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O VENTO DA NOITE - EMILY BRONTE

   Em 1944 a editora Civilização Brasileira lançou um luxuoso livro de poemas escritos pela autora de O Morro dos Ventos Uivantes. Traduzidos por Lucio Cardoso, o volume tinha ilustrações de Santa Rosa e vinha com autógrafos e numerado. Agora, em 2017, a editora relança o livro, mas, que pena, em edição comum, sem ilustrações. Mas permanece a tradução de Lucio, e ele sabe, conhece, entende o mundo de Bronte.
   Isolada na região mais agreste de todas, apegada a suas irmãs e seu único irmão, que morreu jovem, Emily fala de morte, de lua, noite, vento e frio. Esses são seus assuntos, ela não inventa, fala daquilo que conhece. A morte é temida e homenageada ( Emily morreria aos 30 anos de tuberculose ). Seus poemas são musicais ( a edição é bilíngue ), lê-los em inglês é uma experiência musical. Lucio Cardoso, que foi um grande poeta, respeita o tema e o espírito, mas modifica a sintaxe. As rimas são abandonadas em prol do sentido. Os versos são esticados. Ler a versão em português e depois a inglesa é ler dois poemas irmãos, mas diferentes.
   Leia de madrugada, a luz de velas, com frio.
   Emily Bronte. A mais terrível das musas.

DRACULA # ALAN BATES # ISABELLE ADJAN I# KEN RUSSELL # PAOLO SORRENTINO # MICHAEL CAINE #

   A JUVENTUDE de Paolo Sorrentino com Michael Caine, Harvey Keitel, Rachel Weisz, Jane Fonda, Paul Dano.
Sorrentino terá de conviver com A Grande Beleza para sempre. A gente não quer, mas compara. Este filme é muito bom, mas não tem nunca o alcance da obra-prima anterior. Talvez por ser em inglês e tratar de gente não italiana. Caine, que está brilhante como sempre e humano como quase nunca, é um velho maestro aposentado. Passa férias num hotel de luxo na Suíça. Lá estão seu amigo, um diretor de cinema, sua filha, recém separada, e um jovem ator em crise. O que se discute é a velhice, o tempo e o legado da vida. As imagens são sempre belíssimas, o tempo vai e volta, a memória nunca para de se mover, e as cenas vão do cômico ao trágico e horror. Há uma homenagem linda à Maradona ( sim, creia ), algumas falas brilhantes ( e outras muito piegas ), e um final que é perfeito. Mas mesmo assim sentimos que falta alguma coisa...Talvez seja a comparação ao outro filme...ou talvez a gente não perdoe as 3 ou 4 falas muito ruins...( será o inglês... ). De qualquer modo é um belo filme e Caine raramente esteve tão perfeito.
   AS IRMÃS BRONTE de André Téchiné com Isabelle Adjani, Marie-France Pisier, Isabelle Huppert.
Que tema poderia ser melhor que as irmãs Bronte!!! Filmado na região em que elas viveram, uma imensa planície cheia de vento, frio e verde; o filme consegue ser completamente vazio e sem emoção. Emily Bronte fala como uma feminista cliché, Anne tem o mal humor típico de Huppert e Charlotte parece uma fazendeira da Vogue. O problema básico é ser um filme francês. As Bronte são olhadas de fora, como excêntricas figuras inglesas. O roteiro se distancia e seca toda emoção. Elas se tornam bonecas de cera. As falas viram teses. O filme, sucesso de bilheteria em 1979, nada tem de Bronte. Quer ser tão real que se torna morto. Defeito típico do cinema da França: quando quer ser documental se transforma em tese de laboratório. Quando quer ser fantasia consegue ser real. Os piores filmes do cinema são de lá. Alguns, muitos, dos melhores também. O cinema da França é grande quando quer ser criação livre, é péssimo quando deseja retratar a vida "como ela é".
   GOTHIC de Ken Russell com Gabriel Byrne, Natasha Richardson e Julian Sands.
Ken Russell, o diretor do mal gosto e do gosto ruim, se debruça sobre a noite em que Mary Shelley criou Frankenstein. Então o que temos são: Lord Byron, Shelley, Mary Shelley, Polidori e a amante ocasional de Byron, Claire. Russell junta todos num palácio suíço e sem qualquer medida de gosto ou de equilíbrio, povoa o filme com ópio, sexo, sangue, blasfêmia, péssima música e atuações exageradas. Eu não entendi nada do roteiro, mas penso que não é para se entender nada. É só pra se sentir. E eu senti nojo. O filme é assustador. Começa como uma bobagem tola dos anos 80, com uma trilha sonora mediocre de sintetizador que invade toda credibilidade do filme. Mas depois ele insiste tanto no exagero e na histeria que começamos a nos sentir incomodados. E Russell consegue mais uma vez fazer um filme feio, desagradável, aquilo que ele quis fazer. Esqueça Shelley. Ele não era esse viciado em ópio efeminado e alucinado pelo horror. Ele era bem mais frio. E Byron não era esse diabete dos anos 80, sádico e cheio de frases bobas. O filme me fez pensar uma coisa: em 1820 os românticos eram únicos. Hoje muitos são como eles. Mas sem a novidade. Apenas cópias de seres de dois séculos atrás.
   ESSE MUNDO É DOS LOUCOS ( LE ROI DE COEUR ) de Philippe de Broca com Alan Bates, Genevieve Bujold, Michel Serrault, Jean-Claude Brialy, Micheline Presle.
Uma das melhores trilhas sonoras de todos os tempos, de Georges Delerue. Vi o filme em 1979. Na TV, Adorei. O achei livre. Revi em 2010 e detestei. Achei bobo. Vi mais uma vez agora. É bobo e livre. Mágico. Muito mágico. E ingênuo. Ele tem a ingenuidade de quando foi feito, 1966. E a magia de quando foi feito, 1966. A história: na primeira guerra mundial, uma cidadezinha da França é abandonada pelos alemães. Um soldado escocês é mandado para lá a fim de desativar uma bomba que foi deixada. Enquanto isso os loucos da cidade saem do hospício e elegem o soldado o Rei de Copas. Vemos os loucos assumirem a cidade, cada um tomando para si um papel. O padre, o cabelereiro, a prostituta, o prefeito. O soldado, um ótimo Alan Bates, resiste a essa farsa, mas se apaixona e entra no jogo. Até chegarem os dois exércitos...O filme atinge o alvo. No começo achamos os loucos apenas uma irritante troupe de atores mambembes, depois somos seduzidos por sua fantasia. Quando ele voltam os hospício nos sentimos traídos. Broca teve dez anos de grandes filmes. Este é um deles. Diferente, leve e muito profundo.
   O VAMPIRO DA NOITE de Terence Fisher com Peter Cushing e Christopher Lee.
O primeiro filme da Hammer sobre Drácula. Cheio de clima, a história é centrada em Van Helsing. Ele é o personagem principal. Lee foi o melhor Dracula do cinema. O filme não assusta mais, mas diverte.
 

