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NARRATIVAS

   Observe um casal fazendo sexo. Tire do ato TODA conotação "criada" pelo homem. ( Vamos chamar esse "criado" de tudo aquilo que não vemos nesse ato, ou tudo aquilo que não é explícito nos gestos ). Então, desse ato sexual, vamos abstrair tudo o que lemos, cremos, imaginamos, pensamos. Veremos apenas dois corpos, suando, gemendo, beijando, se esfregando. O ato estará totalmente isento de interioridade.
  Falo isso ao ler texto de Frye. O que diz que todas as narrativas escritas pela ficção estão em seu nascimento já narradas na Bíblia. Os contos bíblicos são a matriz de toda narrativa imaginada. Mas vamos adiante...
  Nossa mente criativa seria então um depósito ou um contêiner de contos, de lendas, de verdades ou não ( aqui não falo de religião, falo de invenção ). Desse modo, tudo o que pensamos e fazemos vem dentro desse "embrulho" imaginativo. Volto ao ato sexual.
  Se voce é ateu, nesse ato, mesmo voce tão materialista, estará pensando esse ato "fantasiosamente". Poderá estar pensando no amor, num filme visto, numa performance pornô, na liberdade do sexo, numa narrativa boêmia...ou até em dois animais transando. Mas o ato mecânico, o aqui e agora do sexo, isso dificilmente lhe será suportável, querido ou dado.
  Vivemos dentro de uma grande narrativa que nos guia e nos envolve. Tudo o que vivemos, pensamos, sentimos tem uma linha narrativa que foi narrada anteriormente.
  Saio de Frye e recuo até Vico e digo que a vida é apenas essa narrativa já narrada em outras vidas. Ao mesmo tempo essa narração é tão tênue, tão limitada que Vico diz que haveria outra verdade que nos é negada ou inalcançável. Uma vida fora e além da narrativa. Livre.
  Toda a arte moderna lutou para escapar. Mas sempre acabou sendo a velha luta do bem e do mal, do amor e da dor, da solidão perante o cosmos, da culpa, da traição e da vingança. Bíblica. E os maiores, Joyce, Faulkner, Mann, Kafka, Dostoievski, Nabokov, Proust, James, são os que melhor usaram essas narrativas em profundidade.
  Penso que ter a consciência dessa narrativa é uma forma de ser livre.