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WALLS AND BRIDGES, O MELHOR DISCO DE JOHN LENNON

Em 1974 John Lennon estava um caco. Sem Yoko, eles haviam brigado, ele vivia bêbado. Seus companheiros de copo eram Keith Moon, Ringo Starr, Elton John e principalmente Harry Nilsson. Todos conhecidos por seus excessos. ( Moon e Nilsson eram alcoolotras radicais, Elton estava na sua fase cocaína ). Lennon chamaria no futuro essa fase de seu "Lost Weekend " alusão ao filme de Billy Wilder. --------------- Nesse clima ele lançou o disco Walls and Bridges, disco que vendeu muito mas que foi meio esnobado pelos críticos. Eu conheço tudo que John gravou e para mim este é não só seu melhor trabalho solo, como um dos grandes discos da melhor década. Ele abre com Goin Down on Love e voce não imagina o que era ouvir isso no rádio pela primeira vez. Era rica, era complexa, era surpreendente. Mudava de tom, mudava de ritmo, se recompunha. Tinha percussão, metais, tinha rock e era esquisita. Lembrava os melhores trabalhos dos Beatles. A faixa seguinte fora fruto de uma aposta. Elton John gravou com John Whatever Gets you Thru the Night e apostou que ela seria número um na Billboard. John duvidou e disse que se ela fosse, ele apareceria de surpresa no palco em show de Elton. A faixa chegou a número um e Lennon aparece no Madison Square Garden, no meio de um show do Elton, sem avisar. Cantaram 3 faixas e essa foi, sem que ningém se desse conta, a última aparição de Lennon em um palco. Dezembro de 1974. Whatever Gets era outra surpresa quando surgiu no rádio. Era alegre e histérica, meio gay e tolinha. Deliciosa e eufórica. A cara dos anos 70. -------------- Para quem não sabe Harry Nilsson foi um gênio e Old Dirt Road é da dupla Lennon-Nilsson. É a alma do album. Linda de matar, triste de doer, tem uma guitarra slide sublime ( Jesse Ed Davis ) e aquele fundo de orquestra que Nilsson era mestre em usar. A voz de John está magnífica, é triste, é rock, tem um fundo de ironia, é voz de quem perdeu ( o que irrita em John é sua mania de exibir feridas ao público, mas aqui é tudo tão bonito que a gente perdoa ). A próxima, What You Got, tocava em anúncio de TV. É rocknroll. É agitada. Funciona à perfeição após o bode da faixa anterior. Dá até pra dançar. Bless You é uma faixa que poderia ser cantada por Al Green. Ou por Luther Vandross. Seria sexy. Seria soul de motel. Na voz de Lennon, voz incapaz de soar sexy, é bela porém incompleta. Scared é mais uma grande faixa. Um lobo uiva duas vezes e a orquestra entra como em sonho. Lennon repete várias e várias vezes que sente medo, muito medo. Dizem que seu afastamento do trabalho, entre 1975-1980, se deveu a crises de pânico. Se for verdade, eu penso que não, esta faixa entrega tudo. É pesada, soturna, mas é cheia de beleza. Quando inspirado, John Lennon era uma fábrica de produzir coisas bonitas em meio a frases simples. Scared é um exemplo de talento. Se Paul MacCartney é um mestre em produzir harmonia de cristal, John fazia beleza no lodo. E essa beleza é superlativa em Dreams, uma das músicas mais bonitas já gravadas. O som da bateria harmonizado com os violinos que "sonham" é das construções musicais que só um imenso dom, um talento sem limites, faria. Dreams me encantava quando tocava no rádio, em 1974, e me encanta agora, uma vida inteira mais tarde. É perfeita como música acabada e completa. Surprise é a faixa menos boa do disco inteiro. Apenas uma brincadeira rocker. Nada ruim, mas destoa. Steel and Glass é terrível. Terrível no sentido de ser assustadora. Os metais estão precisos, a música progride como destino. John sente medo outra vez. Sou apaixonado por essa faixa desde que a ouvi pela primeira vez, 1980, logo após sua morte, que foi quando comprei o album. Sei que escrevi sobre esta obra uns 10 anos atrás, mas o valor da grande arte é sua capacidade de ser eternamente comentada. Hoje sou outro e o album tem outro valor para mim. Beef Jerky é esquisita e é instrumental. E depois temos mais uma faixa que é puro Nilsson: Nobody Loves you when you're Down and Out. Só John e Nilsson poderiam fazer uma faixa com esse título. É uma longa lamentação de Lennon, pura auto piedade. Ele lambe feridas sem pudor. Mas eu adoro, porque musicalmente é uma maravilha. A massa sonora lembra o melhor de Phil Spector ( John foi o único Beatle que aprendeu com ele. Paul jamais deixou de seguir George Martin, um estilo muito mais refinado que o de Spector ). Essa massa de guitarras, violinos, metais, percussão, se arrasta como se tudo fosse uma imensa ressaca. E é uma ressaca sim. A canção é como uma dupla de amigos cantando na rua às 6 da manhã, com dor de cabeça, dor de corno, dor de viver. É adulta e é feita em espírito adolescente. É uma obra de arte. ---------------------- Minha opinião é que Lennon se afastou dos palcos e do trabalho por ter vivido um "momento de Voltaire". Desde sempre Lennon fora um rebelde ingênuo, um revolucionário enganado, e em 1975, após o inferno de 1974, ele viveu aquilo que Voltaire descreve ao fim de Candido: Ao final de tudo, o melhor é que cada um cuide de seu jardim. Em crise, percebendo a tolice de seus companheiros, ele se volta ao jardim, à família, à casa. Vai criar o filho, fazer pão, ver TV. Uma das raivas que sua morte nos legou é que não assistimos a segunda parte de sua vida. ------------- Walls and Bridges é o momento em que o Lennon chato e infantil morre.