  

EMILY BRONTE NASCEU HOJE.

   Emily Bronte nasceu hoje. E isso significa muito. Com ela se cristaliza todo o espírito gótico. Sim, existem fantasmas. Acho que foi Huxley quem disse isso. Que hoje os chamamos de intuição, inspiração, pressentimento, é a mesma coisa. Nas sombras noturnas moram sensações. Só aquele com espírito de concreto não percebe.
   Conheço algumas jovens irmãs Bronte. Elas fazem parte da irmandade sem o saber. Não importa que não saibam, elas mantém a coisa viva neste mundo. Sua alma é povoada de pó, de medos, de desejos irrealizáveis, de lembranças, de coisas escuras e úmidas.
  Heathcliff viu a face de Catherine na janela. E lá fora havia lama, chuva, rochas e árvores doentes. Ele berrou por ela na janela quebrada. Ele rasgou suas mãos no vidro. Ele a queria. Tudo nele era desejo e tudo nele ansiava pelo vazio. É um romance perigoso. Você pode morrer ou enlouquecer com ele.
  Eu adoraria ver o túmulo de Emily. E deixar lá uma flor e uma fotografia. A flor vermelha e a foto não sei do que. Eu adoraria saber que Emily é feliz. Do modo dela. Em outro mundo.
  O espírito de Whutering Heights ( O Morro dos Ventos Uivantes ) se mantém de pé em centenas de manifestações artísticas deste século. Nos filmes góticos. Nos discos tristes. Nas roupas pretas e roxas. Nos versos desesperançados. Porque Heathcliff a perdeu duas vezes: Por ser de outra raça, e depois por ser vivo.
  Kate Bush, que ironia, faz aniversário no mesmo dia que ela.
  E as duas são de leão. Esse signo que é vida e sol, e ao mesmo tempo chora por saber que o ideal é fora deste mundo. O amor respira onde nunca se está.
  Emily, como suas irmãs, Charlotte e Anne, foi levada cedo pela tuberculose. Beleza é que ela viva para sempre pelas palavras que deixou. Que ela tenha enfeitiçado um menino que a leu aos 14 anos dentro de um quarto vazio. Ele sonhou com uma Catherine. E assumiu sua condição de Heathcliff. Morte e vida como uma coisa só. Um fio sem ponto, uma corrente de elos sem fim.
 

