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UMA DECLARAÇÃO DE AMOR À HAWKS - FULLER- PECK - MATTHAU- TOURNEUR

   A MULHER PROIBIDA de Frank Borzage com Joan Crawford, Margaret Sullivan, Melvyn Douglas, Robert Young e Fay Bainter.
O elenco não podia ser melhor, mas o filme é um drama dos anos 30 que exibe o pior da época. As coisas acontecem sem nada de crível nos sentimentos das pessoas. Um irmão, membro de uma família tradicional, se casa com uma dançarina. O outro irmão, casado, se apaixona por ela... As pessoas aqui amam e deixam de amar em questão de minutos. O roteiro é muito, muito ruim.
  MIRAGEM de Edward Dmyryck com Gregory Peck, Walter Matthau e Diane Baker.
Um verdadeiro pesadelo num filme que tem clima de doença. Um homem acha que trabalha a dois anos numa empresa de contabilidade. Mas começa a duvidar disso ao perceber que não se recorda de mais nada em sua vida. O filme acompanha sua busca pela memória. O tema é fascinante, mas o filme tem uma falha que quase o destrói: a coisa é tão complicada que quase desistimos de o entender. De qualquer modo, Matthau está excelente e acaba tudo sendo bem ok.
  O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS de Howard Hawks com Rock Hudson e Paula Prentiss.
O mundo que só existe na cabeça de Hawks está aqui! É um mundo onde as pessoas são todas elegantes e idiotas, adoravelmente idiotas. E essa elegância é a dos cavaleiros medievais, um código de honra e de comportamento onde a grosseria e a violência só nascem quando inevitável. Mais encantador de tudo, os filmes de Hawks interessam não pelo enredo, mas pelas pitadas de vida que são inseridas de minuto em minuto. Por exemplo, neste filme, um de seus filmes médios, vemos Paula Prentiss mergulhar, Rock Hudson tomar chuva, vemos ainda uma mocinha andar de moto, um homem com o zíper preso, um Martini sendo bebido...e por aí vai. Todas essas cenas, e muitas outras, que nada têm de engraçadas, de sensacionais ou de belas, são o segredo de Hawks. Ele filma a vida como ela pode ser e às vezes é; mas essas pitadas são colocadas dentro da fantasia de Hawks. Observe que em suas obras-primas, muitas, filmes como Rio Bravo, Levada da Breca, Hatari, todos têm enredo, ação, história, mas ao mesmo tempo o que nos pega é ver Wayne conduzir gado, Cary Grant gaguejar e uma turma de homens na África tomar café da manhã. Ninguém se parece com Hawks por causa disso: uma multidão de diretores filma ação ou comédia como ele, outra multidão filma a vida cotidiana como ele, mas nenhum outro mistura as duas coisas com o encanto que ele tem. Isso porque, vejo isso no livro de Peter Bogdanovich, Hawks realmente amava a vida e as pessoas. Era um gentleman viril, tipo de americano que fez a glória da América. Que prazer poder ver este filme e que maravilha eu ainda ter contato com a graça leve e educada deste universo.
  AS GARRAS DO LEÃO de Richard Attenborough com Simon Ward, Robert Shaw, Anne Bancroft.
Da série de bio da Folha este é o mais bacana. Nos anos 70, quando lançado, foi malhado, vejam só...Mas é um bom filme. Conta os primeiros 25 anos da vida de Winston Churchill. Sua relação fria com o pai, sua mãe festeira, e a ânsia que ele tinha por fama e por medalhas. Sua carreira futura seria uma vingança pelas injustiças sofridas pelo pai, que foi um político perseguido por seu próprio partido. Robert Shaw está sublime como o pai de Winston, um sifilítico, que morre isolado da vida pública. As cenas de ação são excelentes e o filme diverte e informa. Tem de ser visto!
  GOLPE DE MISERICÓRDIA de Raoul Walsh com Joel McCrea, Virginia Mayo e Dorothy Malone
Faz parte do volume 2 de um box de westerns. Este, do grande Walsh, o diretor que inventou nos anos 20 a linguagem do filme de ação, é um filmaço. Joel é um ladrão em fuga. Ele planeja seu último golpe, mas não confia nos comparsas. O cenário é ótimo, os atores perfeitos, as duas mulheres belíssimas e o roteiro tem ecos que iriam reverberar em Bonnie e Clyde. Um dos grandes faroestes já feitos e com um clima trágico maravilhoso.
  RENEGANDO O MEU SANGUE de Samuel Fuller com Rod Steiger
Fuller era venerado pelos europeus. Eu digo: menos. O filme pega o ponto de vista dos índios. É bom, duro e sério, mas às vezes cai no exagero. De qualquer modo, eis um faroeste diferente. Rod super interpreta.
  CHOQUE DE ÓDIOS de Jacques Tourneur com Joel McCrea e Vera Miles.
Joel é um durão que vira xerife numa cidade de mineiros. O filme conta sua luta contra eles. Um bom filme de um grande diretor. Tourneur dirigiu alguns dos melhores filmes noir, filmes de terror e faroestes. Seu estilo, sempre objetivo, era invisível. Mas dá pra notar que seu interesse era o destino. Seus heróis são sempre pessoas presas numa missão que não escolheram. Bom filme.
  O TESTAMENTO DE DEUS de Jacques Tourneur com Joel McCrea e Ellen Drew.
Este filme é vendido no box western, mas não é. Se passa no tempo dos westerns, é rural, mas não tem nada do faroeste. E é quase uma obra prima! Conta a vida cotidiana de uma cidadezinha nos tempos de 1880. Joel é um pastor e o filme observa a vida de toda a comunidade. Cenas que lembram Mark Twain, outras são puro John Ford. O final emociona e tudo caminha numa doce alegria temperada por algumas cenas amargas. Um filme original. Grata surpresa!!!!

O MATADOR- VIN DIESEL- JASON STATHAM- WINTERBOTTON- STEVE COOGAN- PERCY JACKSON- TED- BBC

   A ESPIÃ QUE SABIA DE MENOS de Paul Feig com Melissa McCarthy, Jude Law e Jason Statham.
Uma sátira aos filmes de James Bond. Melissa faz uma gorducha apaixonada por Law que é um super agente. Quando ele morre, ela toma seu lugar. O filme é engraçado e chato. Depende da cena. Eu morri de rir com a primeira e a segunda cena de Jason Statham. Ele faz uma gozação com seus papéis habituais. Por outro lado temos algumas cenas que nos desligam. Mas no geral o filme é divertido. Melissa é uma comediante ok. E Law sabe rir de si-mesmo. Nota 6.
   AN INSPECTOR CALLS de Ainsling Walsh com David Thewlis, Miranda Richardson e Ken Stott
Um filme para a Tv da BBC. Adaptação da segunda peça mais vista do teatro inglês, um texto de JB Priestley de 1930. Tem a velha competência da emissora estatal. Boa fotografia, bons atores e um clima de cliché vitoriano. Um Downtown Abbey de suspense. Mas eu achei o texto deplorável, inverossímil e pobre. E pior, a reviravolta final é completamente boring. Como denuncia da classe alta britânica é óbvio, como suspense é previsível. Nota 3.
   VELOZES E FURIOSOS 7 de Jason Ling com Vin Diesel, Paul Walker, Dwayne Johnson, Jason Statham e Michelle Rodriguez.
Em 2000 foi feito o primeiro filme. Uma modesta diversão estrelada por Paul Walker. O filme, que é simples e muito bom, fez um sucesso inesperado e lançou Vin Diesel ao estrelato. O ator musculoso não conseguiu aproveitar a onda de sucesso e acabou ficando restrito à franquia. Mesmo assim ele é um cara de muita sorte. Porque como ator ele é possivelmente o pior que já vi. Dwayne Johnson a seu lado fica com o porte de Marlon Brando e Paul Walker parece Steve McQueen. A série varia entre filmes bons ( o primeiro e o quarto ) e alguns muito chatos ( o quinto e sexto ). Sempre que tentam complicar a coisa cai. Os filmes são melhores quando se concentram nos carros. Aqui há uma cena numa floresta que é maravilhosa! Ação absurda e bem feita. Mas toda a trama parece ter sido escrita por um garoto de 10 anos. Bêbado. Nada faz sentido. De qualquer modo, se você ignorar as mãos penduradas de Diesel ( ele nunca sabe o que fazer com elas ), o rosto sem expressão de Diesel e sua voz inexpressiva ( além da desastrosa Michelle, uma atriz inexplicável ), você pode se divertir. Pena Dwayne e Jason não aparecerem mais.... Nota 4
    TED 2 de Seth McFarlane com Mark Whalberg, Amanda Seyfried, Morgan Freeman
O que houve com Seth...Ele leva Ted a sério! E quase mata o personagem. Ted, o primeiro, era um filme legal por ser anárquico. Ele ria do politicamente correto e pouco se lixava para as consequências. Aqui Ted é quase bonzinho!!!! Ele vai a julgamento para provar ser um humano. E poder se casar. Ou seja, ele luta para ser aceito. Ted deixa de ser Ted. O filme não está nem perto da graça do primeiro. Tem menos sexo, menos palavrões e as drogas aparecem como brincadeirinha de crianças. Eu amava Ted, aqui ele quase destrói isso. Esqueça. Nota 2.
   PERCY JACKSON E O LADRÃO DE RAIOS de Chris Columbus com Pierce Brosnam, Catherine Keener, Sean Bean, Steve Coogan, Rosario Dawson...
Mitologia para crianças. Ok, vamos ver o que os moleques andam vendo...E carcaça! Deve ser maravilhoso ter 12 anos e ir ao cinema hoje! Quero dizer que eu, aos 12 anos, adoraria um filme como este!!!! Eu ia delirar com a magia, a ação e a viagem e ele se tornaria um filme de saudade quando eu tivesse 50. Mas visto na minha idade...não dá. A mitologia grega é reduzida a uma espécie de "monstrinhos fofos da Disney", a ação é banal e acabei me distraindo de tudo aquilo. Vi o filme a 6 dias e já não me lembro de sua trama. Ao contrário de alguns ótimos filmes juvenis que andei vendo, este não consegue envolver um adulto. Pena. Nota 2.
   UMA VIAGEM PARA A ITÁLIA de Michael Winterbottom com Steve Coogan e Rob Brydon
Um amigo inglês, jornalista, convida um ator de TV para viajar com ele pela Itália. O filme é apenas isso. Os dois viajando pelo país e conversando muito e muito e muito. Felizmente a conversa é ótima! O diretor não enfeita nada, a ação é a conversa, a paisagem correndo ao lado do carro e os restaurantes e hotéis onde eles ficam. Os dois atores interpretam eles mesmos ( na verdade os personagens são Rob e Steve ). Algumas cenas são hilárias. Rob imita Hugh Grant, Jude Law e Michael Caine à perfeição. Morri de rir! O filme é todo assim, leve e bem humorado. Eles falam de coisas sérias: idade, tempo, fama, mas sempre com alegria, cinismo ou até anarquia. Um filme muito gostoso de se ver. Nota 7.
   O MATADOR de Henry King com Gregory Peck, Millard Mitchell e Helen Westcott.
Falei desse filme num texto abaixo. É uma obra-prima. Fala de um matador cansado, alguém que procura ser esquecido. No processo ele não consegue escapar de sua fama. Henry King começou no cinema mudo, fez algumas obras primas e continuou sua carreira até os anos 50, sendo sempre o diretor classe A da Fox. Peck raramente esteve tão bem. Com meia dúzia de olhares e o timbre da voz ele nos comove. É um filme raro, seco, simples, duro e bastante pessimista. Tem de ver! DEZ!!!!!!!!
 

