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O CASTELO DE OTRANTO- HORACE WALPOLE

   Otto Maria Carpeaux fala que o romance gótico surge em 1764 porque as pessoas, presas numa realidade cinza e rotineira, preferem sonhar com castelos e fantasmas do que com a casa da moeda ou as minas de carvão. Essa linha de criação vai se ramificar. Do romance gótico nascerá o terror, o suspense, o policial e a ficção científica. As pessoas continuam precisando de sonhos. E continuam preferindo sonhar com casas abandonadas, cemitérios enevoados, futuros escuros e úmidos ou vielas suspeitas. Não sonham com escritórios de advocacia, shopping centers ou academias de ginástica. O gótico surge para aumentar o limite da realidade. Dar a seu leitor algo mais, algo que ele perdeu, o sentimento do medo irracional, do susto, da surpresa inexplicada.
   A idade média ou a renascença não poderiam criar o gótico em romance. As pessoas viviam dentro desse mundo. Fantasmas, maldições, vinganças eram coisa cotidiana. O gótico surge quando tudo isso começa a desaparecer. As pessoas perdem o contato com esse lado do inconsciente e passam a sentir a necessidade de serem recordadas do que renegaram.
   Horace Walpole, nobre inglês que em 1764 lança este livro, é o pai de toda essa tradição. É óbvio que ele não fazia ideia do alcance que seu romance teria. O que ele desejou foi escrever um livro que entretivesse, que desse satisfação aos amigos. Mas eis que ele cai nas graças dos pequenos burgueses e se faz um best-seller. Desde então ele nunca mais saiu do prelo. Nele se encontra tanto a raiz de Poe e Emilly Bronte, como dos livros de vampiros para adolescentes e das novelas da Globo.
  Simples, curto, direto e cheio de furos. Tanta coisa acontece em tão poucas páginas que fica dificil resumir. Mas voce verá agora tudo o que ele contém ( e perceberá sua influência ):
  Nobre vilão que deseja se perpetuar no poder, mortes terríveis, filho que não sabe quem é seu pai, amor fadado ao fracasso, santas donzelas, duelos, aparições, alucinações, vinganças, maldições, arrependimentos... tudo isso em 120 páginas! O mais influente de tudo isso: um final melancólico, a impossibilidade de ser feliz. O herói viverá na saudade, numa tristeza compartilhada com sua esposa. Sementes do romantismo que nascia na mesma época.
   Os personagens nada têm de verdadeiro. Mudam de personalidade, de tática, sentem medo e de repente se esquecem dele. Walpole está longe da realidade psicológica de Stendhal ou de Balzac, seu foco é a ação, a surpresa. E ele consegue, o livro corre e nos leva com ele.
   Filho do momento revolucionário que nos fez ser o que somos, merece ser conhecido por aqueles que se interessam em conhecer o nascedouro de muitas de nossas fixações.
   Que tenha nascido no meio de uma sociedade culta, racional e ligada às aparências, diz muito sobre a função inconsciente do romance.