BLAKE EDWARDS/ JULIE ANDREWS/ WYLER/ CUKOR/ CLIVE OWEN/ BINOCHE/ AUDREY/ WC FIELDS

   FRONTERA com Ed Harris e Eva Longoria
Fujam! Um lixo sobre imigrantes ilegais.
   POR FALAR DE AMOR de Fred Schepisi com Clive Owen e Juliette Binoche
O nome nada tem a ver com o filme. Ainda inédito aqui, fala de um professor de inglês com a corda no pescoço. Bebendo muito, corre o risco de perder o emprego. Uma nova professora de artes chega, amarga e com doença degenerativa. Os dois se odeiam e depois se amam. Parece uma tolice? Juro que não é! Tem bons diálogos, nunca desce a apelação, nada melado. Owen está excelente, faz um professor cínico, antipático e maníaco por palavras. Esse o centro do filme: a palavra ou a imagem, o que vale mais? Juliette, uma atriz por quem não morro de amores, está muito radiante.Nota 6.
   OS 39 DEGRAUS de Alfred Hitchcock com Robert Donat, Madeleine Carroll e Peggy Ashcroft
Talvez seja o melhor filme inglês de Hitch. O roteiro é totalmente inverossímil, mas who cares? Hitch era sempre assumidamente inverossímil. O que ele queria era poder criar grandes cenas e este filme tem várias. A cena inicial, no show de variedades, com seu sabor expressionista. Depois as cenas na casa do casal que dá abrigo ao fugitivo. Cenas no trem, na estrada, no hotel e por aí vai. O tema é caro a Hitch, um homem foge acusado falsamente de crime. Ação sem parar, humor, e muito, muito clima. A fotografia de Bernard Knowles é brilhante. Observe logo no começo a luz sendo acesa no quarto, o canto da tela iluminado e todo o resto escuro...Ótimo! Hitch faz aqui uma das mais perfeitas diversões. Nota DEZ!
   O MORRO DOS VENTOS UIVANTES de William Wyler com Laurence Olivier, Merle Oberon, David Niven, Flora Robson e Donald Crisp
Wyler foi o melhor diretor do cinema americano? Nada de surpreendente nessa pergunta! Ele tem 4 Oscars e dominou a arte de filmar comédias, westerns, dramas, peças filmadas e policiais. O livro de Bronte já foi filmado até por Bunuel e se aqui ele nunca atinge a magia do texto inglês, é de longe a melhor versão para a tela. E devo dizer, os primeiros 40 minutos são dignos do mais alto cinema. Heathcliff é adotado, se enamora da meia irmã, é banido e se vinga. O filme é tristíssimo. Olivier, jovem e belo, faz um Heathcliff vulnerável, sofrido. A cena na janela, em que ele acha ter visto o fantasma de Cathy, é soberba. Faça o teste do olho, veja como os olhos de Olivier mudam com o desenvolver da fala. Merle Oberon enfraquece o filme. Ela é bela e exótica, mas não tem a força selvagem de Cathy. A fotografia é soberba. Um belo filme do mesmo ano de ...E O Vento Levou. Nota DEZ.
   DAVID COPPERFIELD de George Cukor com Freddie Bartholomew, W.C.Fields, Lionel Barrymore, Edna May Oliver, Roland Young
Tão bom voltar a ver meus filmes dos anos 30!!!!! Aqui temos Cukor, um dos mais consagrados dos diretores clássicos e a adaptação, luminosa, do clássico de Dickens. Esqueça a pavorosa atriz que faz a mãe de David Copperfield e relaxe, o filme é uma deliciosa e encantadora viagem. David sofre pacas, mas logo encontra quem o ajude. WC Fields dá um show! Sua voz enrolada e pomposa e seu tipo falso nobre picareta casam perfeitamente com o filme. Mas quem rouba o show é Edna May Oliver, aterradora e encantadora como a tia de David. Uma grande produção de David Selznick. Nota 9.
   OS 3 MOSQUETEIROS de George Sidney com Gene Kelly, Lana Turner, June Allyson
Gene Kelly fazendo Dartagnan! Só em Hollywood! Esta versão, leve e colorida, alegre e boba, de Dumas, é um grande hit de seu tempo. E ainda diverte! Sidney foi um grande diretor de musicais, e apesar de ninguém cantar, o filme é levado no clima de um grande musical. Jogue fora seu senso de realidade e deixe-se apreciar tanta tolice bem feita. Vale muito a pena! Nota 7.
   DESTINO TOKYO de Delmer Daves com Cary Grant e John Garfield
O patriotismo deste filme envelheceu mal. Acompanhamos a missão de um submarino rumo ao Japão. Cary é o capitão, Garfield um marujo meio tonto e mulherengo. Filmes da segunda guerra costumam envelhecer mal. Não é excessão. Delmer foi um bom diretor de filmes noir e de westerns. Aqui ele se perde. Cary Grant está elegante como sempre, mas pouco tem a fazer. Nota 4.
   BREAKFAST AT TIFFANY`S ( BONEQUINHA DE LUXO ) de Blake Edwards com Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal e Martin Balsam
Nunca gostei muito deste filme. Acho-o superestimado. OK, Audrey esbanja chic, mas em qual filme ela não o faz? Então o reassisto pela segunda vez e nada espero dele, e talvez por causa disso o acho agora bacaninha. Incrível como toda coisa chic se mantém! Tudo em Audrey é chic, os óculos, as roupas, o gato, o modo desleixado de se portar, a loucurinha bobinha e até o jeitinho de falar. E acontece uma coisa engraçada, começo a achar que a personagem Holly é um travesti ! Pois é incrível como os travestís pegaram TUDO desta personagem!!!! O filme se torna então um tipo de farsa chic, um catálogo da Bazaar clássica, uma Vogue vintage, um luxo! Truman Capote escreveu e a trilha de Henry Mancini é tudo de bom! Um cocktail, um bibelô, uma mesinha de laca. Um mundo perdido que a gente insiste em amar. Nota 7.
   THE SOUND OF MUSIC ( A NOVIÇA REBELDE ) de Robert Wise com Julie Andrews, Christopher Plummer e Eleanor Parker
Após Mary Poppins eis que Julie surge como a noviça que vai cuidar de crianças na Suiça e as ensina a ser crianças. E o mundo se rende a ela. Este é o filme que tirou ...E O Vento Levou do alto das paradas. Um fenômeno! NUNCA eu vira o filme. Tinha preguiça e confesso, apesar de amar musicais achava que ele fosse bobo. Bobo? Ele é uma aula de otimismo, de beleza e de ritmo. As músicas, de Richard Rodgers são obras-primas, a direção, do mestre Wise, um cara que fez clássicos de boxe, sci-fi, comédia e drama, e Julie, uma figura esfuziante, enfeitiçante, com malícia inocente e uma liberdade fantasiosa irresistível. O mundo em 1965 se apaixonou por ela. Ainda percebemos porque. É um grande, grande filme! São 3 horas de completo prazer! Viva! Nota DEZ!

A LUTA BRASILEIRA À LUZ DE UM CLÁSSICO DE EMILY BRONTE.