TUMBLEWEED CONNECTION, ELTON JOHN. O MAIS BELO FILHO DE MUSIC FROM BIG PINK.

Primeira coisa que voce vai estranhar neste disco: não há nenhum hit. Todos os discos de Elton têm ao menos um hit, mesmo aqueles gravados em suas fases ruins. Alguns possuem até mesmo 5 ou 6 hits. Afinal, ele é, depois de Elvis Presley, o maior hitmaker solo da história. Mas não aqui. Em 1970 Elton lançou 3 albuns, sim, 3 fucking albuns, e este é o mais pessoal, o mais complexo e por que não?, o melhor. O clima do disco já começa pela capa, ela retrata em sépia a frente de um cinema de cidade pequena do sul dos USA. Feito antes de A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA, o filme marco de Peter Bogdanovich, este album tem o espírito do filme melancólico e derrotista de Peter. É um disco feito por dois ingleses, Elton e Bernie Taupin, mais americano que existe. Bernie, o letrista que ama os USA, escreveu letras sobre western, sobre o sul, sobre amigos e solidão, sobre despedidas e sobre rock, tudo após ouvir o disco MUSIC FROM BIG PINK, de The Band ( há disco na história que tenha dado mais grandes filhos que este? O primeiro album de The Band é o progenitor de duzias de grandes sons ). Elton pega essas letras e as casa com melodias que remetem ao disco dos canadenses sem jamais deixar de parecer um disco de Elton John. São músicas plenas de sabedoria ( e pensar que Elton tinha apenas 23 anos ), cheias de beleza antiga, eterna, sólida, indestrutível. Não há uma só faixa que não brilhe como ouro e não há momento menos que sublime. Sim, é um disco perfeito. ------------------- Elton e Bernie sempre retornariam ao tema de Big Pink, o western, o cowboy, a estrada vazia, mas nunca mais de modo tão inteiro como aqui. Pode-se dizer que este é o único disco temático de Elton. E o tema é o maior: a vida.

05 - Grey Seal - Elton John - Live at The Hammersmith Odeon 24-12-1974

Elton John - Goodbye Yellow Brick Road

elton john - sweet painted lady. legendado tradução

GOODBYE YELLOW BRICK ROAD- ELTON JOHN. O MAIOR FENÔMENO DE INSPIRAÇÃO DA HISTÓRIA DO POP.

Eu tive sorte de viver minha puberdade entre 1973-1974. Ouvir rádio nesse tempo era uma experiência rica, e dentro dessa riqueza, ninguém era mais onipresente que Elton John. Nem Elvis ou Michael Jackson tiveram tantas músicas rodando no rádio mundial ao mesmo tempo. Apenas os Beatles podem ser comparados a ele. E olhe que em 73-74 Elton tinha de disputar espaço com Paul, John, George e Ringo, mais Stevie Wonder, Marvin Gaye, Bowie, Abba, Bee Gees, Carpenters, James Taylor, Paul Simon, Diana Ross, Dylan, Rolling Stones, Who, Led, Rod,Sabbath, Yes, Jethro Tull, Purple, Alice Cooper, Jackson Five, Suzi Quatro, T. Rex, isso falando apenas dos que ainda são lembrados hoje. Dos que venderam muito. Elton bateu à todos. --------------- Entre 73 e 74 ele lançou quatro albuns. Sim, isso mesmo, quatro albuns. HONKY CHATEAU, DONT SHOOT ME IM THE PIANO PLAYER, GOODBYE YELLOW BRICK ROAD e CARIBOU. Honky é o melhor. Caribou é meu mais querido porque foi aquele que ganhei em 1974, meu primeiro disco. Todos esse LPs chegaram ao number one. E todos são cheios de singles que fizeram muito, muito sucesso. Não vamos esquecer que nessa época, Elton ainda lançou dois singles que não fazem parte de nenhum desses discos: sua versão brilhante de Lucy in the sky with diamonds e com Lennon Whatever gets you thru the night. Sua inspiração é um milagre. Entre 1970-1976 ele mandou. ----------------- Goodbye yellow brick road era um LP duplo, dura 70 minutos e é considerado hoje sua obra prima. Em 1974, num país periférico como o Brasil, todo mundo ouvia no radio 7, eu disse sete!, canções tiradas desse disco. Candle in the wind, Beanie and the jets, Goodbye yellow brick road, Sweet painted Lady, Ballad of danny bailey, Saturday night is alright for fighting, Roy rogers, todas tocavam no rádio. Todas saíram em single. Todas têm inspiração. O fogo da criação. Veja a melodia de Goodbye Yellow brick road. O arranjo vocal de fundo, ( ninguém aprendeu tão bem a usar coros vocais como Elton ). O refrão que vem num crescendo orquestral. Os riffs da guitarra bem lá no centro. A bateria de Nigel Olsson, sempre ribombante. A harmonia que se constroi de um modo tão sinuoso e complexo. Até hoje, 2022, essa canção soa diferente, não cansa, não enjoa, emociona. Os 3 acordes de piano que a anunciam evoluem de modo fatídico. É uma melodia que mudou a vida de um menino de 11 anos, eu. --------------- Sweet Painted Lady é uma canção à francesa. Tem até acordeão. Gaivotas. Um ar de sonho, mar, praia. Ballad of Danny Bailey é de uma originalidade grave, escura, soturna. Na música de Elton há sempre uma melancolia trágica ao lado. Em Danny é explícita. A introdução é tétrica. O final, orquestral, maravilhoso. Mas há muito, muito mais. Hã as canções que não viraram singles. Grey Seal, agitada, grudenta, solar; I've seen that movie too, linda e chique, Harmony, perfeita. A única faixa fraca entre tantas é jamaica jerk off, um reggae torto; as demais vão do sublime ao perfeito pop. ------------------ Elton compunha do modo mais difícil que há. Bernie Taupin lhe dava letras prontas e Elton musicava. Não era a composição em dupla normal, mais comum, em que se faz cada verso dentro de uma melodia chave. Bernie, um inglês com mania de cowboy, enviava à Elton seus poemas já prontos e o pianista tinha de se virar. Ouvindo este disco a gente percebe como deve ter sido duro musicar, por exemplo, goodbye yellow brick road, como a letra deve ter parecido anti-musical e como Elton conseguiu a musicar quebrando a melodia e fazendo com que a harmonia seguisse sinuosa por cada verso longo. Elton era o sonho de todo letrista. Deixava o literato escrever do modo que quisesse, não interferia, e musicava a coisa sem mudar nada. O milagre é que dava certo. Quando os dois brigaram, em 1977, a magia de Elton morreu. Pelos anos seguintes ele continuaria a vender muito, muito mais do que eu pensava, eu pesquisei, ele é nas décadas de 80, 90 e 2000 um dos maiores vendedores de discos, mas nunca mais seria um fenômeno como um dia foi. Os dois voltariam a compor juntos, mas o momento se fora. Elton, como todo grande artista, é um joia criada por seu tempo. E o tempo de Elton foram os anos 70. Ele é a cara e a voz da década. E os anos 70 meu jovem, foram felizes.