O MATADOR- UMA OBRA PRIMA DE HENRY KING

   A história é de uma simplicidade mítica: um matador está cansado de ser aquilo que ele é. A questão: alguém pode deixar de ser a pessoa que os outros querem ver...
  Sob uma melodia soberba e elétrica de Alfred Newman, Gregory Peck cavalga. Ele vai à um saloon e lá, logo reconhecido, tem de se colocar à prova. Essa sua sina. Por ser um pistoleiro famoso deverá, sempre, ser desafiado. Todo jovem maluco quer o seu lugar. A fama de ter morto o grande matador.
  A fotografia de Arthur Miller é absoluta. Ela abarca todo o set e todos os tons de cinza. As cenas são profundas, vastas apesar de claustrofóbicas.
  E há o rosto de Peck. Ele nunca foi um grande ator, mas ele era mais que isso, era uma estrela. Ilumina o filme. Dá luz sendo obscuro. O rosto está cansado. O Pistoleiro não quer mais ser quem é. Há um desejo imenso de descanso nele. E dolorosamente ele quase consegue chegar lá.
  O que faz de um filme uma obra-prima: prazer, vontade de falar dele, interpretações múltiplas, desejo de rever, muitas cenas que se guardam na lembrança. Este filme tem tudo isso. Ele fala da fama, do destino, do julgamento da comunidade, da impossibilidade de se apagar o que se fez.
  Henry King teve uma longa carreira. Começou ainda no cinema mudo e nele ficou famoso. Passou ao falado e acabou por se especializar em grandes filmes da Fox. Ele fazia de tudo: musicais, westerns, épicos, dramas, e muitas adaptações literárias. Com mais de 90 filmes nas costas, óbvio que nem todos são de alto nível. Mas ele conseguiu jamais fazer um filme ruim. Muitos são bons, alguns são ótimos e cinco ou seis são geniais. Quando a produção era cara, complicada, arriscada, se chamava Henry King. E tudo acontecia.
  Aqui aconteceu. Um filme perfeito.

PIETRO GERMI/ HARRY POTTER/ PROUST/ NARUSE/ GREGORY PECK/ MAGGIE SMITH

   O SOM DA MONTANHA de Mikio Naruse com Setsuko Hara
Se baseia em livro do grande Kawabata. Mas não espere no filme nada da sensualidade hipnótica do grande romancista. O roteiro opta pelos aspectos externos das perosnagens, não complica e se sai bem. Naruse foi, com Ozu, Mizoguchi e Kurosawa, parte dos quatro grandes do cinema japonês. A trama fala de um pai, seu filho que é infiel a esposa e dessa esposa, que é apegada a familia e ao pai de seu marido. Fosse um filme de Ozu seria leve como uma brisa e belo como uma estação nova, mas Naruse é mais pesado. Sentimos pensa da esposa e raiva do marido. Em Ozu vemos os erros mas os perdoamos. Nota 6.
   O TEMPO REDESCOBERTO de Raoul Ruiz com John Malkovich, Emmanuelle Béart, Vincent Pérez
A dura tarefa de levar Proust as telas é vencida por Ruiz. Ele faz o oposto do que Naruse fez ao adaptar Kawabata, joga no lixo a trama e se concentra no visual. O filme, lindo de se olhar, flutua entre personagens, ambientes, frases, roupas e muito luxo. Para quem leu Proust é uma delicia. É como ver uma coleção de lembranças de uma viagem. Para quem não o leu, que pena! Verá apenas um filme enigmático e sem sentido. Aconselho que o vejam mesmo assim, tentando o usufruir como coleção de clips superiores. Nota 8.
   O CONSELHEIRO DO CRIME de Ridley Scott com Michael Fassbender, Penelope Cruz, Javier Bardem, Cameron Diaz e Brad Pitt.
Belo elenco. Um filme de lixo. Maneirismo sobre maneirismo, fala de um cara tentando entrar no mundo do tráfico entre México e EUA. Loooooongos diálogos sem qualquer importância, loooooongas tomadas tipicas do pior cinema dos anos 80 e a sensação constante de : Vamos! Qual É ????? ZERO!!!!
   HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL de Chris Columbus com Maggie Smith, Alan Rickman, Richard Harris, John Cleese...
Os primeiros trinta minutos são excelentes. Mas logo surge uma certa monotonia. Rowlings aprendeu bem as lições de Lewis, mas Harry Potter é apenas para crianças. Eu adoro desenhos, livros, contos, infantis, mas aqueles que conseguem ser livres da prisão da ïnfantilidade esperta. Aqui, em cada cena, voce percebe o desejo de agradar quem tem 12 anos. E isso exclui todo o resto. Bom ver Alan Rickman em pappel tão bom! Nota 4.
   SONHOS DE UM SEDUTOR ( PLAY IT AGAIN SAM! ) de Herbert Ross com Woody Allen, Diane Keaton, Tony Roberts, Viva.
Feito em 1972, baseado numa peça de sucesso de Woody, o filme é um tipo de ensaio para Annie Hall. Woody é um critico de cinema com mania de Humphrey Bogart. Ele se apaixona pela esposa de seu melhor amigo. Ela é Diane Keaton, que faz aqui Annie Hall. O filme é bom? Quando o vi a primeira vez, em 1987, imerso numa fase Woody Allen, achei ele consolador. E muito pra cima. Agora me decepcionei. Não que seja ruim, é comum. Ross fez boa carreira no cinema. Ah sim, o personagem de Woody vê Bogart, que surge lhe dando conselhos. É a melhor coisa do filme. Nota 5.
   ALMAS EM CHAMAS de Henry King com Gregory Peck
Começa muito bem. Um homem em Londres visita um velho campo de pouso e se lembra da segunda guerra. Depois o filme ameaça ser chato. Não tem ação nenhuma. O que temos é um bando de aviadores com medo de lutar. Mas logo vamos nos interessando pelos caras. É um muito bom filme. Peck é o novo comandante. Duro, frio e nada simpático. Henry King, mestre que fez mais de 200 filmes ( !!!!! ), conduz tudo com sua mão de ferro. É o estilo americano, ele conta a história e que se dane o resto ( que resto?? ). As cenas de ação só acontecem no final. Nota 8.
   THE PRIME OF MISS JEAN BRODIE ( A PRIMAVERA DE UMA SOLTEIRONA ) de Ronald Neame com Maggie Smith, Pamela Franklyn e Robert Stephens
Surpreendente. Na Inglaterra de 1936, acompanhamos uma professora "liberal". Ela consegue fazer de suas alunas meninas ärtísticas" É uma mulher alegre, futil, criativa, agitada...feita por uma Maggie Smith que levou o Oscar em 1969. Mas logo vemos que o que parecia tão bonito não é tão perfeito. Ela tem admiração por Mussolini, revela-se uma egocêntrica sem noção de delicadeza e acaba por se perder em seu mundo ideal. O filme é um bom exemplo do grande cinema inglês da época. Um prazer. Nota 8.
   SEDUZIDA E ABANDONADA de Pietro Germi com Stefania Sandrelli e Saro Urzi
Às vezes faz rir, mas é uma impiedosa exibição do patriarcado e do machismo latino. Na Sicilia, uma menina é seduzida. O sedutor não assume o ato. Chega a cupá-la por o tentar. O pai da menina tenta, em ações mirabolantes, salvar a honra de seu nome. Tudo caminha para o erro completo, um erro faz nascer um erro... Germi fez o genial Divórcio a Italiana. Ele foi um observador dos vicios da Itália que se modernizava. Mas aqui ele erra em sua metragem. O filme seria excelente com hora e meia. Dura duas horas e dez, e a gente tem a impressão que ele passa do ponto. Stefania é uma rainha do erotismo. Nota 6.