   Um resumo: Heathcliff é trazido por um proprietário de terras para o Yorkshire. Menino escuro, sujo, cigano, ele é um mestiço. O homem diz tê-lo encontrado vagando por Liverpool, mas é mentira. Óbvio que é filho ilegítimo, bastardo. Assim, o herói desta obra-prima é maldito. Mas mesmo assim passa algum tempo feliz, crescendo ao lado de Cathy, sua meia irmã. E naturalmente os dois se apaixonam. Livres, selvagens, sujos, os dois são puro instinto e também muita fantasia. 
  Tudo muda quando morre o pai. Orfão novamente, Heathcliff é jogado ao papel de servo. Sua alegria vira ressentimento. Cathy permanece fiel, mas um dia os olhos dela se abrem para uma outra vida e ela se encanta pelo vizinho da propriedade. Esse vizinho, belo, rico, educado, hiper-civilizado, representa a nova Inglaterra, o país nascido a força na esteira da industrialização. Cathy se casa com o vizinho e Heathcliff imigra para a América, país jovem, onde se pode ser tudo menos delicado. Voltará rico e doido por vingança. O final será terrível...
  Como todo grande livro, este se presta a várias leituras. Quando o li aos 15 anos, tanto tempo atrás, o que sabia eu da vida? Ele foi como uma antecipação do futuro, do amor fou-maldito que eu queria viver e padecer. Mais que tudo, o livro então me pareceu gótico, tenebroso e muito assustador. Seduziu meu coração. Li novamente aos 30 anos, na angústia de um amor dolorido e perdido. Foi um consolo e li então uma história mística, uma ode ao amor como força maior que a morte. Percebi o romantismo real, o romantismo rústico, sádico, satânico do livro. Byron ri em suas páginas. 
  Então li pela terceira vez, aos 41 anos. Entediado, procurei nele a febre dos 15 anos e não a encontrei. Em vez disso, achei uma belíssima história, a saga de um rebelde. E aterrado, constatei que o personagem de Heathcliff ficara marcado em mim como chaga. Eu antecipava as falas, o livro parecia ser parte de mim. Ele é.
  Agora, aos 50, e espero poder ler este livro aos 70, aos 90...Percebo mais uma versão. Cathy e Heathcliff representam a velha nação, aquela morta pelo progresso. Quando ela se casa com o vizinho, símbolo dos novos tempos, época do inglês como o conhecemos, reservado, distante, educado, pragmático, Heathcliff fica só. A velha Inglaterra dos tempos de Chaucer, suja, impetuosa, violenta e falastrona se isola. Vai para a América. Cathy fica rica e bonita, mas sem alma, morta em vida. 
  Sim, isso é Byron, mas agora vejo que é Shelley também. O livro prega a igualdade, a volta do impulso, do instinto, da Merry England de Shakespeare e de Marlowe. Sem Heathcliff nada parece vivo. Quando ele volta a vida não volta com ele, Bronte sabia que nada retorna como foi, retorna como contrário. Heathcliff é agora a morte. Ele destrói, ele corrompe, ele suja e conspurca. Como um hooligan, um punk, um black-block, sua ira é apenas força cega, sem alvo. Em meio aos perfumados e pálidos novos ingleses, ele é uma lembrança daquilo que eles deixaram de ser. 
  Toda nação mata sua alma ao se enriquecer. A Alemanha assassinou sua alma mística e visionária. Ela voltou como nazismo. A França destruiu a nação dos alegres camponeses, os glutões bebedores à Rabelais. O Japão fez o mesmo com o mundo dos samurais e a Escandinávia engoliu seu universo viking. Os EUA fizeram isso numa guerra civil. Mataram nas baionetas o mundo de senhores de escravos e de aventureiros individualistas. O Brasil nunca. Se um dia fizermos aquilo que a Inglaterra fez em 50 anos ( entre 1750-1800 ), nosso Heathcliff será um tipo de baiano preguiçoso, macumbeiro, lutador de capoeira e muito sexuado. Esse será nosso ser reprimido. O tal brasileiro primitivo, arcaico, nossa alma, o carioca aberto, gozador, curtidor, o paulista caipira, contador de casos, fofoqueiro...Todos terão de ser trocados pelo novo brasileiro, um frequentador da avenida Paulista apressado, um viajante com hora marcado, um homem objetivo e de pés no chão. Pouco me importa se esse novo brasileiro rico será melhor ou pior. Ele será outro. Nosso país se faz na irreconciliável luta entre os dois, luta longe de ser aplacada. Luta que como provam os outros países, jamais é completamente resolvida.
  A mais bela cena é aquela em que Cathy percebe ser Heathcliff "" ela mesma"", o famoso: - Heathcliff sou eu! O mais antigo país moderno do mundo ainda é Heathcliff. Vemos isso na obra de vários artistas atuais e nos inexplicáveis surtos de ""barbárie"" que irrompem do nada. É a emergência da sombra, como sabiamente diria Jung. É a força que nos motiva.
  Como lerei este livro depois?