Elton John - Rocket Man (Royal Festival Hall, London 1972)



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Elton John-1973 sessions at the Chateau-Danny Bailey



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MÚSICA DE 15 MINUTOS

Em 1970 Bernie Taupin tinha 17 anos e era virgem. Morava com Elton John na casa dos pais do pianista. Dormiam no mesmo quarto apertado. Bernie era hetero e sonhava em seu cowboy na América. Em namorar uma americana liberal que lhe tirasse a timidez. Então Bernie escreveu uma letra e a mostrou a Elton. O pianista foi à cozinha e em 15 minutos criou a melodia e a mostrou para Bernie. Essa canção se chamava Your Song. Numa monótona noite de sábado, entediado, boto a TV no canal BIS e vejo um programa com e sobre Elton. Tem depoimentos de gente que ama Elton: James Blunt, Eddie Sheehan, Boy George, Billy Joel, Sting, um cara dos Scissors Sisters, Nick Rhodes, Rod, Jon Bon Jovi, Sharon Osbourne, Lady Gaga...noto mais uma vez que Elton fez a trilha da minha geração e da mais nova e mais velha que eu. Um ator novo que não conheço diz que transou a primeira vez ouvindo Dont Let The Sun Go Down on Me, outro fala que casou com Tiny Dancer na igreja. A música de Elton une, comunga, é simples e perfeita, é um segredo. Amo dezenas de canções dos dois, Elton e Bernie, mas é Rocket Man minha favorita. Sharon diz que Ozzy é maníaco por ela e Nick Rhodes conta que é a canção que o despertou para a beleza da música. Para mim Rocket Man é como um oceano: é profunda, assustadora, linda, sem limites, rica e nascedouro. Mas...foi em 1974, criança ainda, ouvindo rádio num Motoradio ridículo, que descobri com Your Song aquilo que o amor devia ser. O tal segredo. A idealização suprema. Your Song foi e é uma epifania. Para mim e para todos. Último ponto: não confie em quem não se emociona com pelo menos cinco ou seis canções de Elton e Bernie. Não têm coração. Ou pior, o trocaram por um esnobismo morto e fedido. Pro bem ou pro mal, Your Song criou a figura do cantor sensível e delicado. Odeio esse tipo de molde. Mas sou apaixonado por aquilo que Elton fez durante dez anos. Era uma cozinha ridícula numa rua fria em Londres. Um moleque bonito de 17 anos escreve uma letra à lápis. Ele conta o que imagina ser o amor. Pois esse moleque nada sabe de meninas ou de amor. Um gordinho reprimido pega esse papel e faz uma melodia. Como ele diz em 2017, foram os 15 minutos mais bem gastos de sua vida. Deuses olharam aquela cozinha e deram uma piscada para os dois. Fez-se o milagre.