AMOR BANDIDO/ BANG BANG/ AVA GARDNER/ WOODY/ KIRK DOUGLAS

   BANG BANG de Andrea Tonacci com Paulo César Pereio
Cinema marginal. Feito em 68, mostra de forma muito livre a saga de um homem só. Mas não. Cenas aparentemente desconexas. Godard mais Bellochio. A cena no táxi é antológica! Pereio mata a pau. Cinema novo o escambau, o lance é o cinema marginal! Tem uma cena em que eles fazem um zapp pelo rádio am. Toca Beatles, Stones, Byrds e Simonal. Bons tempos. Nota sem nota talvez não quem sabe?
   O GRANDE PECADOR de Robert Siodmak com Gregory Peck, Ava Gardner, Melvyn Douglas e Walter Huston
Asfixiante e desagradável drama sobre o vicio do jogo. Tudo gira ao redor da roleta. Peck, que está bem, se vicia por causa do amor por Ava, que o ama porque o faz jogar. Huston é o pai de Ava, outro viciado. Douglas, excelente, não é viciado, é dono do cassino. Ava nunca esteve tão bonita! Nota 6.
   SUA ÚLTIMA FAÇANHA de David Miller com Kirk Douglas, Gena Rowlands e Walter Mathau
A capa do dvd o anuncia como o filme favorito da carreira de Kirk. Apesar de passado em 1962, Kirk insiste no filme em ser um cowboy. É um simplório, nada tem de heróico. Vai para a prisão de propósito para salvar um amigo que lá se encontra. Mas o amigo não aceita fugir com ele. Então ele foge sózinho. Todo o resto do filme trata de sua fuga da policia. Helicópteros e rádios atrás de um homem e seu cavalo montanha acima. O fim é dos mais tristes e dolorosos que já vi. O filme é estranho. Enquanto voce o vê parece apenas ok, quando acaba voce está muito tocado... Nota 7.
   AMOR BANDIDO-MUD de Jeff Nichols com Mathew McConaughey, Reese Witherspoon, Sam Shepard e Tye Sheridan
Estreou esta semana e eu pensei que não passaria por aqui. Se passa na zona caipira dos EUA. Dois garotos encontram um vagabundo numa ilha. Ajudam o cara a sobreviver e vão descobrindo que ele é um foragido da lei. Ao mesmo tempo vemos a vida, dura e solitária, do adolescente. Mathew, ótimo, é o foragido. Ele sempre foi ótimo como galã, se torna cada vez mais um bom ator. Reese está sexy. E Tye, o teen, convence muito. O filme não é ótimo, mas está longe de ser vulgar. Uma mistura interessante de Houve Uma Vez Um Verão com O Mensageiro. Bacana. Nota 6.
   UM ASSALTANTE BEM TRAPALHÃO de Woody Allen com Janet Margolin
O primeiro filme de Woody como diretor. Mal feito. Tem erros de edição e um roteiro caótico. Cenas muito sem graça. E duas ou três muito boas. Aquela dos fugitivos amarrados é soberba. Ele é um ladrão. Rouba, casa, é pego, foge... Como ator Woody era bem mais simpático. Nota 5.
   A MÚSICA NUNCA PAROU de Jim Kohlberg
Esse acho que não vai passar por aqui. É uma história real. Um cara tem tumor na cabeça. Opera e perde toda a memória. Ficamos sabendo que ele é um ex-hippie que fugiu de casa a mais de 30 anos. Os pais cuidam dele e uma médica observa que ele volta a ser ele-mesmo ao ouvir o hino francês. Mas não é o hino que o toca, é All You Need is Love... O que acontece? Ao ouvir músicas dos anos 60 ele volta a ser ele-mesmo em 1970. Pensa ser um hippie e a achar que tudo está em 66/70. Isso faz com que feridas vividas com o pai sejam reexaminadas e os dois acabam por ir a um show do Grateful Dead...o livro em que o filme se baseia é de Oliver Sacks. A direção é quadrada, parece ser um telemovie. Mas o tema é fascinante! Nota 5.
   O VERMELHO E O NEGRO de Claude Autant-Lara com Gerard Philipe, Danielle Darrieux e Antonella Lualdi
Um autor morre uma vez em vida e milhares quando assassinam sua obra. Que filme ruim!!! Nada lembra a obra maravilhosa de Stendhal. Os personagens falam e falam e falam...Quando crítico de cinema, Truffaut destruiu este filme a até levou ao pessoal seu ataque a Lara. Com razão. O filme é uma coisa pesada, chata, velha, morta. Mais um erro dessa coleção de dvds da Folha. Nota ZERO!
   MÚSICA DA ALMA de Wayne Blair
Interessante saber que até 1967 os aborígenes eram considerados na Austrália não-gente. Eram fauna. Este sucesso da filmografia aussie fala de uma girl group formada por aborígenes que vai cantar soul music para os soldados americanos no front do Vietnã. Atenção, é uma história real. Mas, sinto dizer, o filme é sem emoção, frio, chato até. Nota 3.

SOPHIA LOREN/ BILL MURRAY/ DASSIN/ BORZAGE/ ZINNEMANN/ HENRY KING

   UM FIM DE SEMANA NO HYDE PARK de Roger Michell com Bill Murray, Laura Linney, Samuel West e Olivia Colman
Que filme esquisito!!! Fala de um final de semana em que o rei da Inglaterra vem aos EUA com a rainha a fim de visitar o presidente Roosevelt. O rei deseja convencer os EUA a entrar na guerra. Adendo histórico: até então a politica americana era toda isolacionista. O país pouco ligava para a Europa. É aqui que o mundo muda e a América passa a se envolver com o planeta. O encontro é cômico. Roosevelt os recebe na casa de sua mãe, no campo. A realeza é abrigada em quarto comum e vão a pic nic. Esperteza de Roosevelt, assim a opinião pública americana, que odiava reis e Europeus, passa a ver o rei como "gente". O filme é esquisito por ser um  misto de drama e comédia, poesia e arte. É bonito de ver e tem ótimas atuações. Murray tem aqui seu melhor papel. Faz um presidente humano, simpático e mulherengo. Ele mantém um harém ao seu redor. O ator Samuel West faz o mesmo rei que Firth fez no ótimo Discurso do Rei. West está excelente. Hesitante, assustado, reprimido. Uma das amantes de Roosevelt morreu aos 100 anos e foi só então que encontraram esta história com ela. O filme é contado por seu ponto de vista. Aviso que ele começa meio chato e de repente te pega. Nota 6.
   O ÍDOLO DE CRISTAL de Henry King com Gregory Peck e Deborah Kerr
Uma chatice sobre Scott Fitzgerald e sua namorada Sheila Graham. Peck, que não está mal, bebe e bebe e bebe. Kerr é a amante que tenta o salvar. O filme é flácido, embolado, tolo. Nota 1.
   O CASTELO SINISTRO de George Marshall com Bob Hope e Paulette Goddard
Sátira aos filmes de horror. Tem um belo clima e é agradável. O humor de Hope envelheceu mal, o filme é alegre mas não nos faz rir. Dá pra ver. Nota 5.
   UMA AVENTURA EM PARIS de Jules Dassin com Joan Crawford, John Wayne e Philip Dorn
Assisti a caixa com seis filmes sobre a segunda-guerra. Dois deles são tão ruins que não consegui ver. Portanto não falo deles aqui. Este é bom. Mostra a Paris ocupada. Wayne é um piloto que tenta sair da cidade. Crawford ama um 'traidor". Dassin se tornaria depois um diretor maravilhoso. Aqui ele entrega um filme que se deixa ver. Há um belo suspense ao final. Nota 6.
   TEMPESTADES D'ALMA de Frank Borzage com James Stewart e Margaret Sullavan
Este é quase uma obra-prima. Na Alemanha, no começo do nazismo, vemos uma familia ser destruída. Filhos se tornam nazistas, crêem em Hitler e passam a perseguir amigos e vizinhos. Há um pai que é expulso da faculdade onde dava aula e acaba morto em campo de concentração. Stewart, sempre ótimo, é um vizinho que foge do país. Ele volta para salvar sua namorada. O final é bem triste. É um lindo filme. Borzage foi um dos grandes diretores do começo do cinema falado e do fim do silencioso. Nota 8.
   HORAS DE TORMENTA de Herman Shumlin com Bette Davis e Paul Lukas
Roteiro de Dashiell Hammet baseado em peça de Lillian Hellman. Paul Lukas ganhou um absurdo Oscar de melhor ator, batendo Bogey em Casablanca. O filme se passa na América e fala de refugiados. Lukas é um guerrilheiro anti-fascismo que é chantageado por canalha. O filme tem cena forte em que o canalha é morto a sangue-frio. Mas está longe de ser um grande filme. Nota 5.
   A SÉTIMA CRUZ de Fred Zinnemann com Spencer Tracy
Zinnemann sabia do que falava. Ele acabara de fugir do nazismo quando fez este filme. O futuro de Fred seria brilahnte: Julia, Um Passo Para a Eternidade, Matar ou Morrer... Tracy foge de campo de concentração com companheiros e tenta sobreviver. Todos são pegos e executados, ele não. Um achado do filme é mostrar sua reumanização. Algumas pessoas lhe ajudam e ele vai recuperando a fé nos homens. É um belo filme. Nota 6.
   A CIDADE DOS DESILUDIDOS de Vincente Minelli com Kirk Douglas, Edward G.Robinson, Cyd Charisse e Dahlia Lavi
Kirk é um ex-astro que está em clínica psiquiátrica. Tem alta e volta a ativa, Vai a Roma fazer filme com diretor americano decadente. O filme é tétrico. Todos são fracassados, destrutivos, amargos e vazios. Minelli via que seu tempo passara e faz um tipo de auto-retrato cruel. Estranho porque ele sempre foi um diretor amado pelo sistema que ele cospe em cima. Nota 3.
   JOÃO E MARIA CAÇADORES DE VAMPIROS de Tommy Wirkola com Jeremy Renner
Já esqueci deste filme. É um samba do crioulo doido. Se passa na idade média mas tem metralhadoras e roupas à Matrix. Eles NÂO caçam vampiros, são bruxas! Nota 2.
   SUAVE É A NOITE de Henry King com Jennifer Jones, Jason Robards e Joan Fontaine
Henry King novamente no mundo de Fitzgerald. É o último trabalho deste grande diretor. Robards faz o Dr. Diver que se destrói ao salvar Nicole da loucura. O filme se passa entre os muito ricos, hedonistas, futeis. A tragédia de Diver é lutar contra esse mundo, não aceitar o dinherio de sua esposa muito rica. O filme passa longe do romantismo de Scott, mas tem alguns momentos belos, fortes. Bons atores. Nota 7.
   PENA QUE SEJA UMA CANALHA de Alessandro Blasetti com Sophia Loren, Marcello Mastroianni e Vittorio de Sica
Marcello é um taxista. Sophia uma ladra e Vittorio o pai que rouba malas na estação de trens. Apesar de ser sempre feito de trouxa por Sophia, Marcello não consegue a odiar e cai irremediávelmente em suas artimanhas, sempre. O filme é alegre, leve, bom de ver. Atinge magnificência no trabalho dos atores. Sophia, muito jovem, está linda e atua de modo tão fácil, tão prazeroso que faz com que sua arte pareça a coisa mais simples do mundo. O esforço é o que diferencia o talento do gênio. O talento demonstra esforço, o gênio faz o grande com facilidade, como a brincar. Sophia é genial. Assim como Marcello. Que estupendo bobo é esse taxista! Ele passa todo o filme resmungando contra Sophia, tentando se livrar dela, mas sempre volta, vencido, ingenuo, absurdo. Amamos Mastroianni. E há De Sica, o malandro veterano, playboy, fino e mentiroso. O filme mostra uma Itália onde todos são ladrões e todos são feitos de bobos por uma bela mulher. Verdade? Nota 7.