ROMANCES DE AMOR

   Como fiz vários posts sobre o Amor em música, falo agora de livros, poucos, que trazem memórias de amor.
   O primeiro de minha vida foi Tom Sawyer. Sim, isso mesmo, o amor de Tom e Becky, o primeiro beijo. Incrível mas eu lembro do exato momento em que li sobre esse beijo: aos 9 anos, debaixo de bananeiras no quintal de casa. Muito calor. Antevi aí meu futuro primeiro beijo. Só não pensei que fosse demorar tanto.
   Depois o namoro de Peter Parker e de Gwen Stacy e então os grandes romances.
   David Copperfield com Dora, quando ela morre, a primeira página que me fez chorar ( no quarto, lendo de madrugada ). Em seguida o mais perfeito dos romances sobre o amor, O Morro dos Ventos Uivantes, Heathcliff e Catherine, o amor como maldição, como sina, o amor que é dor para sempre. O máximo do romantismo fatalista, um cataclisma na minha mente e alma. O cenário perfeito ( vento frio em campos pantanosos ) a mulher perfeita e o homem "mal" que esconde sua ferida.
   Tudo que veio depois foi menos forte. Jake e Lady Brett no Heminguay de O Sol Também se Levanta, o amor impotente, amor irrealizável em meio a fiesta da Espanha. Os amores nas obras-primas de Stendhal, O Vermelho e o Negro e A Cartuxa de Parma, amores irônicos, amores que são como atuações que convencem o próprio ator. E escritos com a maestria do maior estilista.
   O amor simples de Kitty e Lievin em Anna Karenina, pois o amor de Anna e Vronsky nunca foi para mim o centro da obra, mas sim o amor de Lievin, que descobre a perfeição na simplicidade de sua mulher. A felicidade nasce após a morte em vida do aturdido Lievin.
   Ofélia e Hamlet...Esse amor continua um enigma, pois é impossível saber quem foi Hamlet e porque Ofélia o amava. O desagradável Hamlet.
   Os amores dos livros de Jane Austen, tímidos, convencionais, trêmulos e hesitantes. A doce alegria de seus finais práticos, finais que na verdade são elogios ao pragmatismo. Ler Austen é amar suas heroínas e admirar os falsos tolos que são na verdade seus heróis.
   Gatsby e sua tragédia. O desajustado que não percebe seu desajuste. O amor como miragem de beleza. Impossível.
   Não posso negar a importãncia de A Insustentável Leveza do Ser. Hoje percebo suas falhas, mas na época, anos 80, Tereza foi musa para mim. Aliás, era esse seu nome? Well...Kundera foi por algum tempo um herói.
   Estranho....poucos livros me marcaram como 'livros de amor". Falar de Henry James como autor amoroso é absurdo. A questão amorosa é centro de suas obras-primas, mas aquilo é mesmo amor? São personagens tão auto-centrados que fica dificil levar aquele sentimento a sério. Amor? Será? Solidão seria mais correto dizer.
   Na verdade meus livros de 'amor" são os poetas. E deles ( Keats, Shelley. Blake, Lorca, Yeats, Rilke ) não vou falar. Estou discorrendo sobre a prosa.
   Então nada de Dante e Beatriz.
   Volto a Tom Sawyer. O beijo e amor por Becky é parte de um todo. Tom faz estrepulias, foge de casa, recupera dinheiro roubado, briga, se perde em mina abandonada. E ama à Becky cada vez mais. Esse é o roteiro ideal de uma boa história de amor. O arcabouço foi criado a mais de 3000 anos, na Grécia. E não se fez até aqui uma base melhor. O herói que ama e parte, prova sua grandesa e retorna ao amor.
   É isso.

AS ILHAS DA CORRENTE- HEMINGUAY

   Heminguay teve uma influência tremenda em minha vida. E sobre a vida da América, claro. O SOL TAMBÉM SE LEVANTA é o que li mais vezes, mas este vem logo em seguida. Há uma diferença radical entre os dois. O SOL é do jovem Heminguay. É considerado seu melhor livro, escrito nos anos 20 e talvez melhor que o Gatsby de seu rival cordial, Fitzgerald.
   AS ILHAS DA CORRENTE é de sua maturidade e tem a fama de ser um dentre os vários livros "problema" de Heminguay. Eu adoro esse livro, tanto que já o reli mais de 4 vezes. Até a receita de um almoço descrito no livro eu fiz e faço. Mas aqui vale um senão.
   Adoro esse livro porque o personagem central vive onde eu queria viver, e se comporta de uma maneira que incorporei como "minha". Quando um leitor se identifica com uma personagem fica um pouco comprometida sua avaliação. Críticos deveriam confessar isso mais vezes. Eles podem adorar um livro, ou um filme, apenas pelo fato de que o herói da coisa é aquele que ele pensa ser ou adoraria ter sido. O público em geral se guia sempre, ou quase sempre, por esse padrão. Mas quem ganha dinheiro para escrever sobre estilo e criação deveria tomar mais cuidado. A VERDADEIRA grande obra tem um pouco de cada um de nós e ao mesmo tempo cria seres que são únicos.
   Desse modo, se me identifico com o Heathcliff do MORRO DOS VENTOS UIVANTES não há o mesmo tipo de problema, pois todo homem apaixonado se identifica com Heathcliff e ao mesmo tempo sabe que nunca é Heathcliff. Enquanto percebe ser Heathcliff ele sente que Heathcliff não pode existir pois está além do humano. Ele é arte.
   Isso não acontece aqui. Ao contrário de Jake Barnes, que no SOL é universal, o escritor que vive numa ilha deste livro é particular. Um belo personagem, não uma obra de arte, ele é incompleto. Quem não se identificar com ele não verá valor neste livro. Por outro lado, para sentir a grandeza do MORRO não é preciso identificação com Heathcliff.
   Mas há belo valor em se criar um personagem que toca a alguém. Que tocou um brasileiro de 20 anos e que ainda toca o mesmo cara aos 50.
   O livro fala de um escritor, ácido, que vive numa ilha perto de Cuba. Não é uma ilha isolada. Ele tem amigos lá, e amigas. Seu grande amigo é um drunk radical. Então ele recebe a visita de seus 3 filhos. Pescam em alto-mar. Acontece uma tragédia e ele reencontra sua ex-esposa. O enredo é esse, mas não é isso que me interessa. O que me seduz são seus tempos vazios. Heminguay descreve comida, fala de drinks e de iscas. É esse lado "desimportante" que releio. O cotidiano vulgar da ilha.
   Foi exatamente esse lado "vazio", esse divagar, que fez a ira da crítica e fez do livro um fiasco. Eu adoro. Jamais vou achá-lo tão bom como O SOL..., mas é um livro que sempre estará comigo.
   Não é coisa pouca.

