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QUANDO AS MULHERES SAEM PARA DANÇAR - ELMORE LEONARD

Eu gosto de Elmore Leonard. Eu gosto muito dele. É uma relação de afeto. Quando eu leio algum livro seu eu sinto isso. Que ele é o cara. Um tipo de relação com um autor que é rara. Pois eu adoro os livros de Stendhal, por exemplo, mas não sinto nada pelo cara. E amo os livros de Tolstoi, mas acho que não gostaria do homem Tolstoi. -------------- Para o mundo de 2023, a escrita, o estilo de Leonard é o melhor possível. Sejamos realistas, nunca mais teremos autores como Henry James ou Marcel Proust. O artista da palavra, o ourives do verbo, o compositor de sinfonias sem música. No mundo nervoso, apressado, não linear de 2023, existe a escrita infantil, mal cuidada, simplória de tantos autores, a maioria, mas existe também o estilo de Leonard. E como é esse estilo? -------------- As pessoas falam nos livros de Elmore Leonard. E falam como se fala na vida real. Essas pessoas são, que maravilhoso isso!, adultas. Elas não choram, não se lamentam, não culpam os outros pelas merdas que fazem. Elas se viram como podem. Um dom raro: ele é um autor, como são todos os bons escritores da escola americana, que consegue pintar todo um caráter com apenas duas frases. Ele vai no âmago. E seus temas são os momentos decisivos, aqueles que definem um destino. Há violência. Mas não sadismo barato. Há o medo e há o desejo. Mas jamais a pornografia. E há, acima de tudo, o prazer em ler o que ele escreve. ---------------- Quando lemos um bom livro nós vivemos dentro do lugar que aquele texto descreve e convivemos com aquelas pessoas. Nos livros de Elmore Leonard nós vivemos como se dentro de algum filme de Steve McQueen. E pra mim não há melhor lugar na terra que estar dentro de um carro dirigido por Steve McQueen. Aliás meu filme favorito de Steve foi baseado em Elmore. Melhor dizendo, todos os filmes baseados em Leonard são bons. Alguns são ótimos. E esses ótimos são daqueles que eu revejo sem parar. Isso porque o mundo de Elmore é o mundo que importa. --------------- Este livro reúne alguns contos. Todos são puro TNT. Nada forçados. Um universo de homens perdidos, mulheres fortes e lugares vazios. Adultos, sem traços de infantilismo, de pose esnobe, de babaquice. E o melhor de tudo: tem aqueles diálogos afiados, não espertinhos, afiados, verdadeiros, como devem ser. --------------- Então seja esperto e leia Elmore Leonard. Vá direto ao ponto.

Get Shorty (1995) - Official Trailer (HD)



leia e escreva já!

MAXIMUM BOB - ELMORE LEONARD

Não sei se este livro de Elmore virou filme. Foi lançado em 1991, e daria um ótimo filme se feito pelas pessoas certas. Como disse em outro post, Leonard tem, desde os anos 50, sido um escritor muito usado pelo cinema, mas 90% dos filmes feitos a partir de livros seus, são lixo. Maximum Bob tem personagens maravilhosos, é realista e ao mesmo tempo grotesco, e se passa naquela região maravilhosa para ser filmada, os pântanos da Florida. O livro é quente, mas dessa vez nada sexy. É engraçado, e ao mesmo tempo assustador. Maximum Bob é o Big Bob, um juiz poderoso que só pensa em sexo com jovens mulheres. Ele e Elvin, um ex presidiário tosco e violento, são os personagenas mais fortes. Kathy, uma oficial da condicional, é muito menos interessante. Ela é normal demais. Elmore tem imensa facilidade para criar gente, e seus diálogos são afiados. Estão prontos para serem gravados. Os filmes ruins criam novos diálogos. Os bons usam o que já está à disposição. Como disse antes, escrever sobre o que é relevante hoje é escrever sobre o crime. Seja o tarado anônimo que aterroriza uma praça, seja o bilionário que derruba governos usando o tráfico de armas e drogas. Elmore fala sobre o crime pequeno, banal, aquele que rola na sua rua. Pequeno em divulgação, enorme em ressonância.