OS VINGADORES/ MAHLER/ KEVIN KLINE/ DIANE KEATON/ PECK/

    OS VINGADORES de Joss Whelan
Nick Fury fuma um enorme charuto. É sexy ao nível Clooney de ser e é  musculoso. Está na meia-idade e tem um humor ácido, desencantado. Isso nas HQ, porque aqui ele é Samuel L. Jackson....eu adoro Nick Fury, o filme me fez odiar Jackson. Tem mais. Me fez pensar nos grandes sucessos de bilheteria da história. Todos são escapistas, e isso nada tem de ruim. Mas depende do tipo de escapismo. Se ...E O vento Levou era a afirmação da saga individualista americana, se A Noviça Rebelde era a propaganda de bons sentimentos em época de más noticias, e Star Wars era nostalgia travestida de saga futurista,  Os Vingadores é puro militarismo triunfante. Oitenta por cento do filme é propaganda de armamanto. Computadores militares, tiros e explosões, aviões, soldados. A história nada mais é que o enquadramento do incontrolável Hulk, a dessacralização de Thor e conscientização do Iron Man como soldado obediente. Não é por acaso que todos têm rancor contra Thor, afinal ele é um semi-deus. E o pobre Hulk é apenas uma besta que deve ser disciplinado. Destruição como fetiche ( após Star Wars todos os big hits têm a destruição como gozo, desde um navio que afunda até a perseguição de uma raça ). Nos extras o diretor desta coisa fala que se trata de um filme "so sexy"....
   MAHLER de Ken Russell
Tchaikovski era tão exagerado, pomposo e falso como este. O problema aqui é que Russell esqueceu daquilo que salvava o seu filme anterior: a beleza. Tchaikovski é um filme lindo, Mahler é ridiculo. Quando surgem as cenas nazistas começamos a achar que Ken tomou a droga errada. Foi este o filme que começou a destruir sua carreira. Se ele surpreendera o mundo com belas adaptações de Lawrence e filme cheios de imagens originais, aqui ele se perde em puro sensacionalismo. Nota 2.
   A CONQUISTA DO ESPAÇO de Byron Haskin
O que é isto? Deveria ser um pop e divertido filme B dos anos 50. Mas o que vemos? Um grupo viaja à Marte e seu lider enlouquece. O filho desse lider acabará por matá-lo. Em Marte há um clima de culpa, de medo e de consciência da inutilidade daquilo tudo. Simples? É um dos filmes mais doentios que já vi. Tudo nele é classe B, os atores ruins, os efeitos mediocres, os cenários pobres. Mas o roteiro é incrivelmente profundo trazendo antecipações de 2001 e até Solaris.
   MATANDO SEM COMPAIXÃO de Ted Kotcheff com Gregory Peck
Western dos anos 70, ou seja, ppouca ação e muito clima de fim de mundo. Peck é um ladrão barato, que foge em deserto de xerife "do mal". Um mestiço é o amigo de Peck e o filme, claro, fala de racismo. Não é um bom filme. Ele jamais emociona e fica sem saber onde ir com seus personagens. Peck, um ator imponente, não tem muito o que fazer. Nota 4.
   MEU QUERIDO COMPANHEIRO de Lawrence Kasdan com Kevin Kline, Diane Keaton, Dianne Wiest e Richard Jenkins
Kasdan foi um dia um dos grandes. Roteirista da turma de Spielberg, despontou a trinta anos com o marcante e icônico O Reencontro. Este é seu novo filme, recém lançado, e se está longe de ser ruim, nada tem de novo. Uma mulher, a sempre ótima Keaton, esposa de um médico, o sempre excelente Kline, acha um vira-lata na rua. O abriga. Depois de dois anos, em viagem ao Colorado, o cão some e isso expõe as dores da familia. Na busca pelo cão o que vemos é uma sessão de terapia dos personagens. O filme mantém o interesse, as pessoas são reais e os cenários deslumbram. Fácil de ver, falta ao filme um momento grande, um centro de catarse. Ele acaba sendo discreto demais, simples demais, comum demais. Mas pelo menos Kasdan não tenta fazer "arte". Ninguém é bem louco ou perigoso, a câmera nunca treme ou alça vôo. Nota 6.
   FANTASIA de Walt Disney
Grande orgulho de Disney, fracasso em seu tempo, reabilitado vinte anos mais tarde com os hippies. Vamos por partes. Porque orgulho de Disney? Porque ele trata de "grande arte". Afinal, é um looooongo desenho que cria clipes para músicas de Beethoven, Tchaikovsky e até Stravinsky. Típica jequice, achar que usar Dukas ou que falar da criação do mundo faz de um desenho "arte". Pinóquio era Arte sem nada de pedante. Os hippies descobriram que assistir Fantasia com LSD dava uma viagem ótima. Visto agora, tem seus bons momentos, mas seu espirito de "grande arte" faz dele o mais antipático dos desenhos. Nota 4.