AQUELAS CANÇÕES DE AMOR

Eu sei que bandas indie continuam fazendo musiquinhas fofas. E que o rythm n blues ainda tem cantores falando de sexo e namoro. Mas houve um tempo, mais ou menos entre 1969-1979, em que 80% do que vendia muito era sobre o amor romântico, aquele que vem direto dos menestréis. Adolescentes, e mesmo crianças como eu era então, consumiam essas dores de amor. Como dizia Nick Hornby, ninguém passa por isso impunemente. Somos a geração mais vidrada em amores frustrados da história recente. Nós, que hoje temos entre 50-60 anos, somos viciados em amar errado. Hey, foi Cazuza quem disse isso! E ele teria 60 se vivo fosse. Claro que sempre houve música de rádio romantica. Sinatra fez a fama assim. Mas era diferente, era adulta. Por mais que Sinatra em Bewitch sofra, há controle naquilo. Frankie pode estar quase cortando os pulsos, e estava, mas ele mantém a pose. Virilidade era o nome disso. E maturidade também. Era um tempo em que aos 15 anos um moleque acendia um cachimbo e imitava Bing Crosby. Ser adulto era cool. Mas então vieram, adivinha quem, os Beatles. E de repente todo mundo passou a querer ser Peter Pan. E assim, as canções românticas passaram a ter o desespero adolescente. Uma canção de amor não falava mais de um homem e uma mulher, falavam de um garoto e de uma garota. E como todo amor juvenil, o coração se abria na canção. Era ingênuo. Era puro idealismo. E era às vezes lindo de morrer. Daydream Believer dos Monkees foi a primeira canção desse tipo que eu amei. Pasmem, eu tinha 8 anos. Com essa idade eu já me emocionava com o mel dessa canção ( que hoje me parece tão boboca ). Depois veio If, do grupo Bread, aos 9 anos. Acho incrível o fato de como as pessoas amavam essas músicas tão tristes. As tears go by dos Stones, Hamburg dos Procol Harum, Nights in White Satin, dos Moody Blues. São milhares. Aos 12 comecei a colecionar discos e eu amava Elton John por causa de sua melancolia. Eu e toda a torcida do Flamengo. O que Elton vendia era Your Song e Dont Let The Sun Go Down On Me, Goodbye Yellow Brick Road e Candle in the Wind, não seus rocks espertos como Bitch is Back. Nunca vou saber o quanto, mas crescer ouvindo no radio, dia e noite, All By Myself do Eric Carmen e Mandy do Barry Manillow muda sua vida. Mesmo artistas mais frios, mais artísticos, como Bowie ou Lou Reed, tinham seu sucesso garantido pela balada de amor. A hora do choro. A parada da Billboard começava em Without You do Nilsson, em 1972, e ia até My Love, com Paul e Wings. Ter 10 anos de idade era começar a sofrer por amor. Aqui no Brasil era ainda mais forte esse romance de mel e fel. Roberto Carlos, Antonio Marcos, Morris Albert, os sambas de amor de Martinho, Paulinho e Tom e Dito, Benito ah eu vou embora...tinha coisas lindas, de um romantismo sem pudor, assumido, inteiro. Não era uma geração da depressão, era a época do exagero e da histeria, que seja.

ROCKETMAN. MAIS UM FILME SOBRE ROCK....

   Este filme é bem melhor que o filme do Queen, assim como Elton é bem melhor que a banda de Brian May e Mercury. Mas...Elton está vivo e isso é uma desvantagem. Ele não é um mártir. Sempre digo que se Mick Jagger tivesse morrido em Altamont ele seria um deus. Mas ele teve o "azar" de sobreviver a seu tempo e hoje é "apenas" uma big super estrela.
  A primeira hora deste filme, a que fala da infância e do encontro com Bernie Taupin é perfeita. O roteiro dá a Taupin o crédito que ele merece. O filme tem bastante humor e não engana, Elton era um gordinho tímido nada rock n roll. Na parte final o filme cai muito. Se rende à pena, ao velho esquema de drogas e decadência. OK, Elton passou pelo inferno. Sabemos disso. Mas foca na glória please.
  O inicio, Elton fantasiado indo a terapia é muito bem sacado. Assim como o final, com as fotos verdadeiras sendo comparadas às cenas do filme. Mas fica algo no ar...uma sensação de "cadê o resto?"
  Entre 1970-1977 Elton foi quase tão grande quanto os Beatles. Eu vivi o fim do reinado e sei o que digo. Ele é até hoje, depois de Michael Jackson, o artista solo que mais vendeu discos. No geral é o quarto. Desde 1970 até 2020, 50 anos!!!!, de estrelato ininterrupto. Gravou alguns dos melhores álbuns que ouvi na vida. E algumas das mais perfeitas canções já cantadas. Um gênio de direito. Um fenômeno. Herdeiro de Elvis. Dos Beatles. Do POP absoluto e original.
  O filme NUNCA transmite sua grandeza. Mas eu pergunto: Que filme transmitiu a grandeza de seu homenageado? De Miles à Hendrix, de James Brown à Bowie, eu vi todos e nenhum satisfaz. O pior é o de mais sucesso, Freddie Mercury reduzido à quase cartoon de si mesmo. Este é apenas um fofo brinquedo gay.
  Um filme OK.

A BOBAGEM DO TAL ROCK ADULTO E A VERDADE DO TALENTO...PENSANDO A MORTE DE GEORGE MICHAEL.