JANE EYRE- CHARLOTTE BRONTE, UMA COMPARAÇÃO ENTRE ONTEM E AGORA

   Somos hoje todos nós, heróis. Me veio essa ideia ao ler este livro. Já falo dele, antes vou falar dessa ideia.
    Como é que conseguimos? Ter de ,a cada dia, pela vida toda, criar um sentido e um papel na vida? Criar enquanto se faz: Improvisar todo o tempo. Improvisar teorias, ambições, comportamentos. Como conseguimos suportar? Ser exposto a tanta coisa: vozes, imagens, desejos, mentiras, fatos, violências, risos. Tantos convites! Uff...Porque me veio isso? Por causa do livro, enquanto o lia.
    Jane é uma menina orfã que é desprezada pela tia. Alvo de torturas dos primos, vai viver em colégio interno. Lá passa fome e vê amigas morrerem em surto de tifo. Já adulta, é empregada como professora na casa de homem rico e taciturno. Claro, os dois se atraem, mas o livro, 500 páginas, reserva loucura, mistério e sofrimento aos borbotões.
    A vida narrada é sofrida, triste, escura. Comida e luz são luxos. Penso em como a vida era escura e no prazer que se sentia em se poder comer. As pessoas não-ricas, na Inglaterra mais de 90%, imagine aqui, passavam a vida sentindo fome. E vivendo longas noites no escuro, velas eram poucas. No inverno sentiam frio todo o tempo. O que dizer? A vida era pior que hoje? Em termos fisicos biológicos, sem dúvida. Mas o que me fez pensar é em como os cérebros deveriam ser pouco exigidos. A vida era mais que lenta, ela era previsível. Era silenciosa, discreta, com poucas coisas excitantes e desejos humildes. Conversava-se muito, se fazia pouco ruído. De nada se sabia. O que importava uma guerra na África ou um casamento em Boston?
   E então, a partir de fins do século XIX tudo muda. Eletricidade, luz, calor, fotos do mundo todo, jornais aos milhares, rádio e cinema. Nos eletrificamos e agora, em 2013, vivemos a obesidade, a fartura, o excesso de tudo. Todos somos tribunos romanos, nos entretendo em bancos preguiçosos. Mas em certo sentido heróis, heróis do tipo egoísta, auto-absorvidos, lutando para acreditar, para ter, para responder a altura aquilo que a vida nos exige. Improvisar!
   Isso cansa!
   Charlotte Bronte, uma das irmãs de Emilly, a mágica autora do sublime MORRO DOS VENTOS UIVANTES, morreu de tuberculose, como as irmãs. Seu livro é tão escuro e ruidoso como a obra-prima de Emilly. O cenário também tem função de personagem. Mas Jane Eyre é um pouco mais "novela", um pouco mais pé no chão que o romance de Emilly. E Jane Eyre, como personagem, não tem a estatura mítica de Heathcliff ou de Catherine. De qualquer modo, é um belo exemplo de romance vitoriano, onde na verdade é o dinheiro e não o amor que rege a vida dos personagens e seu destino. Jane é fria em suas decisões e não há como não ver Rochester como vitima de sua paixão. Ela joga.
   Boa tradução de Heloisa Seixas. Existem 3 ~traduções nas livrarias, vá atrás desta.