PETER SELLERS/ COELHOS/ ANA MARIA BAHIANA/ ASTAIRE/ MILESTONE/ JOHN GARFIELD

   ROMANCE INACABADO de Stuart Heisler com Bing Crosby e Fred Astaire
Astaire, em seu tempo de vacas magras, serve de escada para o sempre bonachão Crosby. O filme tem um score com um monte de canções de Irving Berlin, ou seja, apesar de ser produção de rotina, tem momentos de alto nível. Fred Astaire canta Puttin' on The Ritz...precisa de mais o que? São alguns minutos de técnica, alegria, classe e leveza. Como é bom poder ver esse gênio na tela! Nota 7.
   EXPERIMENT IN TERROR de Blake Edwards com Lee Remick e Glenn Ford
Acabou de sair em dvd. A música, climática, classuda, bem conhecida, é de Henry Mancini. O filme tem a fama de ser um dos favoritos de David Lynch. Tem o clima doente de seus filmes. A história fala de um maníaco asmático, que persegue e aterroriza pacata mocinha. Edwards estava aqui em seu apogeu. Acabara de fazer uma das melhores comédias do cinema e iria dominar a década com seu humor ácido. Aqui, nada de humor. É suspense esquisito, pouco hitchcockiano. Nota 6.
   2 COELHOS
Filme trailer. Me peguei esperando que ele finalmente começasse. Não começa. O diretor é daquela escola que pensa assim:"Se os trailers são tão bons, porque não fazer um filme que seja um trailer de hora e meia?" Nos anos 70 reclamavam que os filmes começavam a se parecer com TV, muito close e muito corte, nos anos 80 reclamavam que eles se pareciam com comerciais de TV, imagem fake e personagens rasos, nos 90 era o clip, muito efeito e excesso de cortes, pois veio depois o filme trailer, simples flashs de pedaços de ação com letreiros e apresentação de personagens que nunca termina. O futuro será o filme facebook, perfis de personagens e ações irrelevantes... Nota 1. pela boa produção.
   O PRISIONEIRO DE ZENDA de Richard Quine com Peter Sellers
O ponto baixo desse gênio chamado Sellers. Trata da velha trama da troca de um rei à perigo por um sósia simplório. Sellers dá um show como os dois. Um snob e afrescalhado principe da Europa central e um inglês pobre, pacato e de sotaque cockney. Há um filme de Tv com Geoffrey Rush que mostra quem foi Peter Sellers. Um homem sem personalidade, que só existia em seus papéis. Sellers foi meu primeiro ator-ídolo. Morreu do coração em 1979, com 50 anos apenas. A jovem geração perdeu a chance de conhecer esse ator incomparável. Poderia estar vivo ainda...uma pena. O outro filme que fez nesse mesmo ano ( 1978 ) com Hal Ashby, Being There, é talvez, o mais influente filme a servir de modelo a nosso tempo. André Forastieri disse isso, o cinema fofo e moderno de Wes Anderson, Juno e que tais é 100% Hal Ashby. Mas este tal de Zenda leva Nota 5.
   OS BRAVOS MORREM DE PÉ de Lewis Milestone com Gregory Peck
No inicio de sua carreira, Milestone fez o melhor filme de guerra do cinema ( Nada de Novo no Front ). No final dessa inconstante trajetória ele fez este outro histórico filme de guerra. Aqui, Peck é o comandante de um pelotão que deve tomar posse de uma montanha na Coreia. Eles a tomam, mas a que preço? O filme mostra o absurdo da situação: a batalha é inutil, os superiores mentem aos soldados, a ajuda nunca vem, o terror domina a todos. Nada há de heróico, eles apenas tentam sobreviver. O filme é forte, soberbo, tem cenários inesquecíveis. Peck transmite sua autoridade de homem íntegro. Consegue parecer assustado e sob pressão sem perder a altura. Funciona. O filme é quase uma obra-prima. Nota 8.
   SUGATA SANSHIRO de Akira Kurosawa
É o primeiro filme do mestre. Fala de um jovem que tenta ser um mestre do judô. O tema de Kurosawa já se expõe: vontade sob dor, teimosia que leva a vitória, prêmio que nunca compensa o sofrimento. Mas a vida se justifica nessa luta. Ela, a vida, vence, e nós somos parte dela e nunca seus senhores. A imagem do filme está estragada, muito escura. Se o achar em alguma loja, fuja. Não posso dar nota.
   O EGÍPCIO de Michael Curtiz com Edmund Purdom, Jean Simmons, Victor Mature e Gene Tierney
Fim da carreira de Curtiz. Fim digno em produção "épica" sobre um egípcio que se torna médico e se envolve com mulher fatal. O elenco é problemático. Purdom não vingou, Mature foi o simbolo do canastrão, Gene Tierney, que foi a mais bela das atrizes, já está irreconhecível. Teria logo uma doença nervosa que a isolaria da vida. E Jean Simmons, que faz o papel da mocinha boazinha que ajuda o herói, tinha sua carreira prejudicada por Zanuck, o poderoso produtor, por não ceder a suas cantadas. Jean era inglesa e foi a mais bela das Ofélias no Hamlet de Olivier. Este filme é enorme, pesado, melodramático, sem noção, tolíssimo e apesar disso tudo, deixa-se ver com facilidade. Nota 5.
   VINGANÇA DO DESTINO de Jean Negulesco com John Garfield e Micheline Presle
Garfield é um jockey americano. Ele vende corridas, faz "marmeladas". Foge para a França, mas o destino o persegue na forma de um mafioso que ele traiu. O filme tinha tudo para ser bom. Um ator excelente ( Garfield, foragido de MacCarthy, logo morreria na amargura. Seu tipo feio, sujo, antipático fez dele o primeiro ator a parecer "gente de verdade" ), um tema ousado e uma Paris pós-segunda guerra ainda existencialista. O filme é cheio de jovens barbudos, clubes de jazz e ruas imundas. Fascinante Paris que desapareceria nos anos 60 com seu boom de crescimento. Mas com tudo isso o filme é chato. Cai em excessos de melô na figura do filho de Garfield, um menino enjoado, choroso e bonzinho demais. O filme é frustrante então. Nota 3.
   1972 de Ana Maria Bahiana e José Emilio Rondeau com Dandara Guerra, Rafael Rocha e Tony Tornado
Foi um fracasso de bilheteria esta produção cara que foi a estréia de Ana na direção. Ana foi critica de rock e o filme tem algo de autobiográfico na figura da mocinha que tenta ser repórter de rock em 1972. Há algo de Quase Famosos aqui, mas o filme, que é bom, nunca emociona. O que mais o prejudica são os dois atores centrais. O mocinho do subúrbio é interpretado de modo completamente amador. Já a repórter é um pouco menos ruim, mas Dandara, que é impressionantemente linda, tem problemas de dicção. O melhor é ver Big Boy sendo homenageado e sentir o amor ao rock que há em todo o roteiro. O filme é sobre rock na época em que gostar de rock ainda era coisa de bandido. Nesse ponto ele acerta na mosca. Era coisa de não- bandidos, jovens ingênuos, idealistas, sonhadores e que se uniam na grande irmandade dos cabeludos. O chato é que esse filme podia ser tão mais..... Nota 6.