   O coração de George Michael havia parado de bater a muito tempo. Assim como Prince, seu tempo acabou por volta de 1995. A era dos Clinton, de Seattle, das camisas de flanela enterrou o POP chique, vaidoso, hedonista dos dois e de tantos outros. A versão branca da música de Stevie Wonder, Marvin Gaye e Al Green não tinha mais vez. E o tipo de música de Prince, o negro feliz, vaidoso, satisfeito, sexy, se tornou o RAP, mais agressivo, mais masculino, mais suburbano. O público de George passou a ouvir música eletrônica, o de Prince, RAP.
  Para piorar, George processou a Sony, num tempo em que gravadoras ainda mandavam em tudo. Fosse hoje ele não teria o menor problema, mas na época ele ficou isolado. Na geladeira. Quando voltou o mundo já mudara. Os anos 80 eram outro planeta. E as meninas, seu maior público, dançavam ao som de Ricky Martin, pois George já assumira sua condição gay. ( Ironia ).
  Ele não se tornou um novo Elton John porque não tinha o gênio de compositor que Elton tem. George era uma voz perfeita. Listen Without Prejudice é seu melhor disco e em Praying For The Time ele atinge o sublime. Ouvir essa canção nos recorda que a beleza é aquilo que mais precisamos. Praying é a faixa que abre o disco. Quando a orquestra começa a tocar nos sentimos em outro mundo. Isso é genial.
  A geração de George teve a pretensão de unir música popular adulta ao rock. Perceberam que mesmo Dylan era apenas um adolescente velho. Dylan podia ser genial, mas era um teen sempre. Pensaram em ser adultos copiando a postura de adultos. Bowie, Ferry, Robert Palmer, George, todos vestiram ternos, pegaram melodias Cole Porter- Gershwin- Berlin e pensaram que assim seu POP se tornaria adulto. O máximo que conseguiram era parecer adultos no lugar errado. Erraram de desejo e erraram o alvo, claro. Mas em meio a esse processo criaram um tipo de trilha sonora chique que nunca mais foi tentada por ninguém. ( OK, Amy sim... ). Sade, Paul Weller no Style Council, o Everything But The Girl, todos chegaram nesse hibridismo que jamais foi adulto, mas que era uma bela festa de adolescentes travestidos de Cary Grant.
  O estranho é perceber que Al Green fez tudo isso 15 anos antes. E sem imitar ninguém.
  Bowie saiu dessa e voltou a tentar ser um tipo de vampiro eletrônico. Vários deles se tornaram cantores de dvd. Ferry nunca saiu desse mundo. Vestiu bem e se sente em casa nele. E George sumiu. Alguns shows bonitos, tristes, intimistas. E o coração na voz. A voz...
  Termino falando que Rick Parfitt morreu aos 69 dia 23. Sua banda era o STATUS QUO e essa banda nunca mudou. Desde 1970 eles fizeram e refizeram o mesmo disco, um boogie de pub, rock analfabeto de adolescente feliz. Eu amei essa banda na minha adolescência e voltei a escutar, muito, de 2012 em diante. Penso que nada é mais distante do mundo de George que eles. A música deles é diversão, diversão e só diversão. Com algumas baladinhas muito lindas. On The Level é o melhor disco.
  Bom saber que a música POP pode ser tão variada.

ROCK IN RIO 2015

   Há toda uma geração mimada que hoje faz rock. A gente nota isso no modo como eles se apresentam. O Sheppard mostrou bem isso. Uma banda bonitinha, da Austrália, imitando o pior do Fleetwood Mac. E não foi ruim. Foi um tipo de bailinho de 15 anos.
   Falei milhões de vezes que o rock é agora outra coisa. Sam Smith é rock. Visto em 2015 ele é rock. Faz soul diluído. Deve ter escutado bastante Jamiroquai. Seal. E Simply Red. Aprender a diluir com diluidores. Duvido que entenda Smokey ou Al Green. Esses caras tinham fome. E tinham fé. Sam Smith apenas canta.
   Elton John foi uma surpresa boa. Estava feliz e trouxe Dee Murray e Nigel Olsson. Solou ao piano. Bastante. E não tocou Honky Cat. Aliás seu repertório é tão rico que dava pra tocar mais duas horas só com hits. Rod Stewart envelheceu bem. Está bronzeado e bonito. Magro  e feliz. E trouxe várias mulheres ao palco. Isso ele aprendeu com Ferry. O show foi curto e ele não cantou as melhores músicas de sua carreira. Foi divertido. Ele sabe viver.
  O Motley Crue mostrou o destino do rock de arena dos anos 80.
  E o Metallica foi chato, melancólico, burocrático. Rock pesado tem de ser sincero. Não dá pra disfarçar. É excelente ou é ruim. O Faith No More foi tédio puro. Tudo neles parece mais do mesmo. Durante dez minutos parece ótimo. Depois vira martírio.
  Hollywood Vampires. Uma banda que fez rock com cara de rock. Tem visual, tem pose e tem festa. Adorei. Tocaram tudo: T Rex, Love, Spirit, Stones, Who....Alice Cooper ainda tem voz e Joe Perry está ótimo. E tá lá o Johnny....o cara sabe.
  Shows de Las Vegas são o grande lance do rock. Luzes, paetês e plumas. Dança. Tom Jones com Elvis. Ann Margret com Minelli. Isso tem sempre. Isso faz dinheiro.
  E tem as bandinhas do bem. Os bacaninhas fofos.
  Nada foi como Jack White. Ou Bruce cantando Raul.
  Foi balada.

Elton John - Mona Lisas And Mad Hatters (1972)



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Elton John - Burn Down The Mission (1970) Live on BBC TV - HQ



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EU SEI PORQUE VOCE NÃO GOSTA DE ELTON....ELTON JOHN, A BIOGRAFIA, DE DAVID BUCKLEY