SEAN CONNERY/ TOM CRUISE/ BURT LANCASTER/ STEVE MARTIN/ STENO/ O MORRO DOS VENTOS UIVANTES

   OS DIAMANTES SÃO ETERNOS de Guy Hamilton com Sean Connery e Jill St.John
Pagaram uma grana preta para fazer Connery voltar ao personagem. George Lazenby tinha dado errado e com medo de perder a série convenceram Sean. Mas pluft! o filme não dá certo. O roteiro é confuso, a ação sem suspense e até as bond girls são fracas. Sean está contrariado e dois anos depois teríamos a estréia de Roger Moore e um novo Bond. Em tempo, todos falam do novo Bond de Craig...Ora! Todo Bond quando troca de rosto é um novo Bond. O 007 de Roger nada tem a ver com o de Connery. O antigo era tenso, nervoso, quase mal-humorado, o de Moore será suave, fanfarrão e pouco sério. Quanto a este, é de longe o pior da série original. Nota 3.
   ROCK OF AGES de Adam Shankman com Tom Cruise, Alec Baldwin, Catherine Zeta-Jones e Paul Giamatti
O que falar de um filme muito bobo que nos faz rir? E que usa uma trilha sonora que voce nunca escutaria em casa, mas que funciona no filme? Tem Cruise fazendo Axl Rose, Baldwin ( excelente ) de peruca e com cena gay e mais Giamatti como um produtor do mal. OK. admito, é divertido. Nota 5.
   ABRAHAM LINCOLN CAÇADOR DE VAMPIROS de Timur Bekmanbetov
No mundo do mercado/propaganda o que importa é: isso funciona? Não existe nesse mundo a palavra verdade. Se a mentira for agradável ou se ela vender, dane-se a tal verdade. Desse modo, pode-se inventar que Lincoln foi um caçador de vampiros. Se essa nova versão cair no gosto do público ela se tornará uma "nova verdade". O filme é de uma idiotia atroz. Nota Zero.
   AMOR À QUEIMA ROUPA de Tony Scott com Christian Slater, Patricia Arquette, Gary Oldman, Dennis Hopper, Christopher Walken, Brad Pitt, Samuel L. Jackson
Todo o mundo de Tarantino está aqui, neste seu roteiro brilhante: filmes de kung-fu, westerns, conversas espertas, citações pop, bandidos de HQ, rock, musas perigosas e sofridas. Scott, diretor que tem estilo radicalmente oposto ao de Quentin ( Scott é tipico dos anos 80, pseudo-sofisticado, brilhoso e vazio, Quentin é anos 70, exagerado, colorido, vivo, viril ), não conseguiu estragar de todo o roteiro. Mas bem que ele tenta.  Adoraria ver Tarantino o refilmar em 2020. Uma festa para olhos, ouvidos e imaginação. Foi este o filme que em 1994 me fez voltar ao cinema. Nota 9.
   ZONA PROIBIDA de William Dieterle com Burt Lancaster, Peter Lorre, Paul Henreid
Um belo filme noir. Se passa na Africa do Sul. Lancaster é um homem perseguido por policial. Motivo: ele teria tentado entrar em zona de minas de diamantes. O filme, tenso, é esse combate entre um vilão policial sádico, feito com maestria por Henreid, e o herói sonhador e teimoso, feito por um Lancaster magnético como sempre. O filme, rápido, forte, bem narrado, é delicioso. Dieterle foi um desses alemães que ao fugir do nazismo ajudaram a dar caráter ao cinema americano. Muito do que conhecemos como cinema tipico da Hollywood clássica é feito por alemães, austríacos e húngaros. Nota 8.
   RATOS E HOMENS de Lewis Milestone com Burgess Meredith e Lon Chaney Jr.
É o texto de Steinbeck em versão famosa. Temos dois miseráveis. Um deles é deficiente mental, um gigante de coração de criança. O outro toma conta dele. Eles andam pelos empobrecidos EUA da depressão. Arrumam trabalho numa fazenda, onde têm de lidar com tipos estranhos. O filme, tipico da esquerda americana dos anos 30, é muito, muito original. Não parece ser de 1939 e nem de tempo nenhum. Ele é cruel, tristíssimo, amargo ao extremo. Tem trilha sonora de Aaron Copland. Milestone, que dirigiu o melhor dos filmes de guerra ( Nada de Novo no Front ), era um diretor muito corajoso! O filme não tem a menor concessão. Sua falha é ser teatral demais. Temos a impressão de estar vendo uma peça. Nota 6.
   CIDADE NEGRA de William Dieterle com Charlton Heston e Lizabeth Scott
Seria um grande filme se a atriz central não fosse tão ruim. Ela estraga com sua canastrice a estréia de Heston na Paramount. O filme, noir, fala de um otário que ao ser surrupiado no poker por grupo de malandros, se mata. O irmão doido desse suicida surge e começa a matar os malandros. Heston é um dos que deram o golpe no trouxa. O filme tem bom suspense e consegue o ponto certo. É crível. Pena a péssima Scott. Heston, muito jovem, está bem. Consegue ser frio e cinico. Mais um acerto de Dieterle. 6.
   CLIENTE MORTO NÃO PAGA de Carl Reiner com Steve Martin e Rachel Ward
Mesmo não sendo uma grande comédia ( é pouco engraçada ), eu sempre a revejo. Como todo cinéfilo, adoro o filme por ter conseguido unir pedaços de velhos filmes noir com a história moderna. A produção construiu cenários como o dos filmes originais e insere cenas desses filmes na trama de Steve Martin. Temos Cary Grant num trem contracenando com Martin ( a cena é de Suspeita, de Hitchcock ), e além dele há Ava Gardner, Burt Lancaster, Alan Ladd, Veronica Lake, Vincent Price, James Cagney, Bette Davis, Ray Milland, e claro, Humphrey Bogart, que domina o filme inteiro. É engraçado ver Bogey como empregado de Steve Martin e levando bronca dele! Deveriam fazer isso hoje em dia. Com os recursos técnicos que temos os resultados seriam fabulosos!!! Mas talvez jamais será feito, o público, grande, que reconheceria os velhos ícones não frequenta cinemas. Os atores modernos teriam de contracenar com, no máximo, Nicholson e Hoffman, dái para trás seria o analfabetismo em cinema. Adoro Steve Martin, Rachel Ward foi a mais bonita atriz do começo dos anos 80, mas o roteiro é bem fraco. Nota 5.
   O MORRO DOS VENTOS UIVANTES 2012 de Andrea Arnold
Espero que seja/tenha sido um fracasso. Tivemos muitas versões da obra-prima de Emily Bronte. Todas erraram. A mais famosa é a de William Wyler, com Olivier, mas essa é também falha. Fria demais, muito sóbria. sem paixão e loucura. Há uma de Bunuel que é sem sentido. Aquela com Juliette Binoche é doce e bobinha e agora temos mais esta. ( Falo só das que já vi ). Uma versão analfabeta. Escrevi recentemente que o cinema do futuro será mudo e barulhento. Pois este é um filme mudo. Ninguém fala e quando fala nada é dito. A diretora tenta ser poética. Ela pensa que poesia é filmar no escuro  em big close. A câmera nunca deixa de tremer, Heathcliff agora é negro e Cathy é feia. Um pavor. Nota ZERO.
   MINHA AVÓ POLICIAL de Steno com Tina Pica e Ugo Tognazzi
A Itália, no auge de sua produção, chegou a lançar por ano quase tantos filmes quanto os EUA. Eram filmes de horror, épicos, westerns, filmes politicos, de arte, documentários. E muitas comédias. Steno começou dirigindo em dupla com o grande Mario Monicelii. Depois se separaram e logo deu pra notar que Monicelli era o gênio dos dois. Os filme de Steno são simples e envelheceram mal. Aqui temos uma avó mal-humorada que ao ter uma jóia roubada atrapalha o casamento do neto e a vida da policia. O filme não é ruim, os atores são ótimos, é apenas banal. Nota 3.