DONEN/ CARY GRANT/ BURT LANCASTER/ AL PACINO/ POWELL/ CAPRA

ARABESQUE de Stanley Donen com Gregory Peck e Sophia Loren
No inicio dos anos 60 foi moda fazer filmes do tipo "mistério-policial-chic". Donen fez em 63 o melhor deles: Charada. Aqui ele tenta fazer um filme tão bom quanto aquele. Infelizmente não consegue ( Pudera! ninguém mais conseguiu fazer outro Charada.) Mas este Arabesque não é ruim. Diverte e é bonito de se ver. Sophia nunca esteve tão perfeita e Peck é sempre ok ( Embora não sirva pra comédia. Suas cenas de humor naufragam ). Stanley Donen é o soberbo diretor que ajudou Gene Kelly a fazer Cantando na Chuva e que depois provou sua maestria com Sete Noivas para Sete Irmãos. Donen sabia dar a seus filmes um toque sublime de leveza, brilho, chique, humor e muita inteligencia. Em 1994 foi homenageado no Oscar e sua dança com seu prêmio é dos melhores momentos da academia. Nota 6.
NIGHTFALL de Jacques Tourneur com Aldo Ray, Brian Keith e Anne Bancroft
Ótimo policial noir. Tourneur foi um daqueles caras que sabia fazer qualquer tipo de filme. O que ele dava a todos os seus trabalhos era senso de ação, clima, e boas interpetações. Este filme tem tudo isso, e mais um enorme fatalismo pessimista. Tudo dá errado para seus personagens vulgares. Uma excelente diversão. Nota 8.
O LADRÃO DE BAGDÁ de Michael Powell com Sabu, June Duprez
Em que pese a maravilha de foto ( Georges Perinal ), o filme é muito irregular. Na verdade Powell dirigiu apenas um quarto do filme. Korda e Whelan dirigiram o resto. Isso lhe dá uma alternancia de ritmos, climas que não evoluem. Mas funciona como fantasia solta e tem seus momentos. Mas não espere demais. Nota 5.
ESTE MUNDO É UM HOSPICIO de Frank Capra com Cary Grant, Peter Lorre, Raymond Massey
Um filme que é todo falho. É a versão nas telas de peça de imenso sucesso. Fala de duas velhinhas que aliviam a vida de velhos solitários: elas matam esses infelizes. Mas a comédia não funciona. O motivo? Todos os personagens são irritantemente histéricos. Mesmo o maravilhoso Cary Grant está fora do tom. Dá para se perceber seu desconforto. Nota 4.
O HOMEM DE ALCATRAZ de John Frankenheimer com Burt Lancaster e Telly Savallas
Baseado em fatos reais. Um homem anti-social, ruim, é preso. Ele odeia as pessoas e idolatra sua mãe ( uma assustadora/edipiana Thelma Ritter ). Na prisão, um diretor passa a persegui-lo ( um odiável Karl Malden ), porque ele não se encaixa em seu plano de prisões ultra-racionais. Por acidente, esse preso cria um canário na cela, e passa, com o tempo, a ser uma das maiores autoridades do mundo em ornitologia. Sem jamais sair da prisão. O filme é muito dificil. Todo filmado dentro das celas, sem sol, sem alegria, nada apelativo. Lancaster está contido, seco, bastante viril e o resto do elenco está a sua altura. Frankenheimer, um dos grandes da época, sabe filmar esse tipo de tema. A câmera testemunha, não julga, mostra e jamais escancara. Não é fácil acompanhar vida tão árdua, mas caraca! Vale muito a pena. Nota 7.
O IMPÉRIO DAS ARANHAS de John Bud Cardos com William Shatner É um thrash fuleiro sobre aranhas que matam e aprontam. É versão pobre de Os Pássaros. Voce se senta e se deixa ver, e de repente se pega gostando. Nota 5.
ANNA CHRISTIE de Clarence Brown com Greta Garbo
Peça de Eugene O'Neill, ou seja, pessimismo ao extremo. Garbo prova mais uma vez ser grande atriz. Faz um papel sem nenhum glamour. Mas o filme, feito no inico do cinema falado tem um enorme problema: seu peso. No começo do falado, os aparelhos de gravação de som eram imensos, isso fazia com que câmera e atores não pudessem se mover. O que temos são longas cenas sem movimento ( isso seria resolvido no ano seguinte ). Chato pacas! Nota Zero.
JUSTIÇA PARA TODOS de Norman Jewison com Al Pacino, Jack Warden e Christine Lahti
No tempo em que o cinema americano era adulto, se fez este filme. É sobre um advogado que tem de defender de processo por estupro, o juiz que ele mais detesta. O roteiro de Barry Levinson mistura drama pesado e comédia louca, funciona e muito. Jewison, diretor engajado, mostra a vida de travestis, pequenos ladrões, julgamentos falhos e escritórios cheios de processos infindáveis. Pacino vai enlouquecendo e sua atuação é das melhores coisas que ele já fez. A explosão que ele sofre no final é das cenas mais citadas pelos jovens atores. Mas há mais: o filme é maravilhosamente rico. Um juiz que tenta se enforcar, um outro fascista, um advogado que enlouquece, um travesti sensível, todos são meio loucos neste filme que parece faiscar em mil direções, mas que jamais se perde. Posso dizer que se voce é daqueles meninos que ainda não descobriram o cinema adulto dos 70, que ainda pensa que Rede Social e Cisne Negro são o máximo...bem, veja este filme e depois a gente conversa. Há aqui uma complexidade fílmica não afetada maravilhosa. E há Pacino. Nota 9.
NESTE MUNDO E NO OUTRO de Michael Powell com David Niven e Kim Hunter
Uma obra-prima. Fantasia pura e poesia soberba em filme que trata de espíritos e anjos sem jamais ser fofo ou lacrimoso. Sério e socialmente nobre, Powell era um gênio. Este filme, diferente de tudo o que voce já viu, é testemunho de alma sem igual. Ver e crer. Nota DEZ!!!!!!
PARALELO 49 de Michael Powell com Laurence Olivier, Raymond Massey e Leslie Howard
Um grupo de nazis, perdidos no Canadá, tentam escapar. Coragem de Powell, o filme, feito durante a segunda guerra, tem nazis como personagens centrais e mostra os alemães como não-vilões. O filme, claro, ataca o nazismo, mas exibe o fato de que os alemães não são todos ruins e mais, que há soldados alemães inocentes. Fora isso, é uma aventura de primeira com deslumbrantes paisagens canadenses. Mais um show de Powell. Nota 7.

PECKIMPAH/ WILLIAM WYLER/ GREGORY PECK/ YOSHIDA/ JAMES COBURN

MAJOR DUNDEE de Sam Peckimpah com Charlton Heston e James Coburn
O grande Peckimpah teve problemas sérios com os produtores ao fazer este filme. A gente percebe que ele não está a vontade, que falta alguma coisa. Mesmo assim é um western diferente, crispado. Trata de comandante do norte ( estamos em 1865 ) que obriga prisioneiros do sul a acompanhá-lo em perseguição de vingança contra apaches. Adentram o México e por aí vai. Richard Harris não compromete como um confederado e Heston, justiça seja feita, sempre foi bom ator. Coburn é um guia meio indio meio drunk, eu adoraria que ele tivesse feito mais filmes, eu adoraria que ele fosse Wolverine ou Nick Fury. Nota 6.
DA TERRA NASCEM OS HOMENS de William Wyler com Gregory Peck, Jean Simmons, Charlton Heston e Burl Ives
Um fato: nenhum diretor é melhor que Wyler. Alguns são mais "artistas", mas ninguém dirige melhor que ele. Nunca vi um filme ruim feito por esse alemão emigrado ( e já vi 16 ) e é ele o recordista, para sempre, de indicações os Oscar ( em vitórias só perde para John Ford ). Na era de Hitchcock, Hawks, Huston, Welles, Anthony Mann, Billy Wilder e George Cukor, Wyler era o verdadeiro rei. Aqui temos um soberbo western. Peck, com autoridade, faz um homem da cidade. Culto e da paz. Indo ao sul para se casar com filha de barão do gado, ele acaba se envolvendo nas lutas e trapaças do seu futuro sogro. O filme é um testemunho contra a violencia e a favor da inteligencia. Peck deve satisfações só a si-mesmo, é virtuoso, modesto. Heston é seu oposto, é só impulso e raiva. Este é o tipo de filme que mais sinto falta, cinema que é diversão popular e também arte refinada, respeita seu público. Sem afetação nenhuma. A trilha sonora é histórica, uma das melhores da história do cinema em qualquer época ou nação. Gregory Peck nasceu para encarnar o herói que os americanos gostariam de ter como lider. O filme é excelente. Nota 9.
OS MANUSCRITOS DE ZARAGOZA de Wojciech Has
Martin Scorsese e Coppolla bancaram a restauração deste clássico do cinema polonês. Houve um breve momento, entre 1960/1968 em que o cinema do leste europeu, gozando de relativa liberdade, foi o mais instigante e corajoso do mundo. Tchecos, húngaros, poloneses e iugoslavos fizeram filmes livres, sem regras definidas, otimistas e maravilhosamente criativos. Este é um tipo de obra-prima underground. Com mais de três horas, dividido em três blocos, ele fala de cavaleiro que se perde entre o mundo real e mágico, terrivel e sedutor, na Espanha de 1804. A primeira parte é uma obra-prima do horror. Cenários que parecem ter saido de um sonho ruim e cenas que se fixam e se desvanecem em delirio de inconsciencia. Feitiçaria e livros. Tudo com sensualidade ( o cinema do leste era o mais sensual da época ). Na segunda parte o filme cai um pouco e se faz uma quase comédia. E na parte final temos a volta da confusão onirica e de sua obssessiva beleza. Quando ele se encerra, queremos repetir a dose. Muito do cinema que se tenta fazer hoje já está aqui. Inspirador e um exercicio de liberdade em cinema. Nota 9.
MARKETA LAZAROVA de Frantisek Vlácil
É anunciado como o maior filme tcheco da história. Desconfio. Ou talvez seja o maior em tamanho ( quatro horas ). É sim, o filme mais violento que já assisti. Sua violencia é menor que a de qualquer policial de hoje, mas por parecer verdadeira, dolorosa, sem glamour, ela choca muito. O filme parece um documentário sobre a violencia na idade média feito em plena época. É como se alguém tivesse nos levado para dentro de um pesadelo de sangue e dor constante. Hoje eu sei que a idade média não foi assim. Esta é a visão século XX do que seria a idade média. Tudo errado. A era de Carlos Magno e de Henrique III foi época de religião, de sentimentos soltos, de exageros, mas não de bárbaros carniceiros como aqui se mostra. O filme é terrivelmente desagradável. Nota 2.
EROS + MASSACRE de Yoshishe Yoshida
A vida de um anarquista e libertino japonês contada em 4 horas e em várias épocas distintas. O filme, feito em 1970, espelha a época em que foi feito. O Japão de então vivia um tempo de convulsão social, terrorismo, violência de opiniões e de atos. O filme tem todos os tiques estilosos desse tempo: câmera na mão, atuações distanciadas, frases de revolução, anti-espetáculo, brechtianismos. E cenas de sexo bastante fortes. Quase incompreensível, ele sobrevive como momento único de juventude e anarquismo plenos. Adolescência. Sua fé é: Viva a revolução, é proibido proibir e sexo livre. Nota 5.