   Elton John é feio. Não a feiura que pode até criar um certo interesse, como a de Alice Cooper ou de Lemmy. É a feiura medíocre. O feio que voce mal nota que existe. Isso marcou toda a vida de Elton. Ele jamais aceitou sua aparência, sempre odiou sua imagem. Em seus melhores momentos ele relaxou e quase ficou bonitinho. Em seus piores ele se auto-zombava e no processo desacreditava sua música. Se vestia de pato, de Mozart, de rei ou de Liberace. Dizia para o mundo, eu sei, eu sou ridiculo. Os fãs se sentiam incomodados, o resto olhava e pensava: -eu sempre soube, Elton é um palhaço.
  Mas não foi sempre assim, tão evidente. Esse martírio, que sempre houve, mas que se intensificou nos anos 80, foi aditivado por muito pó e muito álcool. Como aconteceu com Rod Stewart, David Bowie e Paul MacCartney, dentre muitos, a década viu a credibilidade dos reis dos anos 70 derreter. A maioria por excesso de drogas, dinheiro e puxa sacos, alguns por tédio e outros por medo de envelhecer ( o que fez com que tentassem se fingir de adolescentes ). Bowie foi dos poucos que conseguiu se reerguer. Elton, para todos nascidos depois de seu auge, permanece como um tipo de bobo rei do pop brega. Nada mais distante da verdade. Assim como Rod, que entre 69/76 foi um grande artista do folk, do rock e criou algumas das melhores letras de todo a cena, Elton foi entre 1970/1977 um grande artista. E era levado a sério. Todos os seus discos, 14 até então, dois por ano, eram ótimos e algumas de suas faixas, 3 ou 4 por disco, eram geniais. Dentre seus fãs, John Lennon, Leonard Cohen, Joni Mitchell e depois Elvis Costello. 
  Improvável sempre foi a marca de Reginald Dwight, o nome de batismo de Elton. Filho único da baixa classe média, nunca se deu com o pai, piloto de avião. Se dava com as mulheres da casa, mãe e tias. Na escola adorava todos os esportes e era bom em tênis e crickett. Baixo, gordinho, ele se isolava com livros e o piano. Teve aulas de piano clássico, mas se interessava por rock, Little Richard, Jerry Lee Lewis, e aos 15 anos começou a tocar numa banda, a Bluesology. Profissionalmente. Era 1962. Ao mesmo tempo Elton se torna um dos maiores colecionadores de discos da cidade. Gosto que ele manterá por toda a vida, ele é capaz de dizer quem toca no disco de uma obscura banda punk de 1980. E mais, qual a gravadora, onde foi gravado e a ordem das faixas. É um fato que pouca gente sabe, mas Elton até hoje continua escutando tudo de novo que surge todo ano. É seu maior hobby. 
  Em 1963 ele vai trabalhar numa editora de música. Tem 16 anos. Continua na banda, de noite. Nessa editora ele pode escutar tudo o que ela publica antes de ser lançado. Isso fará com que Elton seja sempre o primeiro cara a escutar tudo o que os Beatles recém produziram, em primeira mão. Todo o aprendizado se dá nesses anos. Piano a noite em pubs, faixas novas e fenomenais de dia. 
  Em 1968 ele sai da banda. Na editora se une a um jovem poeta chamado Bernie Taupin. Essa será a maior dupla do pop depois de voce sabe quem. Bernie escreve poemas e os passa para Elton. Elton faz uma melodia sobre os versos. Estilo de composição mais dificil, rara, que para os dois funcionou. Ainda morando com os pais, e sem nenhum envolvimento físico, Bernie, que é dos cafundós do campo inglês, vai morar na casa da mãe de Elton. Ele se torna o irmão que ele nunca teve. Hetero convicto, nunca haverá nada entre Bernie e Elton. Que na época estava noivo. Uma conversa com o cantor Long John Baldry mostrou a Elton que sua verdade era ser gay. Ele rompe o noivado e ao mesmo tempo se lança ao mundo do rock.
  1970 tem o primeiro disco. Elton John tem a capa escura para disfarçar sua falta de sex appeal. O sucesso é absoluto. Fica 44 semanas nas paradas. Your Song se torna um clássico e o LP, cheio de arranjos orquestrais do grande Paul Buckmaster, é elogiado por colegas e por críticos. Nos próximos sete anos Elton será responsável por 3% das vendas de discos em todo o mundo. Percentual só igualado em 1984 por Michael Jackson e por mais ninguém. Serão sete LPs seguidos alcançando o primeiro lugar nos EUA ( só os Beatles conseguiram isso ) e mais de 14 singles entre os cinco primeiros postos. Ele fará duas excursões por ano, quebrará, junto ao Led Zeppelin, recordes de público, e se tornará mundialmente conhecido por crianças, velhos e roqueiros. Estará em todo canto. TV, cinema, jornais, tudo. Elvis, Beatles, Michael Jackson e Elton, são os únicos quatro reais fenômenos do rock, pois mesmo os Stones, Led, U2 ou Dylan jamais conseguiram penetrar em todas as classes e todas as idades.  Sete anos em que seus rivais foram todos batidos. Gente como Eagles, Pink Floyd, Bowie, Stevie Wonder, Neil Young, Stones. 