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES - EMILY BRONTE, O MELHOR ROMANCE DESTES MUNDOS

Pedra.
Por detrás de todo rosto empedrado existe a chaga podre. Conhecer o céu e vê-lo ser fechado para sua vida. A porta de madeira batida contra seu rosto. O fim. Ter de olhar para baixo e caminhar, sem vontade, rumo ao inferno. Tecer armadura de ferro pesado e criar cara de pedra. Sua voz será desdém pelos fracos. Eis o único caminho. A pedra.
Porque tudo acaba. Tentamos nos enganar, mas tudo se vai. A alma de quem mais lhe era preciosa se fecha em abismo. Anda e se vai sem olhar. Suas lágrimas endurecem e criam um rastro rochoso. Rindo entre pessoas voce sabe : sua vida está encerrada. Na rocha.
O ódio ao mundo. Voce vê o destino de tudo que agora brilha. Esquecimento. Sabe que todas as coisas serão vazio. Imemória da vida. Mas a sua maldição, a pior ? , é a de jamais poder se esquecer. Só existe um amor para cada coração. Todos os outros são atos desesperados. A tentativa de reanimar um ser partido. A ilusão de se ver aquilo que se fez invisível.
Quem tem a coragem de mergulhar no abismo ?
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES é a história de todo coração partido. E de toda coragem irascível. Lido aos 15 anos, na minha era da lama e da névoa. Relido sempre. CATHERINE...HEATHCLIFF....eu sou Heathcliff.... eu sou pedra.
Criar seu próprio universo em sua solidão. É preciso pedra para edificar paredes que resistam ao tempo. Senhor de um globo feito de neblina e sol pálido. Tudo é lama e saudade. Tudo é raiva e vingança.
Porque fui rei da felicidade e hoje sou blasfemador do destino. E o que vejo são partidas, mortes, adeus, brisa tornada muro. Ter de rir do amor, voce que vivia só para ele.
Saiba : detrás de toda face irascível há uma criança desiludida. Erguer o queixo para não cair no vazio. Aprender a ser um destino.
Uma geração atrás. Apenas uma. Eu andava na idade média. Sombras de fogueira na parede, pés nús sobre a neve, candeeiros e bruxarias. Essa riquesa não tem preço. Eu ví a treva da alvorada morta e conhecí a fé no além. Meu pai veio da carroça de burrico e meu avô da pedra cortada a mão. Minha avó bradava maldições e minha mãe sabe o preço de se esbarrar com tifo, desnutrição e nudez na neve de janeiro. Meu sangue conhece a viuvez de toda uma vida, a honra ferida que se paga com a morte, a promessa que tem de ser seguida.
Sou velho como o vazio. Esse é meu ouro e minha cara de pedra.
Mas tenho, sendo um burrico e um lobo, de viver em mundo de aço, asfalto, velocidade e finais. De onde venho TUDO É PRA SEMPRE. Assim me ensinaram. Mas aqui e agora, nada é para sempre. NADA SEMPRE. Maldição de Heathcliff, o mundo que herdei me é odioso.
A casa de pedra me espera no alto do monte. O norte de Portugal ou o norte da Irlanda. Onde nada se dá e onde damos tudo de nós. Onde a alma de Catherine me espera. Para sempre me espera e para sempre lá estarei. Pois toda esta vida é espera...
Jogarei tudo ao fogo e destruirei esta cara de pedra. Quebrarei a janela e me jogarei para ela...
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES é sobre a alma.

CATHERINE

Folha, segunda, 20 de julho.
Coluna de Luiz Felipe Pondé. Nome: Catherine.
LEIAM. Leiam e releiam. Ele radiografou minha alma. Meu desejo, meu orgulho, meu mal. Tudo está naquele texto. Existe um espírito que rege uma época. Uma afinidade entre descontentes. Luiz Felipe radiografa esse momento. Me radiografa. Em cheio.
" Não esqueça, caro leitor, que o romântico não é propriamente um idiota nostálgico, o romântico é um sobrevivente, sente-se como uma espécie caçada, um mutante nascido em ambiente hostil. Esse tipo é mais perigoso que você, que ri tranquilo, cercado pela crença boçal de que o mundo seja seu."
"Os melhores entre eles aprenderam a dissimular as lágrimas, mudar de assunto, fazer uma piada inteligente, fechar a porta do quarto. Quem se sabe derrotado desde o início, detém uma forma de poder invisível que o torna perigoso, justamente por não combater pela vitória."
"Resistir é nesta alma sua primeira natureza. Talvez combatam porque esta seja a natureza de quem nasceu num mundo que não é seu ou porque não conheçam outra forma de se comportar num mundo onde não há esperanças para suas almas. Todo cuidado é pouco diante de quem não tem nenhuma expectativa."
"O desencanto do romantismo é uma forma de inteligência sem função. O romântico é uma espécie de contradição insolúvel no progresso definitivo da vida calculada. São caçados como praga. E com razão: são inimigos de uma vida perfeita. Diante deles, babamos como predadores esfomeados."
"O desafio de um romântico é aprender a lidar com suas sensações num mundo onde elas significam nada."
"Ao encontrá-lo devemos ter por ele o respeito que merecem as espécies em extinção."
" A alma romântica habitando um corpo moderno enfrentará o mundo devastado pela arrogãncia idiota dos modernos, pela objetividade morta da ciência, pelo niilismo do dinheiro, pela certeza cética da inutilidade da verdade. Em uma palavra, será uma exilada."
"Todavia, não se engane o leitor que gargalha em seu sofá cercado pela vitória definitiva da arrogância adolescente idiota, da inércia burocrática, da objetividade do dinheiro, do cinismo histriônico e do ceticismo chique. Românticos aprendem a falar a língua do mundo banal. Se o encontrar num desses jantares inteligentes, o confundirá com um pós-moderno cínico. Ele irá rir do amor, defenderá bebês feitos pela indústria farmacêutica, afirmará a vitória do relativismo elegante. Ele manipulará o código da vida devassa. Pois para ele sua vida é a vida de vermes a que ele observa."
Tudo que posso dizer sobre este texto é : BINGO!!!!!!