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APRENDIZ DE COZINHEIRO - BOB SPITZ

   Que façam logo o filme. Este é um dos muitos livros escritos tendo em vista uma futura filmagem. Pode dar um bom filme, ótimo até, mas está longe de ser um bom livro.
  Quem me conhece sabe que graças a Peter Mayle, adoro livros sobre a arte de viver. Livros que unem viagens e comida, ou bebidas com construção. Li vários que são aulas de escrita e de bom humor. São livros de luxo, para ter e reler. Dei três de Peter Mayle de presente este Natal, e sei que serão apreciados com o mesmo espírito que nos faz apreciar um bom espumante. Ou queijo.
  Muita gente escreve livros nesse estilo. Vendem bem, são ideais para férias. Passados sempre na Toscana ou na Provence, levam aos americanos e japoneses a exoticidade domesticada do que é latino e antigo. Livros yuppie.
  Este mostra a saga de um escritor que perde a esposa e vai estudar culinária ( gastronomia soa mais in ), na França e na Itália. Bob Spitz escreveu uma bio sobre os Beatles e este livro é autobiográfico. E meio chato. Spitz é verborrágico e ao contrário de Mayle e de Mayes, não tem humor. Pouco observa das pessoas ao seu redor.
 O segredo do bom livro de viagens ou de joie de vivre, é o entorno. Não a paisagem ou a casa em ruínas, são as pessoas. Destacar bons personagens. Spitz nunca faz isso. O livro, além dele, tem apenas sombras.
 

UM ANO DE VIAGENS - FRANCES MAYES, ENTRE DEUSES, FLORES E MUITA COMIDA.

   É o terceiro livro de Frances que leio, e ela continua ótima. Não conheço ninguém melhor para se ler ANTES de uma viagem. Ela, com prosa elegante e nunca superficial, descreve paisagens com o dom do sabor e comida como aquarelista. Ela embaralha nossas sensações e faz de seus livros um tipo de menu sensível. Nada escrito com pressa, quando ela vê uma praia do Mediterrâneo, nos conta de deuses, de história, de casas e de gente que lá vive. É quase poesia.
  Este livro foi escrito muito após seus primeiros, e ela viaja de férias com seu marido poeta, Ed. Não é um ano de férias, na verdade são várias férias que aconteceram em anos diferentes. Frances, que vive metade do ano em San Francisco e a outra metade na Toscana, viaja para lugares onde sempre quis ir e nunca havia visitado. Ficamos sabendo de hotéis, camas, vinhos, ruelas, pessoas locais, igrejas, tradições, e muita, muita comida.
  A primeira viagem é para a Andaluzia e por 30 páginas, Mayes nos fala da paisagem árida, das igrejas que eram mesquitas. Ela se deslumbra com a beleza dos azulejos, o frescor das fontes, os touros. O clima aqui é quase místico. A cultura árabe é explicada, a beleza é aquela do oásis.
  Depois ela conhece Portugal. País que ela nunca pisara, sua primeira impressão é caótica. Mas ela logo se apaixona pelo modo de vida português. Lisboa a seduz, a comida a deixa viciada. A gentileza das pessoas, os mercados, e os arabescos das ruas. Viaja pelo interior português, e pensa em ficar para sempre no Minho. Flores, ovelhas, vinho, comida excelente, bom café, doces em toneladas. Portugal a surpreende. Uma mistura de celtas, romanos e árabes.
  Ela vai ainda ao sul da Itália, e se delicia com o humor caótico, o azul do mar, o melhor café do mundo. A presença dos deuses, do inefável em cada pedra, em cada flor.
  Vai à Inglaterra e à Escócia e lá sente o que significa CONFORTO. O campo britânico é a Terra da Paz. Tudo parece macio, calmo, pacífico, civilizado. O povo de lá, em séculos de cultura, conseguiu fazer da Terra um canteiro de rosas. Nenhum outro lugar do globo parece tão bucólico, sem perigo, sem riscos, sem aventura. No campo inglês, a vida é absoluto conforto e bem estar, sossego em suas salas com sofás floridos, vasos com rosas, almofadas com bosques e coleções de chaleiras. Jardins em círculos, rosas trepadeiras, lagos calmos e risonhos, tudo suave, delicado e parecendo sempre NATURAL. Lebres, raposas, esquilos, rouxinóis, ovelhas, e cães. Um inglês do campo se define em 3 palavras: rosas, bules de chá e cachorros.
  Ela vai á Grécia e se decepciona. Multidões barulhentas, sujas, nada pode ser visto com calma. Pressa, distância, nervosismo. Hordas de turistas. Gordos, suados, chateados, entediados.
  Mas ela vai à Creta no inverno e tem ali sua experiência mística. Os deuses do mar ainda vivem em Creta e tudo que as pessoas pensam encontrar na Grécia, na verdade mora na ilha de Creta. ( Depois escrevo mais ).
  Mântova e Capri, a mais linda ilha do mundo, os penhascos e as grutas...
  O azul e o branco do Mediterrâneo, vinho e azeitonas, sol e preguiça, queijos e frutas. O livro, imenso, é um gosto de vida. Um prazer solar. Mayes é demais de bom...

TODOS OS DIAS NA TOSCANA

     Eu adoro esses livros sobre o bem-viver. Peter Mayle é o melhor, mas Frances Mayes não fica muito a dever. A maior diferença entre eles é que Peter tem muito humor, Mayes é mais poética. 
    Pra quem não sabe, Frances se mudou para a Toscana e reformou um velho casarão. Lá, ela descobre os mistérios do que seja "ser um italiano". Ela idealiza? Claro! Mas para um americano, a vida da Itália interiorana é mesmo uma revelação. Neste volume, Frances tem um tipo de crise com o país, percorre a trilha das obras de seu pintor favorito ( Signorelli ), e reconquista/ reafirma sua paixão pelo lugar.
   Tudo é uma questão de tempo. A relação dos italianos com o tempo é inversa a dos americanos. Eles só fazem aquilo que os diverte e se não for divertido faz-se ser. O tempo não manda, eles domaram o tempo há muito, o esticam, domesticam, subvertem. Muita comida. Italianos, como todo europeu, passam o dia planejando e pensando no próximo jantar ou almoço. ( Deve ser por isso que a Inglaterra não parece Europa ). Frances fala de comida e nos dá fome. Ela sabe descrever pratos, sabores, cheiros. Uma delicia!
   Perto do Natal, nestes dias de compras de vinhos, doces, peixes e legumes, frutos e prosecco, onde até grappa consegui encontrar, é inspirador ler os relatos de seus banquetes e das longas conversas a mesa.
   Boa leitura e bom apetite!