  Bowie era seu grande rival. Porque de certo modo os dois corriam, no começo, na mesma raia. Rock glam agitado e baladas ao piano. Com uma grande diferença, crucial. Bowie queria ser um artista completo. Elton queria se divertir. Desse modo o público de Bowie era menor e fiel, o de Elton imenso, e infiel. Bowie podia se dizer bissexual. Seu público aceitava e até queria isso. Quando em 1976 Elton disse ser bissexual foi o começo de seu quase fim. A maior parte de seu público, conservador, o abandonou. 
  Elton diz no livro que Bowie nunca foi gay. Ele era um hetero que se fazia de gay para causar frisson. Já Elton era um gay que tentava esconder isso para não causar frisson. 
  Generoso, mão aberta, até os 28 anos Elton jamais havia se drogado. A partir daí ele se torna um caco. Cocaína e whisky. São os anos 80. Engraçado observar que ele nunca deixou de vender bem, o problema é que a inspiração se foi. A partir de 1979, e até 2002, Elton só lançaria albuns fracos e muito raramente algum single bom. Quanto aos shows, eles se tornaram forçados, frios, esquisitos. Sempre lotados, mas ao mesmo tempo quase constrangedores. Em 2002 ele grava The Captain and The Kid, enfim um grande disco. Os shows voltam a parecer mais reais. Ele para com as drogas, para com as fantasias, o piano volta a ganhar destaque. É um renascimento. Ele se casa, adota um filho, leiloa suas roupas mais ridiculas, e continua trabalhando ativamente em montes de instituições de caridade. É o mais dedicado dos astros de rock. Ele nunca discursa. ele vai e faz.
  Mas antes...
  Em 1971 exsitiam dois tipos de astro do rock: o glamuroso muito louco e o sofrido herói. Pelas músicas em seus discos ele poderia ser os dois. Mas no palco ele mudava. Se fantasiava para tentar esconder sua barriga, a careca e o rosto balofo. E ria, fazia piadas, pulava, conversava, festejava. Elton não tinha vergonha de ser feliz, de demonstrar prazer por estar num show. E, que ironia, isso destruia sua credibilidade!!!!!!
  Apesar de feio ele conseguia ser o maior dos astros. Mas os criticos começaram a não lhe levar a sério. Era como se um cara tão feliz não pudesse ser de verdade. Explico melhor...
  Lembro que no Rock in Rio de 1985, Rod Stewart cantou numa noite. E eu era fã de Rod ( ainda sou ). Só que aconteceu uma coisa horrível. Rod cantou Sailing rindo!!!! E eu escrevi em meu diário que Rod havia naquela noite destruído Sailing. Sailing era pra ser cantada com lágrimas nos olhos...
  Hoje sei que eu estava errado. Mas então foi minha reação. Rod Stewart perdeu a credibilidade comigo e só a readquiriu exatamente dez anos depois, quando o vi no acústico MTV. Com Elton se dava o mesmo. Ele brincava enquanto tocava Rocket Man, Ticking, Sixty Years e tantas outras. Baladas maravilhosas, de cortar o coração, lindas, tristes, e ele alí, vestido de pirata, rindo...O efeito no pessoal que o levava mais a sério era devastador. Era como se Morrissey cantasse How Soon is Now com o Village People, ou Dylan cantasse Like a Rollin Stone dançando no palco e feliz. ( Hoje eu acharia lindo, mas em 1975 isso seria inaceitável ). Rock era coisa séria, e Elton parecia não ser. 
  E não era. Era talentoso, genial até, mas sempre soube que subir num palco e poder cantar era um presente, uma sorte, uma alegria. Como parecer sofrer quando se fazia aquilo que mais se gostava? Elton era o mais anti-hipócrita possível.
  Poxa! Escrevi muito? É que eu amo Elton e este livro é muito bom. Mesmo para quem não gosta tanto, porque o autor, que já escreveu bios de Bowie, Bryan Ferry e até dos Stranglers, dá sempre uma geral no período. E nunca deixa de criticar os baixos, muitos, de uma carreira tão rica. A loucura do glam, a decadência do estúdio 53, os patéticos anos 80, o sucesso nos anos 90, a paz nos anos 2000. E o que fica é o fato de que Elton é sim um grande cara. Nada RocknRoll, um ET no meio, mas um grande cara. Fala-se de sua amizade com Lennon, com Rod ( que é seu melhor amigo ), e de suas coleções de arte. E a aventura de 1978, quando ele comprou seu time do coração, o Watfort, na quarta divisão, e o levou até a primeira e um segundo lugar...Eu tinha esquecido disso!
  Beleza de leitura.
  PS: Captain Fantastic de 1975. Esse talvez seja sua obra=prima. 
  Para quem quer quebrar o preconceito, aconselho The Tumbleweed Connection, de 1971.
  Divirta-se. E se emocione.