CRAZY HEARTS/ VIRTUDE SELVAGEM/ HUSTON/ MASTROIANNI

PERGUNTE AO PÓ de Robert Towne com Colin Farrel, Salma Hayeck e Donald Sutherland
Muito fã de Fante sentiu vendo este filme o que senti vendo Alice de Tim Burton e o Sherlock. Espero que agora compreendam minha aversão. Se é pra ser tão infiel a obra original, porque não criar uma ficção completamente nova ? Muito simples : é mais fácil usar a griffe já estabelecida. Burton fazendo Alice causa um hype que não causaria Burton criando uma nova história. Towne, que foi grande roteirista ( Chinatown ) dirige sem qualquer tesão. O filme é banal. Mas ainda poderia se salvar se o ator fosse menos ruim. Bandini clama por um Montgomery Clift, um frágil/agressivo. O que temos é Farrel. Repare que ele interpreta como cartoon. Parece que sua fonte são as "ricas" expressões faciais do Spirit ou de Clark Kent. Existe algum filme com Hayek que valha a pena ? Acho que só os de Robert Rodriguez. Nota Zero.
CRIME EM PARIS de Henri Georges Clouzot com Bernard Blier e Suzy Delair
Que maravilha!!!! Totalmente restaurado, a fotografia em p/b cintila. É, óbvio, sobre um assassinato. Sabemos quem é o culpado, mas a polícia irá descobrir ? O policial é atuação soberba ! Aliás todo o elenco brilha. E é de surpreender o liberalismo do cinema frances da época. O policial tem filho negro adotado, há uma paixão lésbica e os tiras são todos sádicos. Isso num filme de 1947 !!!! Os críticos da nouvelle-vague odiavam Clouzot. Truffaut dizia ser ele o símbolo do cinema velho. Depois, quando passou a dirigir, François se arrependeu dessa opinião. Clouzot sabia tudo. Seus filmes, espécies de Hitchcocks mais falados, são sensacionais. O Salário do Medo é uma obra-prima e este não fica tão longe. Sujo, cheio de sombras, atemporal. Nota 8.
O MÉDICO E O CHARLATÃO de Mario Monicelli com Vittorio de Sica e Marcello Mastroianni
Jovem médico chega a aldeia do sul da Itália, lugar com 50 anos de atraso. Lá, ele sofre apuros para convencer o povo a largar o charlatão-curandeiro que os atende. Comédia de Monicelli. Alguém sabia fazer melhor ? Mastroianni faz o típico papel do começo de sua carreira : o bonitão tolo. Não fosse Fellini, que lhe deu outra estrada em Dolce Vita, ele seria desperdiçado para sempre nesse tipo de papel. Vittorio rouba o filme, o charlatão é criação de gênio, mentiroso, charmoso, frio, inteligente. "- Trouxeram sua fé ? Trouxeram sua crença ? Trouxeram seu amor à Deus ? Trouxeram 20 mil liras ? " O filme se passa na típica aldeia pobre dos filmes italianos da época, é um paraíso de gente cômica e mulheres bonitas. Um prazer. Nota 7.
CRAZY HEART de Scott Cooper com Jeff Bridges, Maggie Gyllenhall, Robert Duvall e Colin Farrel
O filme é apenas Bridges. Não é sua melhor atuação ( o Vendedor de Ilusões é seu grande papel ) mas lhe deu o oscar. Demorou. O filme não é nada parecido com o de Mickey Rourke, quem disse isso não viu este filme. As músicas são boas ( T Bone Burnette ) mas podiam não ter essa maldita mixagem anos 80, a bateria soando muito alta e tudo parecendo limpo e sem erro. Quanto ao filme, que fiz força para gostar, é uma banal história sobre alcoolismo e estrada. Com paisagens de western ele consegue ser chato. Fico pensando em como filmes como este e Up in the Air ou Guerra ao Terror conseguem tanto destaque. Não são ruins, são comuns. Nunca foi tão fácil conseguir chamar a atenção com tão poucas idéias. Desse jeito, Clint e Resnais vão filmar pra sempre.... Nota 3.
O SENHOR DA GUERRA de Franklyn Schaffner com Charlton Heston e Richard Boone
Muito reprisado na velha Record dos anos 80. A história, cheia de pseudo-exotismo, fala de nobre que toma posse de castelo miserável na Normandia em 1100. É sempre bom ver a idade média retratada sem muita produção, mas o filme se leva a sério demais. O texto, raso, tenta ser Shakespeare. Não dá ! Heston e Schaffner melhorariam muito dois anos depois com o excelente Planeta dos Macacos. Este é nota 4.
VIRTUDE SELVAGEM de Clarence Brown com Gregory Peck, Jane Wyman e Claude Jarman
Technicolor....eu cheguei a ver o technicolor no cinema. Minha mãe me levou para ver Cantando na Chuva ( uma reprise em 1975 ) e pirei com aqueles azuis e verdes. Mas um dia se criou outro sistema de cor, o Eastmancolor da Kodak, ( nos anos 60 ), sistema muito mais barato e o Technicolor deixou de ser utilizado. A diferença é que o Technicolor é muito mais brilhante, artificial, operístico. As cores gritam e ainda me lembro do assombro que era ver cores mais coloridas e vibrantes que as da vida "real". Estranho...com o technicolor a sensação era a mesma de se ter miopia e colocar óculos : voce olhava a tela e via a vida focada e colorida pela primeira vez. O eastman é como é, as cores da rua, mas o technicolor eram as cores do sonho...
Dito isto, este é um clássico do cinema technicolor. Foto de Charles Rosher premiada. É um filme museu. O mundo que ele exibe está completamente extinto. Acompanhamos a saga de um menino nas matas da Florida. O filme exibe sua transformação em adulto, seu rito de passagem. O filme é piegas, o menino ama tanto o pai que chega a dar enjôo, o bosque é belo ao excesso...e com tudo isso, o filme é maravilhoso. Se voce ainda tiver salvação, não for cínico terminal, irá penetrar naquele cotidiano de caça ao urso, refeições fartas, enchentes, colheitas e socos. Irá perceber que neste filme existe alguma coisa que perdemos, coisa que só se perde uma vez : inocência. Passe por cima do excesso de " hey pa " do garoto e mergulhe sem medo na emoção simplória deste filme sobre natureza, e principalmente, sobre a dor de se largar a infancia. O final, quando o menino "perdoa" os pais é perfeito. Ele é obrigado a ser homem, finge aceitar isso, mas na última tomada vemos que ele sonha com a infãncia, será sempre só.
O pai, aliás, repete isso várias vezes : crescer é ser só.
O filme tem ainda uma das mais belas cenas de infãncia do cinema : o garoto correndo pela floresta com bando de gamos. A simplicidade extrema falando tanto...
Foi imenso sucesso de público e crítica, premiado, e tem Peck, muito jovem, ensaiando seu mítico Attichus Finch, papel que lhe daria a eternidade no futuro.
Bem, é um filme piegas, simples e povão; mas macacos me mordam, como consegue ser tão bom ? Nota DEZ.
OS VIVOS E OS MORTOS de John Huston com Anjelica Huston e Donal MacCann
Em 1987, sabendo que ia morrer ( quem não vai ? ) Huston, usando máscara de oxigênio e em cadeira de rodas, dirigiu esta adaptação de um conto de James Joyce ( The Dead, talvez o melhor conto que já lí ). Fala de uma reunião de Natal em Dublin. Músicas, comidas, bebidas, danças e festa. E também inseguranças, dúvidas, ódios, dores e um segredo revelado. É só isso. A maestria de Joyce foi a de fazer com que uma sala e meia dúzia de pessoas comuns consigam nos fazer ver a transcendencia da vida. Huston quase chega lá. Seria impossível chegar.
Que belo caminho !!! Do Falcão Maltês até aqui.... O filme, que é só conversa e dois cenários, prende a atenção dos que conseguem ainda escutar palavras. Os atores estão ótimos e as cenas finais explodem em poesia triste. Huston se despede da vida falando de um amor que sobrevive a morte. De um falecido que continua a modificar a vida. Que belo Adeus......nota Dez.

