aos persoangens, nos são quase indiferentes.
  Aqui, um diretor de teatro, aos 60 anos, resolve se aposentar. Ele é famoso, de um modo pop e quase vulgar. Compra um velho e esquisito casarão numa praia inglesa e passa a viver lá, só. O inicio desse longo livro é delicioso. Murdoch nos leva pela mão à esse mundo meio doido, meio mágico que ela cria. Nos sentimos em meio ao sol, a espuma do mar, as pedras, as salas da casa. O ex-diretor começa a ter a sensação de que coisas estranhas acontecem na casa. E chega a ver um monstro no mar. Logo sabemos que as coisas estranhas eram seus amigos, que se infiltravam na casa sem que ele o soubesse. E que o monstro pode ser um flash-back de uma antiga viagem de LSD. 
   Mulherengo, esse velho homem recebe visitas das atrizes e vedetes que amou. E dos atores que conheceu. Ele começa a escrever suas memórias, que é o livro que lemos. Na infância foi menino retraído, com inveja do primo mais rico. E é escrevendo esse livro que ele mergulha no inferno: recorda sua primeira namorada, e ao surpreendentemente encontrá-la na praia, passa a viver um delirio de ciúmes, de medo e de paranóia. E mais do enredo eu não conto.
   Murdoch era adepta de um tipo de platonismo do bem. Ela acreditava que o que vemos é ilusório, e que a vida verdadeira só pode nos ser conhecida de forma indireta.  Charles, o diretor aposentado, é quem nos conta a história, nos revela seus pensamentos, seus sentimentos. Mas algo nos perturba. Começamos a perceber que Charles está completamente enganado. Que sua primeira namorada é uma senhora feia, desinteressante, e pior, que ela não o quer. Charles vê em tudo aquilo que ela faz um sinal de amor, planeja coisas impossíveis, tem total fé naquilo que quer crer. Ao mesmo tempo, ele nos descreve seu primo como um arrogante e sem sal militar reformado. Mas ficamos confusos, porque tudo o que esse primo diz nos parece interessante, profundo, do bem. Por mais que Charles fale mal desse primo, o que desejamos é ouvi-lo falar.
   A paixão de Charles termina em morte. Ele se enganara. E ao fim do livro, em belas páginas, descobre que seu primo era muito mais do que ele imaginara. James, o primo, fora sempre um estudioso de misticismo budista, um colecionador de obras do Tibet, um mistério. E fora também o homem que sempre lhe ajudara. Quanto ao primeiro amor... que amor?
   Como leitores somos manipulados pela arte de Murdoch. Acreditamos em Charles, depois percebemos seu erro e sua doideira e ao fim, quando ele cai na real, quando ele renega seu amor "louco", sua paranóia, vem o pensamento fatal: E se ele estivesse certo? E se aquele fosse mesmo seu grande amor? E se ela realmente o amasse? E se a "febre" de Charles fosse na verdade "o bem" ?
   Iris Murdoch dizia que o mundo de Shakespeare, Homero, Dante e Tolstoi é o verdadeiro mundo. É o mundo real, que não conseguimos e não suportamos perceber. Que o drama mágico de Shakespeare, que as paixões simbólicas de Homero, que a poesia de Dante ou o imenso universo de Tolstoi são a verdade. Que o cotidiano de jornais, tvs, carros e telefone é apenas A Ilusão.
   Iris Murdoch estava certa. E quanto mais o mundo avançar século xxi adentro, mais razão lhe daremos. Não esquecer o mundo de Shakespeare, de Dante, Homero, Tolstoi é recordar sempre o que somos DE VERDADE. É não perder contato com o que desejamos, o que sofremos, o que podemos ser e aquilo que acreditamos.
   O resto é pó...

O UNICÓRNIO - IRIS MURDOCH

Iris Murdoch foi tema de um belo e tristíssimo filme. Com Kate Winslet como a jovem Iris e Judi Dench como a Iris com alzheimer. Embora não tão conhecida no Brasil, ela foi central nas letras em inglês do quarto final do século XX. Filósofa acima de tudo. E escritora de ficção.
Aqui ela nos conta uma história que é muito fantástica, misteriosa, simbólica, sobrenatural até. Mas onde nada de fantástico acontece. Fala de uma moça que vai trabalhar num castelo inglês. Lá, em meio a pântano, vive uma mulher que jamais sai de seus domínios. Com ela vivem empregados e parentes, conhecidos e agregados. Ela percebe algo de estranho em tudo e logo vê que a mulher, dona do lugar, não pode ou não ousa querer sair do lugar. Está confinada.
O livro é terrível. Tem autêntico clima de pesadelo. Todos são passivos. Menos Gerald, o guardião da prisioneira. Passamos pelos capítulos com apreensão e bastante incomodados. Há algo de muito odioso naquilo que nos é mostrado. E então, ao lembrar que Murdoch foi filósofa, começamos a montar uma charada ( montada ao mesmo tempo pelos personagens que a vivem ). A mulher é o Unicórnio e ele simboliza Deus. Ela é o ser que nunca poderá mudar e que é amado, mas jamais entendido. Gerald é o próprio anjo do mal, aquele que é temido, que domina a todos e que faz o que quer. Vemos os personagens, apaixonados pela prisioneira, passivamente impotentes, incapazes de salvá-la. Pois o livro nos joga esse pensamento : Deus não pode existir sem nosso amor e nosso amor precisa ser ativo. Nós é que devemos o salvar e não o contrário.
Esse tema nas mãos de autor mais dotado seria obra-prima inesquecível. Mas Murdoch tem idéias de gênio, mas estilo pobre. O livro é escrito como simples romance impessoal. Personagens que não nos tocam, ou pior, não respiram verdade. Não há prazer em sua leitura. Admiramos Murdoch, mas não a amamos.
Amo alguém como Henry James por isso : de um nada de enredo ele tira 500 páginas de complexo prazer. Iris Murdoch com um tema rico e profundo nos dá enfado e decepção.
Estilo é tudo. Não importa o que voce escreve. O que importa é como voce escreve. Iris escreve banal. O Unicórnio é pura frustração.