UMA ESTÉTICA GAY....ALLADIN SANE E HONKY CHATEAU, BOWIE AND ELTON.

   Tenho 50 anos e não tenho filho. Nunca fui casado e gosto de filmes musicais. Gay? Well...até hoje nunca tive uma experiência homossexual e acho que morrerei sem ter. Na verdade nunca senti atração por homem nenhum, embora não me impeça de saber quando um homem é bonito. Mulheres me deixam confuso e excitado. Homens não. Isso me faz pensar que é provável que não seja gay. Porque falo tamanha bobeira? Por causa de dois discos que reouvi após bom tempo. Dois discos obviamente gays, com tudo que essa palavra possa ter de exata ou de puro preconceito. Existe disco gay? Existe arte gay? Existe alma gay? Um disco que fale do amor de um homem por outro é gay, mas é arte gay? A arte pode ser gay falando de guerra ou de um carro. O rock pode ser gay em forma de heavy metal e ser muito hetero em forma de disco music. Como definir?
  Meu gosto estético está muito moldado numa certa moda que havia em 1972/1974. Eu tive 9/14 anos no auge do glitter. Se aqui a gente tinha a onipresença dos Secos e Molhados, fora daqui era a coisa de Bowie e Elton. Os anos 70 foram incrivelmente bicha louca.Começam com Lou Reed e terminam com Blondie e Abba. No meio teve Queen e Roxy Music. 
  Quando penso do que realmente adoro em livros, música, cinema, há uma boa quantidade de arte feita por gays. Mas penso, qual a pessoa razoávelmente culta que não terá amores por Proust, Bowie ou Andy Warhol? 
  Em 1973 dois discos foram lançados quase juntos. E trombaram de frente com Dark Side of The Moon e Houses of The Holy. ( Mas também com Innervisions, For Your Pleasure e Billion Dolllar Babies ). ALLADIN SANE ( a lad insane ), é o disco sem direção, caótico, que Bowie lançou no auge da loucura Ziggy. Já foi chamado de ""ö disco que os Stones não lançaram""". Besteira. O disco, estridente, tem no piano de Mike Garson seu trunfo. Nunca se escutou piano tão sofisticado em disco de rock. Garson era do jazz e seu toque parece de cristal. Ele embeleza tudo o que toca, dá profundidade. E faz de uma faixa como ALLADIN SANE uma obra-prima. Assim como LADY GRINNING SOUL, que fecha o disco, outra obra-prima que gruda na sua vida e dá sentido a seu gosto. O clip que vi na época, JEAN GENNIE, mudou toda a minha vida. Levei um banho, na infância, de glitter e nunca mais me limpei dessa purpurina. Meus olhos se abriram para a beleza rocker e espacial, delicada e desafiante de Bowie, Ronson e de Angie. A capa do disco é icônica até hoje. Há ainda PANIC IN DETROIT com sua guitarra suja e LETS SPEND THE NIGHT TOGETHER, versão superior aos Stones. Anarquia pura.
  HONKY CHATEAU provou de vez que a herança dos Beatles era de Elton e não de Paul ou de John. Pop com rock e o dom de agradar a todos. Todos mesmo! Elton é oposto a Rod Stewart, seu rival naquele tempo. Rod parece feliz mesmo quando se estraçalha em jóias como Every Picture. Já Elton parece triste mesmo quando canta rocks felizes. Há algo nos olhos de Elton que sempre anunciam desencanto. Sua máxima obra-prima da beleza etérea e encantadora se encontra aqui, ROCKET MAN é uma das cinco maiores canções dos últimos 50 anos. Ela tem tudo, tristeza, esperança, desencanto, um refrão grudento, mistério, silêncio e efeitos esquisitos. E a voz de Elton, que vai crescendo com a melodia. A perfeição de forma e conteúdo. O album abre com Honky Cat, rock saltitante. O piano de Elton sempre foi percussivo, ele batuca nas teclas. I THINK I AM GOING TO KILL MYSELF é outra maravilha. Tem um dos mais bonitos refrões da carreira de Elton. E há MONA LISAS AND MAD HATTERS, uma outra obra-prima, mistura mágica de dor e de inocência.
  Elton caiu como uma luva numa era de inocência pervertida e de sonhos conspurcados. Era um tempo em que a canção romântica vendia como pão quente. Meninos de 10 anos escutavam baladas doces dos Carpenters e baladas azedas de Nilsson. E baladas perfeitas de Elton John, que era o alvo de todos os outros cantores. HERCULES, nome do gato de Elton, é como um sonho. Onde achar uma canção melhor?
  O segredo de Elton, e de Bowie em outro mundo e intenção, sempre foi o dom da beleza. Seus imitadores enfeiam aquilo que com os dois sempre parece perfeito, grego, apolineo. Os imitadores de Bowie, por melhor que fossem/sejam, sempre parecem desalinhados, quase feios. Os de Elton são banais. São pret-a-porter, nunca Saville Row.
  Talvez seja essa a coisa gay dos dois? Um interesse na estética, seja a do exagero cafona de Elton, seja a futurista de David. Ou não?
  Que importa? Música não tem sexo e nisso os dois são meus pais.
  Eu amo Elton John. E amo David Bowie.
 

GORDON, ELTON, NILSSON E A DOCE AGNETHA.

   Harry Nilsson era o melhor amigo de John Lennon. Entre 1971 e 1975 eles foram inseparáveis. Gravavam juntos, um participando do disco do outro. Seja dito, Nilsson fez sucesso por seu mérito. Era já famoso antes de topar com Lennon em NY. É dele o hit Everybodys Talkin, tema do grande filme Midnight Cowboy. Depois repetiu a dose com Without You, aquele sucesso choroso. Aliás Nilsson era um deprimido. Mesmo nesse clip que postei, a alegrinha Daybreak, a cara dele é de velório.
  Gordon Lightfoot é do Canadá. Terra de The Band, Joni Mitchell e Neil Young. E o Canadá é assim, mais americano que a América. Gordon fez sucesso nos idos de 69/76. Sempre folk. Sempre on the road.
  Preciso falar de Elton? Entre 70/77 ele fez um sucesso digno de beatlemania. É dos raros artistas que pode fazer um show de duas horas só com super hits. Aquelas canções que todos conhecem, dos 8 aos 88 anos, da faxineira ao mestre de filosofia. Como Paul. Me causa surpresa hoje ter causado surpresa em 1976 quando ele disse ser bissexual. Mais bandeira que ele só Barry Manilow. Um gênio. Sempre foi. O Cole Porter de minha geração.
  Eu ainda sou apaixonado por Agnetha. É a lourinha do ABBA. A saga dessa banda é muito fascinante. Em seu auge, entre 1973/1980, o povo do rock os ignorava. Abba não era rock. Esse foi o lado sujo dos anos 70, a segmentação ( nos EUA e Inglaterra. Aqui e no resto do mundo, incluindo Europa continental, tudo era uma bela mistura geral ). Sem solos de guitarra e sem cabelos rebeldes não havia chance de ser levado a sério. Até Elton era olhado com reservas. Assim como o Kraftwerk. Claro que os suecos não eram rock. Eles eram Pop, um maravilhoso pop ao estilo wall of sound de Phil Spector. A praia deles era a mesma dos Beach Boys. Das Supremes. The Miracles. As harmonias vocais, doces, são sublimes como cotton candy e a instrumentação tem aquele estilo "" todos juntos agora"" vigoroso que remete a Motown. E há Agnetha, a triste e doce Agnetha, a do sorriso triste....Uma fada nórdica em meio a banda que embalava bailes bregas e felizes de nossos pais. Doces suecos.
  Enjoy it.