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ARETHA FRANKLYN SOUL 69

   Em 1969, no auge do movimento hippie, quando até o povo da soul music misturava sua música com som freak, Aretha, a maior cantora negra, mas não a de maior sucesso, essa era Diana Ross, lança Soul 69. E fazendo isso vai contra tudo o que se fazia no Pop de então.
   Acompanhada por músicos que tocavam com Miles Davis, e outros que tocaram com John Coltrane e Charles Mingus, ela canta aqui canções de jazz-blues, com big band e arranjos jazzísticos. Ela é produzida pelos cobras da gravadora Atlantic, a mesma de Ray Charles, a gravadora que criou a black music moderna: Tom Dowd, Jerry Wexler ( o boss ) e Arif Mardin. Vamos ouvir o disco então ( que vendeu bem, chegando ao segundo lugar em abril de 69 ):
   O som é redondo, viril, com destaque para a bateria, sempre em estilo jazz, Grady Tate, um cara que fez discos com Oscar Peterson, Mingus, Sonny Rollins. Pulsa, como pulsa o baixo de Ron Carter, ele mesmo, o homem de Miles. Os metais são ao estilo Sinatra, irrompem para dar mais gás, mais ritmo, mais fogo à coisa. E temos a voz de Aretha.
  Sim, ela é  a melhor cantora de soul da história, uma voz que estala nos ouvidos e bota fogo em tudo que canta. Respect é o Kilimanjaro do Pop feminino. Mas...a gente percebe que jazz...bom, jazz é outro mundo né meu nego...
  Ella Fitzgerald. Ouço o disco, que é excelente, e noto o quanto Ella é grande. E Sinatra também. O jazz revela cada canto do canto, até a respiração aparece, e Aretha não erra, mas também não chega lá. A dicção, o fôlego, ir lá do alto até lá embaixo, mudar de tom, voltar ao ritmo depois de improvisar, Aretha nem tenta nada disso e quando quase tenta perde a confiança. Sabiamente depois deste disco ela nunca mais tentou o jazz. Deixou a coisa para Ella, a cantora que em 50 anos jamais errou, em disco ou em palco.
  Mas este é um grande disco. Te dá um prazer do cacete. Tem bossa. Tem fogo e tem negritude. É fogo na jaca. Ouça. Voce vai amar. E se voce não gosta de jazz, vai gostar. E se voce gosta de jazz, vai amar.

Louis armstrong & Ella Fitzgerald - Cheek to Cheek



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ELLA E LOUIS, UMA QUESTÃO DE SABER OUVIR

   Nos anos 50 Norman Granz produziu uma série de discos clássicos do melhor jazz. Se a Blue Note e a Prestige lançavam o jazz mais de vanguarda, Granz gravava standards em versões definitivas. Louis Armstrong se juntou a Ella Fitzgerald para gravar este disco com canções irretocáveis da tradição americana. Mais que um item de classe e de perfeição musical, o disco é uma aula de audição.
   Aqui tudo é sutileza. Desde a voz de menina que Ella sempre manteve, até a rouquidão de Louis. Mas é ainda mais. A respiração de Louis é audível nas faixas que são como cristal. Voce percebe o ar entrando pela garganta de Louis e a voz saindo, suave, grave, rouca, do mais profundo vazio do diafragma. E ao mesmo tempo há a dicção impecável de Ella, cada sílaba tinindo e sibilando, letra e melodia sendo emitidas e produzidas dentro de nossos ouvidos. É um disco que nos salva da surdez.
  Oscar Peterson traz seu piano delicado e Herb Ellis dedilha uma guitarra harmônica. Na batera o mítico Buddy Rich, aqui contido. Isn't This a Lovely Day vale sózinha por toda uma carreira. Canção lançada em filme de Fred Astaire, ela transmite a sensação de frescor e de luxo que os filmes de Astaire e de Ginger passam. É uma alegria absoluta. Mas há também Cheek to Cheek, talvez a mais sublime das canções americanas. Linda como amar, inspiração altíssima de Irving Berlin.
   Impossível saber qual a melhor faixa, They can't Take That Away From Me poderia ser ela. Dos Gershwin, tem uma melodia tão bonita que o prazer de a escutar faz com que nos enamoremos dela para sempre. Aliás é bom eu ter citado a palavra prazer. Valor tão desvalorizado nos dias de hoje ( há quem goste de discos que fazem sofrer e sentir dor ), é esse prazer o objetivo e o ganho da carreira tanto de Ella como de Louis. Eles cantam com prazer, e nos oferecem o mesmo prazer. Após uma noite perfeita ( ou mesmo média ), colocar este disco para tocar é amplificar esse momento vivido e usufrui-lo por tempo maior.
   Como acontece com os bons musicais de Hollywood, saber apreciar esta obra é mostra de se saber escolher. Um presente dado a si-mesmo. Generosamente feliz.