SODERBERGH/FELLINI/JAMES STEWART/CLINT/OZ

A ÚLTIMA CARROÇA de Delmer Daves com Richard Widmark e Felicia Farr
Um assassino condenado lidera grupo de religiosos através de terras de índios. Ele próprio é um índio. Simples, como todo western deve ser. Belas paisagens, bons personagens. Widmark agrada sempre, com seu ar de psicopata. Daves foi um dos bons diretores de ação dos anos 50. Diversão sem compromisso. nota 6.
A TRAPAÇA de Federico Fellini com Broderick Crawford e Richard Basehart
Se Bogart não houvesse tido seu câncer fatal, teríamos aqui um momento de antologia. Pois era Bogey quem iria fazer o papel do pequeno malandro, explorador de pobres diabos que nada têm. Com Crawford, este filme, feito entre La Strada e Cabíria, perde seu sentido. Um Fellini que não parece Fellini, pois é realista, documental, quase um Rosselini. nota 5.
IRRESISTÍVEL PAIXÃO de Steven Soderbergh com George Clooney e Jennifer Lopez
Reassistí este muito agradável filme. Do tempo em que Soderbergh era bom. Do tempo em que Clooney parecia querer ser um novo Cary Grant ( hoje é um novo Gregory Peck ). Do tempo em que Jennifer prometia ser uma futura comediante... O filme, sobre malandragens e trapaceiros, é delicioso. Junto com The Limey, é meu Soderbergh favorito. nota 7.
O GATO PRETO de Edgard G. Ulmer com Bela Lugosi e Boris Karloff
Inacreditávelmente picareta!!!! Um absurdo de diálogos ridículos, imagens de fru-fru, atores sem direção e roteiro amador. Bela tem o pior desempenho da história do cinema. Um tipo de ator pretensioso recitando má poesia colegial. Mas por tudo isso...nota 6.
SUBLIME DEVOÇÃO de Henry Hathaway com James Stewart e Richard Conte
Existem certos atores que nos fazem vibrar quando os vemos e ouvimos suas vozes. São como gente da família. Gente que visitamos por toda a vida e não nos cansamos de rever. Atores que fizeram muitos filmes bons e que portanto nos dão muitos motivos para visitar. James Stewart é um dos mais amados. Ele é simpático. ele parece confiável, ele jamais dá uma interpretação ruim, ele é um ícone. Aqui ele é um repórter que investiga um caso de assassinato. Ele não crê na inocência do condenado, mas acaba, lentamente, mudando de opinião. Este filme, sem trilha sonora, seco, duro e ágil, quase um documentário; é maravilhosamente bem dirigido pelo muito competente Hathaway, diretor de quase cem filmes e um dos gigantes que fizeram a glória da Fox. Um filme que te deixará muito tenso, ligado, interessado e torcendo muito. Roteiro e fotografia de gênio. nota 8.
COMEÇOU EM NÁPOLES de Melville Shavelson com Clarck Gable e Sophia Loren
Apesar do nome o filme se passa quase todo em Capri. Isso dito... que linda ilha!!!!! E como Sophia era bonita de se ver! Tão bela que chega a parecer irreal, um milagre da natureza. Ela hipnotiza nosso olhar, vulcaniza a tela e explode em vida e alegria. Genuinamente. O filme, uma comédia romântica, trata do contraste entre a América, fria, rica, eficiente; e a Itália, quente, pobre, preguiçosa. Felizmente toma o partido da Itália. Um dos primeiros filmes que ví em minha vida, numa velha Sessão da Tarde, no tempo em que filmes de Loren, Elvis, Jerry Lewis e Lucille Ball abundavam na tv. nota 6.
ALWAYS de Steven Spielberg com Richard Dreyfuss, Holly Hunter e John Goodman
Muito estranho o ano de 89. Enquanto Stephen Frears filmava uma obra-prima chamada Ligações Perigosas, Milos Forman fazia Valmont, baseado no mesmo livro. E enquanto se filmava Ghost, Spielberg fazia Always- o mesmo filme, porém, passado entre aviadores e sem metade do interesse do filme com Swayze e Demi. Um diretor do tamanho de Steven não tem o direito de fazer algo tão primário, tão mal construído, tão inútil. Cheio de romance que não emociona, ação que nada move, diálogos que nada dizem. Um desastre! nota zero.
COMO AGARRAR UM MARIDO de Frank Oz com Steve Martin e Goldie Hawn
Eu adoro Steve Martin. Como Jim Carrey, Will Smith, Kevin Kline, Clint Eastwood; adoro ver seu rosto na tela. Ele não precisa fazer muito para agradar. Basta estar lá. Este roteiro, bobíssimo, trata do velho tema de opostos que se descobrem apaixonados. Não faz rir. Mas se deixa ver sem problema algum. nota 5.
BRONCO BILLY de Clint Eastwood com Clint e Sondra Locke
Um tipo de Beto Carrero dos pobres. Essa é a história de Billy, um cowboy que com sua trupe de ex-detentos faz shows pelo interiror dos EUA. Um filme on the road, uma comédia amarga. O filme, bastante feito nas coxas, é barato, quase amador. E mal escrito. Clint, no tempo em que parecia sem grande talento, não se dá ao trabalho de dirigir os atores. Erros se acumulam. Faltam cortes, faltam segundas tomadas. Um filme muito estranho... nota 3.
O SOL É PARA TODOS de Robert Mulligan. com Gregory Peck, Mary Badham. roteiro de Horton Foote e música de Elmer Bernstein
Não é uma obra-prima. Não tem essa pretensão. Mas é um dos mais lindos filmes que já assistí. Comovente em profundidade, tudo funciona à sublime perfeição. Leia meu comentário logo abaixo. Coloco aqui um adendo : o filme tem a estréia de Robert Duvall no cinema. Entra mudo e sai calado. Seu personagem fica 3 minutos em cena. Veja o milagre que ele faz. Um discurso com os olhos... Quanto a Gregory e Mary... se houvesse nota maior que dez eu a daria.

O SOL É PARA TODOS- a melhor das infâncias

De todos os grandes filmes, do grande cinema americano, O Sol É Para Todos sempre foi o filme contra o qual eu mais tive preconceito. Odiava sem tê-lo visto. Pensava ser aquele típico filme liberal-americano : anti-racismo, bonzinho, bonitinho, previsível. E o pior, tinha Gregory Peck no papel central. Pior que tudo, por este papel, Peck ganhara o Oscar de 1962, vencendo Peter O'Toole em Lawrence da Arábia e Marcello Mastroianni em Divórcio à Italiana!!!!!!!
Minha opinião começou a mudar quando em 2007, o American Film Institute elegeu o filme como o número 21 de todos os tempos e os leitores deram a Atticus Finch, personagem de Peck no filme, o título de MAIOR HERÓI DA HISTÓRIA DO CINEMA, deixando Indiana Jones em segundo, James Bond em terceiro e Rick Blaine ( Casablanca ) em quarto. Bem... comprei o DVD então e esperei uns 6 meses para assistir. Ontem assisti...
Pensei que o filme fosse sobre racismo. É. Mas não é seu tema central. Pensei que se passasse num tribunal. Se passa. Mas por pouco tempo. Surpresa ! É o melhor, mais profundo e belo filme sobre a infância que já assisti. As obras-primas de Vittorio de Sica podem ser mais geniais e contundentes ( e eu os adoro ), mas este filme fala exatamente da MINHA VIDA.
O início tem a mais bela apresentação de créditos iniciais da história. Não vou contar como é, mas basta dizer que me causou estupefação e profundo encanto. A música ( de Elmer Bernstein ) é a mais cristalina e comovente que já tive o prazer de escutar. É a perfeita trilha da minha e da sua meninice. É linda. E então começa o filme.
Numa pequena cidade ( toda criada em estúdio, mágica ), uma menina de uns 8 anos ( feita pela inesquecível Mary Badham, uma menina que eu queria ter como filha ), recorda sua vida em um específico momento. Estamos então nos anos 30. São pobres, mas têm uma vida sem necessidades. Ela tem um irmão mais velho, corajoso e ativo, e um pai ( Peck ) advogado. Assistimos todo o mistério, medo, alegria, aventura, magia que há na infância. Tudo no filme transcorre com tempo próprio, sem pressa e sem lentidão. O roteiro, premiado e soberbo roteiro de Horton Foote, tem uma construção de rara e feliz habilidade. Tudo se equilibra e encaixa, e apesar do tom sublime da história, ela jamais se torna piegas ou melosa.
O filme é dirigido por Richard Mulligan, que teria a partir daí, vinte anos de bons filmes. O produtor é Alan J. Pakula, que se tornaria outro bom diretor. Os dois fazem parte da heróica primeira geração da TV americana. TV ao vivo. Dela vieram também Sidney Lumet, John Frankenheimer, Sidney Pollack, Franklyn Schaffner, Martin Ritt, Arthur Penn e muitos mais roteiristas e diretores. Mulligan dirige como quem lê um diário. Ouvimos páginas sendo viradas.
Atticus Finch. O mítico personagem de Peck. Ele existiu. O roteiro é baseado no romance de Harper Lee, escritora sulista que foi criada por esse pai, viúvo. É um herói modesto. Nobre. Sem qualquer afetação. Noto vendo o filme, de onde Clint Eastwood e Harrison Ford tiraram a inspiração para seus melhores momentos. Atticus é o pai que todo jovem precisaria ter, e é o modelo de correção seca e direta, que todos nós gostaríamos de seguir. Os Atticus Finch, quero crer, ainda existem pelo mundo afora. Estão fora de moda, mas levam sua vida. O triste é que o mundo não os valoriza. E tenham em mente, Obama é um seguidor do molde Atticus, e sei que este é dos filmes que ele mais gosta.
Destacar uma cena do filme é impossível. Ele se completa, se encaixa, flui, sempre em alta emoção, suave cadência, harmonia de sinfonia discreta. Voce se apaixona pelos personagens, se encanta com a beleza do que vê. Voce se enxerga em cada cena. Se alguém quiser saber o que significa ser criança, bem, veja o filme.
O final, simples, discreto, certeiro, é de uma tão grande surda emoção, que faz com que imediatamente sintamos vontade de rever o filme. Sentimos saudade de Atticus e de Scout ( a menina ). O DVD está à mão. O SOL É PARA TODOS ( que em inglês se chama TO KILL A MOCKINGBIRD, e a explicação desse título é inesquecível ), é para os americanos, um filme tão famoso e conhecido como Casablanca, Guerra nas Estrelas ou O Vento Levou; e é tão amado como A Felicidade Não se Compra e Shane. Mítico.
Um país se faz também por sua produção cultural. É triste não termos algo como este filme. Um Atticus Finch brasileiro. Seria maravilhoso.
Com este filme, este inenarrável momento de emoção, Gregory Peck se torna meu ator favorito. Eu já sabia ser dele a melhor voz da história, a voz que todo homem gostaria de ter. Mas o que ele faz aqui, com aparente e facilidade, o torna um gigante entre gigantes. Não é uma grande atuação; trata-se de uma grande imagem, uma grande presença, um momento sem igual. Carisma transcendente.
Acompanhando o DVD, um disco com dois documentários. Dignos da jóia que é o filme : um fala do livro e da produção do filme. Seu sucesso, sua lenda, seu legado. O outro mostra a vida e o cotidiano de Peck. Maravilhoso ator-liberal, que lutou contra o Vietnam ( com discrição ) e se tornou modelo de correção para outros atores. Vê-lo falar é comovedor.
Tentarei ser Atticus por toda a vida. Gostaria de tê-lo encontrado mais cedo. É o pai que todos nós gostaríamos de ter tido. O filme é para voce.