PONCHE DE RUM - ELMORE LEONARD

Saul Bellow, Martin Amis e Stephen King eram todos fãs de Elmore. Todos eles sentiam admiração pelo modo como Leonard usava diálogos. Ele usa muitos diálogos, sempre coloquiais e precisos, conseguindo descrever o caráter do personagem pelo modo como ele fala. Elmore jamais diz que Ordell e Louis são burros. A gente nota pelo modo como eles falam. Ele dizia ter aprendido isso com Heminguay, seu autor favorito. Mas ele tinha uma crítica à Hem... Seu coração mole. Heminguay era piegas. Estragava tudo com seu coração. Eu acho o mesmo. Ernest Heminguay é maravilhoso enquanto não começa a se lamentar. Ponche de Rum é de 1992. Leonard escreveu livros às toneladas. Nos anos 50 e 60 escrevia livros de faroeste. Alguns viraram filmes ruins. Um só deu um bom filme. Depois, a partir dos anos 70, começou a escrever livros policiais. Vários deram filmes horríveis. Três deram bons filmes. Get Shorty é o melhor filme. Irresistível Paixão é outro ótimo filme. E Jackie Brown, do Tarantino, é este Ponche de Rum. O livro é melhor que o filme. Jackie Brown aqui se chama Jackie Burke e é loira. Max Cherry, o pagador de fianças, é o centro do livro, no filme não. Tarantino ama Elmore porque foi ele quem o ensinou a escrever diálogos. O segredo dos livros dele serem tão bons é a calma. Ele desenvolve a ação com muito vagar, sem pressa, por isso o cool se mostra. As primeiras páginas são para conhecermos todos eles. E só então descobrimos qual o foco do livro, o que vai acontecer. É Heminguay de fato, o que vale é o diálogo, o caráter criado pelo autor. A ação é consequencia daquilo que cada um deles é. Voce une Ordell mais Louis e dá um desastre. Voce une Cherry mais Jackie e dá um acerto. É química. Quero mais!

FILME COOL

No momento em que o Oscar comete seu definitivo harakiri, quero lembrar de um momento genial na história de Hollywood. O filme cool dos anos 90. Assisti ontem GET SHORTY e ele simboliza bem tudo que foi feito nesse estilo durante a década. Uma trilha sonora esperta e brilhante ( John Zorn mais Morphine com Booker T e US3 ), roteiro baseado em Elmore Leonard, atores carismáticos em papéis malandros e acima de tudo diálogos brilhantes. O filme fala de um agiota que sai de Miami para ser produtor de cinema em LA. Mas, como em todo bom filme cool, o tema não importa, o que vale ouro são os toques, os temperos, os momentos de imenso prazer. Posso falar da barbearia em Miami, a cena, de gênio, de Chili Palmer vendo A Marca da Maldade no cinema, Chili ensinando Martin Weir a interpretar um gangster, o modo como Chili anda e fuma, a morte de Yayo, o diretor B dando nos dentes...são várias cenas que misturam cenários e roupas, som e atores em perfeição. Mas acima de tudo são diálogos inteligentes, que revelam o personagem em ação. John Travolta tem seu segundo melhor desempenho da vida. O melhor foi em 1977, voce sabe em que filme. Chili Palmer é rei do cool sem parecer caricato. Danny de Vito é o ator narciso, tolo e seguro, bobo e bem sucedido, Gene Hackman está estupendo como o diretor B, é uma mistura de ousadia mentirosa e covardia histérica. Há ainda Rene Russo, bonita e centrada e Delroy Lindo, um bandido que se perde. James Gandolfini tem ótimas cenas como um capanga. Barry Sonnenfeld acerta o tom, nunca tenta ser engraçado, não exagera a violencia, dá ritmo sem jamais correr. Esse tipo de filme teve seu momento entre 1993-2002. Depois saturou. Começaram a forçar o humor, a encher tudo com sangue, a errar no casting.

CONTOS DE RAYMOND CARVER

   Muitos filmes foram feitos em cima de textos de Carver. E pelo menos um deles é uma obra-prima. Dizem que grandes livros não dão grandes filmes porque para filmar voce tem de cortar tanto que o estilo e a complexidade vão pro lixo. Carver, assim como Elmore Leonard, serve bem ao cinema porque na adaptação nada há pra se cortar. O texto é tão enxuto que na verdade o roteirista precisa acrescentar coisas.
  Eu leio Elmore com prazer. Como leio Chandler e Hammett, que também ficam bem em filmes. Patricia Highsmith too. Mas Carver é um pé no saco! Seus contos são tão esqueléticos que cansam por excesso de facilidade. Os personagens são tipos, nunca gente, e as situações são vistas como se as pessoas fossem medíocres atores cool. Para Carver as pessoas são manequins animados.
  A impressão é a de que seja muito fácil escrever como Carver. Basta descrever, sem detalhes, aquilo que voce vê num bar, na rua ou na escola. Daí voce imagina o que esse cara do bar, da rua ou da escola faz em casa. Nada de especial, tudo bem óbvio. Bota uns diálogos banais e chama isso de minimalismo. Tá pronto pra imprimir. Sam Shepard faz igual. Dentre dezenas de milhares de outros.
  Eu poderia fazer livros como os de Carver. O problema é que eu me entediaria. Seria como ter de viver numa mina de carvão. Trabalho escravo que iria contra tudo que eu acredito. Nada pode ser mais anti-Henry James que Carver. Porque mesmo que ele seja um crítico do vazio, mesmo que ele esteja tirando uma da mediocridade da vida, ele faz isso usando meios vazios e medíocres. Quem quer saber do regime de uma garçonete ou da conversa entre pai e filho que nada têm a dizer?
  Certos livros são de calar!